sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Reflexão Salesiana para o 1º dia do ano de 2012


Maria – Mãe de Deus

Destaque: “Quanto a Maria, guardava todos estes fatos e meditava sobre eles em seu coração”.

Perspectiva Salesiana

“Olhe para Maria em todas as circunstâncias da sua vida. Em seu quarto de Nazaré ela mostra sua modéstia através do seu medo, sua candura ao esperar ser instruída e ao perguntar, sua submissão e sua humildade quando se chama a si mesma de escrava. Olhem para ela em Belém: ela vive uma vida simples e pobre, ela escuta os pastores como se fossem doutores instruídos. Olhem para ela na companhia dos reis: ela não se atreve a fazer discursos. Olhem para ela durante o tempo de sua purificação: ela vai ao templo para cumprir os costumes da igreja. Durante a viagem para o Egito e de regresso ela simplesmente obedece a José. Ela não considerava que estava desperdiçando seu tempo quando foi visitar sua prima Isabel. Ela o considerou como um ato de amor e de cortesia. Ela buscou Nosso Senhor não somente quando sentiu ele alegria, mas também quando ele chorou. Ela sentiu compaixão ao ver a pobreza e a confusão daqueles que a convidaram para o casamento. Ela estava parada aos pés da cruz, cheia de humildade, cheia de virtude e nunca atraindo atenção para si mesma quando expunha suas qualidades” (Stopp, Cartas Seletas, pg 159.)

Quando Maria aceitou ser a mãe de Jesus ela recebeu mais do que esperava no início. O fato de ter dado o “Sim” ao convite de Deus para ser a mãe do Messias mudou sua vida para sempre. Mas, como observou São Francisco de Sales ela constantemente reafirmava este “Sim” ao experimentar a vontade de Deus para com seu filho, a vontade de Deus para com seu esposo e a vontade de Deus para com ela. Nos bons, nos maus e em outros momentos, ela aceitou completamente cada uma das situações que teve que viver.

Nós também somos chamados a dar vida a Jesus, e mesmo não sendo um chamado para dar vida física, nosso chamado é um desafio não menos importante nem menos exigente do que Maria teve que enfrentar.

Assim como podemos observar na vida de Maria, dar vida a Jesus não é um fato que acontece somente uma vez: é um processo que dura toda a vida. Dizer “Sim” para dar vida a Jesus significa ter fé na vontade de Deus para conosco e para com os outros, um dia, uma hora, e cada momento ao longo de nossas vidas. Dar vida a Jesus é aceitar completa e profundamente a responsabilidade, os fatos e as circunstâncias em determinados momentos das nossas vidas. É aceitar os golpes e manter a convicção de que Deus nos ama e nos protege.

Maria nos recorda que dar vida a Jesus pode nos trazer mais do que uma inconveniência, uma dor de cabeça ou dores de coração. Mesmo assim, a vida de Maria se apresenta para nós como uma forma poderosa de recordar-nos que a fidelidade de uma pessoa para com Deus pode mudar o mundo para o bem.

Para sempre.

P. Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales. 
Tradução do espanhol: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

389 anos da morte de São Francisco de Sales


Ocorre no dia de hoje, 28 de dezembro, a data da morte de São Francisco de Sales. Morreu no dia dos Santos Inocentes. Estava em Lyon, na França, em 1622. Ele escreveu na Carta 939: "Os anos passam e desaparecem imperceptivelmente, um depois do outro, esgotando sua duração, esgotando a nossa vida mortal, e, acabando-se, terminam os nossos dias. Oh! quanto mais desejável é a eternidade, pois a sua duração é sem fim e seus dias não têm noite, e o seu gozo não muda" Que felicidade para a alma se Deus, na sua misericórdia, lhe faz experimentar esta serenidade" Mas, enquanto esperamos ver Jesus glorificado, contemplemo-lo com os olhos da fé, na humilhação do seu pobre presépio"

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Reflexão Salesiana para o dia do Natal – 25 de dezembro de 2011


Quando visitei Chieri, próximo à Turim, tirei esta foto desta tela, onde Nossa Senhora apresenta o Menino Jesus à São Francisco de Sales. Diante desta tela João Bosco, ainda jovem estudante em Chieri, rezou muitas vezes. Por isso escolhi esta imagem para representar o Natal de Jesus. E desejo a todos um Feliz Natal com o Menino Jesus presente, como o grande Presente que Deus nos deu. 

Alguns pensamentos de São Francisco de Sales sobre o natal:

Quando uma pessoa quer construir uma casa ou um palácio deve levar em conta para quem está construindo a dita casa. Seguramente utilizará planos diferentes, dependendo do status social da pessoa. Assim aconteceu com o Divino Mestre. Deus construiu o mundo para a Encarnação do Filho. A sabedoria divina previu desde a eternidade que a Palavra adotaria nossa natureza ao chegar a terra. A fim de conseguir este objetivo, Deus escolheu uma mulher, a santíssima Virgem Maria que deu a vida a Nosso Salvador.

Por meio da Encarnação Deus nos fez ver algo que a mente humana dificilmente jamais poderia imaginar ou entender. É tão grande o amor de Deus por todos nós que no momento em que se fez humano desejou cumular-nos com sua divindade. Deus desejou coroar-nos com bondade e dignidade divina. Deus quis que fôssemos seus filhos, porque fomos criados à sua imagem e semelhança.

Nosso Salvador veio a este mundo para ensinar-nos o que devemos fazer para poder preservar esta semelhança divina de Deus. Com muita seriedade devemos encher-nos de coragem para viver de acordo com aquilo que somos. Nosso Salvador veio para que nós pudéssemos viver a vida ao máximo. Ele sempre se mostrou completamente cheio de misericórdia e bondade para com a família humana.

Muitas vezes quando as almas mais endurecidas vivem como se Deus não existisse, Nosso Salvador lhes permite encontrar Seu Coração cheio de piedade e de misericórdia para com eles. Todos aqueles que conhecem esta verdade guardam um sentimento de gratidão por terem tido a oportunidade de vivê-la. Desejamos em nosso lar que tudo que temos venha de Deus. Quando abrimos nossos corações a Seu amor, estamos dando vida ao Menino Jesus dentro de nós, para assim contribuir a estabelecer o reino de Deus na terra.

(Adaptação dos escritos de São Francisco de Sales)

Destaque: “A Palavra se fez carne”.

Perspectiva Salesiana

“Vocês levam em suas almas a Jesus Cristo, o menino mais apreciado do mundo, e até o momento em que ele seja trazido ao mundo, vocês vivem na carne as próprias penúrias de seu aparecimento. Mas sejam bons de coração porque estes sofrimentos passarão e a alegria eterna permanecerá com vocês por terem contribuído para dar vida a este homem. Ele será revelado a diante de vocês uma vez que hajam dado forma em seus corações, através de suas obras, imitando sua vida e seu exemplo” (IVD III, Cap. 3)

Ao participarmos da celebração eucarística do natal estamos dando vida a Jesus. Nossa reunião para celebrar a santa eucaristia representa claramente o nascimento milagroso de Jesus entre nós. Para descrever o mistério da Encarnação, São João diz que “A Palavra se fez carne e habitou entre nós”. Isto não somente quer dizer que ele adquiriu um corpo humano, que se tornou homem. Isto quer dizer que desde este momento Deus se uniu permanentemente à humanidade. Significa que ele trabalhará e se manifestará à humanidade e através da humanidade. Significa que podemos descobrir Deus por meio de nossa própria humanidade e que através de nossa humanidade ele se descobre diante de nós. Significa que Deus está totalmente imerso e totalmente comprometido com nossa existência. É por isso que, de certo modo, tudo o que tem a ver conosco não lhe é alheio. Ele se envolveu ativamente em nossos problemas, em nossos defeitos, em nossos fracassos, como também em nossos sucessos e em nossos triunfos.

Se Deus, através da Encarnação tornou as preocupações humanas sua própria preocupação, então todos aqueles que dedicam suas vidas a segui-lo não podem permanecer distantes, despreocupados ou alheios diante dos problemas do mundo. Tudo o que é verdadeiramente humano, a pobreza, a enfermidade, a injustiça, os preconceitos raciais, o amor, a paz, não deve ser estranho para nós.

O mistério do natal nos recorda que Cristo precisou da carne, da humanidade para poder nascer, para poder ter vida. Ainda agora ele precisa fazer uso da carne, da nossa carne e da nossa humanidade para viver e para permanecer vivo neste mundo. Quando nós entregamos nossa humanidade para que Cristo possa nascer em nós, para que possa viver entre nós e com os outros, estamos perpetuando o mistério do natal e é como se verdadeiramente contribuíssemos para dar a luz à Cristo.

