domingo, 26 de dezembro de 2010

Reflexão sobre o natal

Ainda sobre o natal, um texto para ser refletido: "Fique bem perto do presépio onde o Salvador das nossas almas nos ensina tantas virtudes por seu silêncio. Mas o que é que Ele nos diz, enquanto fica neste estado? O seu coraçãozinho, palpitando de amor por nós, devia inflamar também o nosso. Veja como Ele leva o nome de você, inscrito no coração, que bate sobre a palha pelo desejo afetuoso do seu crescimento na virtude. Ele não dá nenhum suspiro perante o Pai em que você não tenha parte, nenhuma moção de espírito senão para a felicidade de você. O imã atrai o ferro, uma substância resinosa atrai palha e feno: seja que somos ferro por nossa dureza, seja que somos palha por nossa fraqueza, devemos unir-nos a esse divino Menininho que nos atrai o coração" (SFS – Cartas) 

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Reflexão Salesiana - Véspera de Natal - 24 de dezembro de 2010


Esta é a imagem que selecionei para lembrar este Natal de 2010. É uma pintura que se encontra na Catedral de Chieri. Como diz São Francisco de Sales, "que a grande criancinha de Belém seja sempre o encanto e o amor do nosso coração. Peço-te que descanses, da maneira mais cordial possível, junto ao Filhinho celestial. Ele não deixará de amar o nosso coração querido, assim como é." (DASal 5,259)
Feliz Natal a todos!

Esta noite celebramos a véspera do Natal, uma data em que refletimos sobre o mistério do nascimento de Jesus, nosso Senhor e Salvador. São Francisco de Sales oferece-nos os seus pensamentos sobre o Natal:

Quando alguém quer construir uma casa ou um palácio deve primeiro considerar quem é a pessoa que vai morar ali. Obviamente, fará diferentes planos, dependendo do status social da pessoa. Isso também ocorreu com o Arquiteto Divino. Deus criou o mundo preparando-o para o momento da Encarnação do Filho. A sabedoria divina previu desde a eternidade que o Verbo tomaria a nossa natureza em sua chegada à terra. Para realizar essa tarefa, Deus escolheu uma mulher, a Santa Virgem Maria, que deu à luz o nosso Salvador.

Através da encarnação Deus fez-nos ver algo que a mente humana não teria sido capaz de conceber nem compreender. O amor de Deus para a humanidade é tão grande que ele decidiu tornar-se humano para nos encher de Sua divindade. Ele quis coroa-nos com a bondade divina e a dignidade. Ele quis que nós fôssemos filhos de Deus, porque somos feitos à Sua imagem e semelhança.

Nosso Salvador veio a este mundo para nos ensinar como devemos agir para preservar em nós a imagem e a semelhança divina de Deus. Precisamos levar muito a sério esta tarefa e enchermo-nos de ânimo para viver de acordo com aquilo que somos. Nosso Salvador veio para que pudéssemos ter vida em plenitude. Ele estava completamente cheio de misericórdia e bondade para com a família humana.

Muitas vezes, quando a maioria das almas endurecidas chegam ao ponto de viver como se Deus não existisse, Nosso Salvador permite que elas encontrem o seu coração cheio de piedade e misericórdia para com elas. Todos os que já passaram por esta experiência, agradeceram muito por tê-la vivido. Tiremos para fora de nossa casa tudo aquilo que não é de Deus. Quando abrimos nossos corações ao amor de Deus, estaremos contribuindo para o nascimento de Cristo em nós, e também para o estabelecimento do Reino de Deus na terra.

(Adaptado dos escritos de São Francisco de Sales)

NATAL - 25 dezembro de 2010

Destaque

"Todos os confins da terra puderam ver a salvação do nosso Deus."

Perspectiva Salesiana

"Deus significou-nos de tantas formas e por tantos meios querer que fôssemos todos salvos, que ninguém pode ignorá-lo. Com esta intenção ele nos fez "à Sua imagem e semelhança" pela criação e fez-se à nossa imagem e semelhança pela encarnação; depois da qual sofreu a morte para remir toda a raça dos homes e salvá-la." (Tratado do Amor de Deus, Livro VIII, Capítulo 4)

Desde o começo dos tempos Deus quis que todos nós que conhecemos esta verdade, sejamos salvos. Qual é a verdade? A verdade é que fomos feitos à imagem e semelhança de Deus, compartilhamos a essência da vida divina de Deus, que somos inundados com o amor criador, redentor e inspirador de Deus, que somos feitos para fazer com que o amor e a vida aqui na terra possam crescer, que estamos destinados a experimentar este amor e a vida para sempre no céu.

É claro que a única condição é que escolhamos fazê-lo.

Além das imagens reconfortantes da estrebaria, da "Estrela de Davi," dos Reis Magos, dos pastores e dos coros de anjos, existe uma verdade dura e inevitável: mesmo que Deus deseje que sejamos salvos, a decisão de viver conforme os desejos de Deus é somente nossa. Francisco de Sales salienta: "Nem todos os homens são salvos, mesmo quando a vontade que todos sejam salvos é do único e verdadeiro Deus, porque Deus trabalha em nós de acordo com a condição da natureza humana e divina. A bondade de Deus que nos move para comunicar-nos amplamente a sua graça pode nos ajudar a desfrutar a felicidade da glória de Deus, mas nossa natureza exige que Deus também seja magnânimo no momento de nos dar a liberdade e que a usemos para a nossa salvação ou a ignoraremos, resultando na nossa condenação "(Ibidem)

Com esta reflexão não quero estragar a festa de Natal, ou a promessa de reconciliação, paz e alegria. Tampouco estamos tentando manchar essa época do ano que Francisco de Sales descreveu como "o tempo dedicado a soberana misericórdia que o Filho de Deus teve por nós quando ele veio aqui na terra para salvar a todos nós." (Stopp, Selected Letters , p. 294) Resumindo, o Natal é uma época em que cada um de nós deve perguntar: levo a sério o dom de Jesus Cristo na minha vida tanto quanto Deus o fez? Ou dito de outra forma, eu estou tão interessado na eternidade da minha alma tanto quanto Deus?

Todos os confins da terra puderam ver a salvação do nosso Deus que se manifestou através do nascimento do Messias. Espero que todos os confins da terra - incluindo lugares onde você e eu nos encontramos, aceitem este poder.

Esperemos que possamos viver e sejamos capazes de compartilhá-lo.

O P.Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Quarto Domingo do Advento (19 de dezembro de 2010)



O Evangelho de hoje recorda-nos que assim como São José, devemos ter confiança no plano que Deus tem para nós. Deus tem um plano para nós que é muito maior que o nosso. São Francisco de Sales observa:

O Evangelho de hoje fala sobre o momento em que José descobre que Maria está grávida. Ele estava disposto a se divorciar, sabendo que o filho não era dele. Mas o anjo revelou a José que o Menino Jesus estava destinado a ser o nosso Salvador. Com muita paz e serenidade de espírito, José aceitou este fato inesperado em sua vida. Nossa confiança em Deus deve ser igual à confiança demonstrada por São José.

Os fundamentos da nossa fé não estão em nós mesmos, mas em Deus. Apesar de estarmos sujeitos a mudanças, Deus se mostra sempre clemente e misericordioso, tanto nos momentos em que somos fracos e imperfeitos, como quando somos fortes e perfeitos. Quando temos absoluta confiança em Nosso Senhor, somos como uma criança no ventre de sua mãe. A criança se deixa carregar e vai onde sua mãe a quer levar. Do mesmo modo, quando amamos a vontade de Deus em tudo aquilo que nos acontece, sentimos a confiança necessária para nos deixarmos conduzir.

