sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Reflexão Salesiana para o dia de Todos os Santos - 1 de novembro de 2014






















Destaque "Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus!" 

Perspectiva Salesiana

No primeiro domingo de abril de 1855 Dom Bosco fez a seus jovens uma pregação sobre a santidade. Como sempre, alguns torceram o nariz. Mas um deles escutava atentamente. Chamava-se Domingos Sávio. D. Bosco desenvolveu três pontos: é vontade de Deus que todos nos santifiquemos; é muito fácil conseguir isso; terá um grande prêmio no céu quem conseguir tornar-se santo. Nos dias seguintes, Domingos estava menos alegre do que de costume, não brincava mais. D. Bosco perguntou o que tinha acontecido, se ele estava doente. Domingos responde que tem necessidade de ser santo e por isso não pode mais ser alegre. O santo mestre da juventude louvou esta decisão, mas corrigiu, de uma maneira bem salesiana, o modo de chegar a ser santo: deveria viver sem inquietação interior, ter uma constante e moderada alegria, ser perseverante no cumprimento dos seus deveres de piedade e de estudo e que participasse sempre no recreio com seus companheiros. (João Bosco, Vidas de Jovens, 64) Um dia, a um colega recém-chegado ao Oratório de São Francisco de Sales, Domingos disse: "Saibas que nós aqui fazemos consistir a santidade em estar sempre alegres... procuraremos cumprir exatamente os nossos deveres e frequentar as práticas de piedade." (Idem, 90). Este menino, que morreu com 15 anos, hoje é São Domingos Sávio.
Interessante que Dom Bosco falou sobre o que significa ser santo do mesmo modo como São Francisco de Sales falava no seu tempo: "Devemos amar o que Deus ama, e Deus ama a nossa vocação; por isso devemos amar a nossa vocação, e não desperdiçar energia ansiando por uma vida diferente; sim, temos que continuar o nosso trabalho. Sejamos como Marta ou como Maria, estejamos sempre satisfeitos e cumpramos fielmente as coisas que fomos chamados a realizar... "(Stopp, Selected Letters , página 61) 
Lembremos também, neste dia dedicado a todos os santos, que São Francisco de Sales teve um grande mérito na história da espiritualidade: a promoção da santidade! Na Introdução à Vida devota, ele diz que todos são chamados à santidade. Naqueles tempos, as pessoas acreditavam que a santidade estava reservada para monges ou monjas, frades e demais religiosos. Francisco se coloca contra esta opinião e diz que "é possível ser santo em qualquer condição social em que se viva", porque a vida espiritual não é contrária a uma vida profissional, familiar e laical. Ele diz que a santidade é patrimônio de qualquer batizado que se esforce por ajustar a sua vida com o evangelho e pede que o cristão não se retire do mundo, mas que viva coerentemente a fé, os compromissos batismais e o dom da graça. "Em qualquer lugar que nos encontremos, podemos e devemos aspirar a vida perfeita." (IVD)
"Unamos nossos corações a estes espíritos celestiais e a estas almas benditas. Como os jovens rouxinóis aprendem a cantar na companhia dos velhos, nós também, através de nossas uniões santas com os santos, devemos aprender a melhor maneira de orar e cantar louvores a Deus." (Introdução à Vida Devota , Parte II, Capítulo 16) 
 Nestes santos, nestas pessoas reais nós buscamos exemplo. Foram pessoas reais e nós os buscamos para que nos inspirem, nos animem e nos ajudem no caminho da vida cristã. Eles abriram o caminho para nós para que possamos aprender a viver e anunciar o Evangelho. O nosso desafio é seguirmos os seus exemplos de modo que combinem com a nossa atual situação de vida.
Não sei se vocês se deram conta que também nós, cada um de nós, somos chamados a viver a santidade, uma vida centrada em Deus, uma vida de entrega nos mesmos lugares onde vivemos, onde amamos, onde trabalhamos e onde nos divertimos todos os dias. A santidade é determinada pela nossa vontade de aceitar a vontade de Deus da maneira como se manifesta nos altos e baixos da vida diária. 

Pensamentos de São Francisco de Sales




sábado, 25 de outubro de 2014

Frases de São Francisco de Sales




Reflexão salesiana para o 30º Domingo do Tempo Comum - 26 de outubro de 2014


Destaque: "Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma e com toda tua mente... e amarás o próximo como a ti mesmo."

Perspectiva Salesiana

Francisco Sales foi o autor do Tratado do Amor de Deus e tencionava escrever um livro sobre o amor ao próximo, mas morreu antes disso. O que é comum entre o amor a Deus e o amor ao próximo é a caridade. A caridade foi, e é, na mente e no coração de Francisco de Sales, a virtude de todas as virtudes. Somos chamados a amar nosso Deus como nós amamos o nosso próximo, e somos chamados a amar o nosso próximo como amamos a Deus. 
Escusado será dizer que Francisco de Sales tem muito a compartilhar conosco sobre a natureza e a prática da caridade. 
"Assim como Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, da mesma forma ordenou para nós um amor à imagem e semelhança do amor que é devido à sua divindade... Por que amamos a Deus? A razão pela qual amamos a Deus é Deus mesmo... Por que amamos uns aos outros na caridade? Certamente é porque fomos feitos à imagem e semelhança de Deus... como todas as pessoas tem a mesma dignidade, nós também as amamos como amamos a nós mesmos, isto é, em sua condição de santidade e de serem imagens da divindade viva... A mesma caridade que produz atos de amor a Deus também produz atos de amor ao nosso próximo... amar o nosso próximo na caridade é amar a Deus nos outros e os outros em Deus."(Tratado do Amor de Deus , livro 10, capítulo 11) 
Para São Francisco de Sales, o amor de Deus e o amor ao próximo não são duas experiências diferentes, mas são duas expressões de uma mesma realidade, dois lados, como se eles fossem da mesma moeda. (Lembre-se o mandamento de Jesus no Evangelho do domingo passado "dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus").
"O grande Santo Agostinho escreveu que a caridade inclui todas as virtudes e opera de todas maneiras em vocês", escreveu São Francisco de Sales. "Estas são as suas palavras: 'que se diz que a virtude é dividida em quatro' - ele quer dizer as quatro virtudes cardeais - 'em minha opinião, se diz por causa dos diferentes afetos que vêm do amor. Pois bem, eu não tenho nenhuma dúvida quando se trata de definir essas quatro virtudes da seguinte forma: a temperança é o amor que se entrega completamente a Deus. A fortaleza é o amor que voluntariamente suporta todas as coisas por amor a Deus. A justiça que serve unicamente a Deus, e, portanto, dispõe com justiça de tudo o que está sujeito aos seres humanos. A prudência é amor que escolhe o que é útil para unir-se a Deus, e rejeita tudo o que é prejudicial." (Tratado do Amor de Deus , capítulo XI, Capítulo 8) 
"Aquele que tem caridade tem uma alma vestida com trajes de casamento como a de José, que traz consigo, implicitamente, todas as diferentes virtudes. Além disso, a caridade tem uma perfeição que contem a virtude de todas as perfeições e as perfeições de todas as virtudes." (Ibid )
Nesta caridade encontramos o lugar onde se encontram o amor de Deus, o amor a nós mesmos, o amor aos outros. Como nós compartilhamos esse amor multifacetado com todos aqueles que encontramos todos os dias? Em outras palavras, estamos bem preparados para dar a César o que é seu e a Deus em nós e nos outros? 

