sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Reflexão para o 22º Domingo do Tempo Comum - 1 de Setembro de 2013


Destaque: "Filho, realiza teus trabalhos com mansidão e serás amado mais do que um homem generoso. À medida que fores grande, deverás praticar a humildade e assim encontrarás graça diante do Senhor."

Perspectiva Salesiana

Como encontramos graça diante de Deus através da nossa humildade? Neste caso, quando nos humilhamos, o que estamos realmente fazendo?
Em primeiro lugar, e acima de tudo, a humildade nos desafia a evitar dois extremos da vida: as tentações de autoexaltação, ou de nos desprestigiar-nos. Francisco de Sales deu exemplos concretos de como fazer isso. "Quanto a mim, não quisera fazer-me de louco, nem de prudente, porque, se a humildade me impede de fazer-me prudente, a sinceridade e a simplicidade me devem impedir de fazer-me de louco; Com efeito, a humildade esconde as virtudes e as boas qualidades e só as mostra pela caridade, que, não sendo uma virtude humana e mortal, mas celeste e divina é o sol das virtudes; deve sempre dominar sobre todas; de sorte que, se a humildade prejudica a caridade em alguma coisa, é, sem dúvida, uma humildade falsa. Se a caridade o exige, cumpre ajudar o próximo com bondade e doçura em tudo o que é necessário para a sua instrução e consolação." ( Introdução à Vida Devota, Parte III, Capítulo 5) 
Num nível mais profundo, humildade é reconhecer nossa pequenez e a grandeza de Deus. "Consideremos o que Deus fez por nós e o que nós fizemos contra Deus, e quando refletimos sobre nossos pecados, um por um, devemos considerar também as graças de Deus, uma por uma. Não há necessidade de temer que o conhecimento dos dons de Deus nos tornarão orgulhosos, se só nos lembramos desta verdade: o bem em nós não vem somente de nós mesmos." ( Ibid. )
Finalmente, ter uma visão equilibrada de nós mesmos significa reconhecemos nossa pequenez e a grandeza de Deus, e dar graças à fidelidade de Deus para conosco, que nos leva a viver uma vida de generosidade. "As mentes generosas não se divertem com brinquedos insignificantes de classe, honra e de títulos. Eles têm outras coisas para fazer. Tais espetáculos pertencem às mentes preguiçosas. Aqueles que possuem as pérolas não estão preocupados com as conchas, enquanto que aqueles que aspiram à virtude não se preocupam com as honras." ( Introdução à Vida Devota, Parte III, Capítulo 4) 
Humilha-se não é desprestigiar-se. Não, ser humilde é encontrar nosso lugar na vida: como beneficiários do amor de Deus por nós, como instrumentos do amor de Deus na vida dos outros. 
Finalmente, ser humilde significa conhecer o nosso lugar no plano de salvação de Deus... e ter a coragem de assumir este lugar. Esta é a verdadeira humildade, que, a seu tempo, deve levar-nos suavemente e respeitosamente, a incentivar outras pessoas em sua luta para que da mesma forma cheguem a conhecer seu lugar no plano de salvação de Deus... e para que também tenham a coragem de assumi-lo. 
Qual a melhor maneira de encontrar graça diante de Deus?  Juntos. 

P. Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro de Espiritualidade de Sales
Tradução e adaptação: P. Tarcizio Paulo Odelli - sdb 

Dos escritos de São Francisco de Sales

As leituras de hoje nos ensinam que a humildade e a generosidade são valores que garantem a vida eterna. Aqui estão alguns dos pensamentos de São Francisco de Sales sobre essas virtudes, que estão presentes em vários de seus escritos: 
A humildade é bastante generosa, e nos faz assumir todas as tarefas que nos foram confiadas, armados com uma coragem invencível. Quando somos humildes, temos muita coragem, porque estamos colocando toda a nossa confiança em Deus e não em nós mesmos. Ao mesmo tempo a confiança em Deus dá origem a um espírito generoso em nós. 
Nosso coração generoso pode estar cheio de dúvidas sobre a nossa própria capacidade de fazer qualquer coisa. Mas não devemos ficar atolados nessas questões, mas temos de continuar a fazer aquelas coisas que sabemos que irão agradar a Deus. Ao executar uma tarefa, nossas dúvidas surgem porque valorizamos demais nossa reputação. Nós desejamos ser professores que nunca cometem um erro. Mas, são as nossas amadas imperfeições que nos obrigam a reconhecer nossas deficiências, e fazem com que coloquemos em prática nossa humildade, o amor sacrificado, a paciência e a vigilância. No final, os processos que vivemos em meio a dor engrandecem nossos corações e aumentam a nossa coragem. Deus sempre se agrada quando, estando fracos, somos capazes de levantar-nos. 
Não devemos nos preocupar se percebemos que ainda somos novatos na hora de colocar em prática as virtudes. Toda a nossa vida está ligada a um processo de aprender a amar de modo divino. Nossa obrigação de servir a Deus, e avançar no caminho do amor a Deus, continuará até o dia em que morrermos. Embora seja verdade que Deus deseja que façamos todo o possível para adquirir as virtudes sagradas, nosso trabalho é fazer crescer corretamente as nossas almas. Portanto, devemos cuidar delas fielmente. Mas no que diz respeito aos cultivos e colheitas abundantes, desejamos que nosso Senhor cuide delas. O agricultor nunca será culpado por não ter tido uma boa colheita, a menos que não tenha lavrado ou semeado suas terras com o cuidado necessário. Portanto, avancemos com paciência, e em vez de nos preocuparmos por termos conseguido pouco progresso no passado, tentemos ser mais diligentes, a fim de obter melhores resultados no futuro. 

