Os caminhos que vão e vem somente desgastam e desorientam os
viajantes. Para poder preparar bem os caminhos de Deus em nossos corações, o
único propósito que devemos ter é o de agradar a Deus. Nós devemos ser como o
marinheiro que enquanto navega o barco mantém seus olhos fixos na agulha da bússola.
Devemos manter nossos olhos fixos num objetivo: adquirir boa disposição que é a
melhor virtude da vida espiritual. Devemos orientar nossos sentimentos, emoções
e inclinações permanentemente na direção do amor de Deus, que os transforma
para que possamos adquirir um bom caráter.
Quando nossos corações se debatem constantemente entre nosso
amor por Deus e nosso amor próprio, sucumbimos a um estado de medo, de
ansiedade e de confusão. O enfrentamento de nossas grandes faltas pode nos
ocasionar certo medo ruim que coloca o coração num estado de estresse e que
muitas vezes nos conduz ao desânimo. É por esta razão que ao longo de nossa
vida devemos exercitar nossa confiança em Deus e nos encomendarmos à bondade de
Deus que nos ama.
Mesmo assim o temor sagrado nos ajuda a empregar os meios
apropriados para evitar os problemas. O temor sagrado e a esperança devem
existir sempre juntos um com o outro. A esperança nos exorta a almejar a
alegria sagrada que encontraremos na bondade suprema de Deus. Ele faz uso
destas duas virtudes para levar a cabo a nossa cura espiritual.
Nossa vida está cheia de caminhos tortuosos que somente
podem ser endireitados por meio de uma mudança de atitude. Quando dirigimos
nosso coração para o amor de Deus, experimentamos um verdadeiro amor próprio.
Quando o amor sagrado reina em nossos corações, abranda todos os demais amores.
O amor divino submete todas as nossas emoções e nossos afetos naturais ao plano
de Deus e ao seu serviço. Todos os nossos movimentos encontram repouso neste
amor sagrado. Os corações daqueles que possuem abundante amor sagrado estão
cheios de confiança e de esperança, já que eles caminham pelas veredas que os
levarão diretamente à plenitude de Deus.
(Adaptação dos escritos de São Francisco de Sales,
particularmente os Sermões, L. Fiorelli, Ed.)
Perspectiva Salesiana
Destaque: “Enquanto esperais com anseio a vinda do dia de
Deus... Vivendo nesta esperança, esforçai-vos para que ele vos encontre numa
vida pura e sem mancha e em paz” (2 Pr 3, 12.14)
Hoje, nas Escrituras, encontramos novamente um sentimento de
expectativa sobre o cumprimento da justiça de Deus e a necessidade de estarmos
alertas e vigilantes. Certamente é a continuação da reflexão do domingo
passado. A melhor maneira de antecipar a justiça de Deus é “ser santo na
conduta e na prática da devoção. “Que devoção”? “Esta agilidade espiritual e a
vivacidade que faz com que o amor trabalhe em nós. Ou a ajuda com a qual
trabalhamos rápida e amorosamente... não somente nos faz rápidos, ativos,
diligentes para fazer o que Deus quer, mas também nos leva a fazer todo o bom
trabalho que podemos fazer de forma rápida e amorosa” (IVD, Parte i, Cap. 1). Lembro
que no tempo de São Francisco não usavam a palavra “espiritualidade”, mas
devoção. A devoção procura aproveitar as oportunidades diárias para fazer o
bem. Verdade seja dita, não temos tempo para “esperar” quando se trata de
praticar a espiritualidade. O “esperar” sugeriria que existem momentos em
nossas vidas nos quais Deus quer que descansemos para amá-lo, para amar-nos a
nós e aos outros. Um olhar mais de perto
em nossa relação conosco mesmos e com os outros revela que achamos que basta
ocupar apenas uma hora durante a semana e que é suficiente para mantermo-nos
ocupados com a espiritualidade enquanto antecipamos o dia em que a justiça e a
paz do Reino de Deus se torne realidade.
Esperar não é ficar passivo, mas, trata-se de reconhecer que
a prática da espiritualidade nos momentos e circunstancias particulares de
nossa vida diária é importante. Isto, na tradição Salesiana, é a essência do
estar “em paz”. Praticar a espiritualidade deve ser algo intencional,
deliberado e consciente. “Devemos viver pacificamente em todas as coisas e em todos
os lugares. Se aparecerem problemas exteriores ou interiores devemos recebê-los
pacificamente. Se a alegria chega, devemos recebê-la pacificamente, sem que o
coração bata mais do que o necessário. Se tivermos que tirar o mal, devemos fazê-lo
de forma pacífica, sem alterar os outros. Se é preciso praticar a paz, devemos
fazê-lo pacificamente. De outra maneira poderemos cometer muitas faltas por
apressar-nos. Inclusive nosso arrependimento deve ser pacífico...”
Que melhor forma de mantermo-nos livres das “manchas do
pecado” do que lutarmos para fazer o que é correto e bom aos olhos de Deus, e
esforçar-nos para ser fontes de justiça de Deus nas nossas vidas e nas dos
outros. Não existe melhor maneira de evitar o pecado do que dedicar-nos a
prática da virtude.
Quem estamos esperando?
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