quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Reflexão Salesiana para o 29º domingo do tempo comum – 16 de outubro de 2011


O Evangelho de hoje nos diz que devemos dar a Deus o que é de Deus e ao Estado aquilo que pertence ao Estado. São Francisco de Sales observa que, para poder desfrutar de um Estado justo, devemos obedecer aqueles a quem Deus outorgou a autoridade para governar. No entanto, ele enfoca mais o “que é de Deus” e o explica através do conceito “da obediência do amor”:

Nós possuímos um desejo natural de amar a Deus o qual nos diz também que pertencemos a Ele. Somos como cervos que levam as iniciais do seu dono gravadas na pele. Mesmo quando ele os permite perambular livremente pelo bosque, todo mundo sabe a quem pertencem os ditos cervos. De modo semelhante, nós também somos livres, e a nossa inclinação natural de amar a Deus permite que nossos amigos e inimigos saibam que pertencemos a Ele, que deseja manter-nos unidos sob a “obediência do amor”.

Esta obediência do amor consagra nosso coração a serviço de Deus. Jesus é o modelo a seguir. Quando depositamos todos os nossos desejos nas mãos de Deus, estamos permitindo que seja Ele quem nos forme e nos molde. Este tipo de obediência não necessita de ameaças, nem de recompensas, de mandamentos nem de lei para nos despertar. Antecipa-se a todas estas coisas já que se entrega livremente a Deus. Com sumo amor se dá a tarefa de levar a término tudo o que contribua para a união de nosso coração com Ele, e empreende a dita travessia com naturalidade.

Algumas vezes nosso Senhor nos urge para corrermos a toda velocidade e assim cumprir as tarefas de nosso cargo. De imediato nos faz deter na metade da caminhada, quando já estávamos afiançados no caminho feito. Mesmo quando devemos fazer todo o possível para levar a termo a obra de Deus, devemos também a colher os resultados com tranquilidade. Nossa obrigação é semear e regar cuidadosamente, mas o crescimento pertence exclusivamente a Deus.

Não obstante, do mesmo modo em que uma doce mãe guia seus pequenos filhos, os ajuda e os sustém na medida em que ela vê necessidade de fazê-lo, nosso Salvador também nos carrega e nos toma pela mão quando enfrentamos as dificuldades insuportáveis. Desfrutamos então da serenidade do coração, adotando a obediência do amor que nos une a Deus, a quem pertencemos.

(Adaptação tirada da obra de São Francisco de Sales, em particular o Tratado sobre o Amor de Deus).

Perspectiva Salesiana

Destaque: “Daí, pois, a César o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus”.

Viver uma vida centrada em Deus não é simples, não é uma proposta completamente delineada e clara. Mesmo que tenhamos sido criados para viver para sempre junto com Deus no céu, também devemos, em qualquer momento, atender a todas aquelas tarefas e responsabilidade que temos aqui na terra.

Devemos dar ao céu e a terra aquilo que se lhes deve.

Como funciona isso?

Se tentarmos explicar recorrendo a frase, isso quer dizer que devemos roubar de Pedro para dar a Paulo? Não, não existe necessidade de tirar nada de ninguém para pagar tributo a alguém mais! Então, devemos dar a Deus com uma mão e ao mundo com a outra? Não, nosso desafio consiste em usar as duas mãos de forma que sejam justas com as coisas da terra e também com as do céu.

Não querendo exagerar, por causa da óbvia lição que o Evangelho de hoje nos deixa, nosso serviço no céu e nosso serviço na terra são de fato as “duas caras de uma mesma moeda”. Nós somos fieis a “César” e a “Deus” quando tratamos nossos irmãos e irmãs com justiça... quando lhes damos o que lhes devemos.

Francisco de Sales escreveu: “Sejam justos e equitativos na hora de atuar. Ponha-se sempre no lugar dos seus vizinhos e coloque a eles em seu lugar e assim, desta forma, conseguirão julgar corretamente. Imaginem que não o vendedor quando estão comprando alguma coisa e imaginem que são compradores quando estejam vendendo algo. Somente assim comprarão e venderão de forma justa... vocês não perdem nada ao viver de forma generosa, nobre, cortês e com um coração que seja real, justo e razoável. Decidam examinar seus corações seguidamente, para ver se estão agindo com seus vizinhos da mesma forma que vocês esperam que eles ajam com vocês, se estiverem em seu lugar. Esta é a base da verdadeira razão.” (IVD, parte III, Cap. 36).

Dar aos outros o que eles merecem não significa somente ser fiéis à divida do amor que temos uns para com os outros. Também, pode ter ramificações muito práticas. Francisco de Sales escreveu estas palavras em 1604: “Eu vejo que vocês têm uma dívida... paguem-na tão logo seja possível, cuidem de nunca ficar com algo que pertença aos outros”. (Stopp, Cartas Seletas, p. 69).

As obrigações que temos, sejam grandes ou pequenas, devem no ajudar a lutar para sempre conceder o que é devido a nossos irmãos e irmãs. Devemos lutar para poder tratar-nos uns aos outros razoavelmente, justamente, humildemente, honestamente e com igualdade. Ao fazê-lo estaremos dando a “César” o que é de “César”, e também daremos a Deus o que é de Deus.

Na tradição Salesiana nós nunca temos que escolher entre atender as coisas do céu e atender as coisas da terra. Ao suprir as necessidades de nossos irmãos e irmãs, atendemos as duas coisas, as da terra e as do céu ao mesmo tempo, no processo que “damos prova de nossa fé, de nossa obra no amor e demonstramos constância na esperança que temos em Jesus Cristo”.

Texto: Padre Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.
Tradução do espanhol: P. Tarcizio Paulo Odelli - sdb

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