Destaque: "Assim procedendo, ensinaste ao teu
povo que o justo deve ser humano; e a teus filhos deste a confortadora
esperança de que concedes o perdão aos pecadores." (Sb 12, 19)
Perspectiva Salesiana
O Livro da Sabedoria não deixa
espaço para ambiguidade quando se refere às características da justiça divina:
o cuidado, a clemência, a indulgência, o ressentimento e a bondade. Estas
características em vez de insinuar que Deus possa ser "fraco",
descrevem, de um modo melhor, a natureza da verdadeira força, da autoridade
real e do verdadeiro poder.
Este é o grande paradoxo do amor
divino: mesmo quando o pecado e o mal podem provocar o castigo divino, é muito
mais provável que, no final recebam a misericórdia, a indulgência e a bondade
divina. Francisco de Sales observou: "O pecado de Adão verdadeiramente
estava muito longe de chegar a constranger a bondade de Deus. Ao contrário,
despertou e motivou ainda mais a bondade de Deus. Como se estivesse tentando
realinhar suas tropas a caminho da vitória, a bondade de Deus faz com que a
graça preencha grandemente onde antes enchia a desigualdade... Na verdade, a
providência de Deus nos deu muitas grandes demonstrações que refletem a
severidade divina, embora, mesmo em momentos que Deus irradia Sua misericórdia sobre
nós; Exemplos destas demonstrações incluem o fato de que devemos morrer,
as doenças, os trabalhos, a rebelião sensual... mas a graça de Deus flutua
acima de todas estas coisas e se alegra ao converter todas estas misérias em benefícios
para todos aqueles que o amam. "(Tratado do Amor de Deus , Livro II,
Capítulo 5)
Em nenhum outro lugar ou situação
podemos ver refletido o exercício do poder e da justiça de Deus de forma tão
clara, tão gentilmente e com tanta clemência do que na vida e no legado de
Jesus Cristo. São Francisco de Sales escreveu: "Em uma palavra, o
nosso Divino Salvador nunca se esquece de mostrar que 'a sua misericórdia está
acima de todas as suas obras.' Que sua misericórdia excede Sua justiça, que a 'sua
redenção é abundante', que o seu amor é infinito e que, como os Apóstolos dizem
'ele é rico em misericórdia' e, portanto, ele 'deseja que todos sejam salvos',
e que ninguém pereça". (Tratado , Livro II, capítulo 8)
Sobre a prática da virtude,
Francisco de Sales escreveu: "Algumas virtudes têm apenas um uso quase
geral e não somente devem produzir os seus próprios resultados, mas também devem
ser estendidas a todas as outras virtudes. Nem sempre se apresentam momentos
nos quais podemos fazer uso da fortaleza, da magnanimidade, ou de uma grande
generosidade. Mas a mansidão, a temperança, a integridade e a humildade são
virtudes que devem emoldurar todas as ações que realizamos no decurso de nossas
vidas."
Praticar a virtude é partilhar e
repartir o poder e a promessa de Deus. Como podemos responder a este poder
divino, poder expresso em paciência, em indulgência, em clemência e em bondade?
Em primeiro lugar, devemos nos
arrepender. Devemos reconhecer nossa necessidade de sermos salvos,
redimidos e reconciliados por meio da justiça de Deus. Esse poder não só
nos ajuda a afastar-nos da desigualdade, mas também nos permite fazer o que é
certo e correto.
Em segundo lugar, devemos fazer
uso do poder divino no qual partilhamos (como resultado da natureza da nossa
criação e redenção) o perdão de uns para os outros, praticando e ampliando o
cuidado e a compreensão, a misericórdia, a paciência e a bondade para com os
nossos irmãos e irmãs, especialmente quando, intencionalmente ou sem pensar,
nos machucam ou nos ferem.
A melhor maneira de servir à
justiça divina é através de bondade. Estamos felizes por receber e
partilhar um presente tão poderoso e redentor como este?
P. Michael S. Murray, OSFS - diretor
do Centro de Espiritualidade de Sales.
Tradução e adaptação: P. Tarcizio
Paulo Odelli - sdb
Dos escritos de São Francisco de Sales
As leituras de hoje nos recordam
o modo como a justiça e misericórdia de Deus agem conjuntamente para cuidar da
família humana. São Francisco de Sales observa:
Deus é a própria
Bondade. Esta infinita bondade de Deus tem duas mãos: uma mão representa a
misericórdia, a outra a justiça. A justiça e misericórdia só podem
florescer onde há bondade. Deus usa a misericórdia para conseguir que nós
acolhamos tudo aquilo que é bom. A justiça se encarrega de arrancar na
raiz qualquer coisa que nos impeça de experimentar os efeitos da bondade de
Deus. Impele-nos a rejeitar o mal.
Aqueles que têm um verdadeiro
desejo de servir o nosso Senhor e de escapar do mal, não devem atormentar-se
com pensamentos sobre a morte ou sobre o julgamento divino. O santo temor que
sentem aqueles que amam a Deus representa para Ele uma reverência filial. Eles
temem desagradar a Deus, simplesmente porque Ele é o seu pai amoroso e bondoso. O
bom filho não obedece a seu pai porque ele tem o poder de castigá-lo ou deserdá-lo.
Simplesmente obedece, porque ele é um pai amoroso e preocupado. O santo
temor fortalece nosso espírito humano; confia plenamente na bondade de
Deus. A misericórdia de Deus, vendo-nos vestidos de "carne, como um vento"
que vem e vai, nunca permitirá que nos lancemos na ruína total. A infinita
misericórdia de Nosso Salvador sempre se inclina a nosso favor.
Quando os pecadores persistem no
pecado, quando vivem como se Deus não existisse, é então é que o nosso Salvador
lhes permite encontrar Seu coração cheio de sofrimento, piedade e generosidade
para com eles. Embora Davi tivesse ofendido a Deus, ele sempre recebeu o alento
do coração indulgente e a clemência divina. Reflitamos sobre como a bondade de
Deus, que desde toda a eternidade, tem nos valorizado, e proporcionado todos os
meios necessários para avançar no caminho do amor sagrado. Agora, Deus nos
dá a oportunidade de fazer o bem, e de seguir em frente com as provas que
atualmente enfrentamos. A grandeza que encerra a misericórdia de Deus
continua a brilhar nas obras deslumbrantes e inspiradoras de Jesus. Que grande
motivo para colocar toda a nossa esperança e nossa confiança na misericórdia de
Deus!
(Adaptado a partir dos escritos
de São Francisco de Sales)
Nenhum comentário:
Postar um comentário