P. Alexander Pocetto, OSFS – Centro Valley PA
Tradução: P. Tarcizio Paulo Odelli, SDB

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Reflexão Salesiana para o quarto domingo do Advento – 18 de dezembro de 2011


No Evangelho de hoje escutamos sobre a boa vontade de Maria para cumprir a vontade de Deus. São Francisco de Sales nos oferece alguns de seus muitos pensamentos sobre como devemos abrir-nos ao amor de Deus, que equivale a cumprirmos Sua vontade em nossas vidas.

O maior dom de Maria foi sua total disposição para receber o amor de Deus. Deus se comunica (uma palavra muito salesiana) conosco através de inspirações e dos movimentos internos de nosso coração. Devemos abrir-nos para aceitar de boa vontade as inspirações que Ele se compraz em enviar-nos. Por inspirações me refiro a todos os desejos internos, a todos os instantes de arrependimento, os pensamentos e os afetos que Deus deposita em nossos corações para despertar-nos e atrair-nos às virtudes autênticas do amor sagrado e das boas resoluções. Em resumo, a tudo o que nos conduzirá pelo caminho do bem estar eterno. Qualquer pensamento que nos produza ansiedade ou medo deve ser afastado, já que estas emoções não provêm de Deus que é o Príncipe da Paz.

Quando lhes chega uma boa inspiração recebam-na como se fosse de um embaixador enviado pelo chefe de uma nação. Abordem-na com simplicidade e gentileza. Escutem com calma a proposta de Deus. Reflitam sobre o amor que inspira vocês e valorizem. Alimentem seus bons desejos e mantenham-se vivos enquanto dormem nos braços da providência de Deus. Em outras palavras, aceitem seu consentimento total, amoroso e permanente às suas inspirações. Aceitem-nas na paz e com plena confiança que Deus lhes dará o amor que precisam para levá-las a bom termo.  Existem ocasiões em que Deus nos pede que façamos uma boa obra o que Ele quer de nós é que demonstremos nossa boa vontade para levá-la a cabo. No tempo que Jesus se ocupava para estabelecer o Reino na terra, deixou como tarefa a seus apóstolos e as futuras gerações que o ajudassem a completar a obra que ele tinha iniciado.

Mesmo assim, antes de aceder e de atuar em base a qualquer inspiração que pareça importante ou inusitada, sempre devem consultar seu conselheiro espiritual para reafirmar se esta é verdadeira ou falsa. Uma vez dada aprovação, devem apressar-se em colocar a dita inspiração em prática. O fruto da prática é a verdadeira virtude a qual nos permite estar em constante disposição, como esteve Maria, para receber o amor infinito de Deus.

(Francisco de Sales- Introdução... Power &Wright, Francisco de Sales, Joana de Chantal)

Perspectiva Salesiana

Destaque: “Vou preparar um lugar para o meu povo, Israel: eu o implantarei, de modo que possa morar lá sem jamais ser inquietado. Os homens violentos não tornarão a oprimi-lo, como outrora... Concedo-te uma vida tranquila, livrando-te de teus inimigos”. “Porque para nada é impossível”.

Imagine um mundo sem inimigos. Imagine um mundo sem intimidades. Imagine um mundo sem pessoas que se aproveitam dos outros ou que usem os outros em sua própria vantagem ou ganância. Imagine um mundo sem palavras ou ações cometidas sob a influência da ira. Imagine escolas nas quais ninguém nunca foi molestado ou zombado. Imagine famílias nas quais nunca ninguém foi maltratado. Resumindo, imagine um mundo onde todos vivam em paz, em todos os lugares, com todo mundo!

Isso é exagero? Uma expectativa irreal? Uma fantasia? Uma farsa? Uma ilusão? Uma desilusão? Somente uma canção famosa? De acordo com a Escritura é muito mais, já que como ouvimos hoje “nada é impossível para Deus”.

Na mente do Cavaleiro Santo (Francisco de Sales) a promessa que “nada é impossível a Deus” nos desafia cada dia a praticar duas grandes virtudes: a esperança e a aspiração.

Francisco de Sales descreve a esperança como aquilo que enfoca nossa atenção nestas “coisas que esperamos obter com a ajuda dos outros” (TAD II, 17) Obviamente entre nós somos incapazes de criar, por nossa própria conta, o mundo que a promessa do Messias que está para chegar tornará possível. Necessitamos o amor de Deus, da salvação de Cristo e da inspiração do Espírito Santo para tornar possível esta realidade. Francisco de Sales descreve a aspiração como a consideração “das coisas pelas quais nós lutamos por nossa própria conta e com nossos próprios recursos”. (Ibidem) Estando conscientes danossa necessidade da ajuda de Deus e do apoio dos outros, a esperança não é simplesmente um pensamento para considerar seriamente o que podemos fazer para que a promessa da paz seja uma realidade no futuro.
Mesmo quando “nada é impossível para Deus”, Francisco de Sales diz que é impossível para nós tentarmos praticar estas virtudes isoladamente: aspirar por um mundo pacífico sem reconhecer nossa necessidade de Deus e dos outros é a máxima expressão da arrogância. Enquanto que anelar a paz sem estarmos dispostos a trabalhar por ela é a máxima expressão da covardia.

À medida que nos aproximamos do Natal a da celebração da paz que Deus nos prometeu em Jesus através do Espírito, mantenhamos a esperança de um amanhã melhor e trabalhemos por um presente melhor, porque nada é impossível para Deus... e para aqueles que juntos caminham nos caminhos de Deus.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Reflexão Salesiana para o 3º Domingo do Advento – 11 de dezembro de 2011


O Evangelho de hoje nos fala de João Batista. São Francisco de Sales separa certos aspectos do caráter de João que nós poderíamos começar a desenvolver em nossos corações neste tempo do Advento.

João Batista vivia no deserto com uma rocha, inamovível no meio das ondas e das tempestades que as tribulações trazem junto. Nós, ao contrário, mudamos de acordo com o tempo e com a estação. Quando o tempo está bom nada pode igualar nossa alegria. Porém, quando a adversidade se avizinha sobre nós, de repente ficamos totalmente desanimados. Às vezes nos incomodamos por qualquer ninharia que vai contra os nossos gostos. Como resultado, somos incapazes de restabelecer a paz em nossa alma por muito tempo, e não sem antes ter que recorrer ao uso de muitos “unguentos curadores”. Em resumo, espiritualmente somos inconstantes, não sabemos o que queremos. Num momento nosso coração se encontra alegre, no seguinte somos severos e nos amarguramos. Somos como caniços que permitem que qualquer humor ou estado de ânimo os agite em todas as diferentes direções.

João Batista nos diz que devemos aprender a nivelar os caminhos em preparação para a chegada de Nosso Senhor que é para nós o caminho da plenitude. Até certo ponto todos os santos conseguiram a dita nivelação, mesmo que nenhum tenha alcançado a perfeição. Em cada um deles houve algo que estragou a perfeição de sua equanimidade espiritual. Isto aconteceu, inclusive, com João Batista. Nós devemos examinar nossas ações. Devemos reformar aquelas que não contêm boas intenções e aperfeiçoar aquelas que já têm. Nossa meta deve ser atuar numa só intenção: conformar-nos à verdadeira imagem de Deus em nós. Porque a razão pela qual Jesus veio a terra foi para mostrar-nos o verdadeiro rosto de Deus.

Sempre devemos recordar que a graça de Deus nunca falha, e que se somos felizes e cooperarmos com a primeira graça que Deus nos dá, receberemos muitas mais. Por esta razão na Sagrada Escritura Deus nos recomenda que sejamos fiéis no seguimento de nossos impulsos, do nosso entendimento e das nossas inspirações. Quando fizermos isso, a grandeza que encerra a infinita misericórdia de Deus brilhara para nós.

(Adaptação dos Sermões de São Francisco de Sales, V. 4, Ed. L. Fiorelli)

Perspectiva Salesiana

Destaque: “Que o próprio Deus da paz vos santifique totalmente e que tudo aquilo que sois – espírito, alma, corpo – seja conservado sem mancha alguma para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo!”

Novamente ouvimos o desafio para viver uma vida santa – devota – e ao fazê-lo “conservar sem mancha alguma o espírito, alma e corpo até a chegada de Nosso Senhor Jesus Cristo”.

A santidade fala de integridade, isto é, a santidade é a experiência e o processo de integrar tudo o que somos e de colocar tudo o que somos(especialmente nosso tempo, talentos e tesouro) à serviço de Deus e dos outros, levando em conta que Deus sempre está conosco. Viver a vida de um modo santo é entregar tudo o que eu sou a tudo o que a vida me oferece.

