Destaque: "Para vós, que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas".
Perspectiva Salesiana
Sentir temor do
Senhor é o princípio da sabedoria (Salmo 110, 10). Mesmo assim, o salmista
nos lembra de que este temor do Senhor (que está diretamente relacionado com a
aquisição de sabedoria) é apenas o começo: deve levar-nos a "seguir os
preceitos de Deus", deve levar à ação.
Em outras palavras,
sentir medo do nome do Senhor deve nos levar a fazer as obras do Senhor!
Como ouvimos na
segunda leitura de hoje, São Paulo certamente sabia disso: "bem sabeis que
deveis seguir o nosso exemplo, pois não temos vivido entre vós na ociosidade...
Pelo contrário, trabalhamos com esforço e cansaço, de dia e de noite, para não
sermos pesados a ninguém... Quem não quer trabalhar também não deve
comer".
Esse temor do
Senhor, esse medo do nome de Deus, não tem como objetivo paralisar-nos. Não,
seu propósito é motivar-nos claramente, de mover-nos, de fazer que trabalhemos individual
e coletivamente na busca dos preceitos do Senhor, para construir o Reino de
Deus. Dito de outra forma, o temor do Senhor não nos deve tornar-nos passivos,
pelo contrário, deve tornar-nos ativo.
Isso deveria
ser óbvio. No entanto, a mensagem oposta pode ser transmitida (sem intenção),
quando consideramos as vidas e legados dos santos, que, entre outras coisas,
claramente sentiam temor do nome do Senhor: "Quando pensamos em homens e
mulheres santos através dos tempos, muitas vezes nos lembramos de esculturas,
desenhos e pinturas em que os santos aparecem de todas as maneiras, menos
ativos. Nossos santos mais ativos muitas vezes não estão fazendo nada mais
enérgico do que segurando um lírio ou olhando piedosamente o céu. E mesmo
que essas imagens pudessem mover-nos e inspirar-nos, e mesmo se, por vezes, fossem
úteis em momentos de contemplação, se alguém estiver procurando modelos de ação
e energia, estas imagens não são tão atraentes" (James Martin, SJ em
Padroeiros e Protetores: Mais Ocupações por Michael O'Neill McGrath)
É com esta
visão que James Martin escreve que "Jesus trabalhou e talvez seja este o
fato que a maioria de nós esqueceu. Podemos facilmente imaginar Jesus sendo
instruído por São José, o carpinteiro. Na oficina de José, em Nazaré,
Jesus aprendeu sobre os materiais de sua arte... José ensinou ao seu aprendiz a
pregar um prego de modo correto com o martelo, a talhar um buraco na madeira,
ou como nivelar uma prateleira". (Ibid)
E quem teria
temido o nome do Senhor e seguido os preceitos de Deus de forma mais clara e
convincente do que Jesus? Gregory Pierce sugere que precisamos ver e
experimentar o trabalho como "todo o esforço (remunerado ou não) que fazemos
para que o mundo seja um lugar melhor, um lugar que se assemelhe mais a maneira
que Deus quer que as coisas aconteçam" (Espiritualidade@Trabalho, página
18)
O trabalho, o
trabalho de Deus é verdadeiramente a nossa carga na vida, a nossa razão de ser,
a finalidade para a qual vivemos. Olhemos para a vida de Jesus e vejamos
como este trabalho pode ser árduo, laborioso e frustrante. Mesmo assim, o
que poderia ser mais gratificante do que usar todas as nossas energias para
fazer de todos os nossos pequenos cantos do mundo, lugares em que o "sol
da justiça" pode surgir nos corações e mentes de nossos irmãos e
irmãs? O temor do Senhor é, em última análise, um convite - não uma
exigência - para fazermos a obra do Senhor.
P. Michael S. Murray, OSFS -
Diretor do Centro de Espiritualidade de Sales.
Tradução: P. Tarcizio Paulo
Odelli - SDB
Dos escritos do São Francisco de
Sales
No evangelho de
hoje Jesus nos diz que, independentemente da situação em que nos encontramos,
devemos continuar a segui-lo. Francisco de Sales nos diz algo similar:
Existe alguma
sociedade, religião, instituição ou estilo de vida que tem tanta certeza de que
ele está livre de todo o mal? Dado que esta ameaça afeta a todos nós, é
arriscado viver num mundo de malfeitores. Quando nos confrontamos com o
mal devemos saber distinguir a realidade dos medos imaginários. Deus não nos
dará força para enfrentar um conflito imaginário, mas certamente nos dará a
coragem necessária quando surgir uma verdadeira necessidade. Muitos dos
servos de Deus estavam se assustaram e quase perderam a sua coragem diante de
um perigo imaginário. No entanto, quando o verdadeiro perigo surgiu
mostraram sua coragem.
Se nos entregarmos
a nossos medos imaginários certamente perderíamos a nossa coragem e não faríamos
nada para vencer o mal. Precisamos trabalhar. Nosso Senhor quer que
sejamos lutadores e conquistadores da maldade. Se sentirmos que não temos
coragem, digamos com confiança: "Salve-me Senhor". Se o nosso
desejo de servir a Deus é bom e verdadeiro, mas falta-nos a força para colocar
o desejo em prática, devemos oferecê-lo a Deus que nos permitirá alcançar o que
queremos. Ele renovará as nossas aspirações quantas vezes for necessário
fazer para que perseveremos. Somente será necessário ter o desejo de lutar
bravamente e com perfeita confiança para que o Espírito nos ajude.
Na medida em
que formos perseverantes no cumprimento da vontade de Deus, Ele vai nos ajudar
a sair vitoriosos durante os tempos turbulentos. Entreguemos nossa vontade
a Nosso Senhor que a renovará para que possamos ter a coragem suficiente para o
resto da nossa vida mortal. As crianças se sentem seguras quando estão nos
braços de suas mães. Sentem que nada poderá machucá-las quando estão de mãos
dadas. Embora os tempos de conflito produzam medo, temos que dar a mão ao
nosso "Deus Todo-Poderoso", que nos protege e nos faz sentir-nos
seguros.
(Adaptado a partir dos escritos
de São Francisco de Sales)
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