Texto: P.Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro de Espiritualidade de Sales.
Tradução e adaptação: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB

Dos escritos de São Francisco de Sales

Na leitura do Evangelho de hoje ouvimos Jesus dizer que devemos amar a Deus e aos nossos irmãos. Estes mandamentos são a base da espiritualidade cristã, e estão presentes em todos os escritos de São Francisco de Sales: 
Para mostrar como é sério o desejo de Deus por nosso amor, Ele nos exige este amor em palavras maravilhosas: "Amar o Senhor com todo o teu coração, com toda tua alma e com toda tua mente. Este é o primeiro e maior de todos os mandamentos." Muitas vezes pensamos que Deus é tão grande, e nós somos tão pequenos, que não seremos capazes de amar. Então, para que não desanimemos e nos afastemos do amor de Deus, é-nos dito que somos muito capazes de amá-lo com toda a nossa força, mesmo a despeito do pecado. 
Amar a Deus sobre todas as coisas significa que devemos colocar Deus acima de todos os nossos ídolos; porque os nossos corações tendem a perseguir muitas coisas materiais e consolações espirituais. Além disso, assim que os conseguimos, se agita em nós o desejo de começar a buscá-los novamente. Nada jamais irá satisfazer nossos corações. A vontade de Deus é o nosso coração não encontra morada permanente em nossos ídolos; que seja livre para voltar a Ele, de quem vem. As abelhas só podem pousar sobre as flores que floresceram. O mesmo acontece com o nosso coração. Nosso coração só pode encontrar descanso no amor de Deus. Por que, então, queremos interferir com o desejo que sentimos pelo amor de Deus, e nos dedicamos a buscar outros amores? 
O mandamento que nos diz que devemos amar a Deus é muito mais importante do que o mandamento de amar os nossos semelhantes. Mas nossa natureza resiste com mais força a amar os outros. No entanto, quando colocamos a nossa confiança no amor de nosso Salvador, nos enchemos de coragem para amar a imagem de Deus que habita nos outros, e que é muitas vezes escondida de nossos olhos. Então aprendemos a reconhecer a semelhança com o Criador presente em nós mesmos e nos outros.Porque amar plenamente a Deus é amar tudo o que é de Deus, e que está presente em todas as criaturas. Imitemos Jesus, que nos ensinou muito mais através de suas obras do que por suas palavras. Ele nos ensinou a amar o nosso Deus com todo nosso coração, alma e mente, e amar o nosso próximo como a nós mesmos.
(Adaptado retirado dos escritos de São Francisco de Sales, especialmente o tratado do Amor de Deus). 

sábado, 18 de outubro de 2014

Beatificação de Paulo VI e São Francisco de Sales


Amanhã, Paulo VI será Beatificado. Em 1967, por ocasião do 4º centenário do nascimento de São Francisco de Sales ele escreveu uma carta sobre o santo, destacando suas características. Então, como homenagem ao novo Beato, decidí traduzir esta carta e publicar para que todos a conheçam. Eis abaixo: 

Sabaudiae GEMMA
CARTA APOSTÓLICA
NO IV CENTENÁRIO  
DO NASCIMENTO DE SÃO FRANCISCO DE SALES 
doutor da Igreja
Varta apostólica aos Cardeais, Arcebispos e Bispos e outros Ordinários da França, Suíça e Piemonte.
PAULO VI
VENERÁVEIS ​​IRMÃOS AMADOS FILHOS
SAÚDE E A BÊNÇÃO APOSTÓLICA

Honra imortal de Annecy

São Francisco de Sales, a gema de Sabóia e da Suíça, é uma grande glória de Annecy - uma cidade conhecida por suas montanhas, o lago e seus arredores, mas ainda mais por seus monumentos históricos sagrados e profanos - pois a vizinha aldeia de Thorens se gloria de ser sua terra natal. Recordando este ano do quarto centenário de seu nascimento, foi louvavelmente decidido de honrar a sua memória com festas públicas e varias manifestações.
Desta solenidade há tempo tem dado o anúncio o venerado Irmão João Sauvage, Bispo de Annecy, informando-nos que, dada a grandeza do Santo e a importância do evento, ele pretende convidar o maior número possível dos Bispos da França e de outros países para participar da comemoração e comum alegria.

Seguindo os passos do Papa Pio XI

Louvamos e aprovamos tudo o que o pastor zeloso estabeleceu. Na verdade, seguindo o exemplo de nosso predecessor Pio XI, de feliz memória, que honrou o terceiro centenário da morte de São Francisco de Sales com a Carta Encíclica Rerum omnium, também nós, amados filhos e veneráveis ​​irmãos, queremos enviar-vos esta carta, para demonstrar a todos que, de acordo com o desejo do Bispo de Annecy, de bom grado participaremos nestas celebrações, e desde agora eu desejo-lhe o desfecho mais feliz. E fazemos isso com todo o teu coração, porque, desde tenra idade e, em seguida, na idade madura, temos sempre venerado particularmente o ilustre Bispo de Genebra, e não há, portanto, coisa mais bem-vinda para acrescentar brilho ao seu nome.
Apelamos, portanto, fortemente que você honre nesta feliz ocasião o Doutor do amor divino e da doçura evangélica com sábia reflexão sábia e fervor da verdadeira piedade. Nosso coração nos diz que isso vai dar muitos frutos copiosos.

Lâmpada que queima e brilha

Em suas regiões, o santo doutor da Igreja foi sempre luz que arde e brilha (cf. Jo 5:35); Dali irradiou mais nitidamente a sua glória celestial, e ainda hoje oferece um amplo campo de estudo. E isso porque ele foi sobretudo vosso, porque ele deixou profundas memórias dele em Paris, Lyon, Borgonha, em Genebra, Suíça e Turim, mas especialmente na Saboia. Para um vínculo natural com essas nações ilustres, ele influenciou no sentimento e no nível de vida cristã também dos homens mais eminentes da virtude, talvez como poucos ou nenhum outro de sua idade e aqueles que seguem. Não há dúvida de que, pelo exemplo de suas virtudes, pela prudência dos conselhos e pelo ensinamento ascético, influenciou muito o clero na França, fazendo florescer ali o verdadeiro espírito sacerdotal; serviu não pouco para estimular São Vicente de Paulo a fundar a Congregação dos Padres da Missão e das Filhas da Caridade; ajudou e precedeu com sua grande autoridade, e a chama de seu gênio inventivo os três formadores do clero: Pierre de Bérulle, São João Eudes e Jean Olier.
Na verdade, grande é o seu ensinamento e sua autoridade em vossas regiões, e a espiritualidade e costumes em todos os lugares sentem claramente a doçura de Sales.
Agora, então, por ocasião desta circunstância, a sua memória surge como uma estrela, e atraindo a si o olhar e a contemplação, talvez não espalhe generosamente luz, calor, sabedoria e mansidão? Certamente: tanto mais que por várias razões se apresenta adequado às necessidades atuais.

Previu ensinamentos para a era pós-conciliar

Da história eclesiástica aparece claro que os Concílios Ecumênicos tiveram seus plenos resultados adequados às esperanças, quando, durante ou após a sua celebração, santos eclesiásticos e pastores de exímia virtude tentaram submeter-se eles mesmos a estas leis vivas e falantes e de cumprir a vontade e a deliberações dos Concílios.
Todos os melhores cristãos de hoje anseiam ardentemente que tais homens, exímios pela santidade, surjam a resplandecer e a lutar. E, talvez, entre vós está para aparecer a aurora deste esplêndido dia.
No entanto, deve-se ter confiança: temos um guia, um conselheiro, um professor que ajudará e precederá a vocês, e convosco muitos outros irmãos no Episcopado. Caminhando antes de vocês, vos ajudará a fazer o trabalho completo da salvação e da santificação.
Estamos certos de que a verdade deve ser a vontade de convencer a todos, se for estudada. Ninguém mais e melhor do que Sales, entre os últimos Doutores da Igreja, soube com profundo intuito da sua sabedoria, prever as deliberações do Concílio. Ele será de ajuda com o exemplo da vida, com a abundância de uma doutrina pura e saudável, e com o seu método seguro de espiritualidade, aberto a perfeição cristã das pessoas de todos os estados e condições. Três coisas se propõem: imitar, abraçar, seguir. Se levarmos em conta a índole e a forma das virtudes de São Francisco de Sales, é difícil dar uma descrição, uma vez que não parece à primeira vista e com absoluta certeza, que seja a sua natureza e sua característica mais proeminente. Um estrela difere da outra, uma pérola de uma pérola e uma árvore da outra, e toda a beleza se distingue pela sua aparência.
A beleza brilha ao máximo e é perfeito quando combina harmoniosamente a variedade de muitas belezas. Assim, em um exuberante jardim, destacam-se pela sua beleza, as ervas, as árvores, as flores e sua fragrância e cores; mas parece mais bonito para os olhos, se uma certa proporção e uma adequada disposição se juntam em perfeita harmonia, beleza a beleza, assim como juntas ressaltam de maneira maior a beleza e a amável graça das várias belezas distintas.
Uma abordagem semelhante e um conjunto de virtudes gostamos e admiramos em Francisco de Sales.
Vem espontaneamente à mente aplicar a ele o que São Gregório Nazianzeno, em seu ardente discurso dizia de Santo Atanásio: "Exaltando Atanásio, eu exalto as virtudes, porque falando dele e elogiando as virtudes que possuía, ou, mais verdadeiramente, tendo como que somadas juntas todas as virtudes. Na verdade, todos vivem para Deus, aqueles que vivem de acordo com Deus, mesmo que tenham deixado esta vida "(Gregório Nazianzeno, OratioXXI, Em laudem magni Athanasii bispos Alexandrini , 1:. PG 35, 1082-1083).
Intuição aguda da mente, inteligência forte e clara, julgamento penetrante, incrível gentileza e bondade, doçura de um sorriso no rosto e de fala, ardor sereno de espírito sempre diligente, rara simplicidade da vida sem um modesto orgulho de sua linhagem, paz serena e tranquila , a moderação sempre inalterada e segura, mas não separada da fortaleza - a doçura nasce de quem é forte - com a qual ele sabia como amar com ternura, mas também ser firme e alcançar o seu objetivo; altivez sublime de espírito e amor pela beleza, ansioso para dar aos outros, os sumos bens: o céu e a poesia; zelo quase infinito pelas almas e amor de Deus, que qual sol refulgente precede nele as outras virtudes: e todas essas qualidades a superabundância da graça divina sublimou e aumentou: eis aqui as principais linhas que, com outro traço semelhantes, traçamos a figura sublime de Sales.