As pessoas que tem integridade reconhecem que na ausência da justiça não pode haver uma paz verdadeira. O Advento nos chama a reconhecer que a forma mais poderosa de tornar realidade a paz de Deus em nossas vidas é relacionando-nos justamente com os outros, por exemplo, dando-lhes o que lhes corresponde.

A essência da justiça é poder reconhecer as obrigações que temos com os outros no amor. Que devemos aos outros? Na mente de São Francisco de Sales estas dívidas incluem reverência, respeito, cortesia, paciência, honestidade e generosidade. Francisco de Sales escreveu sobre esta obrigação na terceira parte da Introdução à Vida devota, Capítulo 36: “Sê justo e equitativo em todas as tuas ações. Coloca-te sempre no lugar do teu vizinho e teu vizinho em teu lugar e poderás julgar de maneira correta. Imagina-te que és o vendedor quando compras e o comprador quando vendes e assim venderás e comprarás justamente. Não perdes nada por viver com um coração generoso, nobre, cortês, real, justo e racional”. Verdadeiramente nós não perdemos nada por vivermos justamente. Porém considera o outro lado da moeda: ao viver justamente ganhamos muito, por exemplo, a riqueza que chega como resultado da luta por sermos pessoas íntegras; a integridade que nos desafia a lutar pela paz que somente o céu pode aperfeiçoar quando trabalhamos juntos pela justiça nesta terra.

Para estarmos seguros, nós cremos que o Senhor fará justiça e o louvor se levantará sobre todas as nações. Assim mesmo, nós sabemos que cada um de nós tem uma tarefa a realizar no projeto do Senhor para conseguir este objetivo.

Estamos prontos? 


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Imaculada Conceição



No ano de 1602, no dia 8 de dezembro Francisco de Sales foi consagrado Bispo na igreja de Thorens, onde tinha sido batizado em 1567. Francisco de Sales, recordando esta data escreveu dois anos uma carta onde afirma que tinha feito “uma grande e terrível promessa de servir às almas e de morrer por elas, se conveniente for. Então, verdadeiramente Deus me tirou de mim mesmo para dar-me ao seu povo”.

Sabemos que ele teve uma grande devoção para Maria. Toda a vida de Francisco de Sales está marcada por uma constante devoção mariana. Maria está continuamente presente em sua palavra, em seus sermões, em seus escritos, como o está também em seu coração e em sua vida.

Quero destacar esta frase: “Estou plenamente decidido a não querer outro coração que não seja aquele que ela me dá, esta doce Mãe dos corações, esta Mãe do santo amor, esta Mãe do coração dos corações”.

“A Santíssima Virgem gozou do maior privilégio de todas as criaturas e era para ser, desde o primeiro momento da sua Imaculada Conceição, sempre completamente obediente à vontade de Deus. Nossa Senhora não mudou, nem por um só momento vacilou ou foi sujeita à alteração e não se desprendeu jamais desta primeira união e adesão à vontade de Deus. Ela não pode jamais declinar da primeira graça recebida da Divina Majestade, mas merecia continuamente novas graças. E nós, pobres criaturas, somos tão instáveis em nossas resoluções! Quem entre nós pode dizer de si que é sempre constante? Num momento queremos uma coisa e logo depois algo diferente. E assim alteramos os nossos afetos de uma hora para outra”. (Sermões 26)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Reflexão Salesiana para o 2º Domingo do Advento – 04 de dezembro de 2011



No Evangelho de hoje escutamos “uma voz no deserto” que nos chama a preparar os caminhos do Senhor. São Francisco de Sales nos diz como poderemos conseguir isso.

Os caminhos que vão e vem somente desgastam e desorientam os viajantes. Para poder preparar bem os caminhos de Deus em nossos corações, o único propósito que devemos ter é o de agradar a Deus. Nós devemos ser como o marinheiro que enquanto navega o barco mantém seus olhos fixos na agulha da bússola. Devemos manter nossos olhos fixos num objetivo: adquirir boa disposição que é a melhor virtude da vida espiritual. Devemos orientar nossos sentimentos, emoções e inclinações permanentemente na direção do amor de Deus, que os transforma para que possamos adquirir um bom caráter.

Quando nossos corações se debatem constantemente entre nosso amor por Deus e nosso amor próprio, sucumbimos a um estado de medo, de ansiedade e de confusão. O enfrentamento de nossas grandes faltas pode nos ocasionar certo medo ruim que coloca o coração num estado de estresse e que muitas vezes nos conduz ao desânimo. É por esta razão que ao longo de nossa vida devemos exercitar nossa confiança em Deus e nos encomendarmos à bondade de Deus que nos ama.

Mesmo assim o temor sagrado nos ajuda a empregar os meios apropriados para evitar os problemas. O temor sagrado e a esperança devem existir sempre juntos um com o outro. A esperança nos exorta a almejar a alegria sagrada que encontraremos na bondade suprema de Deus. Ele faz uso destas duas virtudes para levar a cabo a nossa cura espiritual.

Nossa vida está cheia de caminhos tortuosos que somente podem ser endireitados por meio de uma mudança de atitude. Quando dirigimos nosso coração para o amor de Deus, experimentamos um verdadeiro amor próprio. Quando o amor sagrado reina em nossos corações, abranda todos os demais amores. O amor divino submete todas as nossas emoções e nossos afetos naturais ao plano de Deus e ao seu serviço. Todos os nossos movimentos encontram repouso neste amor sagrado. Os corações daqueles que possuem abundante amor sagrado estão cheios de confiança e de esperança, já que eles caminham pelas veredas que os levarão diretamente à plenitude de Deus.

(Adaptação dos escritos de São Francisco de Sales, particularmente os Sermões, L. Fiorelli, Ed.)

Perspectiva Salesiana

Destaque: “Enquanto esperais com anseio a vinda do dia de Deus... Vivendo nesta esperança, esforçai-vos para que ele vos encontre numa vida pura e sem mancha e em paz” (2 Pr 3, 12.14)

Hoje, nas Escrituras, encontramos novamente um sentimento de expectativa sobre o cumprimento da justiça de Deus e a necessidade de estarmos alertas e vigilantes. Certamente é a continuação da reflexão do domingo passado. A melhor maneira de antecipar a justiça de Deus é “ser santo na conduta e na prática da devoção. “Que devoção”? “Esta agilidade espiritual e a vivacidade que faz com que o amor trabalhe em nós. Ou a ajuda com a qual trabalhamos rápida e amorosamente... não somente nos faz rápidos, ativos, diligentes para fazer o que Deus quer, mas também nos leva a fazer todo o bom trabalho que podemos fazer de forma rápida e amorosa” (IVD, Parte i, Cap. 1). Lembro que no tempo de São Francisco não usavam a palavra “espiritualidade”, mas devoção. A devoção procura aproveitar as oportunidades diárias para fazer o bem. Verdade seja dita, não temos tempo para “esperar” quando se trata de praticar a espiritualidade. O “esperar” sugeriria que existem momentos em nossas vidas nos quais Deus quer que descansemos para amá-lo, para amar-nos a nós e aos outros.  Um olhar mais de perto em nossa relação conosco mesmos e com os outros revela que achamos que basta ocupar apenas uma hora durante a semana e que é suficiente para mantermo-nos ocupados com a espiritualidade enquanto antecipamos o dia em que a justiça e a paz do Reino de Deus se torne realidade.

Esperar não é ficar passivo, mas, trata-se de reconhecer que a prática da espiritualidade nos momentos e circunstancias particulares de nossa vida diária é importante. Isto, na tradição Salesiana, é a essência do estar “em paz”. Praticar a espiritualidade deve ser algo intencional, deliberado e consciente. “Devemos viver pacificamente em todas as coisas e em todos os lugares. Se aparecerem problemas exteriores ou interiores devemos recebê-los pacificamente. Se a alegria chega, devemos recebê-la pacificamente, sem que o coração bata mais do que o necessário. Se tivermos que tirar o mal, devemos fazê-lo de forma pacífica, sem alterar os outros. Se é preciso praticar a paz, devemos fazê-lo pacificamente. De outra maneira poderemos cometer muitas faltas por apressar-nos. Inclusive nosso arrependimento deve ser pacífico...”

Que melhor forma de mantermo-nos livres das “manchas do pecado” do que lutarmos para fazer o que é correto e bom aos olhos de Deus, e esforçar-nos para ser fontes de justiça de Deus nas nossas vidas e nas dos outros. Não existe melhor maneira de evitar o pecado do que dedicar-nos a prática da virtude.

Quem estamos esperando?