(Adaptado a partir dos escritos de São Francisco de Sales) 

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Perspectivas Salesianas 21 - Uma paixão... pela Justiça


São Francisco de Sales é bem conhecido pela prática de duas virtudes: humildade e mansidão. A humildade pode ser descrito como o "viver na verdade". A verdade é que somos criados à imagem e semelhança Deus. A esperança é que somos bons. A verdade é que nem sempre vivemos de acordo com sua bondade. O certo é que precisamos do perdão e da graça de Deus para tornar real a bondade. É verdade que precisamos  do apoio e do incentivo de uns para os outros. A doçura ou suavidade pode ser descrita como a prática da proporcionalidade. Trata-se de como manter as coisas em perspectiva. Trata-se de saber quando se manter firme e quando afrouxar.
Em todas as ocasiões, seja nos momentos bons ou nos difíceis, a gentileza consiste em tratar-nos a nós mesmos e os outros com profundo respeito, em ter uma amabilidade fundada no reconhecimento de cada um e de que todos nós somos filhos e filhas do Deus vivo.
Em suma, ser humilde e gentil é encarnar as palavras de Jesus encontradas no Evangelho São Mateus: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e meu fardo é leve." (Mt 11, 28-30)
A prática diária destas duas virtudes faz surgir um tipo particular de coração naqueles que seguem Jesus: Um coração que não se cansa de lutar de justiça.
"Seja justo e equitativo em todas as tuas ações", escreveu São Francisco de Sales na Parte 3 do capítulo 36 da Introdução à Vida Devota. Coloque-se sempre no lugar do seu próximo e o próximo no seu e então poderás julgar corretamente. São Francisco continuou: "Imagine que você é o vendedor no momento da compra e o comprador quando estiver vendendo. Assim, você venderá e comprará de uma forma justa."
Isto nem sempre é fácil fazer. Muitas vezes somos tentados a relacionar-nos com os outros de um modo que não é justo, que não é racional. Somos tentados a promover apenas o que é do nosso próprio interesse. Somos os primeiros a perguntar "Nisso, o que é para mim?" ou sempre estamos preocupados em sermos "o primeiro em tudo." Nestes momentos "temos dois corações: um coração é calmo, amigável e cortês conosco mesmos; o outro é difícil, duro e orgulhoso para com nosso próximo, pesando conveniências para tirar maior proveito em benefício próprio e o outro para tirar o menor possível para com o próximo." Em momentos como este temos "duas balanças": uma que pesa conveniências para tirar o maior proveito possível em benefício próprio e a outra, para tirar o menor proveito possível para o nosso próximo."
As pessoas que são nobres meditam frequentemente, com humildade, como se relacionam com outros, se razoavelmente e se seus corações realmente lutam por justiça.
São Francisco de Sales nos desafia: "Não deixe de examinar-se frequentemente. Veja se o seu coração se comporta com o seu próximo como você gostaria que seu próximo fosse para você, colocando-se você na situação outro."
Uma ação simples. Algo de cada dia. Na tradição salesiana é algo tão poderoso o dar-se. No final de tudo, São Francisco Sales diz: "Não perdemos nada vivendo generosa, nobre e cortesmente e com um coração verdadeiramente justo e razoável."
Não só não perdemos nada, mas aos olhos de Deus ganhamos todos: um lugar no coração de Deus para sempre no céu, e agora na terra, um lugar no plano de Deus para a salvação.
Caminhe humildemente, comunique-se gentilmente, viva justamente e ame generosamente. De modo grande e pequeno se esforce para seguir o exemplo do Cavaleiro Santo, um seguidor de Cristo, que nos desafia a encarnarmos no Coração de Jesus, a encarnarmos no coração da justiça.

Para reflexão pessoal

1. O que entendo por humildade? É saudável ou prejudicial?
2. Sou realmente amável comigo mesmo?
3. Sou realmente amável com os outros?
4. Desejo colocar-me no lugar do outro?
5. Sou generoso no meu relacionamento com os outros?
6. Sou duro com os outros, mas relaxado comigo mesmo?
7. Qual é a minha noção sobre ser uma pessoa "justa"?
8. Existem áreas na minha vida nas quais preciso buscar a justiça para comigo mesmo ou para com os outros?

Para rezar:

“Meu Deus, eu te entrego esta ação. Concede-me a graça de realizá-la da melhor maneira possível aos teus olhos. Desde já te ofereço todo bem que eu possa fazer. Que eu aceite qualquer dificuldade que possa encontrar no meu caminho.”

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Reflexão Salesiana para o 21º Domingo do Tempo Comum - 25 de agosto de 2013


Destaque:"Esses enviados anunciarão às nações a minha glória".
Perspectiva Salesiana