Múltiplo Zelo pastoral

Com esses dons da natureza e da graça se consagrou toda à Igreja, e com vários cuidados tornou frutuoso o campo que lhe tinha sido confiado. Ele exerceu seu ministério pastoral no meio de perigos e armadilhas, escreveu livros cheios de sabedoria, restaurou a eloquência sagrada e a aprofundou como um rio largo, reformou muitos mosteiros que estavam negligentes na observância religiosa e, em conjunto com Santa Joana Francisca de Chantal, unida pelo vínculo de amizade espiritual sobrenatural, fundou o Instituto da Visitação da Virgem Maria. Este instituto, sue cuidado e sua glória mais famosa, com a graça de Deus teve tanta esplêndida floração, de poder-se contar, quando ele passou desta vida, um grande número de mosteiros de freiras daquela denominação.
Ele aplicou todo o seu zelo em cultivar e difundir a santidade, julgando assim de ajudar da melhor maneira a Igreja no seu século contaminado pela corrupção. Ele, então, deixou para a posteridade um exemplo e um testemunho nos quais pudessem continuamente espelhar-se.
Mas não menos ilustre da santidade de sua vida são as lições que ele nos deixou, bem adaptadas às necessidades do nosso tempo. Aqui estão algumas principais, que são como a pedra angular de tantas outras.
A Igreja, no decorrer dos tempos, não pode brilhar na sua santidade, sem o ornamento de sacerdotes santos. E o sacerdote, mais do que qualquer cristão é outro Cristo; Sua santidade irradia de Cristo, o sacerdote eterno e aperfeiçoador da fé, tornando-se assim sinal vivo da graça de Cristo. A sincera devoção à Virgem Mãe de Deus, trona-se necessária para todos os fiéis, mas especialmente para o sacerdote, pois, mais do que os outros singulares benefícios, é o modelo de nosso amor a Deus, a Cristo e à Igreja; ela, que é a mais doce de todos, a Mãe da graça, o exemplo de todas as virtudes, apresenta claramente o ideal clara da perfeição evangélica.

Primado da caridade

E no coro das virtudes o primado pertence à caridade, não só porque é a mais importante, mas também porque dá eficácia e harmonia para as outras, uma vez que a virtude é o fim do amor. Por lei do Criador, no homem a alma preside o corpo, e entre as faculdades da alma, a vontade, que tem como seu rei e legislador o amor. Com a caridade, por isso, quando resplandece e é ardente e ativa, tocamos o auge da perfeição evangélica, nos unimos intimamente com Deus, o bem supremo e fonte da felicidade, e assim como Deus é amor, nos tornamos semelhantes a Deus pela participação de sua natureza. Com o Corpo de Cristo, isto é, a Igreja no céu e na terra, nós somos ligados pela caridade, e estamos unidos por esse vínculo comum. O famosoTratado do Amor de Deus é apropriadamente compediado por esta famosa definição de caridade: "A caridade é um amor de amizade, uma amizade de dileção, uma dileção de preferência, mas a preferência incomparável, suprema e sobrenatural, que é como um sol em toda alma para embelezá-la por seus raios em todas as faculdades espirituais para aperfeiçoá-la, em todas as suas potências para governá-la. Mas a caridade reside na vontade, como sua sede, para habitá-la e fazê-la amar a Deus sobre todas as coisas. Bem-aventurada é a alma na qual é difusa esta santa dileção, porque com ela vem todos os bens "(ST Francisco de Sales,. Œ oeuvres (Complete Edition), t IV (Annecy, 1984), p 165.:. Traité de l'amour de Dieu , livre II, cap. 22).

O novo floresce sobre o antigo

Parece apropriado aqui explicar brevemente porque São Francisco de Sales seja um Doutor moderno e tão apropriado para o tempo presente. Deve-se chamá-lo Doutor original e moderno, não porque rompe os laços de continuidade com o mais velho, mas na verdade sua doutrina é radicalmente aderente à fé da Igreja, a Sagrada Tradição, a doutrina dos santos Padres; em seguida, no campo ascético e místico toma mais do que um pouco, especialmente, Santo Inácio de Loyola, o Beato João de Ávila, Luís de Granada, Santa Teresa de Ávila, São João da Cruz - destes indiretamente - e da escola de mestres italianos do ascetismo.
Ele busca, no entanto, colocar a antiga doutrina sob uma nova luz, para colocá-la com sabedoria a serviço da vida moderna, adaptando-a oportunamente às suas muitas necessidades. Não há dúvida de que ele também se serve a arte para chegar da verdade ao bem para um caminho revestido de flores de pura beleza. Ele, de fato, formou-se na escola de João Maldonado, em Paris, e na de Antonio Possevino em Pádua, e tinha adquirido uma cultura literária profunda.

Super humanismo cristocêntrico

Ele também sabe conduzir o humanismo com a investigação e ascese mística, e desenvolver em si mesmo e em seus discípulos um gradual refinamento harmônico de todas as faculdades humanas ("Je suis rien homme tant that plus": Œuvres , t XIII (Lyon. , 1904), p 330; lettre du 02 de novembro de 1607 à la Baronne de Chantal, cf. Œuvres , t XX (Lyon, 1918), p 216.:. "O n'y a point d'âme au monde, je comme pense, aqui chérissent mais cordialment, tendrement et, despeje tout le dire à la bonne FOI, Amoureusement plus que moi, no carro plu à Dieu de faire mon coeur ... ainsi je suis le plus affectif du monde ".). Não se quer dizer com isso que o culto da beleza chegue espontaneamente nas flores da mística, mas que o amor de Deus, descendo do alto, não destrói as faculdades naturais, antes, as eleva, as ordem e as harmonia entre elas, e exprime ao vivo todas as formas de beleza e todas as perfeições da natureza humana.
Portanto, o seu, mais do que "humanismo devoto", deve ser chamado de "super humanismo cristocêntrico", aproximando-se este em todos os aspectos a santidade que convém ao homem. E já que estamos falando de santidade, é oportuno mencionar brevemente aqui e corrigir as opiniões daqueles que acreditam que a verdadeira santidade, que propõe a Igreja Católica, não interessa nem obriga todos os cristãos, mas apenas alguns, seja individual, seja associada a outros por meio de votos religiosos.
Esse erro antigo reaparece nos artifícios ocultos e abertos de alguns, que, confusos e confundindo, falsamente distinguem a perfeição cristã da perfeição evangélica, e postulam uma diferença absurda entre atos de caridade dos monges, padres, leigos, ou distorcem um com falsas interpretações os decretos do recente Concílio Ecumênico, onde é claramente estabelecida e fortemente defendido que todos os fiéis de todas as classes e leigos devem tender com um coração indiviso à santidade de vida (cf. CONC. IVA. II da Constituição. Constituição Dogmática. sobre a Igreja Lumen gentium , cap V, n 40: AAS 57, 1965, pp 44-45; Decreto... Apostolado Actuositatem , cap I, n. 4:... AAS 58, 1966, pp 840-842; Custo pastoral Gaudium et Spes , Parte II, capítulo I, 48:. AAS 58, 1966, pp 1067-1069), porque a graça de Deus oferece a eles esta oportunidade.