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Reflexão Salesiana para o Primeiro domingo do Advento – Ano B – 27 de novembro de 2011


Hoje é o primeiro domingo do Advento. As leituras de hoje nos recordam que devemos estar conscientes da necessidade da presença de Cristo, que nos dá forças até o fim dos tempos. São Francisco de Sales enfatiza constantemente a importância de viver em Jesus para conseguir ser plenamente humanos. Mas, viver em Jesus é um chamado ao espírito da liberdade. Numa carta a Joana de Chantal, São Francisco escreve o seguinte:

A vontade de Deus é clara quanto aos mandamentos e as tarefas associadas a nossa vocação. No entanto, existem muitas outras coisas que eu não estou obrigado a fazer, nem por ordem dos mandamentos gerais de Deus nem como parte das tarefas correspondentes a minha vocação. Nestas coisas é necessário considerar com muito cuidado, na liberdade do espírito, quais  tipos de ação servirão para glorificar mais a Deus. Disse “na liberdade do espírito”, já que esta decisão deve ser tomada quando estamos livres da pressão ou da inquietude. Se não for um assunto de grande importância, então não devemos investir demasiada preocupação nele, senão decidir depois de pensar um pouco. E se depois de ter atuado ou de ter tomado a decisão, parece que não foi a mais acertada, de modo nenhum irei estressar-me por isso. Melhor, devo confiar em Deus e rir de mim mesmo.

Façam tudo por meio do amor, nada por obrigação. Demonstrem mais amor pela obediência do que temor pela desobediência. Eu quero que vocês gozem do tipo de liberdade de espírito que descarta os obstáculos, os escrúpulos e a ansiedade e não o tipo de espírito que exclui a obediência (já que esta é a liberdade da carne). Se realmente amam a obediência e a bondade, quero pensar que, quando aparecer uma causa realmente legítima e caritativa que os levem a afastarem-se de seus exercícios religiosos, esta represente para vocês outro tipo de obediência... e que seu amor compensaria qualquer coisa que devam omitir durante suas práticas religiosas. A liberdade sagrada deve reinar em todas as coisas, e nós não devemos cumprir nenhuma outra lei, ou ceder ante qualquer tipo de coerção que não seja o amor. Se for o amor que nos incita a fazer algo, seja pelo pobre ou pelo rico, tudo sairá bem e de qualquer modo agradará a Nosso Senhor.

Perspectiva Salesiana

Destaque: A expectativa cheia de esperança!”

Para São Francisco de Sales a celebração do tempo do Advento era o ponto máximo do ano litúrgico. Ele ficava encantado ao celebrar o tempo do Advento porque o experimentava como um tempo de “expectativa cheia de esperança”. Para Sales a importância deste tempo estava no encontro único que acontece entre o Deus amoroso e a sua criação. O Advento é um tempo que está cheio de expectativa e por isso está também cheio de compreensão e de oportunidades. É um tempo para imaginar tudo aquilo que é possível neste mundo sem fronteiras que é a interação pessoal com um Deus amoroso.

Na leitura do Evangelho deste primeiro domingo do Advento, Jesus chama seus discípulos para que “estejam vigilantes”, que estejam alertas!” A expectativa é um estado que transporta a mente de um extremo ao outro do espectro: pode-nos levar da maravilha e da esperança para o desespero e o medo. Quem de nós não experimentou este sentimento de antecipação que precede a uma conquista significativa como uma formatura, ou um casamento, ou quem não experimentou o medo e a preocupação produzida por ter que submeter-se a uma cirurgia ou a perda de um trabalho?

Ao mesmo tempo em que nos mantemos atentos, é necessário que tenhamos a habilidade de ver o Senhor quando e onde Ele se manifesta. À medida que nos preparamos para a vinda do Filho de Deus, existe certa urgência que requer nossa atenção e vigilância. O Evangelho reflete sobre a importância de estarmos preparados para receber e experimentar o amor divino. Ao nos prepararmos para a chegada de Jesus, precisamos tirar um tempo para poder estar em silêncio, para ouvir e para perceber Sua presença em nossa vida. Sales nos recorda que podemos encontrar a Deus nas coisas simples. Não existe necessidade de multiplicarmos nossas tarefas para podermos alcançar a “quietude”, pelo contrário, o único necessário é que reconheçamos que Deus se encontra conosco em cada momento presente.

Francisco acreditava que a Encarnação é o resultado inevitável da ação criada pelo Pai, já que a criação chega a sua conclusão na pessoa de Jesus. Tal entendimento não contradiz a formidável oportunidade que nos foi dada livremente por um Deus amoroso, para que cada um de nós possa encontrar-se com o nosso Criador na pessoa do seu Filho. Nós vivemos no meio da esperança, não no meio do medo.

Agora começa este tempo do Advento e temos a oportunidade, mais uma vez, de recordar quem somos da parte de quem viemos e as oportunidades que podem chegar a definir nossas vidas nesta relação única e pessoal que se faz disponível para nós em Jesus Cristo.

Estes encontros se apresentam diariamente em nossas vidas, através das coisas comuns e mais corriqueiras onde encontramos a oportunidade para experimentar o extraordinário. Porém, isso somente acontecerá, se tivermos a vontade de abrir nossos braços cheios de fé, de esperança e de expectativa, para o Deus amoroso que se aproxima de nós cada dia, com tantas e tão simples maneiras. A “expectativa cheia de alegria” que tanto emocionava Francisco de Sales está em nós neste dia, acha-se em nossos encontros pessoais com nossos irmãos e irmãs e em nosso mundo de descobrimentos que nos apresenta novas oportunidades para experimentar a salvação. A alegre expectativa que nos produz a presença de Deus se encontra ao nosso redor. Somente necessitamos a coragem para estender os nossos braços e acolhê-la.

Joseph Morrissey, OSFS – Vive e trabalha em Wilmington, Delaware
Tradução do espanhol: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Reflexão Salesiana para o domingo de Cristo Rei – 20 de novembro de 2011


                                                                                               Foto: Tarcizio Paulo Odelli - Recanto Champagnat - Florianópolis

Apesar de sua popularidade dentro da Igreja, a celebração de Cristo Rei somente foi incluída no calendário litúrgico em 1925. São Francisco de Sales nos fala um pouco mais de Cristo Rei:

Jesus, o rei, foi chamado a tornar-se nosso Salvador. Ele desejou que outros, particularmente sua santa Mãe pudessem partilhar a glória que encerra esta liderança. Nossa Senhora Bendita nos pede que acolhamos seu filho como rei de nossos corações, para que, deste modo, Ele possa reinar em nós. Seus mandamentos são bons e muito úteis, pois traz a bondade as pessoas que de outra forma careceriam dela e incrementa a bondade naqueles que continuarão fazendo o bem.

É por isso que Jesus fez com que a bondade de Deus predominasse acima da maldade. O reinado de Deus se torna realmente beneficiador quando leva em conta nossas misérias e as faz merecedoras do amor divino. Quando o Espírito Santo transborda o amor divino em nossos corações, não somente recobramos nossa saúde, mas também recebemos o poder necessário para participar na obra de nosso Salvador: propagar o amor e o cuidado de Deus entre todos aqueles que se encontram ao nosso redor.

Dado que o Senhor nos salvou a todos por igual e que Ele deseja que todos contribuam para difundir o conhecimento do Seu Reino, devemos amar nos outros tudo aquilo que, do nosso ponto de vista, equivale a uma representação genuína da sagrada pessoa de nosso Amo. Não devemos amar nada no nosso próximo que seja contrário a esta imagem sagrada. Caminhemos, então, da mesma forma que fez Jesus Cristo. Ele entregou sua vida não somente para curar os enfermos, para realizar milagres, mas para ensinar-nos os passos que devemos seguir para levar uma vida humana de modo divino. Ele também nos ensinou como entregar nossa vida, com tanto amor como Ele mesmo o fez, por aqueles que possam chegar a nos tirar.

Que felizes somos quando escolhemos Jesus como nosso líder, aquele que nos dá uma paz e uma calma sem igual se nos decidimos a segui-lo. Oxalá permaneçamos fieis aos desejos de nosso Rei, para que assim possamos começar nesta vida a obra que, com o valor do amor de Deus continuaremos eternamente no céu: viver na glória com Jesus, aquele que por ter vencido o mal por meio do bem, comprovou que Ele é o verdadeiro Rei.

(Adaptação dos escritos de São Francisco de Sales, particularmente os Sermões, L. Fiorelli, Edições)

Perspectiva Salesiana

Destaque: “Quanto a vós, minhas ovelhas – assim diz o Senhor Deus -, eu farei justiça entre uma ovelha e outra, entre carneiros e bodes”. (Ez 34, 17)

Esta frase em algum sentido de finalidade?

