quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Reflexão Salesiana para o 31º domingo do tempo comum – 30 de outubro de 2011

                                                                                                                Fotografia: Tarcizio Paulo Odelli

Nesta semana estou participando dos Exercícios Espirituais em Florianópolis, no Recanto Champagnat. Andando no meio desta exuberante natureza, lembrei-me de uma frase que S. Francisco de Sales escreveu em outubro de 1606 para Joana de Chantal: “[Deus] o encontrei cheio de doçura e suavidade entre as nossas mais altas e ásperas montanhas, onde muitas almas simples o amavam e adoravam em toda a verdade e sinceridade”. Aqui não estamos nas altas montanhas, mas olhando estas lindas paisagens só poderemos dizer a mesma coisa: encontrei Deus aqui, na Lagoa da Conceição em Florianópolis. (Clique na foto para aumentar e ver a beleza do lugar)

Na leitura de hoje Jesus nos diz que devemos ser servos bons e fiéis que se preocupam pela lei e pelas pessoas que são de Deus. São Francisco de Sales nos oferece as seguintes reflexões sobre este assunto.
A única coisa que Nosso Senhor deseja é que a nossa disposição para aceitar a vontade de Deus seja total. Quando acolhemos a vontade de Deus, estamos consagrando nossos corações ao amor de Deus. Então desejamos servi-lo fielmente, tanto nas pequenas tarefas como nas grandes. As moscas não são incomodas por sua força, mas pelo fato de serem muitas. Assim acontece que às vezes as tarefas insignificantes se tornam mais trabalhosas do que as tarefas importantes. Mesmo quando devemos colocar nossa atenção nas tarefas que Deus nos propôs, não devemos deixar que estas tarefas se convertam numa preocupação. A preocupação entorpece nossa habilidade para raciocinar e turba nosso bom juízo. Portanto, e sem pressa, tratem de cumprir suas obrigações com calma e ordem, uma depois da outra. Organizem tudo aquilo que devem fazer hoje, com tranquilidade mental. Amanhã se dedicarão a organizar outras coisas.
A ansiedade equivale ao desejo de escapar de um mal existente ou de adquirir um bem desejado. Quando não obtemos êxito que esperamos nos enchemos de ansiedade e impaciência. Não existe nada que obstrua nosso progresso no caminho do amor sagrado como a ansiedade. É por isso que devemos ser muito cuidadosos e assegurar-nos de que nosso coração esteja aberto e disposto a ceder diante do amor de Deus. Quando permitimos que o amor divino seja aquele que governa todos os nossos atos, não estamos demonstrando menos amor do que quando estamos orando. Tanto nossos trabalhos como nosso descanso louvam e servem a Deus com regozijo. Então, nossas tarefas diárias brilham como se fossem obra da santidade. Por um só copo de água nosso Salvador prometeu um oceano de plenitude perfeita para todos seus fiéis.
Quando fazemos pequenos atos de caridade no dia a dia e aceitamos todas as pequenas provas que nos impõe cada dia, demonstramos que estamos dispostos a receber a vontade de Deus. Estas oportunidades aparecem de vez em quando. Concluir pequenas obras, com a intenção totalmente pura de comprazer a Deus, é fazê-las de maneira excelente. Então, nossas obras diárias incrementam o amor divino, porque vivemos em Jesus que nos ensina como ser bons servos fiéis a Deus.
(Adaptado dos escritos de São Francisco de Sales)

Perspectiva Salesiana

Destaque: “Por isso deveis fazer e obsevar tudo o que eles dizem. Mas não imiteis suas ações!”

No Evangelho de hoje Jesus diz a seus ouvintes que devem fazer tudo o que os escribas e os fariseus dizem, mas, ao mesmo temo os adverte sobre as consequências de seguir seu exemplo: “Suas palavras são muito valiosas, mas seus atos são muito poucos”.
Por que esta inconsistência? Por que esta desconexão? Por que a incongruência entre o que pregavam e o que faziam? Por que tantas palavras bonitas, mas poucos fatos?
Talvez, como nos diz o Profeta Malaquias em seu livro, eles não conseguiram “semear em seus corações”. O que não semearam? A lei do amor de Deus: a lei que nos desafia a exaltar a Deus promovendo a justiça e a paz por meio de nossos relacionamentos com os outros.
Malaquias nos diz o seguinte: “Acaso não é um só o pai de todos nós? Acaso não fomos criados por um único Deus? Por que então perdemos a fé uns nos outros? Como disse São Francisco de Sales, “Por que em nosso relacionamento com o próximo empregamos “dois corações”? Ensinamos a um coração ser sumamente tolerante para conosco mesmos, mas hospedamos outro, que é demasiado duro com os outros”.
Este é o perigo que corremos quando permitimos que nosso conhecimento de Deus resida exclusivamente em nossas cabeças e não em nossos corações. Na medida em que nossa fé continue a ser intelectual ou teórica, jamais poderá responder nem aceitar as necessidades, as esperanças, os medos, nem os sonhos dos outros. Na medida em que não assimilamos realmente, no profundo dos nossos corações o amor de Deus por nós, permaneceremos imutáveis diante das necessidades ou calamidades que acontecem aos outros.
Aqui está a essência da crítica que Jesus faz aos escribas e aos fariseus: “Eles amarram pesados fardos e os colocam nos ombros dos outros, mas eles mesmos não estão dispostos a movê-los nem sequer com um dedo”. Como não souberam acolher a Lei de Moisés – e a lei de Jesus – em seus corações, preferem impor as cargas mais pesadas aos outros para que sejam eles que as levem em seus ombros e em seus corações.
Manter a fé uns nos outros requer primeiramente que permitamos que o amor criativo, redentor e inspirador de Deus penetre em nossos corações. Devemos assumir com seriedade nossa necessidade constante de conversão, de reconciliação e transformação. Devemos assumir seriamente o fato de que o amor de Deus por nós não deve ficar em nós: deve ser partilhado com os outros.
“Acaso não é um só o pai de todos nós? Acaso não fomos criados por um único Deus?” Então devemos ter fé uns nos outros. Devemos ser promotores da saúde, da felicidade e da santidade entre nós. Devemos buscar a paz e a justiça entre nós. Devemos prometer a reconciliação e a colaboração entre nós. Resumindo: nossas ações devem ultrapassar ou ao menos estar no nível de nossas palavras. Dito de outra maneira, quando nós acolhemos o coração de Jesus em nosso coração, não existe espaço para a parcialidade: ou amamos nosso próximo como a nós mesmos... ou não.
Texto: Padre Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.
Tradução do espanhol: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB

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