Sentir confiança sagrada na bondade de Deus significa vida para o espírito humano. À medida que o nosso amor a Deus aumenta, vamos sentindo as contrações e dores do parto espiritual. Quando temos problemas, Nosso Salvador nos guiará no caminho, não importa o quão difícil seja. Reflita sobre as palavras do Nosso Salvador misericordioso: "Quando uma mulher dá à luz debate-se no meio das dores, mas depois do nascimento se esquece da dor que ela viveu, porque deu à luz um filho." Nossas almas devem dar à luz ao Filho mais amado que uma pessoa poderia desejar. Ele é Jesus, a quem temos que dar forma e trazer para a vida dentro de nós. O Filho vale tudo aquilo que teremos que suportar. Quão felizes seriamos se dedicássemos todos os nossos esforços para cumprir o que Deus quer para nós! Obteríamos da generosidade de Deus tudo aquilo que jamais poderíamos desejar ou necessitar, uma nova e revigorante existência. Um renascimento sagrado em Cristo!

(Adaptado dos escritos de São Francisco de Sales)

Destaque

"Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel,”  um nome que significa "Deus está conosco".

Perspectiva Salesiana

São Francisco de Sales escreveu em sua Introdução à vida devota: "Deus está em tudo e em todos os lugares. Não há nenhum lugar ou qualquer coisa que Deus não está realmente presente. Da mesma forma que as aves sempre encontram ar quando estão voando em qualquer lugar, onde quer que formos encontraremos Deus presente. " (Parte II, Capítulo 2)

Deus está conosco. Em nossos melhores momentos sabemos e agimos de forma que proclamamos esta verdade: que Deus está conosco sempre e de todos os modos.

Infelizmente, nem todos os momentos são bons. Nem sempre agimos de forma a convencer os outros sobre a presença contínua de Deus que nos ama sempre e de qualquer modo. Francisco de Sales observou: "Nós todos sabemos desta verdade (que Deus está sempre presente), mas nem todo mundo está realmente consciente disso. Os cegos não sabem quando um príncipe está entre eles e, portanto, não mostram o respeito que mostrariam se fossem informados de sua presença. Ainda assim, como eles não podem ver, eles esquecem a sua presença, e quando isso acontece existe a tendência de esquecer também o respeito e a reverência que é devida ao príncipe. Infelizmente, muitas vezes nos esquecemos de Deus e nos comportamos como se Deus estivesse longe, a grande distância de nós.. Sabemos que Deus está presente em todas as coisas, mas como raramente refletimos sobre esse fato, agimos como se o ignorássemos." (Ibidem)

Como dizem as pessoas, “longe dos olhos, longe do coração”.

Na teoria parece algo simples o fato de tirarmos um tempo para lembrar que Deus está sempre presente, "não só no lugar onde estamos, mas presente também de forma muito especial em seus corações  e na essência de seus espíritos". (Ibid) Quando nos lembramos muitas vezes da presença de Deus, somos mais fiéis na hora de dar o respeito e reverência que ele merece.

Ainda assim e, como muito bem o sabemos, fazer isso na prática é um desafio.

Mas há mais. Na medida em que lembramos a presença de Deus em todas as coisas e em todas as pessoas, seremos capazes de nos relacionar-nos com os outros com o mesmo respeito e com a mesma reverência. Quando nos lembramos de que Deus está conosco, é mais provável que nos tornemos verdadeiros símbolos reais da atividade salvadora, amorosa  e contínua do Emanuel ... o Deus que está conosco.

Vocês ainda estão procurando um presente de natal? Não há necessidade de procurar tanto, basta lembrar a presença de Deus que sempre quer estar conosco, que sempre nos ama... o mesmo Deus que nos chama para ajudar os outros a lembrar que ele ama, é aquele que está sempre presente em nossas vidas.

O P. Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

3º Domingo do Advento – 12 de dezembro de 2010



As leituras de hoje nos revelam que a missão de salvação de Deus é realizada através de Jesus Cristo, que estabeleceu o reino de Deus na Terra. São Francisco de Sales faz a seguinte observação:

No Evangelho de hoje São João Batista orienta os seus discípulos, não para si mesmo, mas para Jesus. A missão de Jesus era ser o Salvador. Ele como verdadeira luz da justiça iluminou o caminho da Igreja com o esplendor de sua vida. Ele desceu para a humanidade para nos encher de Sua divindade, saciando-nos com a sua bondade, elevando-nos para que fossemos dignos dele, e dando-nos a existência divina dos "filhos de Deus". Ele constantemente levanta o lento e pesado espírito do pobre e humilde, dando-lhes o Seu próprio Espírito para que eles possam realizar grandes coisas.

Nosso Salvador nos ensina que não é suficiente chamar-nos cristãos. Devemos viver de tal modo que os outros possam reconhecer em nós mesmos, sem dúvida, as pessoas que amam a Deus com todo seu coração. Como João Batista, os verdadeiros servos de Deus, fazem uso de suas palavras e ações para guiar os outros ao longo do caminho que conduz a Ele. Preste atenção no exemplo dado por João Batista. Ele nos ensinou que para alcançar o verdadeiro sucesso na vida não devemos atrair os outros na nossa direção, mas em direção a Cristo. Uma vez em Sua companhia, os outros, como nós, devemos aprender a fazer o que for necessário para Seu amor e serviço, a fim de alcançar a estabilidade.

São João Batista era uma rocha inabalável no meio das ondas e das tempestades que geravam aflições. Ele demonstrava alegria tanto no inverno das amarguras como na primavera de paz. Nós, por outro lado somos como juncos que se deixam revolver por qualquer emoção ou mudança em nosso estado de espírito. Deixamos-nos agitar pelos ventos da riqueza, das honras e comodidades. Naquilo que diz respeito às coisas terrenas podemos dizer, "eu tenho uma quantidade moderada, eu tenho o suficiente." Mas, quanto a bênçãos espirituais, nunca teremos o suficiente. Como João Batista, inclinemos nossos corações para receber o amor divino que nosso Salvador deseja dar-nos. É o amor de Deus que permite que levemos o reino de Deus aos outros, para que ali reine a misericórdia, a justiça e a paz.

(Adaptado do livro de Sermões São Francisco de Sales de L. Fiorelli edições)

Perspectiva Salesiana

Destaque: "Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo.” Alegra-te! Jesus é o verdadeiro Messias, que traz a cura e força para o povo de Deus.

No dia de hoje, tanto o Evangelho de Mateus como o livro do Profeta Isaias falam da promessa da salvação de Deus.

O povo de Deus estava esperando por muito tempo a chegada “daquele" que iria salvá-los do pecado. O povo de Deus esperou por muito tempo a chegada daquele que estabeleceria a aliança de Deus com eles para sempre. Mesmo assim, aqueles que esperavam por tanto tempo a intervenção divina tinham na mente algumas perguntas fundamentais: quando é que virá o Messias? Como saberemos que é ele quando aparecer? Qual será o sentido e o tom de sua mensagem? Quais são os sinais que devemos ter presentes?

A resposta de Jesus é clara e inequívoca: ele lista os sinais que anunciam a chegada do Salvador esperado.

O Messias, que é Jesus, passou a vida resgatando - não condenando - o povo de Deus. Os sinais do ministério de Jesus foram a esperança e a cura. A fonte da mensagem libertadora de Cristo foi o poder e a promessa do amor redentor de Deus.

O Advento recorda-nos que Deus mantém as promessas que faz. O tempo do Advento recorda-nos os sinais do amor libertador, redentor e transformador de Deus, que continuam a se manifestar hoje. O tempo do Advento recorda-nos da nossa própria necessidade de uma conversão – fazer que nossos corações mudem - para que possamos conhecer o poder da esperança para a qual todos somos chamados.