São Francisco de Sales escreveu: “Considerem esta última frase dita aos malvados: ‘afastem-se de mim, malditos, ide para o fogo eterno que foi preparado pelo demônio e para seus anjos’. Arranjem tempo para compreender o peso destas palavras. Ide, disse ele. É uma palavra de abandono eterno que Deus pronuncia diante das almas infelizes, e através dela ele os expulsa e os afasta de sua vista para sempre. Ele os chama de malditos... considerem ao contrário a frase que ele diz para os bons. Venham, diz o Juiz. Ah, esta é a doce palavra da salvação através da qual Deus nos aproxima dele e nos recebe no leito de sua bondade... Oh, bem-vinda esta bênção que inclui todas as bênçãos!” (Introdução à vida devota, parte 1, cap. 14).

A parábola do Evangelho de hoje é muito clara: haverá um juízo final. Também fica muito claro que o bom e o mau não souberam reconhecer como as sementes deste juízo final foram plantadas em suas interações de cada dia com os outros. Ao reler o texto vemos que ambos os grupos fizeram a mesma pergunta, “quando foi que te vimos... quando te demos boas vindas... quando te visitamos... quando te servimos?”  Quase até a chegada do último dia os dois grupos fracassaram na hora de entender a natureza intima da relação entre o juízo de Deus para conosco e nossas relações com os demais. Em particular, os dois grupos fracassaram na hora de reconhecer a conexão entre o amor de Deus e o cumprimento dos atos de amor simples e ordinários com os outros.

Esta parábola nos desafia a reconhecer que o juízo final não é um evento de uma só vez: aos olhos de Deus que julga com verdadeira justiça, este juízo é contínuo, é um evento de cada dia. Deus está extremadamente interessado em julgar como nós devemos usar cada momento de nossas vidas e não simplesmente no último.

Porém, ao mesmo tempo em que esta parábola fala tão extensivamente do juízo de Deus também tem muito a dizer sobre nosso próprio juízo. No fim, o juízo final causa impacto pelo modo de juízo que nós usamos quando nos relacionamos com os outros no dia a dia, e durante os eventos, as circunstâncias, as responsabilidades e as demandas únicas e exclusivas, assim como nas coisas mais ordinárias da vida.

O que dizem nossos afetos, nossas atitudes e ações para com os outros em relação a este juízo final? Como vivemos nesta terra nossas vidas naquilo que será a eternidade?

Sejam vocês os juízes.

Texto: P. Michael S. Murray, OSFS – Diretor do Centro Espiritual de Sales
Tradução do espanhol: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Reflexão Salesiana para o 33º domingo do tempo comum – 13 de novembro de 2011


No Evangelho de hoje Jesus nos diz que é igualmente importante e útil servi-lo fielmente, fazendo uso de um ou de vários talentos. Eis aqui alguns pensamentos da tradição salesiana a respeito do uso dos nossos talentos:

Qual foi o erro do servo que enterrou seu único talento? Desperdiçou demasiado tempo avaliando sua capacidade de fazer o trabalho que realizava para seu amo. Gastou tempo pensando em todas as outras atitudes que lhe faziam falta, e isto se converteu num obstáculo para que pudesse cumprir fielmente as tarefas que lhe tinham sido designadas. Aferrou-se num falso sentimento de segurança. Sentia medo do risco que implica assumir uma viagem espiritual.

Colocar nossos talentos a serviço de Deus implica que devemos ser pacientes com os outros, mas, antes de tudo, conosco mesmos. Como aconteceu com a maioria dos santos, levaremos anos para livrar-nos dos nossos desejos egoístas, incluindo nossa ambição de conseguir uma falsa segurança. Mesmo assim, gradualmente, iremos deixando nossos afetos desordenados e nos iremos abrindo aquilo que Deus deseja de nós. Então seremos livres para realizar nossas atividades diárias com a plena confiança de que estamos cumprindo a vontade de Deus. Nossa verdadeira segurança, nossa verdadeira felicidade se encontra em Deus, que nos dá todo o necessário para que possamos estabelecer seu reino em todas as nossas tarefas diárias.

Jesus nos diz que ao realizar o trabalho de Deus, mesmo possuindo um único talento, ele é tão importante e útil quanto aquele que possue vários. As abelhas são um bom exemplo disto. Umas se dedicam a recolher o mel, outras cuidam da colmeia e outras a mantém limpa. No entanto, todas se alimentam do mesmo mel. Nós também, tanto os fortes como os fracos, trabalhemos juntos em Cristo. Os servos fiéis fazem tudo o que sabem para agradar a Deus, que preenche o vazio que eles sentem. Através de suas obras diárias eles deixam entrever seu potencial para unirem-se a Ele. Eles reconhecem que Deus rege cada uma de suas atividades que realizam no dia a dia. Bem-aventurados são aqueles que fazem uso de seus talentos para implantar o amor de Deus ao seu redor. Ele jamais lhes permitirá serem improdutivos! Não importa se podem fazer somente o mínimo por Deus, Ele os cobrirá de bênçãos nesta vida e na próxima.

(Adaptação dos escritos de São Francisco de Sales)

Perspectiva Salesiana

Destaque: “Muito bem, servo bom e fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da minha alegria!”

Esta frase tem um sentido de finalidade, não é verdade?

Se não tem, deveria.

São Francisco de Sales escreveu: “Considera a majestade com que o soberano juiz há de aparecer em seu tribunal, cercado de anjos e santos e tendo diante de si, mais brilhante que o sol, a cruz, como sinal de graça para os bons e de vingança para os maus. À vista deste sinal e por determinação de Jesus Cristo, separar-se-ão os homens em duas partes: uns se acharão à sua direita e serão os predestinados; outros à sua esquerda e serão os condenados. Separação eterna! Jamais se encontrarão de novo juntos. Então se abrirão os livros misteriosos das consciências: nada ficará oculto. Clara e distintamente há de ver-se nos corações duns e doutros tudo o que fizeram de bom e de mau – as afrontas a Deus e a fidelidade a suas graças, os pecados e a penitência. Ó Deus, que confusão duma parte e que consolação de outra”. (Introdução à Vida Devota, Parte I, cap. 14).

Na próxima vida, nada ficará oculto. E nesta vida existem coisas particulares que nunca deveriam ser ocultas. São elas: os dons, as habilidades, os talentos, as artes e as graças que Deus nos deu.

O Evangelho de hoje nos adverte de modo severo e rigoroso: não devemos devolver os dons que Deus nos deu e que não utilizamos (não importa se são pequenos ou grandes).

Nunca duvidem de que investir estes dons nas vidas dos outros requer não somente nossa boa disposição, mas também implica riscos. Existem poucas garantias nesta vida. Não podemos estar seguros de como vamos poder utilizar estes dons algum dia, ou se os poderemos usar de uma boa maneira, ou se nossos dons são ou não são apreciados, honrados, aceitos ou bem-vindos pelos outros. Mesmo assim, devemos esmerar-nos para sermos prudentes, para ter o cuidado, e para fazer bom uso do tempo que Deus nos deu e dos talentos e tesouros com que ele nos dotou. E como parte deste esforço devemos levar em conta os riscos que assumimos quando partilhamos o que somos com os outros e que estes riscos não devem ser assumidos rapidamente nem de forma imprudente.

Mesmo assim não importa quanto arriscado seja escolher, acolher ou investir nossos dons. Nunca devemos permitir que as ansiedades do mundo incerto nos tentem e nos levem a fazer o impensável, a enterrar nosso talento. Atuar como se não possuíssemos nada com que honrar a Deus, ou como servir as necessidades dos outros, é muito pior do que qualquer erro que possamos chegar a cometer em qualquer dia em que façamos um uso normal de nossas habilidades.

Concluindo, o mais seguro é que iremos cometer erros ao fazer bom uso das graças que Deus nos deu. Porém, não existe erro maior do que viver nossas vidas como se não tivéssemos nenhum dom para colocar a serviço de Deus e dos outros. Não existe nenhum erro pior do que enterrar os dons que temos: nada pior que escondê-los à luz do dia.

Quando tiverem dúvidas mantenham à vista os talentos, por vocês, por Deus e pelos outros, para que eles os vejam. E neste processo, partilhem da alegria de seu Amo... hoje!

Texto: P. Michael S. Murray, OSFS – Diretor do Centro Espiritual de Sales
Tradução do espanhol: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Reflexão Salesiana para o domingo de Todos os Santos – 06 de novembro de 2011


Destaque: “Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro”.