A primeira leitura de hoje, tirada de Isaías, fala sobre a missão que é confiada a cada um de nós. Cada um é enviado a anunciar a glória de Deus, com a própria vida, com o testemunho e de acordo com a vocação recebida, seja leigo ou leiga, seja religioso ou religiosa, seja padre. É como que a conclusão do mês vocacional que vivemos. Todos nós que fomos batizados somos chamados a evangelizar, a anunciar boas notícias!  Esta é a maneira de entrar pela "porta estreita".
O Papa Paulo VI definiu a evangelização como "levar a Boa Nova a todos os estratos da humanidade e através da sua influência transformando a humanidade a partir de dentro e tornando-a nova. "
Em seu livro intitulado Criando a Paróquia Evangelizadora", os padres Paulinos, Frank de Siano e Kenneth Boyack nos desafiam a aceitar esta simples verdade: cada um de nós é chamado a ser um evangelizador, a  "sair ao mundo e anunciar a boa notícia", a dar testemunho do poder e da promessa do amor redentor de Deus em nossas vidas. (Paulinos, 1993)
Embora a boa notícia é essencialmente a mesma, os autores insistem que a maneira e o método pelo qual cada um de nós evangeliza deve ter origem no estado e na etapa em que nossas vidas se encontram atualmente. Para se ter uma compreensão mais profunda do que isso significa, eles recorrem ao nosso velho amigo e companheiro São Francisco de Sales: "São Francisco de Sales escreveu um livro maravilhoso chamado Introdução à Vida Devota. Nesse livro São Francisco faz o simples e profundo argumento de que um seguidor (discípulo) de Jesus deveria observar sua situação de vida e de acordo com isto deveria viver uma vida cristã. Uma esposa e mãe encontrará a santidade na maneira como ela vive, em relação ao marido e na forma como ela cuidar de sua família. Ela não poderá deixar sua família várias vezes durante o dia, como os monges ou freiras, para participar da Liturgia das Horas... A sua espiritualidade, sua maneira de seguir a Cristo é determinada pela sua vocação e estilo de vida... e se ela trabalha, deverá viver a sua vocação como uma mulher casada e ser testemunha de Cristo em seu local de trabalho."
Nós somos feitos à imagem e semelhança de Deus. Nós somos redimidos pela vida, amor, morte e ressurreição de Jesus. Somos inspirados e fortalecidos pelo Espírito Santo. Estas são realmente boas notícias! Estas boas notícias deveriam fazer diferença em nossas vidas e nas vidas daqueles que amamos, com quem trabalhamos, rezamos ou nos divertimos. Estas Boas Novas deveriam transformar-nos e renovar-nos. Através de nós, estas Boas Novas oferecem a possibilidade de transformação e renovação dos outros. 
A forma como partilhamos essas boas notícias, como evangelizamos, depende de quem somos, onde estamos e quem somos. Deve ser compatível com o estado, a etapa, as circunstâncias, as responsabilidades, as rotinas e os relacionamentos que nos deparamos todos os dias.  Seguir a Jesus não significa abandonar nossas vidas comuns: não, trata-se de realizar a vida e o amor de Deus em nossos pensamentos, nossos sentimentos, nossas atitudes e nossas ações. 
A evangelização tem muito a ver com o que dizemos: afinal de contas, é "contar" alguma coisa, neste caso, as Boas Novas de Deus. Mesmo assim, também tem muito a ver (talvez mais) com aquilo que fazemos: o que dizemos é um sinal convincente do amor de Deus somente se for consistente com a forma como nos relacionamos com os outros. 
Por todos os meios, por qualquer meio, "saiam pelo mundo e contem as Boas Novas" do amor de Deus, do perdão de Deus, da justiça de Deus e da paz de Deus, mas, sobretudo, contem nos lugares e com as pessoas onde vivem, trabalham, rezam e de divertem todos os dias.

Padre Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro de Espiritualidade de Sales. 
Tradução e adaptação: P. Tarcizio Paulo Odelli

Dos escritos de São Francisco de Sales

O Evangelho de hoje nos recorda que para poder entrar no reino de Deus precisaremos a mesma força que tiveram Abraão, Isaac e Jacó, ao confiarem na bondade de Deus. Aqui estão alguns dos pensamentos de São Francisco de Sales sobre como podemos desenvolver a nossa confiança na bondade de Deus: 
A confiança em Deus é a vida da alma. Para desenvolver a nossa confiança Nele, primeiro devemos aprender a amar Sua bondade. Só podemos experimentar a bondade de Deus se abrirmos os nossos corações e permitirmos que Ele entre neles. Devemos aprender a falar com Deus e a ouvir quando Ele nos fala profundamente em nossos corações. É então que começaremos a sentir amor pelas coisas de Deus. 
Às vezes, quando passamos por circunstâncias difíceis, parece que a nossa confiança em Deus se enfraquece. Quando nos sentimos assim, devemos dizer ao Senhor: "Mesmo que agora eu sinto que eu não confio em Ti, eu sei que és o meu Deus, e por isso coloco-me completamente em tuas mãos, esperando em tua bondade." Mesmo que isso nos pareça difícil dizer, não é impossível. Quanto mais reconhecermos que não temos a força para confiar em Deus, mais razões teremos para confiar na sua bondade e misericórdia. Nossas almas darão vida a Jesus Cristo. Até o momento em que Ele nasça em nós, não poderemos evitar o sofrimento no cumprimento do nosso trabalho. Mas tenham a certeza de que Deus será tão gentil e misericordioso para conosco em nossos momentos de fraqueza e imperfeição, como o é nos nossos momentos de força e perfeição. 
Quando nossa força e nossa confiança no amor pelas coisas de Deus aumentam, conseguimos despojar-nos daqueles afetos menores que não provém de Deus. Buscar apenas o reino de Deus, e desejar apenas dar testemunho de nossa confiança na bondade de Deus, através do tratamento aos outros, é algo gratificante. Quando aprendemos a confiar em Deus, colhemos os frutos de nossa confiança em Sua bondade. Da mesma forma como os marinheiros que chegam ao porto de destino olham para o céu que se estende acima de suas cabeças, em vez de observar o mar por onde navegam, vocês devem observar Deus. Ele irá trabalhar com vocês, em vocês, e para vocês. Como resultado, sua confiança na bondade de Deus será fortalecida.

(Adaptado a partir dos escritos de São Francisco de Sales) 

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Perspectivas Salesianas 20 - Simplicidade de Intenções...


