Uvas na exposição da festa da Uva em Caxias do Sul, 2010.
Na leitura do Evangelho de hoje Jesus nos diz que o Reino de
Deus será concedido para aqueles que trilham os caminhos do Senhor, o caminho
da verdade e do amor sagrado. São Francisco de Sales aprofunda um pouco mais
este tema quando nos diz:
Que felizes seremos se amamos esta divina Bondade que dispôs
tantos favores e bênçãos para nós! Deus converteu-se num de nós para que
pudéssemos ser como Ele. Nosso Salvador nos deu Sua vida, não somente para curarmos
os enfermos, para realizarmos milagres e para ensinar-nos o que devemos fazer
para poder ter uma vida boa e cheia de saúde. Ele também dedicou sua vida
inteira moldando Sua própria cruz, suportando os insultos de todos aqueles aos
quais fez tanto bem. Ele escolheu dar Sua vida pelo Seu povo, que mesmo assim o
rechaçou.
Viver em nosso mundo e viver contra os valores culturais que
enfatizam a necessidade de possuir riquezas materiais, que exaltam a ambição
egoísta e o poder, equivale a nadar contra a corrente do rio desta vida. No
entanto, nós podemos desfazer-nos de todas estas paixões desordenadas se
colocarmos em prática a gentileza interior, a humildade, a simplicidade e,
acima de tudo, o amor sagrado. Quando desejamos tudo aquilo que mora em nós e
que não provém de Deus, estamos fazendo um esforço para levar uma autentica
vida humana de verdade e amor sagrado. Dado que ninguém pode alcançar uma vida
assim sem a ajuda de Deus, esta vida requer que continuamente nos separemos de
nós mesmos para receber a bondade que Ele nos oferece. Aqueles que escolhem o
amor divino de Deus vivem acima dos desejos egoístas: já não vivem por eles
mesmos, mas vivem em e pelo Salvador.
As abelhas, primeiro são larvas, mas abandonam este modo de
ser para poder converter-se em abelhas voadoras. Nós fazemos o mesmo. Se
levarmos uma vida de graça, conseguiremos uma nova existência humana mais
sublime que a que tínhamos antes que aceitássemos o amor de Deus. Esta nova
vida de Amor celestial anima e revive nossa alma. Então, com a ajuda de Deus,
adquiriremos a capacidade de dedicar nossa existência a caminhar nas trilhas do
amor divino. Como os filhos mais queridos de Deus, poderemos colher generosamente
os frutos da verdade e do amor sagrado que se encontram no Reino de Deus.
(Adaptação dos
escritos de São Francisco de Sales, em especial os Sermões, Edições L.
Fiorelli)
Perspectiva Salesiana
Destaque: “Não vos inquieteis com coisa alguma, mas
apresentai as vossas necessidades a Deus, em oração e súplicas, acompanhadas de
ação de graças. E a paz de Deus, que ultrapassa todo entendimento, guardará
vossos corações e pensamentos em Cristo Jesus”.
A imagem da vinha é empregada na primeira leitura e no
evangelho de hoje. Tanto numa como noutro, as coisas na vinha não deram os
resultados previstos pelos donos: parece que as pessoas responsáveis das vinhas
não cumpriram com o que se esperava delas.
Quem é o dono da vinha? Deus, certamente. Quem é a
vinha? A vinha é o mundo no qual vivemos.
É o mundo das relações entre nós. É o mundo – como diz Francisco – o universo
em nós. Quem é o responsável pelo cuidado da vinha? Nós somos os
responsáveis... como indivíduos e como comunidade.
Nós sempre tentamos cumprir as expectativas que Deus tem a
nosso respeito. Como colaboradores de Deus e no plano contínuo da criação, da
redenção, da inspiração e da salvação de Deus, nós nem sempre colhemos as uvas
da vida de forma que produzam vida: coisas como o respeito, a honestidade, como
a pureza, como a decência ou a virtude que deveríamos ter. Tristemente, muitas
vezes utilizamos nossas energias para produzir uvas de cólera, coisas como
ciúmes, invejas, indiferença, ódio, violência e injustiça.
Esta é uma parte da nossa vida. Sabemos claramente que tipo
de vinhateiro Deus quer que cultive e que colha, mas o pecado, o medo e o
egoísmo muitas vezes não nos permitem produzir o tipo de frutas que dão vida.
Mesmo assim, tão trágica quanto possa ser esta realidade,
somente uma coisa pode torná-la ainda pior.
Sentir ansiedade quando pensamos nela.
Francisco de Sales escreveu: “com a exceção única do pecado,
a ansiedade é o maior mal que possa acontecer numa alma”. Por quê? “em vez de remover o mal, a ansiedade o incrementa
e envolve a alma numa grande angústia, numa grande aflição, somado a perda da
força e da coragem que fazem com que imaginemos o mal como algo incurável...
tudo isso é sumamente perigoso”. (IVD, IV, 11)
Devemos ser honestos. Necessitamos identificar aquelas áreas
de nossas vidas – nossos pensamentos, nossos sentimentos, nossas atitudes e
nossas ações – nas quais experimentamos dificuldade na hora de cultivar uma
colheita de paz, de justiça, de reconciliação e de amor. Mas, devemos fazer
isso sem ansiedade, porque a ansiedade debilita nossa habilidade de afastar-nos
do pecado e nos rouba a coragem que necessitamos para fazer o que é certo e
bom.
Por todos os meios devemos reconhecer a realidade do pecado
e dos defeitos em nossas vidas, mas também devemos dedicar mais nossas energias
a viver “de acordo com o que aprendemos e aceitamos... e assim, então, o Deus
da paz estará com vocês”.
Lutem cada dia, aspirem para conseguir a colheita do amor do
vinhateiro da vida... mas evitem a ansiedade neste processo.
Texto - P. Michael S. Murray, OSFS – Diretor do Centro
Espiritual de Sales
Tradução - P. Tarcizio Paulo Odelli, SDB
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