Perspectiva Salesiana

“Unamos nossos corações aos espíritos celestiais e a estas almas benditas. Assim como os filhotes dos rouxinóis aprendem a cantar com os grandes, nós aprenderemos também, por esta união com os santos, a melhor maneira de orar e de honrar a Deus”. (IVD II, cap. 16)

Estamos nos apoiando nos ombros de gigantes. Durante os últimos dois mil anos, incontáveis homens, mulheres e crianças de muitas épocas, lugares e culturas viveram suas vidas a serviço da Boa Nova de Jesus Cristo. Dentre todos estes, um grupo menor de pessoas ganharam a distinção de chegar a serem conhecidos como “santos”.

Estas são pessoas reais a quem nós buscamos para que nos deem exemplo. Estas são pessoas reais a quem nós buscamos para que nos inspirem. Estas são pessoas reais a quem nós buscamos para que nos deem ânimo e nos encham de graça.

Estes santos – estas pessoas reais – traçaram o caminho para nós, para aprendermos a viver e a proclamar o Evangelho. O nosso desafio será seguir seu exemplo de forma que se encaixem com a condição e o momento em que nossas vidas se encontram.

No caso de não se terem dado conta, somos também chamados a viver na santidade – uma vida centrada em Deus, uma vida de entrega – nos mesmos lugares onde vivemos, onde amamos, onde trabalhamos e onde atuamos cada dia. Francisco de Sales escreveu: “observem o exemplo que nos dão os santos em cada um dos caminhos da vida. Não existe nada que eles não tenham feito para amar a Deus e para serem os seguidores devotos de Deus... por que, então, não deveríamos fazer o mesmo de acordo com nossa condição e vocação na vida para manter o nosso propósito e resolução de pertencer só a Deus?” (IVD V, cap. 12)

Que significa ser santo? Surpreendentemente é algo mais simples e prático de conseguir do que pensamos. Francisco de Sales observou: “Devemos amar tudo o que Deus ama e Deus ama nossa vocação. Assim amemos nossa vocação também e não gastemos energia desejando uma vida diferente. Porém, devemos continuar com nosso trabalho. Sejam Marta da mesma forma que Maria, fiquem alegres e cumpram fielmente aquilo que foram chamados a fazer...” (Stopp, Cartas Seletas, pag. 61)

Aos olhos de São Francisco de Sales, a santidade se mede através da nossa vontade e habilidade para acolher a condição e a etapa onde se encontram nossas vidas. Os santos são pessoas que assumiram suas vidas em profundidade e assim a viveram, em vez de perder tempo desejando ou esperando uma oportunidade para viver a vida de outra pessoa. A santidade é determinada pela nossa vontade de acolher a vontade de Deus da forma em que esta se manifesta nos altos e baixos da vida diária.

Como somos chamados a sermos santos hoje?

Texto: Padre Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales
Tradução do espanhol: P. Tarcizio Paulo Odelli – SDB

Apresento outro texto de São Francisco sobre a santidade: “Mantenha o seu espírito orientado pelos caminhos gloriosos da Jerusalém celeste, onde, por toda parte, ressoam os louvores de Deus. Olhe aquela diversidade de Santos e pergunte-lhes como chegaram ali. Aprenderá que os Apóstolos foram especialmente pelo amor; os Mártires pela constância; os Doutores pela meditação; os Confessores pela mortificação; as Virgens pela pureza de coração e todos, em geral, pela humildade”. (Cartas 1715; O.C. XIX pp. 360-361)

Observação: Dom Bosco dizia aos seus jovens que bastava fazer duas coisas para serem santos:
- estar sempre alegres
- cumprir os próprios deveres
Vejam que Dom Bosco conhecia este trecho da carta de São Francisco de Sales citada acima (Stopp, Cartas Seletas, pag. 61), onde ele diz exatamente a mesma coisa. 

terça-feira, 1 de novembro de 2011

São Francisco de Sales, um sábio e um santo



O Sr. João Azevedo Mendes, das Edições Tenacitas de Coimbra, em Portugal me presenteou esta maravilhosa biografia de São Francisco de Sales, um sábio e um santo, considerada uma das melhores que existem. Prometi a ele que iria tratar disso aqui neste blog. O P. André Ravier é Jesuíta (1905-1999). Foi um importante estudioso da hagiografia e da espiritualidade católica. Na apresentação deste livro, ele diz o seguinte:
"Bispo de uma diocese dilacerada pelo cisma de Calvino e arrasada pela "gente de Genebra", da Sabóia ou da França: diplomata, pastor, orientador de almas; fundador de uma das mais conhecidas ordens religiosas contemplativas, a Visitação; autor de livros que ainda hoje são best-sellers, como a Introdução à Vida Devota e o Tratado do Amor de Deus; figura cimeira da espiritualidade cristã, contado entre os "Doutores da Igreja", padroeiro dos jornalistas... Como se poderá resumir numa biografia uma personalidade de facetas tão diversas? Tanto mais que Francisco de Sales viveu numa época de mudanças: entre o catolicismo europeu anterior à Reforma e as fraturas do protestantismo, entre a Renascença e a época clássica, entre a Igreja da Idade Média e a Igreja do Concílio de Trento... Que abundância de acontecimentos e de aventuras numa só existência".
Quero aproveitar para agradecer ao Sr. João Azevedo Mendes e às Edições Tenacitas pelo belo presente! 
Muito Obrigado! Abaixo coloco o endereço desta Editora.

www.tenacitas.pt
Edições Tenacitas
Rua Bartolomeu Dias, 23
3030-041 Coimbra
Portugal
Telefone: (00351) 239712865
Fax: (00351)  239403210

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Reflexão Salesiana para o 31º domingo do tempo comum – 30 de outubro de 2011

                                                                                                                Fotografia: Tarcizio Paulo Odelli

Nesta semana estou participando dos Exercícios Espirituais em Florianópolis, no Recanto Champagnat. Andando no meio desta exuberante natureza, lembrei-me de uma frase que S. Francisco de Sales escreveu em outubro de 1606 para Joana de Chantal: “[Deus] o encontrei cheio de doçura e suavidade entre as nossas mais altas e ásperas montanhas, onde muitas almas simples o amavam e adoravam em toda a verdade e sinceridade”. Aqui não estamos nas altas montanhas, mas olhando estas lindas paisagens só poderemos dizer a mesma coisa: encontrei Deus aqui, na Lagoa da Conceição em Florianópolis. (Clique na foto para aumentar e ver a beleza do lugar)

Na leitura de hoje Jesus nos diz que devemos ser servos bons e fiéis que se preocupam pela lei e pelas pessoas que são de Deus. São Francisco de Sales nos oferece as seguintes reflexões sobre este assunto.
A única coisa que Nosso Senhor deseja é que a nossa disposição para aceitar a vontade de Deus seja total. Quando acolhemos a vontade de Deus, estamos consagrando nossos corações ao amor de Deus. Então desejamos servi-lo fielmente, tanto nas pequenas tarefas como nas grandes. As moscas não são incomodas por sua força, mas pelo fato de serem muitas. Assim acontece que às vezes as tarefas insignificantes se tornam mais trabalhosas do que as tarefas importantes. Mesmo quando devemos colocar nossa atenção nas tarefas que Deus nos propôs, não devemos deixar que estas tarefas se convertam numa preocupação. A preocupação entorpece nossa habilidade para raciocinar e turba nosso bom juízo. Portanto, e sem pressa, tratem de cumprir suas obrigações com calma e ordem, uma depois da outra. Organizem tudo aquilo que devem fazer hoje, com tranquilidade mental. Amanhã se dedicarão a organizar outras coisas.
A ansiedade equivale ao desejo de escapar de um mal existente ou de adquirir um bem desejado. Quando não obtemos êxito que esperamos nos enchemos de ansiedade e impaciência. Não existe nada que obstrua nosso progresso no caminho do amor sagrado como a ansiedade. É por isso que devemos ser muito cuidadosos e assegurar-nos de que nosso coração esteja aberto e disposto a ceder diante do amor de Deus. Quando permitimos que o amor divino seja aquele que governa todos os nossos atos, não estamos demonstrando menos amor do que quando estamos orando. Tanto nossos trabalhos como nosso descanso louvam e servem a Deus com regozijo. Então, nossas tarefas diárias brilham como se fossem obra da santidade. Por um só copo de água nosso Salvador prometeu um oceano de plenitude perfeita para todos seus fiéis.
Quando fazemos pequenos atos de caridade no dia a dia e aceitamos todas as pequenas provas que nos impõe cada dia, demonstramos que estamos dispostos a receber a vontade de Deus. Estas oportunidades aparecem de vez em quando. Concluir pequenas obras, com a intenção totalmente pura de comprazer a Deus, é fazê-las de maneira excelente. Então, nossas obras diárias incrementam o amor divino, porque vivemos em Jesus que nos ensina como ser bons servos fiéis a Deus.
(Adaptado dos escritos de São Francisco de Sales)

Perspectiva Salesiana

Destaque: “Por isso deveis fazer e obsevar tudo o que eles dizem. Mas não imiteis suas ações!”

