Destaque: "O Senhor ouve o
clamor dos pobres".
Perspectiva Salesiana
Pode acontecer
que os pobres não desfrutem de muitas coisas na vida. Mesmo assim, ocupam um
lugar especial no coração e na mente de Deus. Nisto levam uma grande vantagem
sobre qualquer riqueza terrena.
A Escritura é
clara e inequívoca: Deus tem uma preocupação especial pela situação dos pobres
e necessitados, pelas carências dos desesperados e por aqueles que têm o coração
dilacerado, pela angústia dos perdidos e abandonados, pelo espírito daqueles
que foram esmagados, pela vida dos solitários, pelas almas dos pecadores.
Jesus encarna o
amor pelos pobres. Ele se aproximou das pessoas de todas as classes sociais,
econômicas, étnicas e culturais. Mas, Jesus investiu uma quantidade
significativa de seu tempo, sua energia, o seu ministério e de seu amor para
com os pobres, com aqueles que foram difamados e maltratados no seu tempo. Jesus
parece ter gozado de maior sucesso com os pobres, da mesma forma, ele parece
ter se sentido mais à vontade com eles.
Isto é
observado em sua totalidade por São Francisco de Sales. Na Introdução
à Vida Devota, ele escreveu: "Devemos praticar a verdadeira pobreza
no meio de todos os bens e riqueza que Deus nos deu. Muitas vezes, devemos
nos livrar de certas propriedades e entregá-las com um coração generoso para os
pobres. Dar um tanto do que se possui é empobrecer outro tanto e quanto
mais se dá, mais pobres seremos... Amem os pobres e amem a pobreza, pois é por
meio deste amor que nos convertemos em verdadeiros pobres... alegrem-se por
vê-los em suas próprias casas e por visitá-los nas deles. Sintam-se felizes
em falar com eles e felizes por tê-los em torno de suas igrejas, nas ruas e em
todos os outros lugares. Sejam pobres quando conversarem com eles... porém,
sejam ricos quando se trate de assisti-los, partilhando algo de seus abundantes
bens com eles." (IVD III, 15)
Vale a pena
explorar três aspectos das observações feitas por Francisco de Sales. Em
primeiro lugar, na medida em que nos aproximamos dos pobres passamos a conhecer
a nossa própria pobreza, as nossas próprias necessidades, o nosso próprio
desespero e o nosso próprio infortúnio. Francisco observou: "Nós
nos convertemos nas coisas que amamos."
Em segundo
lugar, a situação dos pobres é um desafio para nós, para que sejamos generosos:
para que doemos alguma coisa de nossa abundância e, ainda mais difícil, para que
doemos algo de nossas próprias necessidades e carências.
Em terceiro
lugar, devemos reconhecer as formas mais sutis de pobreza em nossas casas, em nossos
bairros, em nossas salas de aula, no nosso local de trabalho, e não somente reconhecer
a pobreza nas esquinas, ou nos pontos de ônibus. Devemos reconhecer as
riquezas celestes das quais todos carecemos: o cuidado, a bondade, o perdão, a
amizade, a verdade, o companheirismo, a cura, a compreensão, a reconciliação, a
honestidade, a fé, a esperança... e o amor.
Claramente,
fielmente, carinhosamente, de forma convincente o Senhor ouve o clamor dos
pobres.
Nós escutamos
este clamor?
Padre Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro
de Espiritualidade de Sales
Tradução e adaptação: P. Tarcizio Paulo Odelli -
SDB.
Dos escritos de São Francisco de
Sales
As leituras de
hoje nos lembram de que Deus responde prontamente aos gritos daqueles que se
arrependem dos erros que fizeram. São Francisco de Sales observa:
Deus, em sua
misericórdia incomparável, abre a porta para o coração do penitente. Esta
alma teria se perdido se Ele não a tivesse ajudado. Para que nosso
arrependimento seja genuíno, por que não vivemos de acordo com a imagem de Deus
em nós, devemos primeiro despojar nosso coração de qualquer outra coisa para permitir
que Nosso Senhor o encha de Si Mesmo. Cada canto, cada esquina de nossos
corações está repleto de milhares de coisas indignas de serem vistas na
presença de nosso Salvador. Então, é como se tivéssemos amarrados pelas mãos, e
lhe estivéssemos impedindo de conceder-nos os dons e a graça que Ele sempre
está disposto a dar-nos, sempre e quando nos encontre preparados para recebê-los.
Quando nos
arrependemos damos lugar à maravilhosa humildade de nosso querido Salvador para
que entre em nosso coração. A humildade coração nos torna conscientes da
bondade de Deus, que é digna de um amor supremo. A humildade de coração
também nos permite entender a nossa incapacidade para amar perfeitamente, e por
isso necessitamos de Nosso Salvador, que nos tirará de nossa miséria até nos
tornar-nos um com Sua grandeza.
O valor que tem
a virtude da penitência é que nos leva para a plenitude. Devemos ser como o
arqueiro que, quando vai atirar uma flecha grande, puxa a corda do seu arco de
um ponto mais baixo, dependendo de quanta altura deseja que a flecha alcance. Para
poder unir-nos a Deus devemos apontar o mais alto possível. Portanto, devemos rebaixar-nos
muito mais, deixando de lado a autossuficiência e abrindo-nos para receber a
ajuda de Deus. Devemos deixar todos os nossos problemas nas mãos de nosso
Salvador, que sempre cuida de nós, para que possamos entregar-nos totalmente a
Ele. Quando damos nosso consentimento a Deus para que nos ame do jeito que deseja
fazer, Ele nos receberá em sua misericórdia, e também avivará e restaurará
completamente nossa verdadeira saúde espiritual, que é o amor sagrado.
(Adaptado a partir dos escritos
de São Francisco de Sales)
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