São Francisco de Sales escreveu: "Quem se atreve agora a duvidar da quantidade de meios que temos à nossa disposição para obter a salvação através do nosso grande Salvador, a imagem de quem fomos criados e por cujos méritos fomos resgatados?” (Tratado do Amor de Deus, Livro II, Capítulo 5) Ainda assim, este grande dom vem acompanhado de uma grande responsabilidade. Francisco de Sales é enfático em dizer que Deus trabalha em cada coração humano. É por isso que, como cristãos que somos, nós vivemos no mundo, devemos reconhecer que as nossas relações com os outros são parte integrante do plano contínuo da salvação De Deus. Do ponto de vista do "Santo Cavaleiro", o tempo do Advento nos desafia a fazermos certo aquilo que é fundamental para nós: somos sinais convincentes da presença do Messias? Somos sinais do amor redentor e transformador de Deus? Somos fontes de esperança e cura na vida dos outros?

Muitos de nós iremos investir muito tempo e energia para decorar as nossas casas e os nossos bairros para celebrar o milagre do nascimento de Cristo, a manifestação do poder e da promessa da encarnação do amor de Deus. Um amor personificado na vida, o ministério e a mensagem de Jesus Cristo. Que iremos fazer deliberadamente e conscientemente para decorar a nossa vida com as virtudes que falam da presença do Messias em nossos relacionamentos com os outros? Quando nos encontrarmos com outras pessoas, elas poderão "ver e ouvir" os sinais do Messias?

 P. Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Francisco estudante em Pádua (6)

No dia 5 de setembro de 1591 doutorou-se em Direito Civil e Canônico na Universidade de Pádua. (In utroque jure) Tinha então 24 anos. Escreve e fala em Francês, Latim, Italiano e compreende grego e hebraico. Depois do doutoramento vai para Loreto.
Francisco voltou para casa (os pais e a família estão refugiados no Castelo de La Thuille, devido a guerra entre Sabóia e França pelo Chablais) como doutor. Chegou feliz, entusiasmado como sempre. Com a mente cheia de conhecimentos úteis, com a vontade fortificada por muitas provas, com a memória enriquecida por valiosas experiências, com o coração intacto, sem manchas, sem corrupção. E com o profundo e irrevogável desejo de fazer-se sacerdote, aconteça o que acontecer. Tem seis irmãos vivos. Cinco morreram. Aguarda-se a nova irmã Joana que virá.        
Ganha de seu pai uma biblioteca Jurídica, montada no Castelo de La Thuille. 





sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Segundo Domingo do Advento - 05 de dezembro de 2010


O Evangelho de hoje nos convida a ouvir João Batista: "Arrependei-vos, preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas". São Francisco de Sales faz os seguintes comentários a respeito desta passagem:

"Endireitai o caminho do Senhor". Os caminhos que tem muitas curvas e dão demasiadas voltas acabam cansando e induzindo ao erro. Nossa vida é cheia de caminhos sinuosos que devemos endireitar em preparação para a vinda de Nosso Senhor. Primeiro temos que corrigir a ambiguidade das nossas intenções e ter uma só: agradar a Deus, mostrando uma mudança de coração. Assim como o marinheiro que mantém os olhos na bússola durante a condução do barco, nós também devemos manter nossos olhos abertos para a penitência, ou seja, para experimentar uma mudança de coração.

Ao aceder a uma mudança de coração, voltamos à imagem e semelhança de Deus em nós. Através do arrependimento, experimentamos a amargura e a dor por termos ofendido a bondade de Deus. Já não seremos escravos das nossas emoções. Nossas inclinações, sentimentos e emoções agora se curvam ao amor de Deus e do próximo. Vemos claramente que arrepender-nos de nossas grandes culpas é um ato perfeitamente razoável, se considerarmos cuidadosamente os benefícios de levar uma vida virtuosa. Todos os atos de arrependimento são realizados em prol da beleza, da honra, da dignidade e da felicidade, para o nosso próprio bem-estar. A mudança de coração nos motiva a ter uma melhor disposição.

Aperfeiçoar a penitência significa alcançar um amor sagrado por Deus que transborda de amor ao próximo. O amor a Deus e o nosso próprio amor vivem em luta constante dentro do nosso coração, o que nos causa grande angústia. O verdadeiro amor próprio está a serviço de Deus. Quando reina o amor divino em nossos corações, dominam todos os outros amores. Em seguida organiza todas as nossas emoções e desejos naturais dentro do plano divino e do serviço. Caminhemos, então, com Deus, como fez João Batista. Assim, iremos nos tornar uma voz que proclama que devemos preparar o caminho e endireitar as estradas para o Senhor, para que, ao  recebê-lo nesta vida possamos desfrutar Dele na próxima.

(Adaptado dos escritos de São Francisco de Sales)

Sugerida Ênfase

"Ele não julgará pelas aparências que vê nem decidirá somente por ouvir dizer; mas trará a justiça para os humildes e uma ordem justa para os homens pacíficos...”

Perspectiva Salesiana

O texto de hoje do profeta Isaías, está cheio de promessa e de esperança: uma esperança enraizada na promessa de que Deus é justo, que Deus não tem favoritos. Esta promessa é encarnada em Jesus, o Salvador, que está cheio do espírito de Deus, um espírito cheio de sabedoria e entendimento. Esperamos que este mesmo espírito que impulsionou tanto o ministério de Jesus, também nos dê os dons da sabedoria e do entendimento.

Não recebemos os dons divinos da sabedoria e do entendimento por preço baixo. Na verdade, sempre vêm com grandes expectativas: uma, que julguemos os outros "Sem nos basearmos nas aparências ou nos boatos, mas com justiça". Em outras palavras, os seguidores de Jesus - filhos e filhas de Deus, o Criador, Redentor e inspirador, não julgam prematuramente.

São Francisco de Sales escreveu em sua "Introdução à Vida Devota: "Como ofendem a Deus os julgamentos prematuros! São como uma espécie de icterícia espiritual que faz com que todas as coisas pareçam ruins aos olhos de quem está infectada com ela.” (IDV Parte 3, Capítulo 28)

Os julgamentos apressados raramente - quase nunca – são baseados em fatos. Os juízos prematuros se fundamentam nas aparências, nas impressões, nos boatos e fofocas. Os juízos prematuros são feitos num instante (por isso muitas vezes são chamados juízos ‘apressados’) e geralmente são baseadas na emoção, não na razão.

Os juízos prematuros têm pouco a ver com o comportamento de nossos semelhantes, e muito mais a ver com as maquinações e à disposição dos nossos corações. Quando julgamos os outros "apressadamente" o que realmente estamos fazendo é expor nossa arrogância, nosso medo, nosso egoísmo, nossa amargura, nossa inveja, o ressentimento, o nosso ódio, nossa inveja, nossa condescendência para com os outros.

Somente quando julgamos entre nós com justiça seremos capazes de verdadeiramente "viver em perfeita harmonia e de acordo com o espírito de Jesus Cristo." Promover e preservar as nossas relações com "paciência e coragem" só será possível se nos livrarmos desta "Icterícia," de decisões apressadas.

Francisco de Sales escreveu: "Quem quer ser curado (de fazer julgamentos prematuros) deve aplicar remédios, não nos olhos ou no intelecto, mas nas suas afeições. Se suas emoções são amáveis, os julgamentos também o serão." (Ibid)

Crescer em sabedoria e compreensão requer que os nossos juízos sejam justos e que devem ser baseados em fatos, não em ficção, enraizados na sensibilidade, e não nas suspeitas, focados no comportamento e não em preconceitos. Nossos julgamentos devem ser concebidos de verdade, devem estar comprometidos com a justiça e caracterizados pela compaixão.