Vocação universal à santidade

Estas várias formas de santidade são propostas pelo santo Bispo de Genebra, com o significativo nome de devoção. "O amor de Deus, quando faz com que nos elevamos a  com frequência, rapidez e força, se chama devoção" ( Œuvres , t III (Annecy, 1893), p. 15:. Introduction à la vie Devote , partie I chap . 1).
E São Francisco de Sales pede insistentemente e insta todas as pessoas, embora diferentes uns dos outros pelo sexo, riqueza e condições, para que, inflamados por desejos santos, sintam e vivam esta devoção.
A santidade não é prerrogativa de uma ou de qualquer classe; mas a todos os cristãos é feito este apelo urgente: "Amigo, sobe mais para cima" ( Lc 14:10); todos são obrigados pelo dever de subir a montanha de Deus, embora nem todos pelo mesmo caminho. "A devoção deve ser exercida de diferentes maneiras por um cavalheiro, operário, camareiro, príncipe, viúva, jovem ou esposa. A prática da devoção tem que atender à nossa saúde, às nossas ocupações e deveres particulares. Na verdade, Filoteia, seria porventura louvável se um bispo fosse viver tão solitário como um cartuxo? Se pessoas casadas pensassem tão pouco em ajuntar para si um pecúlio, como os capuchinhos? Se um operário frequentasse tanta a igreja como um religioso o coro? Se um religioso se entregasse tanto a obras de caridade como um bispo? Não seria ridícula tal devoção, extravagante e insuportável? Entretanto, é o que se nota muitas vezes, e o mundo, que não distingue nem quer distinguir a devoção verdadeira da imprudência daqueles que a praticam desse modo excêntrico, censura e vitupera a devoção, sem nenhuma razão justa e real. Não, Filoteia, a verdadeira devoção nada destrói; ao contrário, tudo aperfeiçoa. Por is-so, caso uma devoção impeça os legítimos deveres da vocação, isso mesmo denota que não é uma devoção verdadeira."(Œuvres t III (Annecy, 1893), pp 19-20.:.. Introduction à la vie Devote , partie I, cap. 3).
Neste contexto, é importante citar outra belíssima sentença sua, com com a qual ele interpreta alegoricamente o comando que Deus deu a terra de vegetação que fez germinar a semente, e árvores frutíferas que produziu o fruto de sua espécie ( Gn 1:11). "E verificamos pela experiência de todos os dias que as plantas e os frutos, só quando estão maduros e atingem seu perfeito desenvolvimento, ostentam as sementes e pevides de igual natureza. Também as virtudes não chegam à devida altura e perfeição senão quando produzem em nós desejos de progredir, que, quais sementes espirituais, servem à produção de novos graus de virtude. E quer-me parecer que o terrenos do nosso coração tem ordem de germinar plantas das virtudes que produzem os frutos das obras santas, cada uma no seu gênero, e que encerram as sementes dos desejos e intenções de multiplicar e crescer em perfeição. A virtude que não tiver a semente ou a pevide de novos desejos, essa não chegou ao estado de suficiente maturação." ( Œ oeuvres , t V (Annecy, 1894), p 82.:. . Traité de l'amour de Dieu . lib VIII cap. 8).

Método do ecumenismo

No Decreto conciliar sobre o ecumenismo é estabelecida: " O modo e o método de formular a doutrina católica de forma alguma devem transformar-se em obstáculo por diálogo com os irmãos. É absolutamente necessário que toda a doutrina seja exposta com clareza. Nada tão alheio ao ecumenismo como aquele falso irenismo pelo qual a pureza da doutrina católica sobre detrimento e é obscurecido o seu sentido genuíno e certo. Ao mesmo tempo, a fé católica deve ser explicada mais profunda e corretamente, de tal modo e com tais termos que possa ser de fato compreendida também pelos irmãos separados. Ademais, no diálogo ecumênico, os teólogos católicos, sempre fiéis à doutrina da Igreja, quando investigarem juntamente com os irmãos separados os divinos mistérios, devem proceder com amor pela verdade, com caridade e humildade." (concentração de IVA П, Decreto sobre o Ecumenismo. Unitatisredintegratio , cap II, n. 11:. AAS 57, 1965, p . 99). Ao lidar com os heterodoxos, São Francisco de Sales previu de séculos os nossos tempos e nossos hábitos; seu método tem uma via luminosa, que deve ser imitada também hoje. Encontra-se nele grande integridade de vida, suma doçura e bondade. Nunca é violento nas disputas, ama os errantes e corrige os erros; e se as posições são diferentes, ele nunca usa a oposição polêmica, e aproxima a luz para a luz; tenaz no amar, no pregar e no iluminar, sabe esperar com paciência longamente, sabe trazer gradualmente os errantes para a plenitude da verdade, a partir da qual não é lícito alguém afastar-se, e que ninguém está autorizado a diminuir. E quais são os frutos? Pelo seu trabalho, só na província de Chalons-sur-Saône setenta mil homens voltaram para a união com a Sé Apostólica.

Modelo de escritores católicos

Não menos do que no discutir, ele tinha um talento extraordinário para escrever. Quanta abundância de doutrina nos livros que compôs, quanta riqueza de pensamento, quanta graça nativa e áurea elegância! O argumento se desenvolve harmoniosamente: a leitura é muito agradável, instrutiva, estimulante.
Quando ele escreve, como quando ele pregava ao povo, os seus leitores, como uma vez os seus ouvintes, tinham apenas um medo: que ele acabasse muito cedo. Sua palavra tem o dom mais sublime da arte, a animação constante que Píndaro tão bem expressa: "Se alguém se expressa de modo exímio, as suas palavras têm uma ressonância imortal: atravessam terra fecundíssimas e mar; e a luz é das insignes façanhas é raio que nunca se apagará "(Píndaro, ISTH., IV Od., vv. 45-47).
Dado aos escritores e jornalistas católicos como eficaz padroeiro celeste, os chama pelo exemplo, os dirige com autoridade, afim de que, nunca sejam falaciosos por causa do lucro, nem enganado por preconceito, mas imbuídos do espírito de Cristo e amantes honestos de verdade , cumpram o próprio deve para o bem comum, e possam tornar-se beneméritos da fé católica, da qual são servidores. Assim fazendo cumprirão louvavelmente com o Decreto sobre os Meios de Comunicação Social (cap. 14) do Concílio Ecumênico Vaticano II, e não trairão dolorosamente a esperança e a expectativa em sua resposta.

Eclesiologia

À genuína imagem do santo Bispo de Genebra faltaria ainda uma característica importantíssima, caso se silenciasse a sua excelente e rica doutrina sobre o mistério da Igreja, a sua magnitude, natureza e autoridade. Quanto amorosa foi a sua reverência - dote comum a todos os santos - e quanto o seu constante e amável zelo foi cheio de respeito pela Igreja, mãe e mestra, onde sobre a cátedra da unidade é colocada a doutrina da verdade!
Quais são os fundamentos da Igreja, e onde eles estão armazenados, ele o disse que com tanta segurança de poder servir não pouco à clara interpretação da Constituição Dogmática Lumen Gentium do Concílio Ecumênico. Deixando de lado outras passagens, escolhemos esta: "Nosso Senhor é fundamento e fundador, fundamento sem outro fundamento, fundamento natural da Igreja, mosaica e evangélica, fundamento perpétuo e imortal, fundamento da Igreja militante e triunfante, fundamento de si mesmo, fundamento de nossa fé, esperança e caridade, e dos valores dos Sacramentos. São Pedro é o fundamento e não o fundador de toda a Igreja, fundamento, mas fundado sobre um outro fundamento que é nosso Senhor, fundamento da única igreja evangélica, fundamentos sujeito a sucessão, fundamento da Igreja militante,  não daquela triunfante, fundamento pela participação, fundamento do serviço, não de domínio, e de modo algum o fundamento da nossa fé, esperança e caridade, nem do valor dos sacramentos ...

Os fundamentos da Igreja

No entanto, na autoridade e no governo São Pedro superou todas os outros, na medida em que a cabeça supera os membros; porque ele foi constituído pastor ordinário e chefe supremo da Igreja, os outros são pastores enviados e designados em outras partes da Igreja, com poder e autoridade sobre toda a Igreja, tão completa como em São Pedro, exceto que São Pedro era o chefe comum e seu pastor como de toda a cristandade.
Então, eles foram fundamento da Igreja com ele e como ele, quanto para a conversão das almas e doutrina; mas quanto à autoridade e ao governo, eles o foram de forma desigual, porque São Pedro era o chefe ordinário não só das outras partes de toda a Igreja, mas também dos Apóstolos. Na verdade, nosso Senhor tinha construído sobre ele toda a sua Igreja, da qual eles não eram apenas partes, mas as partes principais e as mais nobres "( Œ oeuvres , t. I (Annecy, 1892), pp. 237-238 e 239 : Controverses , pars II, cap VI, art 2)...

