Destaque: "Honra teu pai e tua mãe"
Perspectiva Salesiana
No texto do livro
do Eclesiástico de hoje ecoa o mandamento que diz: "Honra teu pai e tua
mãe". Isso significa que a verdadeira religião envolve obrigações morais
para com os outros, que por sua vez evoluem em obrigações morais para com nossos
pais. Nossos relacionamentos com os outros, especialmente com aqueles com
quem partilhamos tanto tempo, com quem estamos em contato diário, são a
principal expressão da disposição de nossos corações, nossas mentes, nossas
emoções e nossas atitudes.
A carta de São
Paulo aos Colossenses nos fala do presente, e do desafio, de criar este "espaço"
que chamamos de "família", um espaço em que aprendemos principalmente
algo do que significa sermos filhos e filhas de Deus. Como os escolhidos de
Deus, santos e amados, devemos revestir-nos de compaixão, com bondade,
humildade, mansidão e com paciência. Na medida em que uma vida santa não é
o mesmo do que uma vida livre de estresse e problemas (observem como a vida de
Jesus, Maria e José no início), todos nós devemos praticar essas virtudes o tempo
todo e com a esperança de podermos estabelecer, manter e fortalecer a família. Deus
queira que não briguemos, nos distraiamos ou nos decepcionemos uns aos outros.
Francisco de
Sales nos convida a viver uma vida espiritual condizente com as exigências e responsabilidades
do estado de vida de cada um e com o momento atual em que vivemos. O que significa
viver uma determinada vida espiritual? (Vida devota, como se dizia no seu
tempo) Não é a vida mais difícil, mas muito exigente, pois temos que fazer o
que é correto aos olhos de Deus, e em relação aos outros, ter frequentemente cuidados
e diligência. É na vocação em que nos encontramos, especialmente nos
papéis básicos, como ser mãe, pai, irmão, irmã, esposa, marido, filho ou filha,
que devemos praticar a espiritualidade.
Francisco de
Sales nós diz: "As pequenas virtudes, imperceptíveis, aquelas em que
quase nunca nos apercebemos, que são exigidas de nós, em nossas casas, em nosso
trabalho, com amigos, com estranhos, a todo instante e em todos os momentos,
estas são as virtudes para nós. " (IVD, Parte III, Capítulo 2). Claro
que o mais importante é a prática do amor, pois este não só contribui para a
reconciliação, mas também para a purificação, e, ouso dizer, que contribui para
a glorificação das relações humanas. Quando nos relacionamos entre nós mesmos,
devemos praticar as pequenas virtudes, as virtudes do cotidiano, ajudando a
criar uma vida melhor aqui na terra, e também para preparar-nos para a vida
eterna que nos é prometida no céu.
Ao celebrarmos
a festa da Sagrada Família, percebemos que realmente muito pouco se sabe sobre
as interações diárias entre Jesus, Maria e José. Mas se considerarmos cuidadosamente
a fidelidade e a consistência de Jesus na sua luta pela justiça, pela paz, pela
reconciliação e pela liberdade, podemos realmente começar a intuir que foi na
pobre casa de Nazaré que ele aprendeu estes valores que depois colocou em
prática no seu ministério.
Afinal,
caridade, paz, justiça, perdão - como muitas outras coisas, começam em casa.
Padre Michael S. Murray,
OSFS - Diretor do Centro de Espiritualidade de Sales.
Tradução e adaptação: P. Tarcizio
Paulo Odelli - SDB
Dos escritos de São Francisco de
Sales
Hoje celebramos
a festa da Sagrada Família. No Evangelho ouvimos que a Divina Providência
guiou a Sagrada Família, no meio de suas angústias. São Francisco de Sales
observa:
O Evangelho de
hoje conta como o anjo ordenou a José para pegar o menino e sua mãe e ir embora
com eles para o Egito. Como a Sagrada Família, é preciso ir a um mundo
onde estamos rodeados por inimigos. Podemos nos inquietar quando as coisas
não saem como queríamos. Para evitar os naufrágios, que muitas vezes
ocorrem durante a nossa navegação pelas águas deste mundo, lembremo-nos da
grande paz e serenidade de espírito que tinha a Sagrada Família. Com plena
confiança na Divina Providência eles permaneceram sempre em calma e em paz,
mesmo quando tiveram que enfrentar situações inesperadas. Deus vai nos proteger
também pelo mar da vida, quando a confusão se apoderar não só no nosso entorno,
mas também no nosso interior.
Contudo, independentemente
da direção que o nosso barco tomar, o nosso coração, a nossa mente, a nossa
vontade, que é a nossa bússola, devem apontar para o amor e a paz de Deus, porque
Deus espalha a sua paz num coração que está calmo. Quando um lago está calmo numa
noite calma, as estrelas no céu são refletidas na água. Se observarmos atentamente
estas águas plácidas, vemos que a beleza do céu refletida nelas é tão nítida que
parece que estamos vendo o próprio céu. Também acontece o mesmo quando a
nossa alma está perfeitamente calma. Quando não permitimos que os ventos das
preocupações supérfluas ou a intranquilidade de espírito ou a incerteza a
perturbem, adquire a capacidade de refletir a imagem de nosso Senhor.
A Sagrada Família
nos ensina como embarcar no mar da Divina Providência. Se tivermos confiança
na boa providência de Deus não devemos surpreender-nos nem preocupar-nos se aparecerem
problemas semelhantes a aqueles que a Sagrada Família teve que enfrentar. Tentem
fazer o bem hoje, sem pensar no amanhã. Se de alguma forma parecerem pequenos,
não desanimem. O coração do nosso Salvador é grande, e deseja que o nosso
coração encontre sua morada nele.
(Adaptado a partir dos escritos
de São Francisco de Sales)