O Evangelho de hoje nos fala de João Batista. São Francisco
de Sales separa certos aspectos do caráter de João que nós poderíamos começar a
desenvolver em nossos corações neste tempo do Advento.
João Batista vivia no deserto com uma rocha, inamovível no
meio das ondas e das tempestades que as tribulações trazem junto. Nós, ao
contrário, mudamos de acordo com o tempo e com a estação. Quando o tempo está
bom nada pode igualar nossa alegria. Porém, quando a adversidade se avizinha
sobre nós, de repente ficamos totalmente desanimados. Às vezes nos incomodamos
por qualquer ninharia que vai contra os nossos gostos. Como resultado, somos
incapazes de restabelecer a paz em nossa alma por muito tempo, e não sem antes
ter que recorrer ao uso de muitos “unguentos curadores”. Em resumo,
espiritualmente somos inconstantes, não sabemos o que queremos. Num momento
nosso coração se encontra alegre, no seguinte somos severos e nos amarguramos.
Somos como caniços que permitem que qualquer humor ou estado de ânimo os agite
em todas as diferentes direções.
João Batista nos diz que devemos aprender a nivelar os
caminhos em preparação para a chegada de Nosso Senhor que é para nós o caminho
da plenitude. Até certo ponto todos os santos conseguiram a dita nivelação,
mesmo que nenhum tenha alcançado a perfeição. Em cada um deles houve algo que
estragou a perfeição de sua equanimidade espiritual. Isto aconteceu, inclusive,
com João Batista. Nós devemos examinar nossas ações. Devemos reformar aquelas
que não contêm boas intenções e aperfeiçoar aquelas que já têm. Nossa meta deve
ser atuar numa só intenção: conformar-nos à verdadeira imagem de Deus em nós.
Porque a razão pela qual Jesus veio a terra foi para mostrar-nos o verdadeiro
rosto de Deus.
Sempre devemos recordar que a graça de Deus nunca falha, e
que se somos felizes e cooperarmos com a primeira graça que Deus nos dá,
receberemos muitas mais. Por esta razão na Sagrada Escritura Deus nos recomenda
que sejamos fiéis no seguimento de nossos impulsos, do nosso entendimento e das
nossas inspirações. Quando fizermos isso, a grandeza que encerra a infinita
misericórdia de Deus brilhara para nós.
(Adaptação dos Sermões de São Francisco de Sales, V. 4, Ed.
L. Fiorelli)
Perspectiva Salesiana
Destaque: “Que o próprio Deus da paz vos santifique
totalmente e que tudo aquilo que sois – espírito, alma, corpo – seja conservado
sem mancha alguma para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo!”
Novamente ouvimos o desafio para viver uma vida santa –
devota – e ao fazê-lo “conservar sem mancha alguma o espírito, alma e corpo até
a chegada de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
A santidade fala de integridade, isto é, a santidade é a
experiência e o processo de integrar tudo o que somos e de colocar tudo o que
somos(especialmente nosso tempo, talentos e tesouro) à serviço de Deus e dos
outros, levando em conta que Deus sempre está conosco. Viver a vida de um modo
santo é entregar tudo o que eu sou a tudo o que a vida me oferece.
As pessoas que tem integridade reconhecem que na ausência da
justiça não pode haver uma paz verdadeira. O Advento nos chama a reconhecer que
a forma mais poderosa de tornar realidade a paz de Deus em nossas vidas é
relacionando-nos justamente com os outros, por exemplo, dando-lhes o que lhes
corresponde.
A essência da justiça é poder reconhecer as obrigações que
temos com os outros no amor. Que devemos aos outros? Na mente de São Francisco
de Sales estas dívidas incluem reverência, respeito, cortesia, paciência,
honestidade e generosidade. Francisco de Sales escreveu sobre esta obrigação na
terceira parte da Introdução à Vida devota, Capítulo 36: “Sê justo e equitativo em todas as tuas ações. Coloca-te sempre no lugar
do teu vizinho e teu vizinho em teu lugar e poderás julgar de maneira correta.
Imagina-te que és o vendedor quando compras e o comprador quando vendes e assim
venderás e comprarás justamente. Não perdes nada por viver com um coração
generoso, nobre, cortês, real, justo e racional”. Verdadeiramente nós não
perdemos nada por vivermos justamente. Porém considera o outro lado da moeda:
ao viver justamente ganhamos muito, por exemplo, a riqueza que chega como
resultado da luta por sermos pessoas íntegras; a integridade que nos desafia a
lutar pela paz que somente o céu pode aperfeiçoar quando trabalhamos juntos
pela justiça nesta terra.
Para estarmos seguros, nós cremos que o Senhor fará justiça
e o louvor se levantará sobre todas as nações. Assim mesmo, nós sabemos que
cada um de nós tem uma tarefa a realizar no projeto do Senhor para conseguir
este objetivo.
Estamos prontos?
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