   Dificilmente será um elogio chamar alguém de "ingênuo" na linguagem comum. Nós usamos a palavra "ignorante" como um insulto, indicando a inferioridade intelectual do objeto de nossa crítica. O antônimo de "simples" deveria ser algo como "complexo". Quanto mais sofisticada ou inteligente for a pessoa mais condições terá, em relação à uma pessoa simples, para lidar com profissionalismo numa infinidade de tarefas.
     Nossa cultura valoriza a produtividade, a  tecnologia, os dispositivos e a eficiência. Portanto, os sucessos mundanos exigem certa complexidade de habilidades e competências. Por que, então acreditamos na espiritualidade Salesiana, que professa um amor e aceitação do mundo como ele é, e continuamos afirmando que a virtude da simplicidade é muito importante?
     São Francisco de Sales diz que a simplicidade ocupa uma posição de complexidade, mas não nas áreas da inteligência ou da habilidade. A simplicidade é uma forma de motivação ou intenção. Se a nossa motivação concentra-se ou é determinada (por exemplo, não enrolada), então a nossa ação prova ser simples.
    A espiritualidade Salesiana diz que a nossa intenção para qualquer ação deve ser o amor de Deus e o amor ao nosso próximo. O que comprarmos ou vendermos em nosso local de trabalho, a quem amarmos ou como vivermos deveria ser sempre guiado pelo forte desejo de crescer à imagem e semelhança de Deus e não por uma multiplicidade de razões difusas ou confusas.
     Muitas pessoas parecem estar motivadas para amar a si mesmas, amar as coisas, o poder, etc. e isto é demonstrado em suas ações. Ainda assim, não é razoável esperar que alguém possa eliminar completamente seus motivos confusos: buscar os primeiros lugares é certamente fácil para a maioria de nós.
     Uma saudável simplicidade espiritual se preocupa por purificar a intenção de nossas ações. Uma boa pergunta que devemos fazer vez ou outra: "Por que faço o que estou fazendo?". Note-se que não se faz nenhuma menção de sentimentos ou desejos, apenas a intenção de agir. A consciência deliberada deste porque nos ajuda a realizar atos virtuosos.
     São Francisco de Sales deu as Irmãs da Visitação uma ferramenta que ele herdou de seus professores Jesuítas: o exame de consciência como uma "verificação simples". Dedique alguns minutos várias vezes no dia para rever suas ações e interações e, desta maneira, pergunte-se se seu objetivo foi ou não, o amor a Deus e ao seu próximo. Santa Joana de Chantal diz que se isso foi observado, produzirá uma simplicidade pura que nos tornará calorosos e amigáveis com todos.
     O grande dom da simplicidade é a clareza com que você vê a vida. As pessoas simples têm uma base forte de fé que ajuda a tomar decisões: "Por essa ação mostro o meu amor a Deus?"
     Nisto eles conseguem o poder e a promessa de realizar mesmo o mais comum e as ações aparentemente insignificantes da civilidade, gentileza e caridade. Resumindo, a simplicidade é como ter uma navalha afiada de conhecimento não só daquilo que alguém realiza, mas do porque está fazendo.
     Oh, santa simplicidade! Nós aceitamos de bom grado a ignomínia e o poder de sermos pessoas simples num mundo complexo. O que fazemos é ampliar ou diminuir o que fazemos. Lembre-se: "Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus..." no mundo, no deles mesmos e no dos outros.

Para refletir

1. Por que eu faço o que eu sou está fazendo?
2. Quando, durante o dia tomo alguns minutos para fazer uma "simples verificação" das minhas ações?
3. O amor de Deus é uma motivação para minhas ações e decisões? ou é algo mais?
4. Como minha vida poderia se beneficiar ao simplificar minhas motivações?
5. A conversa é outra maneira de praticar a simplicidade. Sou sincero e honesto quando falo com os outros?
6. Existem coisas na minha vida que substituem a minha necessidade de Deus? Como poderia simplificar minha vida concreta?

Para rezar:

“Meu Deus, eu te entrego esta ação. Concede-me a graça de realizá-la da melhor maneira possível aos teus olhos. Desde já te ofereço todo bem que eu possa fazer. Que eu aceite qualquer dificuldade que possa encontrar no meu caminho.”

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Domingo da Assunção da Virgem Maria - 18 de agosto de 2013


Perspectiva Salesiana

Nossa reflexão salesiana para este domingo, festa da Assunção, foi tirada em sua totalidade do Tratado do Amor de Deus, Livro 7, capítulo 14, de São Francisco de Sales.
"Eu não afirmo, Teótimo, que na alma da Virgem Santíssima não houvesse duas correntes e, por consequência, dois desejos: um conforme ao espírito e à razão superior, outro, segundo os sentidos e a razão inferior, de modo que podia sentir repugnâncias e oposições entre os dois; o mesmo se deu até em Nosso Senhor, seu divino Filho. Mas e que eu digo é que nesta Mãe celeste, todos os afetos estavam tão bem dispostos e ordenados que o divino amor exercia nela o seu império e domínio com toda a suavidade, sem que a perturbassem desencontrados desejos e apetites, nem oposições de sentimentos. Nem as revoltas do apetite natural, nem os movimentos dos sentidos atingiram jamais em Maria o caráter de pecado venial que fosse; pelo contrário, tudo redundava santa e fielmente em serviço do amor divino pelo exercício de outras virtudes, cuja prática, ordinariamente, é para nós cheia de dificuldades, repugnâncias e contradições".
 "O ímã, como toda a gente sabe, atrai a si o ferro, em virtude duma propriedade que tem, digna de admiração; no entanto há cinco coisas que impedem essa operação: 1ª - a grande distância; 2ª - se se interpuser um diamante; 3ª - se o ferro estiver engordurado; 4ª - se o esfregarem com alho; 5ª - se o ferro estiver muito pesado".
"Ora o nosso coração foi feito para Deus, que o acarinha de contínuo e não deixa de derramar nele os atrativos do seu celeste amor; mas cinco coisas impedem também que se efetue esta atração: 1ª - o pecado, que nos afasta de Deus; 2ª - o amor às riquezas; 3ª - os prazeres sensuais; 4ª - o orgulho e a vaidade; 5ª - o amor próprio, com todo o seu cortejo de paixões desenfreadas e que em nós atingem um peso esmagador".
"Ora, nenhum destes impedimentos pôde jamais ter lugar no coração da Santíssima Virgem: 1º - sempre preservada de todo o pecado; 2º - sempre pobre no seu coração; 3º sempre puríssima; 4º - sempre humilde; 56º - sempre dominadora de todas as paixões e isenta de rebelião que o amor próprio opõe ao amor de Deus. É por isso que, assim como o ferro, desembaraçado de todos os obstáculos e aliviado do próprio peso, seria atraido forte mas docemente para o imã, de modo que a atração seria tanto mais forte quanto mais perto se encontrassem um do outro, assim também a Mãe Santíssima, não tendo em si nada que obstasse à operação do divino amor do seu Filho, unia-se a Ele numa união incomparável em doces, suaves e naturais êxtases. Nestas a parte sensível deixava de ter o seu quinhão, sem, contudo, prejudicar a união do espírito; nem a aplicação do seu espírito provocava grande desvio dos sentidos."
"Foi pois, a morte da Virgem a mais doce que pode imaginar-se; atraída por Jesus com o suave aroma de seus perfumes, lançou-se amorosamente, enlevada na fragrância suavíssima desses aromas, no seio da bondade do seu Filho. E posto que esta santa alma amasse com extremos de ternura o seu santíssimo, puríssimo e amabilíssimo corpo, deixou-o todavia sem custo nem resistência alguma... o amor dera aos pés da cruz a esta divina esposa as supremas dores da morte; justo era que no fim de sua existência lhe concedesse as soberanas delícias do amor."