O P. Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales. 

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Pensamento de S. Francisco de Sales para o dia

"No céu, ama-se ininterruptamente, enquanto aqui até os maiores santos, tiranizados pela agitação das necessidades e exigências desta vida mortal, são forçados a sofrer inúmeros desvios, que, muitas vezes, lhes impede amar santamente" (DASal 3,180)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Francisco estudante em Pádua (6)


Às voltas com os estudos e a vida austera, ficou gravemente enfermo. Os médicos diagnosticaram que mais nada tinham a fazer. Longe dos seus, Francisco colocou tudo nas mãos de Deus: “seja feita a tua vontade!”  Chegou a deixar o próprio corpo em testamento para que fosse usado em estudos de autópsia pelos médicos.

"Por que Cristo fala tantas vezes sobre o juízo e o fim do mundo? Para fazer-nos temer. Mas por que Ele quer que tenhamos medo? Para que amemos, porque o temos é o começo da sabedoria." (Sl 111,10) (DASal 9,144)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Primeiro Domingo do Advento – Ano A – 28 de novembro de 2010



 As leituras de hoje, primeiro domingo do Advento nos convidam a andar nos caminhos da luz do Senhor. Chamam-nos a responder ao amor de Deus mudando o coração. São Francisco de Sales observa o seguinte: 

Maria que tinha um coração sem igual entregou sua mente, seu coração e sua alma a Deus sem reserva alguma. De maneira perfeita, superando qualquer outra criatura, sua vontade acatava a Vontade de Deus. Se houve alguma mudança em Maria, esta somente contribuiu para que ela continuasse avançando e amadurecendo na prática das virtudes, tornando imutável sua resolução de pertencer completamente a Deus. Não obstante, em nosso caso, devido as constantes vicissitudes da vida e da nossa constante disposição para mudar a maneira como nos relacionamos com os outros, frequentemente nos vemos obrigados a renovar as promessas que fizemos de aceitar e viver a palavra de Deus.

Como poderemos afirmar que pertencemos unicamente a Deus? Cuidando realmente de nosso coração toda manhã e toda noite. Deste modo consagraremos nossa mente, nosso coração e nosso corpo ao amor de Deus e a Seu serviço. A primeira coisa que devemos fazer cada manhã é preparar o nosso coração para que esteja em paz. Em seguida assegurar-nos que o coração retorne frequentemente a este estado de paz. Felizes são aqueles que caminham pelos caminhos do amor a Deus! Seus corações se converteram!

Vocês me perguntarão: como faço hoje para entregar a Deus meu coração, quando ainda está tão cheio de imperfeições? Como isso poderia agradar a Deus, quando poucas vezes me dediquei ai cumprimento de Sua vontade? E eu lhes perguntarei: Por acaso não sabem que Deus converte para o bem o nosso coração? Deus não nos disse: “Entreguem-me um coração puro como o dos anjos ou o de Maria.” Ele disse: “Entreguem-me seus corações”. Portanto, entreguem a Deus seus corações tal como estão, porque Ele somente deseja que vocês sejam o que são.

Esforcemo-nos para alcançar este amor que Deus deseja dar-nos. Da mesma maneira que os veados, ao serem perseguidos pelos caçadores redobram a velocidade, até o ponto de parecer que voaram, nós também devemos avançar na busca daquilo que Deus deseja para nós. Não nos limitemos somente a correr. Oremos a Deus para que nos conceda asas de pombas para com elas alçar voo nesta vida e que também nos ajudem a encontrar o descanso na eternidade.

(Adaptação dos escritos de São Francisco de Sales)

Destaque

“Despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz.”

Perspectiva Salesiana

Existe um sentido de urgência palpável nas palavras da carta de Paulo aos romanos para o dia de hoje: uma súplica urgente para que “despojemo-nos das ações das trevas” e para que vistamos “a armadura da luz”. Paulo é bastante específico quando descreve as “ações das trevas”. O comentarista bíblico William Barclay argumenta que a leitura desta descrição nos traz material suficiente para que examinemos e avaliemos quem somos e o que fazemos.

Fazer farra – promover tumulto e perturbar os demais em momentos que as pessoas decentes estariam descansando. Em geral este conceito se refere a pessoas que incomodam os outros.
A embriaguez – o estar intoxicado – literalmente envenenado, até o ponto em que alguém perde a razão, a disciplina e o sentido comum.

Exceder-se na sexualidade e na luxúria – Desejar consumir pelo desejo de sentir prazer sem pensar nas consequências ou no impacto que isso possa ter nos outros. Iludir-se pelo fato de não ter nenhuma norma moral.

Ser briguento – ser incapaz de relacionar-se com outras pessoas sem provocar brigas, controvérsias ou conflitos. Esta pessoa sempre quer ganhar ou que sempre quer ter razão.

Os ciúmes – sentir inveja dos benefícios ou da boa fortuna dos outros.

São Francisco de Sales nos diz que não é suficiente que abandonemos estas – ou outras más ações. Também devemos descartar nosso afeto –ou nossa atração – pelos mesmos: “Todos os israelitas saíram do Egito fisicamente, mas muitos deixaram preso lá o seu coração e nem todos  deixaram para traz sua atração por aquele lugar; é por isso que no meio do deserto muitos deles se lamentaram da falta de alimento e de lugares de entretenimento lascivo que havia no Egito. Do mesmo modo existe penitentes que dão as costas ao pecado porém não descartam sua atração pelo mesmo” (IVD Parte I, Cap. 7).

Porque devemos abandonar nossa atração pelo pecado, nossa tendência para seguir as más ações?  “Além de arriscar-nos perigosamente a cair novamente, estas vis tendências podem debilitar nosso espírito terrivelmente e podem se converter numa carga que nos impedirá de fazer boas obras pontuais, diligentemente e frequentemente” (Ibid)

O advento é o tempo da esperança: a esperança de que a promessa que nos foi feita com a vinda de Cristo será cumprida. Esta mesma esperança requer que examinemos seriamente se as obras que fazemos e/ou as que deixamos de fazer nos estão ajudando para que a esperança se torne uma realidade em nossas vidas e nas vidas dos outros. Que estamos dispostos a ir longe em nosso desejo de poder viver uma vida devota, quer dizer, de fazer boas obras pontuais, diligentemente e frequentemente? Se acreditarmos que a única tarefa é somente dar as costas ao pecado, porém, ao mesmo tempo não deixarmos nossa atração pelo pecado, então, simplesmente não estamos dispostos a ir demasiado longe.

O P. Michael S. Muray é o Diretor do Centro Espiritual de Sales

domingo, 21 de novembro de 2010

Pensamento de S. Francisco de Sales para o dia

"Se dissermos que queremos dar tudo, precisamos fazê-lo por completo. Devido à inconstância e volubilidade das nossas inclinações e caprichos, necessitamos renovar e reafirmar, cada hora, cada dia, cada mês, cada ano, a promessa e a palavra que damos de pertencer totalmente a Deus". (DASal9,298s)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Cristo Rei - 21 de novembro de 2010



Hoje celebramos a Festa de Cristo Rei. São Francisco de Sales nos encoraja a aceitar o Reino de Cristo:

As abelhas sempre se mostram intranquilas quando não têm uma rainha. Mas quando sua rainha nasce se agrupam ao seu redor e cumprem seus desejos. Da mesma forma, nossos sentidos vagam eternamente arrastando atrás de si o nosso "eu interior", desperdiçando tempo e causando preocupação e ansiedade em nós. Tudo isso destrói a paz que é tão necessária ao nosso espírito humano. Nossos sentidos, nossa mente são como as abelhas místicas. Enquanto não temos um soberano, ou seja, enquanto não escolhemos a Nosso Senhor como nosso rei, nossas preocupações continuarão apoderando-se de nós.

