No evangelho de hoje escutamos Jesus dizendo que devemos
amar a Deus e aos nossos irmãos. Estes mandamentos são a base da
Espiritualidade cristã e estão presentes em todos os escritos de São Francisco
de Sales:
Para demonstrarmos quanto é ardente o desejo de Deus por
nosso amor, Ele nos exige este amor em termos maravilhosos: “Amarás o Senhor
com todo o teu coração, com toda tua alma e com toda a tua mente. Este é o
primeiro e maior de todos os mandamentos”. Muitas vezes nós acreditamos que
Deus é tão grande e nós tão pequenos que seremos incapazes de amá-lo. Então,
para que não desanimemos e nos afastemos do amor de Deus, Ele nos diz que somos
sumamente capazes de amá-lo com toda nossa força, apesar do pecado, inclusive.
Amar a Deus acima de todas as coisas significa que devemos
colocar Deus sobre todos os nossos ídolos. Porque nossos corações tendem a
buscar, de modo demasiado, coisas materiais e consolos espirituais. Mas ainda,
tão logo as conseguimos, logo o nosso desejo se agita para começar a buscá-las
novamente. Nunca nada satisfaz o nosso coração. A vontade de Deus é que os
ídolos não encontrem em nosso coração morada permanente. Que ele seja livre
para voltar para Ele, de quem provém. As abelhas somente podem pousar sobre as
flores que floresceram. O mesmo acontece com nosso coração. Nosso coração
somente pode encontrar descanso no amor de Deus. Porque então queremos
interferir com este desejo que sentimos pelo amor de Deus e nos dedicamos a
buscar outros amores?
O mandamento que nos diz que devemos amar a Deus é muito
mais importante do que o mandamento de amar nossos semelhantes. Porém, nossa
natureza resiste com mais força a amar os outros. No entanto, quando
depositamos nossa confiança no amor de nosso Salvador, nós nos enchemos de
coragem para amar a imagem de Deus que está nos outros, e que frequentemente
está oculta a nossos olhos. Então aprendemos a reconhecer a semelhança com o
Criador presente em nós e nos outros. Porque amar a Deus plenamente é amar todo
aquilo que é de Deus e que está presente em todas as criaturas. Imitemos Jesus,
que nos ensinou muito mais através de suas obras do que com suas palavras. Ensinou-nos
como amar nosso Deus com todo o coração, nossa alma e nossa mente e a amar
nosso próximo como a nós mesmos.
(Adaptação tirada dos escritos de São Francisco de Sales,
particularmente do Tratado do Amor de Deus).
Perspectiva Salesiana
Destaque: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração,
de toda a tua alma e de todo o teu entendimento!... e amarás ao teu próximo
como a ti mesmo!”
Francisco de Sales é o autor do Tratado do Amor de Deus. Não
viveu o suficiente para poder escrever o tratado do amor ao próximo, como ele
queria. O fato comum entre estas duas coisas, o amor de Deus e do próximo, é a
caridade. A caridade era, e é, na mente e no coração de Francisco de Sales, a
virtude entre todas as virtudes. Nós fomos chamados a amar o nosso Deus do modo
como amamos o próximo e também fomos chamados a amar o próximo como amamos a
Deus.
Francisco de Sales tem muito a partilhar conosco a respeito
da natureza e da prática da caridade.
“Assim como Deus criou o homem a sua imagem e semelhança, da
mesma forma Deus ordenou para nós um amor à imagem e semelhança do amor que se
deve a divindade de Deus... por que amamos a Deus? A razão porque amamos a Deus
é Deus mesmo... por que amamos uns aos outros na caridade? Seguramente porque
fomos feitos a imagem e semelhança de Deus... como todas as pessoas tem a mesma
dignidade, nós também as amamos como nos amamos a nós mesmos, isto é, em sua
condição de santidade e de serem imagens viventes da divindade... A mesma
caridade que produz atos de amor a Deus produz também atos de amor ao nosso próximo...
amar o próximo na caridade é amar a Deus nos outros e os outros em Deus”.
(Tratado do Amor de Deus, Livro 10, cap. 11)
Para São Francisco de Sales, o amor de Deus e o amor ao
próximo não são duas experiências distintas, mas são duas expressões da mesma
realidade, dois lados, como se fossem a mesma moeda. (Recordem o mandamento de
Jesus no evangelho do domingo passado, de “dar a César o que é de César e a
Deus o que é de Deus”.)
“O grande Santo Agostinho diz que a caridade inclui todas as
virtudes e opera de todos os modos em vocês”, escreveu São Francisco de Sales. Estas
são suas palavras: “o que se diz da virtude dividida em quatro – ele está se
referindo as quatro virtudes cardeais – em minha opinião se diz por causa dos
diferentes afetos que procedem do amor. Pois bem, eu não duvido quando se trata
de definir estas quatro virtudes da seguinte maneira: a temperança é o amor que
se entrega completamente a Deus. A fortaleza é o amor que voluntariamente
suporta todas as coisas por amor a Deus. A justiça é o amor que serve
unicamente a Deus e por isso dispõe com justiça de tudo o que está sujeito aos
seres humanos. A prudência é o amor que escolhe o que é útil para unir-se a
Deus e recusa tudo o que é daninho”. (TAD, XI, 8)
Aquele que possui a caridade tem uma alma revestida com as
roupas das bodas que, como José, leva implicitamente em si todas as virtudes.
Além disso, a caridade tem uma perfeição que contém a virtude de todas as
perfeições e as perfeições de todas as virtudes”. (Ibid)
Na caridade encontramos o lugar onde se encontram o amor de
Deus, o amor a nós mesmos e o amor aos outros. Como partilhamos este amor
multifacetado com todos aqueles que conhecemos cada dia? Dito de outra maneira,
estamos bem preparados para dar o seu a César e a Deus em nós e nos demais?
P. O P. Michael S.
Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.
Tradução do texto espanhol: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB
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