Padre Michael S. Murray, OSFS é diretor sênior da De Sales Centro de Espiritualidade. 
Tradução: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB


DOS ESCRITOS DE SÃO FRANCISCO DE SALES


15 de agosto marca a celebração da festa da Assunção de Maria, o momento em que ela é elevada às alturas. São Francisco de Sales observa que, com sua sinceridade e sua plena confiança na vontade de Deus, Maria contribuiu para mudar a face da terra:
... Como o amor de uma mãe é, de todos os tipos de amor, o mais intenso porque ele é um amor incansável e insaciável, como foi no coração de uma mãe como ela, no coração de um filho como ele? (TLG 03:08 183) 
... Mesmo esta Virgem santa sucumbiu ao sono... sim... esta celeste Rainha nunca dormia, exceto por amor. Ela permitiu que seu corpo sagrado descansasse, apenas para recuperar suas forças e poder servir melhor a Deus. Este é, sem dúvida, um ato sublime da caridade. Como disse o grande Santo Agostinho, "a caridade impõe a obrigação de amar os nossos corpos adequadamente, uma vez que estes são essenciais para a realização de boas obras, fazem parte do nosso ser, e também compartilharão a felicidade eterna. Certamente, o cristão deve amar seu corpo como a imagem da encarnação do Salvador, já que nós somos descendentes de uma mesma linhagem, e, consequentemente, pertencemos a ele no parentesco e sangue. (TLG 03:08 183) 
Quanto à Santíssima Virgem, por Deus! Com que devoção deve ter amado seu corpo virginal, não só porque o corpo era gentil, humilde, puro, obediente ao amor sagrado, porque era totalmente ungido de mil maneiras sagradas com um bálsamo perfumado, mas também porque era a fonte da vida do corpo do nosso Salvador, e pertencia a ele da forma mais estrita e com uma intimidade incomparável. Por esta razão, quando ela deu a seu corpo angelical um descanso, através do sono, costumava dizer: "Descanse agora, Arca da Aliança, veleiro da santidade, o trono do Altíssimo.  Descansar por um pouco e, assim, suave e silenciosamente, mais uma vez recuperou a sua força."( 03:08 TLG 184)
Que conversas teve com seu filho amado! Que doce recompensa terá recebido em todos os sentidos! (TLG 185 03:08) 
Por que deveríamos admirá-la, exceto ela, por quem e para quem Deus deu mais graça do que deu, e nunca dará ao resto de suas criaturas? (03:08, 185) 
Quando nossa mente se eleva acima da luz natural da razão, e começa a vislumbrar a verdade sagrada da fé.... Que alegria resulta! A alma se derrete com prazer ao ouvir a voz do esposo celeste, já que o encontra mais doce que o mel e delicioso de todas as ciências humanas. Deus deixou a sua marca, os sinais da sua passagem, as suas pegadas, plasmadas em tudo o que foi criado. É por isso que se basearmos nossa compreensão da majestade divina no que podemos ver através das criaturas, parece que só podemos vislumbrar seus pés. Em comparação, se observarmos por meio da fé, vamos ver a própria face da majestade divina. (TLG 03:09, 187) 
Purifiquemos todas as nossas intenções tanto quanto pudermos. Consideremos todos os motivos possíveis para o quais devemos realizar o trabalho confiado a nós, para que possamos escolher como um amor sagrado o amor mais excelente de todos. Irriguemos todos os outros amores com o amor sagrado, para que possamos transformá-los e que se convertam em motivos dispostos, aprovados, amados e queridos por Deus (TLG 11:14, 237). 
... Certamente no momento da Assunção da Santa Mãe, o Salvador e todos os anjos se alegraram... e esta não foi, por acaso a mais bela e magnífica de todas as chegadas que o céu já viu, superada apenas pelo de seu Filho? Ela vem do deserto como uma coluna de fumaça, carregada de mirra, incenso, levando o perfume exótico de cada partícula (Fiorelli, Sermões 2:16). 
Devem saber que, no que diz respeito às boas obras, nesta vida ninguém começou a trabalhar com elas tão cedo, nem perseverou tão diligentemente, como o fez Nossa Senhora. Nós demoramos muito, e até mesmo, se fizermos boas obras muitas vezes as desperdiçamos por causa do pecado e da nossa inconsistência. É por isso que a soma de nossa boa quantidade de nossas boas obras não sobe muito... e se por meio da penitência retornamos a graça, não percebemos que podemos gerenciar nossos assuntos de uma forma ruim, pois perdemos muito tempo (Sermões 2:17). 
O pecado venial mancha nossas obras, retarda nosso progresso e impede o nosso progresso. Só nossa santa senhora estava cheia de graça, desde a concepção (Sermões, 02:17) 
... O prazer a transborda, como neste mundo tinha sido tão rica em boas obras e trabalhos! Foi elevada à mais alta glória dos santos (Sermões, 02:17) 
... Deus, através da Sua Divina Providência, com a determinação de estabelecer o mundo espiritual da sua Igreja, colocou sobre esta, como abóboda divina do Céu, dois grandes luminares: uma luz muito brilhante, a outra mais suave. A mais brilhante é o Seu Filho Jesus Cristo... a fonte de toda a glória, o verdadeiro Sol de Justiça. A luz mais tênue é a Santa Mãe de seu grande filho... (Sermões, 02:02) 
... Ele iluminou o povo da Igreja com a luz de seus milagres, com seu exemplo, seus ensinamentos e suas santas palavras!... (Sermões 02:03) 
As cegonhas demonstram uma devoção filial por seus pais e mães. Quando os pais envelhecem... e com a dureza das estações e do tempo, são forçados a migrar para buscar refúgio em um lugar mais quente, os jovens levam seus pais, assumindo suas cargas, para, de alguma forma possam corresponder aos benefícios recebidos deles durante a reprodução. Nosso Senhor teve o seu corpo do corpo de sua Mãe. Ela o levou por muito tempo em seu ventre sagrado e em seus castos braços... Senhor, Tu ordenastes que os filhos ajudassem os pais na velhice. Esta lei está tão arraigada na natureza que até as cegonhas a cumprem... Que filho, se possível, não elevaria sua mãe para o paraíso após a morte?  A Mãe de Deus morreu por amor, e o amor de seu Filho a ressuscitou. 
... Devemos limpar nossas obras e nossos afetos para poder purificá-los, moldá-los e ajustá-los de acordo com a lei do Evangelho. Se fizermos isso, não podemos comprometer-nos com obrigações nem sacrifícios, e muito menos podemos ser salvos a menos que acreditemos [Mlk16: 16] na doutrina cristã, e que nos eduquemos de acordo com ela. É assim que aprendemos quais são coisas que devemos crer, o que devemos pedir e o que podemos esperar (Sermões 2: 18).
Toda a sua perfeição, todas as suas virtudes, toda a sua felicidade, são referência, consagradas e dedicadas a glória de Seu Filho, que é sua fonte, seu autor, que deu os toques finais [Heb 0:02 Douay.].... Tudo volta a este ponto (Sermões 2: 18). 
Ao invés disso, a honra concedida a Mãe, em referência ao Filho, faz com que a glória da Sua Misericórdia seja magnífica e ilustre (Sermões 2:190).
Certamente chegará um dia em que ressuscitaremos dos mortos, e esses corpos mortais que temos agora, sujeitos à corrupção, serão imortais [1Co 15:51-54.], completamente espirituais, e reconstruídos como o de Nosso Senhor [Phil.3: 21]. (Sermões 2:119) 
O Filho, que ao chegar ao mundo recebeu Seu corpo e Sua carne de sua Mãe, não queria que Ela ficasse aqui embaixo, nem no corpo ou na alma. Pouco tempo depois que ela pagou a sentença universal da morte, Ele mesmo se encarregou de levá-la para o reino de seu santo Paraíso. A Igreja é testemunha deste fato e o chama de festa da "Assunção", e baseia-se na mesma tradição pela qual se assegura a igreja sobre a morte de Maria e sua ressurreição (Sermões, 2:15). 
Nosso Senhor recebeu Seu corpo do corpo de sua mãe. Ela o levou por muito tempo em seu ventre sagrado, e o levou em seus castos braços, quando, por causa da perseguição, foi necessário migrar para o Egito (Sermões 2:15). 