Assim, quando escolhemos Nosso Senhor como nosso Rei, devemos nos submeter a Ele. Sua é singularmente bondosa no exercício da misericórdia e da justiça. A misericórdia de Deus faz com que escolhamos fazer a coisa certa, enquanto a justiça de Deus faz-nos rejeitar o mal. Nosso Senhor usa de misericórdia e justiça para extirpar tudo o que nos impede de experimentar os efeitos da Sua bondade. A justiça de Sua Majestade pode transformar nossa consciência através do entendimento. Mas essa tendência gerará em nós tendências que nos permitirão alcançar o nosso bem-estar. Deixar de lado o nosso velho homem para moldar o novo "eu em Cristo" pode nos causar sofrimento. Mas a misericórdia incomparável de Nosso Senhor abre nossos corações e restaurara a nossa saúde por meio do Espírito Santo, que enche nossos corações com amor sagrado.

A paz reinará onde Nosso Senhor é o Mestre. A fim de preservar a nossa paz, devemos cultivar uma intenção pura de trazer a glória de Deus em todas as coisas. Façamos todos os esforços possíveis, ainda que pequenos, para alcançar esse objetivo, e deixar que Deus cuide do resto. Nós oramos para alcançar a felicidade e para cumprir com os desejos do nosso Rei, da mesma forma que as abelhas fazem com a sua rainha, para que possamos começar nesta vida, e com a ajuda do amor de Deus, o trabalho que continuará no Céu junto à eternidade. Viva Jesus!

(Adaptado dos escritos de São Francisco de Sales)

Destaque

"Jesus, lembra-te de mim quando estiveres no teu reino." “Eu te digo hoje estarás comigo no Paraíso".

Perspectiva Salesiana

Francisco de Sales nos diz na introdução à vida devota: "Considere o amor eterno que Deus te deu. Antes que Nosso Senhor Jesus Cristo, que se fez homem, sofresse na cruz por ti, Sua Majestade divina pela sua bondade soberana já havia projetado tua existência e te amava muito”. (Introdução, Parte V, Capítulo 14)

Tão tentado como estava pelas vozes ao seu redor, dizendo-te que usará seu poder real para tua própria libertação ou benefício, Jesus passou seus últimos momentos, o último suspiro, para o benefício de todos. Foi com amor que ele prometeu o paraíso ao ladrão arrependido que lhe pediu com humildade e contrição.

Nesta festa do Reino de Cristo, a Igreja apresenta-nos duas imagens: Davi, o pastor-guerreiro, que foi designado para ser seu rei do seu povo, e Jesus, o verdadeiro rei, rejeitado pelo povo, crucificado e ridicularizado. Com Davi o reinado de Israel foi estabelecido para que dele saísse o Redentor de todos os povos. Mas, como Jesus viveu o seu chamado para ser rei? De acordo com São Francisco de Sales foi para "a perfeita entrega nas mãos de nosso Pai celestial e a esta perfeita indiferença a tudo aquilo que é a vontade de Deus." (São Francisco de Sales - Sermões de Quaresma, Sexta-Feira Santa, 1622)

Para Jesus, ser o rei significava ser um com o seu Pai. Ele vivia em perfeita união com Deus. Como diz Paulo em sua carta aos Colossenses: "é a imagem do Deus invisível.” Para Jesus, ser o rei significava dar-se todo para os outros. Ele deu tudo que tinha a cada pessoa em todos os momentos. Vemos isso em suas palavras para o criminoso arrependido na cruz: Jesus só falava da misericórdia e da aceitação.

Somos chamados a fazer o mesmo. Como cristãos, nossa primeira preocupação deve ser a união com o nosso Deus: "Senhor, é bom para mim estar com você, mesmo se você estiver na cruz ou em sua glória." (Introdução, Parte IV, Capítulo XIII) Francisco de Sales diz no Tratado do Amor de Deus: "O Calvário é o monte dos amantes." (Livro XII, Capítulo XIII) Seguindo o exemplo do nosso Rei, temos que falar de misericórdia e aceitação. Como Jesus, nós não somos chamados a condenar ou rejeitar, mas apenas para o amor.

Santa Leonia Aviat viveu a vida humilde e entregue como nos mostra as Escrituras do dia de hoje. Ela reconheceu e experimentou o sentido da fidelidade autêntica, do poder real: o de passar toda a vida com Deus para os outros. Como uma jovem fundadora de uma comunidade religiosa, as Irmãs Oblatas de São Francisco de Sales, a Madre Aviat se comprometeu em "esquecer-se completamente" e "trabalhar para a felicidade dos outros." O chamado para seguir Cristo ressoou em cada uma de suas palavras e de suas ações assim como ela trabalhava para dar às pessoas aqui na terra uma amostra do paraíso que Cristo prometeu a todos aqueles que o recordam.

Talvez seja esse o ponto. Que melhor maneira de pedir a Deus para que nos lembre de sua presença em cada dia, cada hora e momento? Que melhor maneira de acompanhar a Cristo no céu do que lembrar que temos que chegar aos outros aqui na terra?

O P. Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Reflexão Salesiana para o domingo 33º Domingo do Tempo Comum (Ciclo C)


14 de novembro de 2010

No Evangelho de hoje Jesus nos diz que, independentemente de qualquer situação que está acontecendo ao nosso redor, temos que perseverar em nossos esforços para segui-lo. Sobre este assunto, Francisco de Sales diz o seguinte:

Será que existe alguma sociedade, uma religião, uma instituição, um estilo de vida tão protegido que está isento dos ataques do mal? Dado que este perigo atinge tudo, é arriscado conviver com aqueles que se dedicam a fazer o mal. Quando confrontado com o mal, é preciso distinguir entre fatos reais e medos infundados. Deus não nos dá a força para lidar com o conflito imaginário, mas sim para o momento em que a necessidade exige. Muitos dos servos de Deus sentiram medo, quase perderam toda a sua coragem ao enfrentarem-se com os perigos fictícios. No entanto, nos momentos em que o perigo foi iminente, comportaram-se com bravura.

Se nos deixarmos levar por nossos medos infundados podemos perder nossa valentia e não faremos nada para tentar combater o mal. Temos de começar a trabalhar. O Senhor quer lutadores e vencedores do mal. Se sentimos que precisamos de coragem iremos gritar cheios de confiança, "Salva-nos Senhor". Se o nosso desejo de servir a Deus é sincero, mas nos falta força para pôr em prática esse desejo, ofereçamo-lo a ele, que nos dará a capacidade de realizá-lo. Deus irá renovar as nossas aspirações tantas vezes quanto seja necessário para perseverarmos neles. Basta sentir o desejo de lutar com coragem, cheios de confiança verdadeira para que o Espírito nos ajude.

Na medida em que continuarmos a fazer a vontade de Deus, Ele nos ajudará a triunfar em tempos difíceis. Entreguemos ao Senhor a nossa vontade e Ele a renovará para que assim possamos adquirir a coragem necessária e fará que perdure durante toda a nossa vida mortal. As crianças se sentem seguras estando nos braços de suas mães. Sentem que nada pode prejudicá-las enquanto não forem tiradas de suas mãos. Mesmo que os tempos conflitantes criem medo em nós, temos que segurar na mão do nosso "Deus Todo-Poderoso", que nos protege e nos põe a salvo.

(Adaptado dos escritos de São Francisco de Sales)

Destaque

“Para vós, que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas”

Perspectiva Salesiana

Sentir medo do Senhor é o princípio da sabedoria (Salmos 111: 10). Mesmo assim, o Salmista recorda-nos que este temor do Senhor (que está diretamente relacionado à aquisição da sabedoria) é apenas o começo: deve levar-nos a "seguir os preceitos de Deus,” deve levar-nos à ação.

