O Evangelho de hoje nos recorda que, se realmente valorizamos o fato de sermos discípulos de Jesus, devemos ser decididos, e nossa mente deve estar focada apenas em relação às coisas que nos levam ao caminho do amor a Deus e do amor aos nossos semelhantes. São Francisco de Sales diz que este trabalho requer uma reorientação de nossos afetos:
O amante verdadeiro não se deleita com quase nenhuma outra coisa que não seja o objeto do seu amor. Assim acontece com nossas amizades que não boas e excelentes. Estas amizades são inteiramente para Deus e de Deus. O amor e a amizade que temos para com Deus vai durar toda a eternidade, já que a sua ligação, que é sólida e permanente, é o amor divino.
Como resultado do nosso desejo de amar a Deus acima de todas as coisas, pouco a pouco vamos nos desprendendo de todos os afetos que são insignificantes, que não têm nenhum valor diante Dele, pois não há garantia de que vai durar para sempre. Além disso, sentir amor pelas coisas e amizades cujo núcleo não é o amor de Deus, só nos levam a um caminho vazio. Contudo, não podemos ficar muito tempo privados de qualquer tipo de afeto. Devemos aceitar os sentimentos que são dignos de nosso serviço ao amor de Deus. Se nos despojamos do nosso antigo amor por nossos pais, nosso país, nossa casa, nossos amigos e as coisas, temos que reiniciar o carinho por eles, mas uma nova maneira. Este afeto que sentiremos agora, não será para nosso próprio benefício, mas fará parte do nosso serviço para a glória de Deus.
O pescador tece uma rede forte e bem amarrada, para que ele possa flutuar sobre as ondas. Estando em seus ninhos, as aves são donas do oceano. Da mesma forma, mesmo que existam coisas transitórias que rodeiam nossos corações mantenhamo-nos sempre à tona, acima de tudo, para que assim possamos presidi-los. Nossos corações só devem estar abertos para o céu. Uma vez que deixamos tudo pelo amor de Deus, adquirimos a liberdade para pôr em prática as virtudes, de acordo com o amor divino. Amemos, pois a nossos queridos amigos, amemos nossas relações e nossas coisas, mas somente por meio do amor e amizade sagrada, que durará para a eternidade.
(Adaptado a partir dos escritos de São Francisco de Sales )
Destaque
“Com efeito, qual de vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro e calcula os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar?”
Perspectiva Salesiana
A vida pode ser tão frustrante, por vezes, sem torná-la pior, porque não tivemos a capacidade de olhar para frente. Quantas vezes tivemos que voltar para casa porque não fizemos a lista daquilo que precisávamos comprar? Quantas vezes corremos, no mesmo dia, até as lojas de material de construção porque simplesmente não gastamos tempo para considerar em primeiro lugar todos os materiais que tínhamos necessidade para realizar um projeto? Quantas férias ou quantas viagens foram infelizes porque não sentamos para considerar todas as coisas que deveríamos ter levado conosco?
Qualquer coisa que vale a pena ser feita, não importa quão simples ou complexa, vale a pena fazê-la bem. E o primeiro passo para fazer algo bem feito, é planejar com antecedência.
Nós escutamos com clareza os ecos desta verdade na parábola do Evangelho de Lucas. Jesus chama a atenção de sua plateia dizendo que a primeira coisa que se deve fazer é determinar o que será necessário para realizar uma tarefa importante, antes de começar a trabalhar. Por seu lado, São Francisco de Sales recomenda: "Seja cuidadoso e atento a todas as questões que lhe são confiadas por Deus. Como Deus as confiou a você, Deus quer que você coloque nelas muita atenção.”
Claro, sabemos que a tradição salesiana diz-nos que não devemos ficar obcecados em fazer planos com antecedência até o ponto de ficarmos ansiosos ou compulsivos. No entanto, esta mesma tradição diz-nos que não devemos começar a fazer as coisas ou os projetos de uma forma perigosa e sem cuidado. A nossa própria experiência mostra claramente que quando deixamos de planejar, estamos planejando falhar com frequência.
Tomemos uma página da vida de Jesus. Antes de iniciar seu ministério público entrou no deserto, quando, sem dúvida, ele fez um inventário de todas as coisas necessárias para realizar o grande plano de Deus para com ele: a salvação da família humana. Jesus não começou o seu ministério de forma desordenada, ele não inventou as coisas à medida que avançava. Ele era decidido e era sábio. Antes de iniciar seu ministério a sério, considerou tudo o que precisaria - com o amor do Pai - para redimir toda a criação através de sua vida, seu amor, sua paixão, morte e ressurreição.
Deus nos deu o mais importante de todos os projetos: continuar a obra de Cristo na terra, para ser fonte de paz, justiça, reconciliação, verdade, esperança, carinho e amor de Deus para as outras pessoas. Tal como a torre no Evangelho de hoje, a realização deste objetivo pode ser coisa realmente muito difícil de fazer. Ainda assim, alguns de nós pensamos em anular quarenta dias no deserto para determinar o que precisamos para poder seguir a vontade de Deus e para ser o tipo de pessoas que Deus nos chamou a ser. Quando se supõe que devemos calcular o que precisamos para ser bem sucedidos, para sermos fieis em nossa busca por isso, o maior de todos os projetos?
Que tal se o fizéssemos nos primeiros minutos de cada dia?
Padre Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.
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