(Adaptado a partir dos escritos de São Francisco de Sales) 

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Perspectivas Salesianas 19 - Ganhar e ganhar...uma proposta de vida






















Stephen R. Covey em seu livro Nacional best-seller (Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes) lembra-nos: "Se você é presidente ou porteiro, no momento que der o passo da independência para a interdependência, seja do tamanho que for, estará pisando numa área de liderança e o modo da liderança eficaz é: "ganhar-ganhar."
O autor sugere que este marco não é uma técnica, mas um modo de vida que constantemente busca o benefício mútuo em todas as interações humanas.
Para muitos na nossa cultura contemporânea, esta abordagem é uma filosofia difícil de ser acreditada. A maioria das pessoas tende a pensar em termos de um mundo dividido em dois grupos: vencedores e vencidos, ricos e pobres. Numa frase vista recentemente num para-choque e dirigido justamente à família se lê: "Se não podes correr com os cães grandes, é melhor ficar na varanda". A Humanidade desde Caim e Abel parece que traduziu o conceito de 'relações' em termos de 'aceito' e 'rejeito', por exemplo: vencedores e perdedores.
O trabalho espiritual não é isento de luta. Basta dar uma olhada nos comensais ao redor da mesa da Páscoa. Na noite em que Jesus se deu aos seus discípulos como Pão da Vida e Cálice da salvação, os apóstolos, antes que fossem interrompidos bruscamente pelo Senhor, estavam discutindo quem era o melhor entre eles. Stephen Covey  tem razão quando diz que o enfoque de ganhar e perder na vida é, seriamente, imperfeito.
Na verdade, quatro séculos antes, outro senhor muito perspicaz aconselhou: "Seja justo em todas as suas ações, sempre se coloque no lugar do seu vizinho e coloque o seu vizinho no seu. Então você poderá julgar de forma justa. Imagine que você é o vendedor no momento da compra e o comprador quando você vende, e aí sim poderá comprar e vender de modo justo".
O autor deste sentimento, São Francisco de Sales em sua abordagem espiritual para a vida, lembra que cada um de nós foi criado à imagem e semelhança de Deus e a medida do nosso amor ao Criador reflete-se na perfeição do amor ao nosso próximo.
Alguns pensam que tudo o que estiver fora do seu próprio interesse não é importante. O oposto é verdadeiro. Não lutar por objetivos que beneficiem a todos, é olhar para o segundo melhor lugar. Num mundo que está crescendo intensa e interdependentemente, num ambiente onde declaramo-nos ser filhos de Deus, ganhar e ganhar é a única opção viável.
Covey destaca que nas relações (como por ex. o casamento) se as duas pessoas não estão ganhando, então ambas estão perdendo. Na mesma linha, São Francisco nos adverte que um indivíduo nunca está mais morto do que quando ele ou ela vivem só para si mesmos.
João Paulo II desafiou em seus escritos sobre a solidariedade a abraçar uma atitude que incentive uma firme determinação de comprometer-nos na realização do bem comum, porque realmente somos responsáveis ​​uns pelos outros. Ele nos desafia num sentido real a ganhar e ganhar de verdade a vida e os relacionamentos. Jesus morreu para cada um dos nós pudéssemos ganhar o céu.
De nossa parte, façamos o melhor para tornar esta promessa uma realidade.