Abraão e São Pedro

Também é muito apropriado que com o inteligente julgamento e profunda reflexão se medite a semelhança que Sales sugere entre Abraão e São Pedro. Um e outro são pedras, pai dos crentes, pai de muitas nações, isto é, de uma descendência, promessa - como um prêmio da fé em Cristo - um como areia do mar e multidão de estrelas brilhando no céu, o outro como imenso rebanho de ovelhas e cordeiros."Porque, se Abraão foi assim chamado pelo fato de dever ser pai de muitas nações, São Pedro recebeu este nome porque sobre ele como sua sólida pedra, deveria ser fundada a multidão dos cristãos. Por esta semelhança São Bernardo chama a dignidade de São Pedro: Patriarcado de Abraão "(cf. ibid .. p 230; São Bernardo de Clairvaux, De consideratione , lib II, cap 8, n 15: PL 182, 751...).
Com esses anseios profundos, com esses propósitos de vida, com estas afirmações completas de íntegra fé católica, tornai preciosa, da melhor maneira possível, a celebração do quarto centenário do nascimento de São Francisco de Sales. Na mútua união da comunhão dos santos, o grande doutor, a fonte de luz para a santa Igreja, responderá a nosso respeito com a ajuda de seus méritos e com sua oração poderosa e compassiva a Deus.

Oração final

Este sapientíssimo guia das almas vos obtenha a doce mansidão do divino Redentor, que nos ensinou a ser mansos e humildes de coração, e como tal, a possuir a terra.
O Doutor da direção espiritual introduza seus inúmeros discípulos nas deliciosas e santas vias, que ele traçou com normas apropriadas; suscite uma chama mais ardente de caridade, reascenda nos homens o desejo da salvação eterna, ensinando seus devotos a amar não com palavras, mas com atos, sinceramente (cf. 1 Jo 3:18), sustente os bispos no fiel cumprimento dos seus deveres, aquele que é a honra e o modelo; carinhoso e atencioso, assista o Instituto das Irmãs da Visitação, fundada por ele, guarde benigno a família Salesiana de São João Bosco, e as outras que seguem o método, os princípios e forma de vida espiritual; aos escritores católicos e jornalistas inculque e obtenha que se aproximem o máximo possível da verdade com consciência limpa e lealdade inquestionável; com sua poderosa oração seja propício para Annecy e a Sabóia, sua doce terra natal, para que possa florescer e se ornamente da antiga piedade, a Genebra, a sede da sua dignidade episcopal, a Suíça e ao Piemonte obtenha um aumento de luz e da paz evangélica; e, por fim, a todos aqueles que em sua honra na celebram o centenário, fazei que cresça neles, de acordo com o seu ensinamento, "a árvore do desejo de santidade" ("L'arbre du désir de Sainteté ' Œuvres , t. XXII ( Annecy 1902), p 264.: lettre du 3 mai 1604 à la Baronne de Chantal); Imploro a todos uma abundância dos melhores dons celestes.
Com o vivo desejo que São Francisco de Sales, com sua bondade característica, Nos assista também a cumprir com retidão, fortaleza e suavidade o Nosso ministério em meio a muitas dificuldades e novidades imprevistas, a vós, diletos Filhos Nossos e Veneráveis ​​Irmãos, do clero e do povo confiado aos vossos cuidados, concedo cordialmente a minha Bênção Apostólica, sinal e penhor de graça abundante e da doçura celestial.
Dado em Roma, junto de São Pedro, 29 de janeiro de 1967, o quarto ano do Nosso Pontificado.
PAULO PP. VI

Reflexão Salesiana para o 29º domingo do Tempo Comum - 19 de outubro de 2014


Destaque: "Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus."

Perspectiva Salesiana

Viver uma vida centrada em Deus não é simples, não é uma proposta completamente delineada e clara. Mesmo que nós fomos criados para viver eternamente com Deus no céu, devemos também, em qualquer momento, prestar atenção a todas as tarefas e responsabilidades que temos aqui na terra. 
Devemos dar ao céu e a terra o que lhes é devido. Como é que isso funciona? 
Se tentarmos explicar usando a frase, isso significa que devemos roubar de Pedro para pagar Paulo? Não, não há necessidade de tomar nada de ninguém para pagar tributo a alguém! Então, devemos dar a Deus com uma mão e ao mundo com a outra? Não, o nosso desafio consiste em usar as duas mãos de forma que sejam justas com as coisas da terra e também com as do céu. 
Não querendo exagerar, a lição óbvia que nos deixa o Evangelho de hoje é que o nosso serviço no céu e o nosso serviço na Terra são, na verdade, dois lados da mesma moeda!  Em última análise, somos fiéis a "Cesar" e a "Deus" quando tratamos os nossos irmãos e irmãs com justiça... quando lhes damos o que lhes devemos.
Francisco de Sales escreveu: "Sejam justos e equitativos quando se trata de agir. Coloquem-se sempre no lugar dos seus vizinhos e coloquem-nos no seu lugar, e assim, desta maneira, conseguirão julgar corretamente. Imaginem que são o vendedor quando estão comprando algo, e imaginem que são o comprador quando estejam vendendo algo. Só assim comprarão e venderão de forma justa... vocês não perdem nada ao viver generosamente, nobremente, cortesmente e com um coração que seja real, justo e razoável. Decidam-se a examinar seus corações seguidamente, para ver se estão sendo com os seus vizinhos aquilo que esperam que seus vizinhos sejam com vocês, se estiverem em seu lugar. Esta é a base da verdadeira razão. "(Introdução à Vida Devota , Parte III, Capítulo 36) 
Dar aos outros o que eles merecem não é apenas ser fiéis à dívida de amor que temos uns pelos outros. Também pode ter ramificações muito práticas. Francisco de Sales escreveu estas palavras em 1604: "Eu vejo que vocês tem uma dívida... paguem-na logo que seja possível, cuidem-se para nunca ficar com algo que pertence aos outros" (Stopp,Selected Letters ., p 69) 
Sejam grandes ou pequenas nossas obrigações que temos, devemos nos esforçar para dar sempre o que é devido aos nossos irmãos e irmãs. Devemos esforçar-nos para tratar uns aos outros de forma justa, com justiça, humildade, honestidade e igualdade. Ao fazê-lo estaremos dando a "César" o que é de "Cesar" e também daremos a Deus o que é de Deus. 
Na tradição salesiana nós nunca temos que escolher entre nos preocuparmos com as coisas no céu e com as da terra. Ao atender as necessidades dos nossos irmãos e irmãs, nós servimos tanto as coisas terrenas como as coisas celestiais ao mesmo tempo, e neste processo "Nós damos prova da nossa fé, das nossas obras no amor, e demonstramos constância na esperança que temos em Jesus Cristo." 

Padre Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro de Espiritualidade de Sales.
Tradução: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB

Dos escritos de São Francisco de Sales

O Evangelho de hoje diz-nos que devemos dar a Deus o que é de Deus, e ao Estado o que pertence ao Estado. São Francisco de Sales observa que, a fim de desfrutar de um Estado justo, devemos obedecer aqueles a quem Deus deu autoridade para governar. No entanto, ele se concentra mais sobre o que é de "Deus" e o explica através do conceito de "obediência de amor": 
Nós possuímos um desejo natural de amar a Deus que também nos diz que pertencemos a ele. Somos como cervos que levam as iniciais do proprietário gravado na pele. Mesmo quando ele permite que eles andem livremente na floresta, todo mundo sabe quem é dono desses cervos. Da mesma forma, nós também somos livres, e nossa tendência natural de amar a Deus permite que nossos amigos e inimigos saibam que nós pertencemos a Ele, que quer nos manter sob a "obediência de amor." 
Esta obediência de amor consagra nosso coração para o amar e o serviço de Deus. Jesus é o modelo a seguir. Quando depositamos todos os nossos desejos nas mãos de Deus, estamos permitindo que seja Ele quem nos dê forma e molde. Tal obediência para despertar em nós,  não precisa de ameaças ou recompensas, de mandamentos, nem de lei. Se antecipa a todas essas coisas, já que se entrega livremente a Deus. Com grande amor é dada a tarefa de realizar tudo o que contribua para a união de nossos corações com Ele, e empreende a dita jornada naturalmente. 
Às vezes, nosso Senhor exorta-nos a correr a toda velocidade para cumprir as tarefas de nossos cargos. De repente, nos faz parar a meio da corrida, quando já estávamos mais consolidados em nosso percurso. Mesmo quando devemos fazer todos os esforços para levar a bom termo a obra de Deus, devemos também aceitar os resultados com tranquilidade. Nossa obrigação é semear e regar cuidadosamente, mas o crescimento pertence exclusivamente a Deus. 
No entanto, assim como uma doce mãe orienta seus filhos, ajuda-os, e os sustenta na medida em que ela vê a necessidade de fazê-lo, Nosso Salvador também nos carrega e nos toma pela mão, quando nos confrontamos com dificuldades insuportáveis. Desfrutemos, então, com serenidade de coração, adotando a obediência de amor que nos une a Deus, a quem pertencemos. 
(Adaptação retirada da obra de São Francisco de Sales, em particular o Tratado do Amor de Deus) 

terça-feira, 12 de agosto de 2014

12 de agosto: Santa Joana Francisca Frémyot de Chantal


Pequeno histórico da vida desta grande amiga e colaboradora de São Francisco de Sales. Ela é importante, pois depois da morte do santo, recolheu tudo sobre S. Francisco de Sales e nos legou, com isso, a riqueza da vida e da espiritualidade dele.