Em outras palavras, ter medo do nome do Senhor deve nos levar a realizar as obras do Senhor!

Como ouvimos na segunda leitura de hoje, São Paulo certamente sabia disso: "Bem sabeis como deveis seguir o nosso exemplo, pois não temos vivido entre vós na ociosidade. Pelo contrário, trabalhamos com esforço e cansaço, de dia e de noite, para não sermos pesados a ninguém. Quem não quer trabalhar também não deve comer”.

Esse temor do Senhor – esse medo do nome de Deus - não se destina a nos paralisar. Não, o seu objetivo é claramente para nos motivar, nos fazer mudar, fazer com que trabalhemos – individual e coletivamente - na busca dos mandamentos do Senhor, para construir o Reino de Deus. Dito de outra forma, o temor de Deus não nos deve tornar passivos, ao contrário, deve tornar-nos ativos.

Isso deveria ser óbvio. Ainda assim, a mensagem oposta pode ser transmitida (involuntariamente) quando consideramos as vida e os legados dos santos que, entre outras coisas, sentiam claramente temor do nome do Senhor: "Quando pensamos em homens e mulheres santos através dos séculos, muitas vezes nos lembramos de esculturas, desenhos e pinturas em que todos os santos aparecem menos ativos. Nossos santos mais ativos muitas vezes não estão fazendo nada mais enérgico do que segurando um lírio ou piamente que olhando para o céu. E embora essas imagens possam vir a comover e inspirar, e mesmo que algumas vezes são úteis em momentos de contemplação, se estamos procurando modelos de ação e energia, estas imagens não são tão atraentes "(James Martin, SJ Patronos e Protetores: ocupações mais por Michael McGrath O'Neill)

É com esta visão que James Martin escreveu que "talvez o fato que mais temos ignorado na história cristã é o fato de que Jesus trabalhou. Podemos facilmente imaginar Jesus sendo instruído por São José, o carpinteiro. Na oficina de José em Nazaré, Jesus aprendeu sobre os materiais de sua arte... José ensinou a seu aprendiz a maneira correta de pregar um prego com o martelo, de cavar um buraco na madeira ou como nivelar uma prateleira." (Ibidem)

E quem teria temido o nome do Senhor e seguido os preceitos de Deus de forma mais clara e mais convincente do que Jesus? Gregory Pierce sugere que precisamos ver e experimentar o trabalho como "todo o esforço (remunerados ou não) que fazemos para tornar o mundo um lugar melhor, um lugar que se assemelhe mais à forma que Deus quer que as coisas sejam."(Espiritualidade e Trabalho, Página 18)

O trabalho, o trabalho de Deus é verdadeiramente a nossa carga na vida, a nossa razão de ser, a finalidade para a qual vivemos. Vamos olhar para a vida em Jesus, este trabalho pode ser árduo, demorado e frustrante. Ainda assim, o que pode ser mais gratificante do que usar toda nossa energia para tornar o nosso pequeno canto do mundo lugares em que o "sol da justiça" pode surgir nos corações e nas mentes de nossos irmãos e irmãs? O temor do Senhor é, em última instância, um convite - e não uma exigência - para fazer a obra do Senhor.

O P. Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales. 

sábado, 6 de novembro de 2010

Uma frase muito bonita sobre a santidade

Para curtir neste domingo em que celebramos o dia de todos os Santos, São Francisco de Sales disse: "Observa tu a diversidade dos santos e pergunta como chegaram a isso; e aprenderás que os Apóstolos o alcançaram principalmente pelo amor; os mártires, por sua constância; os Doutores da Igreja, por sua meditação; os confessores, por sua abnegação; e todos, sem distinção, pela humildade." (DASal 7,205)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O CHAMADO À SANTIDADE


Neste final de semana não temos os comentários do evangelho salesiano do final de semana, pois celebramos a festa de todos os santos, que em outros países se celebra no dia 1º de novembro. Então decidi transcrever este arquivo que tenho sobre a santidade na Espiritualidade Salesiana.  

O CHAMADO À SANTIDADE

1.       DEVOÇÃO: 

-
São Francisco de Sales não costumava usar a palavra espiritualidade. Falava da devoção. Ser devoto significava viver a vida cristã com seriedade, de maneira coerente e comprometida.
- Mas os estudiosos do santo dizem que santidade, perfeição cristã, perfeição da caridade, devoção são sinônimos.
- Santidade para todos: esta é uma das maiores contribuições de São Francisco de Sales para a espiritualidade cristã.
- “Na criação, Deus mandou as plantas produzirem seus frutos, cada um segundo a sua espécie. O mesmo mandamento dirige aos cristãos, que são plantas vivas de sua Igreja, para que produzam frutos de devoção, cada um segundo seu estado e condição. A devoção deve ser praticada em modo diverso pelo fidalgo, pelo artesão, pelo empregado, pelo príncipe, pela viúva, pela mulher solteira e pela casada. Porém, isto não basta: é necessário conciliar a prática da devoção com as forças, as obrigações e deveres de cada pessoa... É um erro e até uma heresia querer expulsar a devoção da corte dos príncipes, dos exércitos, da tenda do operário e da vivenda das pessoas casadas...Enfim, onde quer que estivermos, podemos e devemos aspirar continuamente à perfeição”. (IVD I, 3)

2.       UMA MENSAGEM SURPREENDENTE

- Santidade para todos: surpreendeu fortemente seus contemporâneos: o mundo pinta as pessoas devotas com um rosto sombrio, triste e melancólico – mal-humorados e insuportáveis. (IVD prólogo) e pensavam que santidade era para pouca gente, coisa de frades e monges, de beatas, de quem se retirava do mundo.
- Hoje: a palavra santidade não suscita grandes adesões e entusiasmos. Raramente se fala de santidade. Quando se fala: espiritualismo abstrato e desencarnado. Mentalidade antiquada. Longe dos valores atuais. Para muitos é coisa do passado. Para outros é um ideal demasiado elevado e custoso.
- contra tudo isso SFS quer mostrar que se pode viver no mundo, no meio das preocupações, vicissitudes, ocupações da vida e ser santos! Escreveu então a Introdução à Vida Devota. Produziu grande impacto. Para muitos é como se a religião tivesse sido libertada de duras cadeias.
- São Francisco de Sales se concentra no essencial: amor de Deus.
- Propõe uma santidade não como fuga do mundo, mas como ideal a conquistar.
- a IVD ou Filotéia representa a cristalização da mensagem salesiana da santidade laical, a santidade no mundo, a santidade para todos.

3.       SANTIDADE PARA TODOS

- Todos os crentes são chamados à santidade porque foram criados à imagem de Deus.
- Imprimir em nosso próprio ser, o ser de Deus.
- Fazer crescer e desenvolver em nós esta imagem e semelhança divina – desafio radical e a empresa mais apaixonante que um homem e uma mulher podem empreender.
- Fundamento: desígnio e vontade de Deus. Ele quer a nossa santidade!
Textos:
Ele nos escolheu antes da criação do mundo para sermos santos e imaculados no amor (Ef 1,4).
Sede perfeitos como vosso Pai do céu é perfeito. (Mt 5,48).
Santificados em Cristo Jesus, chamados a ser santos. (1 Cor, 1,2)
Conforme a santidade daquele que os chamou, sede também vós santos em todo o vosso proceder (1 Pd 1,16)
Aperfeiçoamos nossa santificação com o temor de Deus (2 Cor 7,1)
A fim de que o coração de vocês permaneça firme e irrepreensível na santidade (1 Ts 3,13)
- Cristo é o fundamento de toda santidade. A santidade constitui um dever primordial dos cristãos, porque na realidade consiste em viver de maneira coerente a vida cristã.
- Não se realiza somente com a vontade humana. A santidade não é resultado de esforços humanos. Provém de Deus, é dom de Deus. É Deus quem irrompe na história e na vida humana e nos arrasta, nos conduz à sua própria vida, a vida divina.
- Manter sempre muito viva a confiança na ajuda divina. Confiança a abandono são os eixos de toda a vida espiritual.
“Se aproveitássemos as inspirações celestiais em toda a plenitude de sua eficácia, logo faríamos progressos admiráveis de santidade”.