Para refletir:

1. Nos meus relacionamentos, quantas vezes resolvo problemas ou faço sugestões que me colocam                   no plano de vencedor e os outros como perdedores?
2. Vejo o meu próximo como Jesus?
3. Minhas atitudes com os outros promovem uma atitude condescendente?
4. Dou autoridade aos outros quando eu estou num trabalho conjunto?
5.Trabalhando e relacionando-me com os outros, considero importante os conceitos de                                  "cooperação","Reciprocidade", "interdependência" e "trabalho em equipe" ou me considero acima                 dos  outros?
6. Considerando os projetos futuros, aproveito a oportunidade de me conectar de tal modo que                      tragam a união entre as pessoas e deem força à organização, comunidade ou grupo?

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Reflexão Salesiana para o 19º Domingo do Tempo Comum - 11 agosto de 2013


Destaque: "A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem."
  
Perspectiva Salesiana

Como seguidores de Jesus, somos chamados a viver uma vida de fé. Cada dia, cada hora, cada momento de nossas vidas deve ser cheia de oportunidades de fé para crescer no nosso amor e em nossa compreensão de Deus, de nós mesmos e dos outros.
As leituras deste domingo nos questionam: o que exatamente é a fé? 
São Francisco de Sales fez a distinção entre fé viva e fé morta: "Examinem seus trabalhos e ações. Quando não existem sinais de vida, consideramos uma pessoa como morta. As árvores no inverno parecem estar mortas, mas, no tempo certo produzem folhas, flores e frutas. Da mesma forma, mesmo quando a fé morta possa parecer estar viva, apenas esta última poderá dar frutos de fé em todas as estações. A fé viva é excelente porque estando ligada ao amor e sendo vivificada pelo amor, é forte, firme e constante."
As pessoas que estão cheias de fé, sugere Francisco de Sales, estão vivendo uma vida vigilante, forte, prudente e atenta ao aceitarem a verdade de que Deus é amor, que elas foram criadas, redimidas e inspiradas no amor e que elas são chamadas a partilhar esse amor para os outros. Pessoas que estão cheias de fé são pessoas de ação, de coragem e de perseverança, sempre seguem em frente, mesmo em relação às coisas que elas não podem ver.
Comparem esse poder e esta promessa com a alternativa: a decisão de viver com medo.
As Escrituras de hoje nos fazem pensar: o que é exatamente o medo? Medo: "estado afetivo suscitado pela consciência do perigo ou que, ao contrário, suscita essa consciência; temor, ansiedade irracional ou fundamentada; receio; apreensão em relação a (algo desagradável)". Assim define o dicionário Houaiss.
As pessoas que vivem no medo não confiam na verdade de que Deus é amor. Não se atrevem a acreditar que foram criadas e sustentadas por este amor. E mesmo assim, não se arriscam a partilhar esse amor com os outros. As pessoas que vivem com medo são pessoas que não agem, que estão sempre desanimadas e tímidas. Essas pessoas sempre desejam poder dar volta e regressar. Elas têm medo de olhar para frente. No sentido real, as pessoas medrosas estão mortas, desde já.
Não se enganem: as pessoas de fé não estão imunes ao medo. Elas temem sua própria infidelidade. Elas temem as suas próprias fraquezas. Elas temem seus próprios pecados.  Da mesma maneira, às vezes, elas temem as infidelidades, as fraquezas e os pecados dos outros. Mas, no final, as pessoas de fé optam por não viver no medo, mas para viver na verdade de quem é Deus, que Deus as chamou para existir e o que Deus as desafia a ser na vida dos seus irmãos e irmãs. 
As pessoas de fé são seres humanos que tentam ser plenamente humanas. Mesmo sabendo que o medo faz parte da vida, as pessoas que tem fé sabem que existe muito mais na vida - muito mais - do que o medo. 

Padre Michael S. Murray, OSFS  - Diretor do Centro de Espiritualidade de Sales. 
Tradução e adaptação: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB

