No Evangelho de hoje Jesus nos diz que é igualmente
importante e útil servi-lo fielmente, fazendo uso de um ou de vários talentos.
Eis aqui alguns pensamentos da tradição salesiana a respeito do uso dos nossos
talentos:
Qual foi o erro do servo que enterrou seu único talento?
Desperdiçou demasiado tempo avaliando sua capacidade de fazer o trabalho que
realizava para seu amo. Gastou tempo pensando em todas as outras atitudes que
lhe faziam falta, e isto se converteu num obstáculo para que pudesse cumprir
fielmente as tarefas que lhe tinham sido designadas. Aferrou-se num falso
sentimento de segurança. Sentia medo do risco que implica assumir uma viagem
espiritual.
Colocar nossos talentos a serviço de Deus implica que
devemos ser pacientes com os outros, mas, antes de tudo, conosco mesmos. Como
aconteceu com a maioria dos santos, levaremos anos para livrar-nos dos nossos
desejos egoístas, incluindo nossa ambição de conseguir uma falsa segurança.
Mesmo assim, gradualmente, iremos deixando nossos afetos desordenados e nos
iremos abrindo aquilo que Deus deseja de nós. Então seremos livres para
realizar nossas atividades diárias com a plena confiança de que estamos
cumprindo a vontade de Deus. Nossa verdadeira segurança, nossa verdadeira
felicidade se encontra em Deus, que nos dá todo o necessário para que possamos
estabelecer seu reino em todas as nossas tarefas diárias.
Jesus nos diz que ao realizar o trabalho de Deus, mesmo possuindo
um único talento, ele é tão importante e útil quanto aquele que possue vários.
As abelhas são um bom exemplo disto. Umas se dedicam a recolher o mel, outras
cuidam da colmeia e outras a mantém limpa. No entanto, todas se alimentam do
mesmo mel. Nós também, tanto os fortes como os fracos, trabalhemos juntos em
Cristo. Os servos fiéis fazem tudo o que sabem para agradar a Deus, que preenche
o vazio que eles sentem. Através de suas obras diárias eles deixam entrever seu
potencial para unirem-se a Ele. Eles reconhecem que Deus rege cada uma de suas
atividades que realizam no dia a dia. Bem-aventurados são aqueles que fazem uso
de seus talentos para implantar o amor de Deus ao seu redor. Ele jamais lhes
permitirá serem improdutivos! Não importa se podem fazer somente o mínimo por
Deus, Ele os cobrirá de bênçãos nesta vida e na próxima.
(Adaptação dos escritos de São Francisco de Sales)
Perspectiva Salesiana
Destaque: “Muito bem, servo bom e fiel! Como foste fiel na
administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da minha
alegria!”
Esta frase tem um sentido de finalidade, não é verdade?
Se não tem, deveria.
São Francisco de Sales escreveu: “Considera a majestade com que o soberano juiz há de aparecer em seu
tribunal, cercado de anjos e santos e tendo diante de si, mais brilhante que o
sol, a cruz, como sinal de graça para os bons e de vingança para os maus. À
vista deste sinal e por determinação de Jesus Cristo, separar-se-ão os homens
em duas partes: uns se acharão à sua direita e serão os predestinados; outros à
sua esquerda e serão os condenados. Separação eterna! Jamais se encontrarão de
novo juntos. Então se abrirão os livros misteriosos das consciências: nada
ficará oculto. Clara e distintamente há de ver-se nos corações duns e doutros
tudo o que fizeram de bom e de mau – as afrontas a Deus e a fidelidade a suas
graças, os pecados e a penitência. Ó Deus, que confusão duma parte e que
consolação de outra”. (Introdução à Vida Devota, Parte I, cap. 14).
Na próxima vida, nada ficará oculto. E nesta vida existem
coisas particulares que nunca deveriam ser ocultas. São elas: os dons, as
habilidades, os talentos, as artes e as graças que Deus nos deu.
O Evangelho de hoje nos adverte de modo severo e rigoroso:
não devemos devolver os dons que Deus nos deu e que não utilizamos (não importa
se são pequenos ou grandes).
Nunca duvidem de que investir estes dons nas vidas dos
outros requer não somente nossa boa disposição, mas também implica riscos.
Existem poucas garantias nesta vida. Não podemos estar seguros de como vamos
poder utilizar estes dons algum dia, ou se os poderemos usar de uma boa
maneira, ou se nossos dons são ou não são apreciados, honrados, aceitos ou
bem-vindos pelos outros. Mesmo assim, devemos esmerar-nos para sermos prudentes,
para ter o cuidado, e para fazer bom uso do tempo que Deus nos deu e dos
talentos e tesouros com que ele nos dotou. E como parte deste esforço devemos levar
em conta os riscos que assumimos quando partilhamos o que somos com os outros e
que estes riscos não devem ser assumidos rapidamente nem de forma imprudente.
Mesmo assim não importa quanto arriscado seja escolher,
acolher ou investir nossos dons. Nunca devemos permitir que as ansiedades do
mundo incerto nos tentem e nos levem a fazer o impensável, a enterrar nosso
talento. Atuar como se não possuíssemos nada com que honrar a Deus, ou como
servir as necessidades dos outros, é muito pior do que qualquer erro que possamos
chegar a cometer em qualquer dia em que façamos um uso normal de nossas habilidades.
Concluindo, o mais seguro é que iremos cometer erros ao
fazer bom uso das graças que Deus nos deu. Porém, não existe erro maior do que
viver nossas vidas como se não tivéssemos nenhum dom para colocar a serviço de
Deus e dos outros. Não existe nenhum erro pior do que enterrar os dons que
temos: nada pior que escondê-los à luz do dia.
Quando tiverem dúvidas mantenham à vista os talentos, por
vocês, por Deus e pelos outros, para que eles os vejam. E neste processo,
partilhem da alegria de seu Amo... hoje!
Texto: P. Michael S. Murray, OSFS – Diretor do Centro
Espiritual de Sales
Tradução do espanhol: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB
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