No Evangelho de hoje Jesus diz a seus ouvintes que devem fazer tudo o que os escribas e os fariseus dizem, mas, ao mesmo temo os adverte sobre as consequências de seguir seu exemplo: “Suas palavras são muito valiosas, mas seus atos são muito poucos”.
Por que esta inconsistência? Por que esta desconexão? Por que a incongruência entre o que pregavam e o que faziam? Por que tantas palavras bonitas, mas poucos fatos?
Talvez, como nos diz o Profeta Malaquias em seu livro, eles não conseguiram “semear em seus corações”. O que não semearam? A lei do amor de Deus: a lei que nos desafia a exaltar a Deus promovendo a justiça e a paz por meio de nossos relacionamentos com os outros.
Malaquias nos diz o seguinte: “Acaso não é um só o pai de todos nós? Acaso não fomos criados por um único Deus? Por que então perdemos a fé uns nos outros? Como disse São Francisco de Sales, “Por que em nosso relacionamento com o próximo empregamos “dois corações”? Ensinamos a um coração ser sumamente tolerante para conosco mesmos, mas hospedamos outro, que é demasiado duro com os outros”.
Este é o perigo que corremos quando permitimos que nosso conhecimento de Deus resida exclusivamente em nossas cabeças e não em nossos corações. Na medida em que nossa fé continue a ser intelectual ou teórica, jamais poderá responder nem aceitar as necessidades, as esperanças, os medos, nem os sonhos dos outros. Na medida em que não assimilamos realmente, no profundo dos nossos corações o amor de Deus por nós, permaneceremos imutáveis diante das necessidades ou calamidades que acontecem aos outros.
Aqui está a essência da crítica que Jesus faz aos escribas e aos fariseus: “Eles amarram pesados fardos e os colocam nos ombros dos outros, mas eles mesmos não estão dispostos a movê-los nem sequer com um dedo”. Como não souberam acolher a Lei de Moisés – e a lei de Jesus – em seus corações, preferem impor as cargas mais pesadas aos outros para que sejam eles que as levem em seus ombros e em seus corações.
Manter a fé uns nos outros requer primeiramente que permitamos que o amor criativo, redentor e inspirador de Deus penetre em nossos corações. Devemos assumir com seriedade nossa necessidade constante de conversão, de reconciliação e transformação. Devemos assumir seriamente o fato de que o amor de Deus por nós não deve ficar em nós: deve ser partilhado com os outros.
“Acaso não é um só o pai de todos nós? Acaso não fomos criados por um único Deus?” Então devemos ter fé uns nos outros. Devemos ser promotores da saúde, da felicidade e da santidade entre nós. Devemos buscar a paz e a justiça entre nós. Devemos prometer a reconciliação e a colaboração entre nós. Resumindo: nossas ações devem ultrapassar ou ao menos estar no nível de nossas palavras. Dito de outra maneira, quando nós acolhemos o coração de Jesus em nosso coração, não existe espaço para a parcialidade: ou amamos nosso próximo como a nós mesmos... ou não.
Texto: Padre Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.
Tradução do espanhol: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Reflexão Salesiana para o 30º domingo do tempo comum – 23 de outubro de 2011

                                                                                              Foto: Tarcizio Paulo Odelli


No evangelho de hoje escutamos Jesus dizendo que devemos amar a Deus e aos nossos irmãos. Estes mandamentos são a base da Espiritualidade cristã e estão presentes em todos os escritos de São Francisco de Sales:

Para demonstrarmos quanto é ardente o desejo de Deus por nosso amor, Ele nos exige este amor em termos maravilhosos: “Amarás o Senhor com todo o teu coração, com toda tua alma e com toda a tua mente. Este é o primeiro e maior de todos os mandamentos”. Muitas vezes nós acreditamos que Deus é tão grande e nós tão pequenos que seremos incapazes de amá-lo. Então, para que não desanimemos e nos afastemos do amor de Deus, Ele nos diz que somos sumamente capazes de amá-lo com toda nossa força, apesar do pecado, inclusive.

Amar a Deus acima de todas as coisas significa que devemos colocar Deus sobre todos os nossos ídolos. Porque nossos corações tendem a buscar, de modo demasiado, coisas materiais e consolos espirituais. Mas ainda, tão logo as conseguimos, logo o nosso desejo se agita para começar a buscá-las novamente. Nunca nada satisfaz o nosso coração. A vontade de Deus é que os ídolos não encontrem em nosso coração morada permanente. Que ele seja livre para voltar para Ele, de quem provém. As abelhas somente podem pousar sobre as flores que floresceram. O mesmo acontece com nosso coração. Nosso coração somente pode encontrar descanso no amor de Deus. Porque então queremos interferir com este desejo que sentimos pelo amor de Deus e nos dedicamos a buscar outros amores?

O mandamento que nos diz que devemos amar a Deus é muito mais importante do que o mandamento de amar nossos semelhantes. Porém, nossa natureza resiste com mais força a amar os outros. No entanto, quando depositamos nossa confiança no amor de nosso Salvador, nós nos enchemos de coragem para amar a imagem de Deus que está nos outros, e que frequentemente está oculta a nossos olhos. Então aprendemos a reconhecer a semelhança com o Criador presente em nós e nos outros. Porque amar a Deus plenamente é amar todo aquilo que é de Deus e que está presente em todas as criaturas. Imitemos Jesus, que nos ensinou muito mais através de suas obras do que com suas palavras. Ensinou-nos como amar nosso Deus com todo o coração, nossa alma e nossa mente e a amar nosso próximo como a nós mesmos.

(Adaptação tirada dos escritos de São Francisco de Sales, particularmente do Tratado do Amor de Deus).

Perspectiva Salesiana

Destaque: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento!... e amarás ao teu próximo como a ti mesmo!”

Francisco de Sales é o autor do Tratado do Amor de Deus. Não viveu o suficiente para poder escrever o tratado do amor ao próximo, como ele queria. O fato comum entre estas duas coisas, o amor de Deus e do próximo, é a caridade. A caridade era, e é, na mente e no coração de Francisco de Sales, a virtude entre todas as virtudes. Nós fomos chamados a amar o nosso Deus do modo como amamos o próximo e também fomos chamados a amar o próximo como amamos a Deus.

Francisco de Sales tem muito a partilhar conosco a respeito da natureza e da prática da caridade.

“Assim como Deus criou o homem a sua imagem e semelhança, da mesma forma Deus ordenou para nós um amor à imagem e semelhança do amor que se deve a divindade de Deus... por que amamos a Deus? A razão porque amamos a Deus é Deus mesmo... por que amamos uns aos outros na caridade? Seguramente porque fomos feitos a imagem e semelhança de Deus... como todas as pessoas tem a mesma dignidade, nós também as amamos como nos amamos a nós mesmos, isto é, em sua condição de santidade e de serem imagens viventes da divindade... A mesma caridade que produz atos de amor a Deus produz também atos de amor ao nosso próximo... amar o próximo na caridade é amar a Deus nos outros e os outros em Deus”. (Tratado do Amor de Deus, Livro 10, cap. 11)

Para São Francisco de Sales, o amor de Deus e o amor ao próximo não são duas experiências distintas, mas são duas expressões da mesma realidade, dois lados, como se fossem a mesma moeda. (Recordem o mandamento de Jesus no evangelho do domingo passado, de “dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.)

“O grande Santo Agostinho diz que a caridade inclui todas as virtudes e opera de todos os modos em vocês”, escreveu São Francisco de Sales. Estas são suas palavras: “o que se diz da virtude dividida em quatro – ele está se referindo as quatro virtudes cardeais – em minha opinião se diz por causa dos diferentes afetos que procedem do amor. Pois bem, eu não duvido quando se trata de definir estas quatro virtudes da seguinte maneira: a temperança é o amor que se entrega completamente a Deus. A fortaleza é o amor que voluntariamente suporta todas as coisas por amor a Deus. A justiça é o amor que serve unicamente a Deus e por isso dispõe com justiça de tudo o que está sujeito aos seres humanos. A prudência é o amor que escolhe o que é útil para unir-se a Deus e recusa tudo o que é daninho”. (TAD, XI, 8)

Aquele que possui a caridade tem uma alma revestida com as roupas das bodas que, como José, leva implicitamente em si todas as virtudes. Além disso, a caridade tem uma perfeição que contém a virtude de todas as perfeições e as perfeições de todas as virtudes”. (Ibid)

Na caridade encontramos o lugar onde se encontram o amor de Deus, o amor a nós mesmos e o amor aos outros. Como partilhamos este amor multifacetado com todos aqueles que conhecemos cada dia? Dito de outra maneira, estamos bem preparados para dar o seu a César e a Deus em nós e nos demais?