Dos escritos de São Francisco de Sales

As leituras de hoje nos chamam a sermos fiéis servos de nosso Senhor. Este é um tema recorrente nos escritos de São Francisco de Sales: 
As Escrituras nos dizem que devemos nos agarrar firmemente naquilo que temos. Ainda assim, somos como os corais que facilmente se dobram pelo movimento das correntes oceânicas. Como ainda vivemos no mar deste mundo, estamos propensos a nos dobrar de um lado para o outro. De um lado para o amor divino, e do outro lado para ceder à tentação dos bens que, embora vazios, parecem ser benéficos. 
Estes supostos bens são como as raposas encarregadas de destruir nossa vinha. Ao contrário, o amor divino nos impele a fazer do nosso coração um lugar fértil, através das boas obras. Portanto, devemos usar as nossas mentes na prática do amor sagrado, de modo que estes bens pressupostos não exerçam sua influência real sobre nós. A vontade de Deus não é nos proteger dos falsos bens. Ao contrário, Ele deseja que pratiquemos plenamente o amor sagrado, resistindo a tentação que eles representam. O que Ele quer é que, combatendo, obtenhamos uma vitória, e que por meio de uma vitória obtenhamos o triunfo.
Sempre haverá bens falsos, como a riqueza e as honras, que despertam a avareza em nós. Se mantivermos nossa fé centrada na Palavra de Deus ela distinguirá entre os bens verdadeiros para os quais trabalhamos, e os falsos que devemos rejeitar. Nossa fé nos fará ativar um alarme diante da aparição de um falso bem, por mais atraente que possa parecer. Imediatamente o amor divino recusará esta falsidade, porque nossa fé nos permite ver as coisas que são verdadeiramente eternas. 
Continuemos pertencendo a Deus, mesmo em meio às muitas ocupações que envolvem a diversidade das coisas terrenas com as quais temos de lidar. Que melhor oportunidade para dar testemunho da nossa fidelidade nos momentos em que tudo dá errado?  As dificuldades nos oferecem a oportunidade de colocar em prática nossas virtudes e nossa confiança em Deus, que deseja nos ajudar. Basta apenas pedir sua ajuda. Quão felizes nós seremos se andarmos na vida e nos colocarmos nos braços de Nosso Senhor apenas para andar e fazer todo o possível, para colocar em prática as virtudes e as boas obras, sempre segurando nas mãos de nosso Salvador! 

(Adaptado a partir dos escritos de São Francisco de Sales) 

sábado, 3 de agosto de 2013

Reflexão Salesiana para o XVIII Domingo do Tempo Comum - 04 de agosto de 2013


Destaque: "Esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo"

Perspectiva Salesiana

As leituras bíblicas de hoje nos ajudam a refletir sobre como vivemos nossa vida de cristãos batizados e discípulos missionários de Jesus.
 São Paulo nos lembra de que no nosso batismo nos foi dada uma parte da vida de Jesus. Somos chamados a viver de uma nova forma nossa vida diária, uma forma que é influenciada pela vida, morte e ressurreição de Jesus. Lembra que a vida é um dom de Deus. A única coisa que dá sentido a nossa vida na terra é aspirar às coisas celestes e não as terrestres, pois elas nos conduzem à vida eterna com Deus. 
Com esta ideia na mente, podemos apreciar o ponto de vista do Eclesiastes na primeira leitura de hoje: "Todas as coisas nesta vida são vaidade" - um simples sopro, um vapor transitório e, finalmente, um vazio. Todo o trabalho duro e preocupante que consiste muitas vezes em acumular coisas aqui na terra, um dia passará e, como diz a leitura, será deixado em herança a outro que em nada colaborou.  Jesus lembra que a nossa vida não consiste na abundância de bens.
Quando nos encontrarmos com Deus ele não irá perguntar quanto acumulamos, mas o quanto vivenciamos o amor. E a nossa vontade de amar decorre da nova vida que nos foi dada no batismo. Se partilhamos a vida de Deus, seremos capazes de amar como Deus ama. Se escolhermos viver e amar assim, viveremos diferente de outros, cuja única preocupação neste mundo é ter tudo. Para viver e amar como Deus, temos que aprender a disciplinar as nossas escolhas. A graça de Deus irá nos levar a viver acima dos nossos maus desejos, e fazer morrer em nós a imoralidade, impureza, paixão, cobiça e idolatria.
Que possamos nos renovar dia a dia à imagem e semelhança do nosso Criador. Então, a nossa vida diária vai nos ajudar a crescer como pessoas ricas aos olhos de Deus.

 P. Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro de Espiritualidade de Sales. 
Tradução e adaptação: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB

Dos escritos de São Francisco de Sales

No Evangelho de hoje, Jesus lembra como é ruim colocar nosso sucesso e nosso prazer no bens materiais, tornando-os prioridades em nossas vidas.
São Francisco de Sales nos ensina a redirecionar essas emoções, para que "possamos enriquecer-nos com as coisas que realmente importam para Deus":
Às vezes parece que nunca temos o suficiente para satisfazer nossos desejos. Inclusive, estando conscientes de que as riquezas e posses terrenas só representam tentações poderosas que gradualmente vão dilapidando nosso coração, se nos apegarmos excessivamente a elas.  Além disso, esgotamos nossa energia para poder preservar e aumentar o nosso capital e nossos bens materiais. Mesmo assim, quero incutir em seus corações a riqueza juntamente com a pobreza. Tome cuidado ao aumentar sua riqueza e recursos, mas faça de modo justo, adequado e com caridade. 
Nada nos fará prosperar mais nesta vida do que dar esmolas aos pobres. Deus nos recompensará, não só no outro mundo, mas também neste. Nossos bens não são nossos. Eles são um presente de Deus, que deseja que os cultivemos e que tornemos produtivos e rentáveis para o reino de Deus entre nós. 
Quando nós trabalhamos para ter um lucro na terra, devemos nos reger pelo amor pacífico de Deus, calmamente, afavelmente e agradavelmente. Este ato gentil e simples leva ao amor divino. O amor divino nunca irá dizer que muito já é suficiente. O amor sagrado deseja ter a coragem para fazer progressos no caminho da verdadeira felicidade. Vocês podem possuir riquezas materiais sem se envenenar com elas se deixarem em  suas casas as suas carteiras, e não seus corações. É desta forma que viveremos com humildade espiritual no meio da riqueza. Concluindo, em vez de se deixar cativar por bens materiais, deixe que seu espírito humano, que está caminhando para o céu, migre para a bondade de Deus que cura e dá sabedoria ao coração humano quando se abre para receber o amor divino.

(Adaptado a partir dos escritos de São Francisco de Sales)