https://www.facebook.com/media/set/?set=a.848585888493656.1073741831.810915035594075&type=1

Reflexão Salesiana para o 19º Domingo do Tempo Comum - 10 de agosto de 2014

Destaque: "Sai e permanece sobre o monte diante do Senhor, porque o Senhor vai passar." 1Rs 19, 11

Perspectiva Salesiana


Todos nós temos expectativas, estando conscientes ou não. Esperamos coisas de nossas famílias, de nossos cônjuges, de nossos filhos, de nossos pais, de nossos amigos, de nossos sacerdotes, dos nossos médicos, dos nossos dentistas e dos nossos chefes.

Inclusive, esperamos certas coisas de Deus, especialmente quando perguntamos onde podemos encontrá-lo.

Certas expectativas são razoáveis. Esperamos encontrar Deus numa igreja, num amanhecer ou num entardecer; esperamos encontrar Deus no milagre do nascimento, nos sorrisos das crianças, no dom da amizade.

Deus, porém, está em muito mais lugares do que podemos imaginar.
Elias esperava encontrar Deus nos lugares que são mais evidentes, como por exemplo: num grande e forte vento, ou num terremoto. Mas o que aconteceu foi que Deus decidiu comunicar-se através do murmúrio de uma leve brisa. O último lugar onde os discípulos não esperavam encontrar a Deus nas primeiras horas da manhã era andando num lago no meio de uma tempestade: Mas, ai Ele estava.
Nós esperamos encontrar Deus nos lugares óbvios, mas também temos que aprender a procurar e encontrar Deus em lugares onde menos pensaríamos vê-lo. De fato, as Escrituras estão repletas de história após história sobre como Deus decidiu entrar na vida dos homens, mulheres e crianças de maneira que nenhum deles esperava.

Nosso Deus também é um Deus que é cheio de surpresas. Nosso Deus muitas vezes age de forma que ultrapassa e às vezes rompe com todas as nossas expectativas. Lembrem-se das perguntas e das críticas feitas por certas pessoas contra Jesus, coisas como: "Será que algo de bom pode vir de Nazaré?"

Onde devemos esperar encontrar Deus? "Deus está em todas as coisas e em todos os lugares", escreveu São Francisco de Sales. "Não há coisa nem lugar neste mundo em que Deus não se encontre verdadeiramente presente. Da mesma forma que os pássaros sempre encontram ar quando voam, assim, também nós, em toda a parte a que nos dirigimos ou em que estamos, sempre encontramos a Deus presente em nós mesmos e em todas as coisas. Todo mundo sabe esta verdade, mas nem todo mundo está ciente dela."(Introdução à Vida Devota , Parte II, Capítulo 2)
Assim como Deus, as oportunidades para fazer o que é certo, para fazer a paz, para ser honesto, para compartilhar o amor, para trazer a cura e para servir e cuidar dos outros está presente em todos os lugares. Será que às vezes não estamos tão absortos com aquilo que esperamos de Deus, que não podemos reconhecer o que ele espera de nós?

P. Michael S. Murray, OSFS - diretor do Centro de Espiritualidade de Sales.
tradução e adaptação: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB

Dos escritos de São Francisco de Sales

No Evangelho de hoje Jesus nos desafia a assumir o risco de segui-lo, e de nos aprofundarmos cada vez mais em nossa fé, enquanto a tempestade da vida nos sacode de um lado para outro. São Francisco de Sales nos diz algo assim:

Quando, cheios de medo, enfrentamos tempestades e terremotos, realizamos atos de fé e de esperança. Ainda assim, há outro tipo de medo que nos faz ver tudo difícil e complica-do. Nós gastamos mais tempo pensando sobre os desafios do futuro do que nas coisas que fazemos no presente. Levantemo-nos e não nos assustemos com o trabalho do dia. A noite é para descansar e o dia para trabalhar, o que é natural.

Há três coisas muito simples que podemos fazer para ter paz. Temos de ter uma intenção muito pura de procurar em todas as coisas a honra e a glória de Deus. Seguidamente, devemos fazer tudo que esteja ao nosso alcance, por menor que seja para alcançar este fim. Por fim, devemos deixar tudo nas mãos de Deus. Na minha vida eu tenho visto muito poucas pessoas que conseguem progredir sem serem postos à prova. Portanto, devemos ser pacientes. Depois da tempestade, Deus enviará a calma. As crianças sentem medo quando estão longe dos braços de sua mãe. Mas sentem que nada poderá prejudicá-las se estão segurando na sua mão. Peguem na mão de Deus e Ele os protegerá de tudo, já que estarão protegidos com a verdade e a fé.

Se vocês não tem coragem, façam como Pedro e gritem: "Senhor, salvai-me!" Depois continuem tranquilamente sua viagem. Muitas vezes pensamos que perdemos a paz porque nos sentimos angustiados. Mas devemos lembrar que não perderemos a paz sempre e quando continuarmos dependendo totalmente da vontade de Deus, e desde que não abandonemos nossas responsabilidades. Temos que ter coragem para cumprir nossas tarefas; se o fizermos, perceberemos que com a ajuda de Deus iremos além dos limites do mundo, muito além de seus limites. Confiem em Deus e todas as coisas se tornarão mais fáceis; embora isso possa inicialmente assustá-los um pouco.

As Escrituras referem-se a Nosso Senhor como o Príncipe da paz. Quando ele é o mestre absoluto, Ele se encarrega de manter tudo em paz. Mantendo-nos calmos no meio dos conflitos, assumindo com serenidade as provas que aparecem: tudo isso é sinal de que verdadeiramente estamos imitando o "Príncipe da Paz".

(Adaptado dos escritos de São Francisco de Sales, particularmente Sermões, edições L.Fiorelli).

sábado, 26 de julho de 2014

Reflexão Salesiana para o 17º Domingo do Tempo Comum - 27 de julho de 2014


Destaque: "Dê a teu servo um coração compreensivo..."

Perspectiva Salesiana

Salomão poderia ter pedido a Deus muitas coisas, mas tudo o que pediu foi "um coração compreensivo" para poder distinguir o bem  do mal. Deus ficou muito satisfeito com esse pedido tão sábio e intuitivo. Deus dá a Salomão o que ele pediu. Um presente que serviu muito a Salomão que se tornou o mais sábio de todos os reis de Israel.

"Um coração compreensivo." Esta parece ser uma das características mais notáveis que está  ​​presentes em todos os santos de Deus. Santos e santas de todas as idades e culturas, muitas vezes mostraram (entre outras coisas) uma grande capacidade para compreender as coisas que realmente importam na vida.

