O
Evangelho de hoje nos diz que devemos dar a Deus o que é de Deus e ao Estado
aquilo que pertence ao Estado. São Francisco de Sales observa que, para poder
desfrutar de um Estado justo, devemos obedecer aqueles a quem Deus outorgou a
autoridade para governar. No entanto, ele enfoca mais o “que é de Deus” e o
explica através do conceito “da obediência do amor”:
Nós
possuímos um desejo natural de amar a Deus o qual nos diz também que pertencemos
a Ele. Somos como cervos que levam as iniciais do seu dono gravadas na pele.
Mesmo quando ele os permite perambular livremente pelo bosque, todo mundo sabe
a quem pertencem os ditos cervos. De modo semelhante, nós também somos livres, e
a nossa inclinação natural de amar a Deus permite que nossos amigos e inimigos
saibam que pertencemos a Ele, que deseja manter-nos unidos sob a “obediência do
amor”.
Esta
obediência do amor consagra nosso coração a serviço de Deus. Jesus é o modelo a
seguir. Quando depositamos todos os nossos desejos nas mãos de Deus, estamos
permitindo que seja Ele quem nos forme e nos molde. Este tipo de obediência não
necessita de ameaças, nem de recompensas, de mandamentos nem de lei para nos
despertar. Antecipa-se a todas estas coisas já que se entrega livremente a
Deus. Com sumo amor se dá a tarefa de levar a término tudo o que contribua para
a união de nosso coração com Ele, e empreende a dita travessia com
naturalidade.
Algumas
vezes nosso Senhor nos urge para corrermos a toda velocidade e assim cumprir as
tarefas de nosso cargo. De imediato nos faz deter na metade da caminhada,
quando já estávamos afiançados no caminho feito. Mesmo quando devemos fazer
todo o possível para levar a termo a obra de Deus, devemos também a colher os
resultados com tranquilidade. Nossa obrigação é semear e regar cuidadosamente,
mas o crescimento pertence exclusivamente a Deus.
Não
obstante, do mesmo modo em que uma doce mãe guia seus pequenos filhos, os ajuda
e os sustém na medida em que ela vê necessidade de fazê-lo, nosso Salvador
também nos carrega e nos toma pela mão quando enfrentamos as dificuldades
insuportáveis. Desfrutamos então da serenidade do coração, adotando a
obediência do amor que nos une a Deus, a quem pertencemos.
(Adaptação
tirada da obra de São Francisco de Sales, em particular o Tratado sobre o Amor
de Deus).
Perspectiva
Salesiana
Destaque:
“Daí, pois, a César o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus”.
Viver
uma vida centrada em Deus não é simples, não é uma proposta completamente
delineada e clara. Mesmo que tenhamos sido criados para viver para sempre junto
com Deus no céu, também devemos, em qualquer momento, atender a todas aquelas
tarefas e responsabilidade que temos aqui na terra.
Devemos
dar ao céu e a terra aquilo que se lhes deve.
Como
funciona isso?
Se
tentarmos explicar recorrendo a frase, isso quer dizer que devemos roubar de
Pedro para dar a Paulo? Não, não existe necessidade de tirar nada de ninguém
para pagar tributo a alguém mais! Então, devemos dar a Deus com uma mão e ao
mundo com a outra? Não, nosso desafio consiste em usar as duas mãos de forma
que sejam justas com as coisas da terra e também com as do céu.
Não
querendo exagerar, por causa da óbvia lição que o Evangelho de hoje nos deixa,
nosso serviço no céu e nosso serviço na terra são de fato as “duas caras de uma
mesma moeda”. Nós somos fieis a “César” e a “Deus” quando tratamos nossos
irmãos e irmãs com justiça... quando lhes damos o que lhes devemos.
Francisco
de Sales escreveu: “Sejam justos e equitativos na hora de atuar. Ponha-se
sempre no lugar dos seus vizinhos e coloque a eles em seu lugar e assim, desta
forma, conseguirão julgar corretamente. Imaginem que não o vendedor quando
estão comprando alguma coisa e imaginem que são compradores quando estejam
vendendo algo. Somente assim comprarão e venderão de forma justa... vocês não
perdem nada ao viver de forma generosa, nobre, cortês e com um coração que seja
real, justo e razoável. Decidam examinar seus corações seguidamente, para ver
se estão agindo com seus vizinhos da mesma forma que vocês esperam que eles
ajam com vocês, se estiverem em seu lugar. Esta é a base da verdadeira razão.”
(IVD, parte III, Cap. 36).
Dar
aos outros o que eles merecem não significa somente ser fiéis à divida do amor
que temos uns para com os outros. Também, pode ter ramificações muito práticas.
Francisco de Sales escreveu estas palavras em 1604: “Eu vejo que vocês têm uma
dívida... paguem-na tão logo seja possível, cuidem de nunca ficar com algo que
pertença aos outros”. (Stopp, Cartas Seletas, p. 69).
As
obrigações que temos, sejam grandes ou pequenas, devem no ajudar a lutar para
sempre conceder o que é devido a nossos irmãos e irmãs. Devemos lutar para
poder tratar-nos uns aos outros razoavelmente, justamente, humildemente,
honestamente e com igualdade. Ao fazê-lo estaremos dando a “César” o que é de
“César”, e também daremos a Deus o que é de Deus.
Na
tradição Salesiana nós nunca temos que escolher entre atender as coisas do céu e
atender as coisas da terra. Ao suprir as necessidades de nossos irmãos e irmãs,
atendemos as duas coisas, as da terra e as do céu ao mesmo tempo, no processo
que “damos prova de nossa fé, de nossa obra no amor e demonstramos constância
na esperança que temos em Jesus Cristo”.
Texto: Padre
Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.
Tradução do
espanhol: P. Tarcizio Paulo Odelli - sdb
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