P. O P. Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.
Tradução do texto espanhol: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB

domingo, 16 de outubro de 2011

Viver para Deus - Ser um bom servidor de Deus

                                                                                                                               Foto: Tarcizio Paulo Odelli

"Viva totalmente para Deus e para o amor que Ele lhe concedeu. Suporte-se a si mesmo com todas as suas misérias. Ser um bom servidor de Deus não significa experimentar sempre consolações e encantos, sem desgosto algum ou aborrecimento do bem. Se fosse assim, nem São Paulo nem Santa Catarina de Sena e outros tantos servidores teriam servido a Deus devidamente! Ser um bom servidor de Deus implica em ter muito amor ao próximo e estar inviolavelmente decidido a aceitar a vontade Divina. Inclui ser profundamente humilde e simples na confiança em Deus e ser capaz de levantar sempre de suas quedas. Significa aguentar a si mesmo no que é reprovável e suportar tranquilamente os outros nas imperfeições deles". (Sábias palavras de São Francisco de Sales. Cartas 409; O.C. XIII, p. 313-314)

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Reflexão Salesiana para o 29º domingo do tempo comum – 16 de outubro de 2011


O Evangelho de hoje nos diz que devemos dar a Deus o que é de Deus e ao Estado aquilo que pertence ao Estado. São Francisco de Sales observa que, para poder desfrutar de um Estado justo, devemos obedecer aqueles a quem Deus outorgou a autoridade para governar. No entanto, ele enfoca mais o “que é de Deus” e o explica através do conceito “da obediência do amor”:

Nós possuímos um desejo natural de amar a Deus o qual nos diz também que pertencemos a Ele. Somos como cervos que levam as iniciais do seu dono gravadas na pele. Mesmo quando ele os permite perambular livremente pelo bosque, todo mundo sabe a quem pertencem os ditos cervos. De modo semelhante, nós também somos livres, e a nossa inclinação natural de amar a Deus permite que nossos amigos e inimigos saibam que pertencemos a Ele, que deseja manter-nos unidos sob a “obediência do amor”.

Esta obediência do amor consagra nosso coração a serviço de Deus. Jesus é o modelo a seguir. Quando depositamos todos os nossos desejos nas mãos de Deus, estamos permitindo que seja Ele quem nos forme e nos molde. Este tipo de obediência não necessita de ameaças, nem de recompensas, de mandamentos nem de lei para nos despertar. Antecipa-se a todas estas coisas já que se entrega livremente a Deus. Com sumo amor se dá a tarefa de levar a término tudo o que contribua para a união de nosso coração com Ele, e empreende a dita travessia com naturalidade.

Algumas vezes nosso Senhor nos urge para corrermos a toda velocidade e assim cumprir as tarefas de nosso cargo. De imediato nos faz deter na metade da caminhada, quando já estávamos afiançados no caminho feito. Mesmo quando devemos fazer todo o possível para levar a termo a obra de Deus, devemos também a colher os resultados com tranquilidade. Nossa obrigação é semear e regar cuidadosamente, mas o crescimento pertence exclusivamente a Deus.

Não obstante, do mesmo modo em que uma doce mãe guia seus pequenos filhos, os ajuda e os sustém na medida em que ela vê necessidade de fazê-lo, nosso Salvador também nos carrega e nos toma pela mão quando enfrentamos as dificuldades insuportáveis. Desfrutamos então da serenidade do coração, adotando a obediência do amor que nos une a Deus, a quem pertencemos.

(Adaptação tirada da obra de São Francisco de Sales, em particular o Tratado sobre o Amor de Deus).

Perspectiva Salesiana

Destaque: “Daí, pois, a César o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus”.

Viver uma vida centrada em Deus não é simples, não é uma proposta completamente delineada e clara. Mesmo que tenhamos sido criados para viver para sempre junto com Deus no céu, também devemos, em qualquer momento, atender a todas aquelas tarefas e responsabilidade que temos aqui na terra.

Devemos dar ao céu e a terra aquilo que se lhes deve.

Como funciona isso?

Se tentarmos explicar recorrendo a frase, isso quer dizer que devemos roubar de Pedro para dar a Paulo? Não, não existe necessidade de tirar nada de ninguém para pagar tributo a alguém mais! Então, devemos dar a Deus com uma mão e ao mundo com a outra? Não, nosso desafio consiste em usar as duas mãos de forma que sejam justas com as coisas da terra e também com as do céu.

Não querendo exagerar, por causa da óbvia lição que o Evangelho de hoje nos deixa, nosso serviço no céu e nosso serviço na terra são de fato as “duas caras de uma mesma moeda”. Nós somos fieis a “César” e a “Deus” quando tratamos nossos irmãos e irmãs com justiça... quando lhes damos o que lhes devemos.

Francisco de Sales escreveu: “Sejam justos e equitativos na hora de atuar. Ponha-se sempre no lugar dos seus vizinhos e coloque a eles em seu lugar e assim, desta forma, conseguirão julgar corretamente. Imaginem que não o vendedor quando estão comprando alguma coisa e imaginem que são compradores quando estejam vendendo algo. Somente assim comprarão e venderão de forma justa... vocês não perdem nada ao viver de forma generosa, nobre, cortês e com um coração que seja real, justo e razoável. Decidam examinar seus corações seguidamente, para ver se estão agindo com seus vizinhos da mesma forma que vocês esperam que eles ajam com vocês, se estiverem em seu lugar. Esta é a base da verdadeira razão.” (IVD, parte III, Cap. 36).

Dar aos outros o que eles merecem não significa somente ser fiéis à divida do amor que temos uns para com os outros. Também, pode ter ramificações muito práticas. Francisco de Sales escreveu estas palavras em 1604: “Eu vejo que vocês têm uma dívida... paguem-na tão logo seja possível, cuidem de nunca ficar com algo que pertença aos outros”. (Stopp, Cartas Seletas, p. 69).

As obrigações que temos, sejam grandes ou pequenas, devem no ajudar a lutar para sempre conceder o que é devido a nossos irmãos e irmãs. Devemos lutar para poder tratar-nos uns aos outros razoavelmente, justamente, humildemente, honestamente e com igualdade. Ao fazê-lo estaremos dando a “César” o que é de “César”, e também daremos a Deus o que é de Deus.

Na tradição Salesiana nós nunca temos que escolher entre atender as coisas do céu e atender as coisas da terra. Ao suprir as necessidades de nossos irmãos e irmãs, atendemos as duas coisas, as da terra e as do céu ao mesmo tempo, no processo que “damos prova de nossa fé, de nossa obra no amor e demonstramos constância na esperança que temos em Jesus Cristo”.

Texto: Padre Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.
Tradução do espanhol: P. Tarcizio Paulo Odelli - sdb

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Hackeando o caminho ao céu




O P. Julian Fox, do Dicastério para a Comunicação Social e um dos responsáveis pelo site sdb.org escreveu um novo livro dentro da temática da comunicação. No livro encontramos vários desenhos, onde aparecem Dom Bosco e São Francisco de Sales, como nos dois exemplos acima, onde ele também aparece, mostrando o computador para os dois santos. No livro ele explica o verdadeiro significado da palavra hackers.

Vou colocar um pequeno texto, da página 13:

"1.2. Uma Congregação de hackers?


"Os membros da Sociedade de São Francisco de Sales, também conhecidos como os Salesianos de Dom Bosco podem surpreender-se ao serem descritos como hackers. Certamente reconhecerão que são "filhos" de dois dos maiores comunicadores do mundo. Francisco de Sales é o santo patrono dos jornalistas e a vida de Dom Bosco como comunicador incluiu quase todos os elementos da descrição típica do hacker de hoje (incluindo sua aparência excêntrica numa famosa foto): ânsias de aprender e inovar com a tecnologia de sua época (especialmente a imprensa), entusiasmo e energia incontidas, longas vigílias escrevendo códigos ( o código especial da literatura, constituições e regulamentos religiosos, mas também livros de texto sobre matemática, história), alegria e bom ânimo".


O livro contém 160 páginas e foi escrito em inglês e traduzido/publicado para o espanhol pelo Centro Gráfico Salesiano de Cuenca, Equador.