São Francis de Sales não foi exceção a esta tendência. Em uma carta a Santa Joana Francisca de Chantal escreveu: "Espero que eu possa receber e usar o dom do entendimento como deveria, a fim de obter uma compreensão mais clara e mais profunda dos mistérios da nossa santa fé! Porque esta inteligência tem o poder maravilhoso de fazer com que a nossa vontade se entregue ao serviço de Deus; nosso entendimento está comprometido com Deus, imerso nele, e assim o reconhece de uma forma maravilhosa e perfeitamente boa. À medida que a mente deixa de pensar em tudo o resto em comparação com a bondade de Deus, também a vontade deixa de desejar ou de amar qualquer outra bondade quando comparada com a bondade de Deus; mesmo que os nossos olhos olhem direta e profundamente para o sol já não conseguiriam ver nenhuma outra luz. Mas como só podemos demonstrar o nosso amor neste mundo quando fazemos o bem (porque o nosso amor tem que agir de alguma forma), precisamos de conselhos para colocar em prática este amor que vive dentro de nós, porque é um amor celestial que nos impele a fazer o bem. O Espírito Santo nos dá o dom do entendimento, para que possamos aprender a fazer o bem, para que saibamos escolher o tipo de bem que vamos fazer, e para que saibamos de que maneira plasmar nosso amor em nossas ações. " ( Cartas Seletas , pp 281 -  282)

Do ponto de vista prático, o dom da sabedoria (a capacidade de discernir a melhor maneira de conseguir o bem) tem um papel fundamental na seleção e na prática da virtude. Francisco de Sales escreveu: "A caridade nunca entra num coração sem antes alojar-se a si mesma e a todas as outras virtudes que faz uso, e as quais disciplinam como faz um capitão com seus soldados. Não as põe a trabalhar todas ao mesmo tempo, não o tempo todo, nem em todos os lugares... o grande fracasso de muitas pessoas que decidem usar uma virtude em particular é que eles pensam que a têm que praticar em todos os momentos e situações. Ao praticar as virtudes, devemos fazer uso daquelas que melhor se adéquam às circunstâncias com as quais estamos lidando, em vez de usar as que mais nos acomodam ou  aquelas para os quais sentimos mais afinidade... entre as virtudes que praticamos deveríamos preferir aquelas que são mais excelentes, em vez daquelas que são mais evidentes "(Introdução à Vida Devota, Parte III) 
Um coração compreensivo sabe o que significa ser verdadeiramente divino; um coração cheio de compreensão sabe o que significa ser verdadeiramente humano. Um coração cheio de compreensão sabe como fazer o que é correto e adequado; sabe que tipo de bem ou de boa ação deve ser realizada em uma situação particular; sabe como expressar o amor através de ações. 

Tal compreensão é um dom que vem a nós diretamente do nosso lar no céu. Esse entendimento é realmente um tesouro para a nossa casa aqui na terra.
Porque haveríamos de desejar algo a mais? 

P. Michael S. Murray, OSFS - diretor do Centro de Espiritualidade de Sales.
tradução e adaptação: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB 

Dos escritos de São Francisco de Sales

O Evangelho de hoje nos diz que devemos buscar o Reino dos céus, sem nos importarmos com o custo, uma vez que tudo isso  vale a pena. São Francisco de Sales oferece conselhos práticos sobre como continuar a avançar em nossa busca do Reino: 

O que nós precisamos fazer não mais do que já estamos fazendo:  adorar a providência de Deus, lançar-nos nos braços de Deus, entregar-nos s Seus cuidados. Bem-aventurados são aqueles que escolheram entregar-se nas mãos de Deus! Para poder renovar e cumprir esta decisão, só temos que proclamar que amamos a Deus exclusivamente, e que nós amamos tudo por amor d'Ele. Ser constantes nesse empenho nos ajuda bastante, já que infunde o amor em todas as nossas obras. É particularmente útil para todas as ações que realizamos no cumprimento de nossos deveres diários. O cumprimento das tarefas necessárias, com base na vocação de cada pessoa, ajuda a aumentar o amor divino e recobre de ouro uma obra de santidade.

Devemos ser como aquela valente mulher que fala o Antigo Testamento. "Ela estende a mão para as coisas fortes, generosas e enobrecidas, e mesmo assim não se esquiva de aplicar sua mão no fuso, e suas mãos na roca." Estendam suas mãos para as coisas fortes, adquiram experiência através da oração e da meditação, recebendo os sacramentos, guiando almas para que amem a Deus, e incutindo inspirações positivas em seus corações. Façam trabalhos importantes de acordo com a sua vocação; mas nunca esqueçam seu eixo e nem sua roca. Isto significa que devem praticar as pequenas virtudes como a simplicidade, paciência, humildade e generosidade, as quais crescem como flores cada vez que realizam pequenas obras com um grande amor.
O rouxinol não sente menos amor por sua canção do que quando ele faz uma pausa durante o canto. Da mesma forma, o coração que se dedica à vida espiritual não sente menos amor quando se concentra no cumprimento dos trabalhos externos, do que quando está orando. Nesse corações o  silêncio e a fala, o trabalho e o descanso, cantam com um amor   transbordante de alegria. Sua oração diária de vida se espalha para todas as suas ações. Eles buscam o Reino de Deus a qualquer custo, e este é revelado a eles.

(Adaptado a partir dos escritos de São Francisco de Sales, particularmente seu Tratado do Amor de Deus). 

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Reflexão Salesiana para o 16º Domingo do Tempo Comum - 20 de julho de 2014

Destaque: "Assim procedendo, ensinaste ao teu povo que o justo deve ser humano; e a teus filhos deste a confortadora esperança de que concedes o perdão aos pecadores." (Sb 12, 19) 

Perspectiva Salesiana

O Livro da Sabedoria não deixa espaço para ambiguidade quando se refere às características da justiça divina: o cuidado, a clemência, a indulgência, o ressentimento e a bondade. Estas características em vez de insinuar que Deus possa ser "fraco", descrevem, de um modo melhor, a natureza da verdadeira força, da autoridade real e do verdadeiro poder.
Este é o grande paradoxo do amor divino: mesmo quando o pecado e o mal podem provocar o castigo divino, é muito mais provável que, no final recebam a misericórdia, a indulgência e a bondade divina. Francisco de Sales observou: "O pecado de Adão verdadeiramente estava muito longe de chegar a constranger a bondade de Deus. Ao contrário, despertou e motivou ainda mais a bondade de Deus. Como se estivesse tentando realinhar suas tropas a caminho da vitória, a bondade de Deus faz com que a graça preencha grandemente onde antes enchia a desigualdade... Na verdade, a providência de Deus nos deu muitas grandes demonstrações que refletem a severidade divina, embora, mesmo em momentos que Deus irradia Sua misericórdia sobre nós;  Exemplos destas demonstrações incluem o fato de que devemos morrer, as doenças, os trabalhos, a rebelião sensual... mas a graça de Deus flutua acima de todas estas coisas e se alegra ao converter todas estas misérias em benefícios para todos aqueles que o amam. "(Tratado do Amor de Deus , Livro II, Capítulo 5) 
Em nenhum outro lugar ou situação podemos ver refletido o exercício do poder e da justiça de Deus de forma tão clara, tão gentilmente e com tanta clemência do que na vida e no legado de Jesus Cristo. São Francisco de Sales escreveu: "Em uma palavra, o nosso Divino Salvador nunca se esquece de mostrar que 'a sua misericórdia está acima de todas as suas obras.' Que sua misericórdia excede Sua justiça, que a 'sua redenção é abundante', que o seu amor é infinito e que, como os Apóstolos dizem 'ele é rico em misericórdia' e, portanto, ele 'deseja que todos sejam salvos', e que ninguém pereça". (Tratado , Livro II, capítulo 8) 
Sobre a prática da virtude, Francisco de Sales escreveu: "Algumas virtudes têm apenas um uso quase geral e não somente devem produzir os seus próprios resultados, mas também devem ser estendidas a todas as outras virtudes. Nem sempre se apresentam momentos nos quais podemos fazer uso da fortaleza, da magnanimidade, ou de uma grande generosidade. Mas a mansidão, a temperança, a integridade e a humildade são virtudes que devem emoldurar todas as ações que realizamos no decurso de nossas vidas."
Praticar a virtude é partilhar e repartir o poder e a promessa de Deus. Como podemos responder a este poder divino, poder expresso em paciência, em indulgência, em clemência e em bondade? 
Em primeiro lugar, devemos nos arrepender. Devemos reconhecer nossa necessidade de sermos salvos, redimidos e reconciliados por meio da justiça de Deus. Esse poder não só nos ajuda a afastar-nos da desigualdade, mas também nos permite fazer o que é certo e correto. 
Em segundo lugar, devemos fazer uso do poder divino no qual partilhamos (como resultado da natureza da nossa criação e redenção) o perdão de uns para os outros, praticando e ampliando o cuidado e a compreensão, a misericórdia, a paciência e a bondade para com os nossos irmãos e irmãs, especialmente quando, intencionalmente ou sem pensar, nos machucam ou nos ferem.
A melhor maneira de servir à justiça divina é através de bondade. Estamos felizes por receber e partilhar um presente tão poderoso e redentor como este?