4.       ATUALIDADE DA MENSAGEM SALESIANA

- É importante sublinhar a atualidade da mensagem salesiana, principalmente do chamado à santidade para todos.
- O Concílio Vat. II, no cap. 5 da Lumen Gentium fala sobre a “vocação universal a santidade na Igreja”. O Concílio diz que a Igreja é “indefectivelmente santa”, porque Cristo a amou como sua esposa e se entregou a Si mesmo por ela para santificá-la; por isso na Igreja todos estão chamados à santidade. (LG 40 e 42). O Vaticano II usa quase as mesmas palavras que quase quatrocentos anos disse Francisco de Sales. Paulo VI disse que ele foi precursor do Concílio Vaticano II.
- O chamado à santidade constitui o autêntico pensamento eclesial. Paulo VI disse: “É o elemento mais característico de todo o magistério conciliar e, por assim dizer, seu fim último”. (SC) E João Paulo II: “É o momento de propor novamente a todos com convicção este alto grau da vida cristã ordinária”. (NMI 31 – Novo Milenio Ineunte)
- Contra a tendência ao conformismo, rotina ou mediocridade é preciso insistir na prioridade desta meta.
- A santidade é o pressuposto fundamental para a Igreja realizar sua missão. Vocação comum.
- Para nós: primado de Deus – acolher o amor e viver o amor.
- Neste sentido São Francisco de Sales é modelo para nós!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Altar de São Francisco de Sales em Santiago do Chile


Na Catedral de Santiago do Chile existe um altar dedicado a São Francisco de Sales e fica logo na entrada, à direita. Tentei tirar uma foto, pois a catedral é muito escura. Consegui o que mostra a foto. Existe uma explicação sobre cada altar e no de São Francisco consta uma pequena biografia.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

31º Domingo do Tempo Comum – 31 de outubro de 2010


No evangelho de hoje Jesus faz a experiência de entrar na casa dos perdidos antes mesmo que eles façam penitência. São Francisco de Sales diz:

Nosso Salvador nos ajuda a encontrar Seu coração cheio de misericórdia e compaixão generosa para conosco justamente nestes momentos em que nossos corações parecem mais endurecidos. Assim como Zacarias, somente precisamos querer ver Jesus. Nosso Redentor sempre nos dá o Seu santo amor. Continuamente perdoa as faltas que diariamente cometemos contra Ele. Recompensa mesmo o menor dos nossos serviços com grandes favores. Continua recriando a humanidade através do amor misericordioso que Ele tem para com toda a humanidade.

Como costuma ser a grandeza da misericórdia de Deus? A misericórdia de Deus leva-nos a escolher o bem. Porém, quando realmente pertencemos a Deus? Ele não tem escravos, apenas amigos que escolheram amá-lo livremente. Da nossa parte, a conversão depende da nossa resposta livre ao amor de Deus. Estamos prontos para responder plenamente ao amor de Deus quando começamos a purificar nossos afetos e nossos trabalhos, moldando-os de acordo com os ensinamentos do Evangelho. Descobriremos que nosso espírito se tornará puro quando deixarmos de buscar obstinadamente coisas que só beneficiam a nós mesmos. Então seremos livres para escolher a verdade e viver, em Cristo, a vida que Deus deseja para nós.

Livrar-se de tudo o que não é de Deus é algo que representa uma luta constante em nossas vidas. Na verdade, enquanto estamos vivos sentimos necessidade de renovar e de recomeçar. Esta renovação é necessária devido a nossa natureza que está sempre mudando e porque podemos nos tornar frios e cometer falhas. Não existe um relógio que é perfeito e que não precise de nenhum reparo. Assim como um relógio precisa de óleo para evitar a ferrugem, nós precisamos da Confissão e da Eucaristia para ungir nossos corações a fim de restaurar a sua força e aquecê-los. É assim que mais uma vez conseguiremos nos dedicar ao amor de Deus. Se renovamos verdadeiramente o nosso coração a cada dia, vamos adquirindo a capacidade de renovar-nos no serviço de Deus.

(Adaptado dos escritos de São Francisco de Sales)

Destaque

“Entretanto, de todos tens compaixão, porque tudo podes. Fecha os olhos aos pecados dos homens, para que se arrependam. Sim, amas tudo o que existe, e não desprezas nada do que fizeste; porque, se odiasses alguma coisa não a terias criado. Da mesma forma, como poderia alguma coisa existir, se não a tivesses querido?”

Perspectiva Salesiana

O autor da nossa leitura da Sabedoria dá graças a Deus pela sua bondade, paciência e miseri-córdia. O Senhor ama tudo o que ele fez. Toda a criação é feita, como lembro de ter lido em tessalonicenses, para glorificar a Deus, seu Criador amoroso. Na verdade, toda a criação traz o espírito daquele que nos amou e deu a vida.

Não podemos negar, ao glorificar a Deus, nossos pecados, nossas falhas, nem devem nos desanimar nem impedir de continuar em frente na nossa caminhada para a renovação com Deus. Fomos criados para levar a imagem de Deus que nos criou no amor. No seu "Tratado do Amor de Deus", Sales escreve: "Considerem a natureza que Deus lhes deu. É a maior neste mundo visível, está qualificada para a vida eterna e para estar perfeitamente unidos com Sua Divina Majestade. "Tratado [1-1]

Quando falhamos, Deus graciosamente nos chama de volta ao bom relacionamento. O convite é um convite, não uma exigência, e cabe a nós responder a este convite livremente. O Salmo 145 louva a Deus que é "bom e misericordioso, que raramente recorre à raiva e é extremamente amável." Da mesma forma que Deus é misericordioso e paciente conosco, temos de ser gentil e paciente conosco. Sales apresenta estas qualidades na Introdução à Vida Devota: "... Quando cometer uma falta, se o seu coração censurar de maneira calma e gentil, com mais compaixão do que raiva, e incentivá-lo para fazer reparos, em seguida, o arrependimento chegará mais profundo e penetrará mais eficazmente do que o arrependimento chato e inquieto. "[Introdução III. 9] Com essa doçura e paciência, podemos refletir o amor de Deus, e dizer como São Paulo aos tessalonicenses, damos glória ao nosso amoroso Criador.

A história do Evangelho apresenta as qualidades da bondade, do arrependimento e da misericórdia. Jesus toma a iniciativa e vem à procura de Zaqueu olhando para a árvore e chamando Zaqueu em lugar de esperar que Zaqueu desça da árvore e se aproxime dele. Busca a Zaqueu, “o perdido” e ao ir para onde Zaqueu morava, o convidou para retornar a um relacionamento amoroso. Zaqueu se arrepende no verdadeiro espírito de humildade. Ele aceita o gracioso e livre convite. Sem ser coagido, ele oferece reparação.

A paciência, a bondade e a misericórdia são as qualidades de Deus quer de nós como criaturas que são a sua imagem e que somos chamados a refletir. Quando nós somos testemunhas destas qualidades nas relações humanas, podemos entrever a nossa forma de criar, resgatar e inspirar o Deus vivo e sorrindo - aqui na terra.