P. Michael S. Murray, OSFS - diretor do Centro de Espiritualidade de Sales. 
Tradução e adaptação: P. Tarcizio Paulo Odelli - sdb

Dos escritos de São Francisco de Sales

As leituras de hoje nos recordam o modo como a justiça e misericórdia de Deus agem conjuntamente para cuidar da família humana. São Francisco de Sales observa: 
Deus é a própria Bondade. Esta infinita bondade de Deus tem duas mãos: uma mão representa a misericórdia, a outra a justiça.  A justiça e misericórdia só podem florescer onde há bondade. Deus usa a misericórdia para conseguir que nós acolhamos tudo aquilo que é bom.  A justiça se encarrega de arrancar na raiz qualquer coisa que nos impeça de experimentar os efeitos da bondade de Deus. Impele-nos a rejeitar o mal. 
Aqueles que têm um verdadeiro desejo de servir o nosso Senhor e de escapar do mal, não devem atormentar-se com pensamentos sobre a morte ou sobre o julgamento divino. O santo temor que sentem aqueles que amam a Deus representa para Ele uma reverência filial. Eles temem desagradar a Deus, simplesmente porque Ele é o seu pai amoroso e bondoso. O bom filho não obedece a seu pai porque ele tem o poder de castigá-lo ou deserdá-lo. Simplesmente obedece, porque ele é um pai amoroso e preocupado. O santo temor fortalece nosso espírito humano; confia plenamente na bondade de Deus. A misericórdia de Deus, vendo-nos vestidos de "carne, como um vento" que vem e vai, nunca permitirá que nos lancemos na ruína total. A infinita misericórdia de Nosso Salvador sempre se inclina a nosso favor.
Quando os pecadores persistem no pecado, quando vivem como se Deus não existisse, é então é que o nosso Salvador lhes permite encontrar Seu coração cheio de sofrimento, piedade e generosidade para com eles. Embora Davi tivesse ofendido a Deus, ele sempre recebeu o alento do coração indulgente e a clemência divina. Reflitamos sobre como a bondade de Deus, que desde toda a eternidade, tem nos valorizado, e proporcionado todos os meios necessários para avançar no caminho do amor sagrado. Agora, Deus nos dá a oportunidade de fazer o bem, e de seguir em frente com as provas que atualmente enfrentamos. A grandeza que encerra a misericórdia de Deus continua a brilhar nas obras deslumbrantes e inspiradoras de Jesus. Que grande motivo para colocar toda a nossa esperança e nossa confiança na misericórdia de Deus! 
(Adaptado a partir dos escritos de São Francisco de Sales) 

sábado, 12 de julho de 2014

Reflexão Salesiana para o 15º Domingo do Tempo Comum - 13 de julho de 2014


Destaque: "A semente que cai em boa terra dará uma colheita abundante."

Perspectiva Salesiana

Às vezes as coisas boas custam tempo... e exigem muito paciência. Isso acontece até com as melhores coisas, como por exemplo, as sementes do amor de Deus. 
Cada um de nós é "a terra boa", na qual Deus planta a semente da vida e do amor divino. Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus, e nossa vocação comum (que é única para cada um de nós, de acordo com o plano de Deus) é permitir que as sementes da vida divina criem raízes em nossas mentes e em nossos corações e produzam em nós bondade tão abundante que se espalhe e se estenda para a vida de nossos irmãos e irmãs... para que assim todos nós possamos dar glória e honra a Deus. 
No entanto, como é claramente ilustrado na parábola do Evangelho de Mateus, nem todas as sementes do amor de Deus irão crescer bem dentro de nós. Algumas dessas sementes terão seu crescimento estagnado por causa dos nossos medos e ansiedades. Algumas outras serão esmagadas por causa das nossas preocupações ou por certas atrações. Algumas outras simplesmente irão murchar por causa de nossa falta de atenção e cuidados. No entanto, apesar destes e de muitos outros obstáculos que possam surgir, na verdade, muitas das sementes do amor de Deus, irão se enraizar, crescer e produzir uma colheita de amor, justiça, paz, verdade, reconciliação e liberdade. 
Mas esse crescimento leva tempo e exige uma série de períodos de avaliação, de cometer erros e de tentar novamente. É importante que lembremos isto para não desanimarmos e para que simplesmente deixemos que as sementes do amor de Deus trabalhem livremente em nós. A prática da paciência não é somente importante para promover o crescimento espiritual em nós mesmos, mas também para promovê-lo na vida dos outros. Numa carta a Madame Brülart, Francisco de Sales escreveu: "Quanto ao seu desejo de ver seus amados progredindo no serviço de Deus e do seu desejo para chegar a perfeição cristã, quero dizer-lhe que louvo tremendamente este desejo. Mas... para dizer a verdade, eu sempre temo que nestes desejos se encontre em um pouco de amor-próprio e da vontade própria. Por exemplo, poderemos encontrar muito prazer nesses desejos e assim talvez, não damos espaço suficiente para as coisas que realmente importam: a humildade, a resignação, a mansidão de coração e outras coisas desse tipo. Ou pode acontecer que a intensidade desses desejos nos causam tanta ansiedade que no final, não podemos submeter-nos à vontade de Deus, tão perfeitamente como deveríamos fazê-lo." (Cartas de Direção Espiritual , página 110.) 
É claro que, mesmo quando devemos assumir a responsabilidade pelo nosso crescimento na espiritualidade, que devemos nutrir as sementes do amor de Deus em nós e incentivar outros a fazer a mesma coisa, devemos fazê-lo com paciência e com uma mente aberta à vontade de Deus para conosco, para que nossos esforços não acabem sendo apenas um exercício de nosso eu, do nosso amor próprio, de nossa decepção e de nosso ensimesmamento.
Francisco de Sales nos oferece o seguinte conselho: "Lute por seus objetivos de forma gentil e pacífica... através de suas palavras e de suas ações deves plantar sementes que animem os outros... desta forma farão muito melhor do que fazendo, outras coisas, especialmente se implorem para que seja assim.... "(Ibid) 
As sementes do amor de Deus que caem em boa terra, em nós mesmos e nos outros, a longo prazo irão dar uma colheita proveitosa. A curto prazo, é nosso dever nutri-las pouco a pouco, com paciência e com cuidado (especialmente quando somos confrontados com o fracasso e a frustração) e de maneiras que glorifiquem a Deus no céu ... e que ajudem a produzir uma colheita de justiça e paz aqui na terra. 

P. Michael S. Murray, OSFS - diretor do Centro de Espiritualidade de Sales. 
Tradução e adaptação: P. Tarcizio Paulo Odelli - sdb 

Dos escritos de São Francisco de Sales

No Evangelho de hoje, Jesus nos diz que se entendermos Sua palavra com o coração, produziremos frutos em abundância. São Francisco de Sales oferece os seguintes pensamentos sobre o assunto: 
A palavra de Deus é tão poderosa e eficaz que pode dar vida aos mais necessitados. Que belo sinal ver um cristão que tem o prazer de ouvir a palavra de Deus, e pertencendo totalmente a Ele! Aqueles que conseguem deixar tudo para entregar-se a Deus, sem quaisquer reservas, são como o girassol que, não contente em virar suas flores, suas folhas, e o seu tronco em direção ao sol, também, e como resultado de uma maravilha incompreensível, consegue redirecionar sua raiz debaixo da terra. Amar a Deus completamente significa que O amamos com autoridade, e que amamos tudo o que Ele comanda. 
Jesus, que morreu por amor a nós, deseja que escutemos Sua palavra para torná-la nossa. Depois de prestar atenção à Palavra de Deus, devemos abrir nosso coração e ser receptivos para que possamos compreender o que ouvimos. Compreender a Palavra de Deus nos ajuda a mantê-la. Nossas ações devem ser coerentes com as nossas palavras. Isto significa que quando nós expressamos a nossa vontade de fazer alguma coisa, devemos executá-la imediatamente. Imploremos a Divina misericórdia para que nos fortaleça, e assim possamos fazer, efetivamente, tudo aquilo que o nosso coração deseja e aprova. 
Nosso Senhor deixa muito claro que a sua palavra se tornará realidade em nós a partir do momento em que decidimos aceitar a Sua vontade como nossa. Isso não quer dizer que vamos nos sentir "bem" ou como uns "santos" ao cumprir a vontade de Deus. O que importa é que reverenciemos a sua palavra, e que mantenhamos a nossa intenção de tirar proveito dela. A Divina Bondade se mostrará satisfeita com isto. Deus fica contente com pouco; Ele se concentra nas intenções do nosso coração, não nos nossos sentimentos. No entanto, aqueles que ouvem a palavra de Deus com especial atenção e desejo, nos falam das vitórias que alcançaram sobre si mesmos e suas fraquezas. A soma da nossa bondade consiste em aceitar a verdade que encerra a palavra de nosso Salvador. Nosso objetivo deve ser perseverar na nossa capacidade de viver esta verdade, de modo que possamos alcançar uma vida em abundância. 
(Adaptado a partir dos escritos de São Francisco de Sales)