O P.Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.

Santiago do Chile

Vejam que bela pintura de São Francisco de Sales que está na entrada da Casa Inspetorial dos Salesianos de Dom Bosco de Santiago do Chile.

sábado, 23 de outubro de 2010

Francisco estudante em Pádua (5)

Nesta época lê o livro “Combate espiritual” escrito em 1589 por D. Lorenzo Scupoli.  Nele encontra sua finalidade precisamente definida e seu caminho exatamente determinado. Lê: “a perfeição não consiste nas práticas exteriores, na religião formal, mas em total desapropria-ção de nossa vontade e resignação à de Deus, submetendo-nos não apenas a Ele, mas a toda criatura por seu amor e isto unicamente para seu beneplácito, porque Ele assim o quer e porque Ele merece ser servido e amado” (Ch I)


O objetivo do amor é agradar a Deus por uma submissão absoluta de amor: tal é a regra de ouro da santidade salesiana. A submissão ao beneplácito divino unicamente liberta; a revolta nos une ao nosso tormento. Aqui começam o céu e o inferno!
No final de 1590 ou começo de 1591 elabora um “Regulamento de vida”, de acordo com seu diretor espiritual, P. Antonio Possevin. Resumidamente é assim:
  1. Exercício da preparação – “Fá-lo-ei ao menos uma vez por dia: a saber, de manhã; consiste num exame de previdência, feito na presença de Deus, daquilo que se prevê advenha durante o dia.”
  2. Depois escreve 7 artigos para bem passar o dia. “De manhã, logo ao despertar, darei graças a Deus... Depois, pensarei em algum sagrado mistério... Não faltarei de assistir todos os dias a Santa Missa”... O terceiro  destes artigos é original: “Como o corpo tem necessidade de entregar-se ao sono para descansar e repousar os membros lassos, assim também é necessário que a alma disponha de algum tempo para dormitar e descansar entre os braços do celeste Esposo, a fim de por este meio restaurar as forças e o vigor das potências espirituais: portanto, destinarei todos os dias tempos determinados para esse sagrado sono, para que minha alma, à imitação do discípulo bem-amado, durma em toda segurança sobre o amável peito, isto é, no coração amoroso do amoroso Salvador.” 
Depois do doutoramento vai para Loreto, pois tinha feito voto a Nossa Senhora caso se curasse de sua doença em Pádua. 

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

30º Domingo do Tempo Comum - 24 outubro de 2010

As leituras de hoje nos lembram que Deus responde prontamente aos apelos daqueles que se arrependem dos erros cometidos. São Francisco de Sales observa:

Deus em sua inigualável misericórdia abre a porta ao coração do penitente. Este se perderia caso Deus não o ajudasse. Para que nosso arrependimento, por não conseguirmos viver como imagem de Deus, seja verdadeiro, devemos primeiramente libertar nossos corações de qualquer outra coisa para deixá-lo se encher do próprio Nosso Senhor. Cada canto, cada esquina de nosso coração está cheio de milhares de coisas ultrajantes de serem vistas na presença de nosso Salvador. Então é como se tivéssemos as mãos amarradas, e estivéssemos impedindo-o de dar-nos os dons e a graça que Ele sempre está disposto a nos dar, desde que estejamos preparados para recebê-los.

Quando nos arrependemos deixamos que a humildade maravilhosa do nosso querido Salvador entre em nossos corações. A humildade de coração nos torna conscientes da bondade de Deus que é digno de um grande amor. A humildade de coração também nos permite entender a nossa incapacidade de amar perfeitamente. Por isso precisamos de nosso Salvador. É Ele que vai nos tirar de nossa miséria para nos tornamos grandes.

A virtude da penitência tem como valor nos elevar ao máximo. Devemos ser como o arqueiro que, quando vai atirar uma flecha, puxa a corda de seu arco de um ponto baixo, dependendo da altura que deseja que a seta chegue. Para poder chegar até Deus, devemos apontar para o mais alto possível. Portanto, devemos rebaixar-nos muito mais, deixando de lado o ego e nos abrirmos para receber a ajuda de Deus. Devemos deixar todos os problemas nas mãos de nosso Salvador, que sempre cuida de nós, para que possamos nos entregar completamente a Ele. Quando damos o nosso consentimento a Deus para que nos ame do jeito que Ele quiser, Ele nos receberá em sua misericórdia e também avivará e restaurará completamente nossa verdadeira saúde espiritual, que é o amor sagrado.

(Adaptado dos escritos de São Francisco de Sales)

Destaque

"O Senhor ouve o clamor dos pobres".

Perspectiva Salesiana

Os pobres não têm muitas coisas na vida. Mesmo assim, as coisas que possuem - um lugar especial no coração e na mente de Deus tem uma clara vantagem sobre qualquer riqueza da terra.

A Bíblia é clara e inequívoca: Deus tem uma preocupação especial para com a luta dos pobres e necessitados, para as deficiências dos desesperados e para aqueles com o coração partido, pela angústia dos perdidos e abandonados, pelo espírito dos que têm sido esmagados, para a vida do solitário, pela alma dos pecadores.

Jesus personifica o amor pelos pobres. Mesmo tendo se aproximado de todas as classes sociais, econômicas e étnicas, Jesus passou parte significativa do seu tempo, da sua energia, do seu ministério, do seu amor com os pobres, com aqueles que foram caluniados e maltratados. Jesus parece ter gozado de maior sucesso com os pobres, da mesma forma que ele parece ter se sentido mais confortável com eles.
São Francisco de Sales observou isso de um modo geral na Introdução à Vida Devota. Ele escreveu: "Nós devemos praticar a verdadeira pobreza no meio de todos os bens e riquezas que Deus nos deu. Muitas vezes temos que nos livrar de certas propriedades e entregá-las com um coração generoso para os pobres. Desfazer-se do que temos é empobrecer-nos na proporção daquilo que damos e quanto mais dermos, mais pobres seremos... Amem os pobres e amem a pobreza, porque é através deste amor que nós nos tornamos verdadeiramente pobres ...alegrem-se em vê-los em suas próprias casas e visitem-nos. Sintam-se felizes em falar com eles e alegrem-se em tê-los em torno de suas igrejas, nas ruas e em outros lugares. Sejam pobres quando conversarem com eles... mas sejam ricos quando se trata de assisti-los, partilhando algo  dos seus bens com eles em abundância " (Intro III, 15)

Vale a pena explorar três aspectos das observações feitas por Francisco Sales de Sales. Primeiro, ao nos aproximamos dos pobres, vamos conhecer a nossa própria pobreza, as nossas próprias necessidades, o nosso próprio desespero e a nossa própria desgraça. Francisco observou: "Nós nos tornamos semelhantes aos que amamos." Nosso desejo de servir os pobres aproxima os pobres de nós mesmos.

Em segundo lugar, a luta dos pobres é um desafio para nós, para que sejamos generosos: para que doemos um pouco da nossa riqueza e ainda algo mais difícil, doar um pouco de nossas próprias necessidades e desejos.

Terceiro, precisamos reconhecer as formas mais sutis da pobreza em nossas casas, nossos bairros, nossas salas de aula, nosso local de trabalho. Não apenas reconhecer a pobreza nas esquinas, ou nas estações de ônibus. Temos que reconhecer as riquezas celestiais que todos possuímos: o cuidado, a bondade, o perdão, a amizade, a verdade, o companheirismo, a cura, a compreensão, a reconciliação, a honestidade, a fé, a esperança e... o amor.

Claramente, fielmente, com amor, de forma convincente o Senhor ouve o clamor dos pobres.

E nós? Ouvimos?

O P. Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.