Neste domingo, ao preparar esta reflexão, pensei em Dom Bosco, apontando o crucifixo para Mamãe Margarida. Ela estava se queixando porque os meninos destruíam sua horta, correndo por cima dos canteiros e amassando as tenras plantinhas. Ele entendeu muito bem o que significava aquele geste do seu filho, mesmo que não dissesse nenhuma palavra. Se alguém nos machuca, devemos pensar constantemente em Jesus Cristo crucificado, abandonado, subjugado por todos os tipos de angústias. Devemos pensar em todas as pessoas cujas dificuldades são incomparavelmente maiores do que as que estamos experimentando.
Destaque: "Pai,
em tuas mãos entrego o meu espírito..."
Perspectiva
Salesiana
A Paixão de
Jesus é, certamente, a descrição do último dia de sua vida na terra. Mas a
Paixão de Jesus é também algo que foi vivenciado ao longo de sua vida na terra,
todos os dias. Pois Ele teve paixão pela justiça. Ele teve paixão pela justiça
divina. Ele teve uma paixão para fazer o que é bom, correto e o que é certo.
Ele viveu uma paixão que nos desafia a espalhar estas ideias. Creio que podemos
traduzir a palavra "paixão" por zelo, ardor, sentimento, vida.
Em seu Tratado
do Amor de Deus (Livro 10, capítulo 16), São Francisco de Sales identifica três
níveis desta paixão: Nós podemos corrigir, censurar e reprimir os outros. Talvez
esta é a parte mais fácil de fazer, porque não exige daqueles que sentem paixão
por justiça que atuem de forma justa. Obviamente, este tipo de zelo é muito
atraente porque está focado no que os outros estão fazendo. Por outro lado,
pode se tornar um caso clássico de "faça o que eu digo, não o que eu
faço" porque não exige que vivamos de forma justa.
Nós
demonstramos paixão com "atos de grande virtude para podermos dar bons exemplos
e sugerir remédios contra o mal, animando e incentivando os outros a
implementá-los, e fazendo o bem em vez do mal, que deve ser erradicado. "Isto
é verdade para todos nós", comenta Sales, "mas nem todos esta estamos
dispostos a fazê-lo! É verdade: isto requer trabalho e integridade de nossa
parte. Nós não podemos apenas falar por falar. Devemos também agir.
"Finalmente,
o exercício mais excelente da paixão consiste em sofrer e suportar muitas
coisas, a fim de prevenir e impedir o mal. Quase ninguém quer exercitar-se neste
tipo de paixão."
Esta paixão está
disposta a arriscar tudo pela justiça e pelo direito, inclusive até com a própria
vida.
"A paixão
de Nosso Senhor aconteceu, principalmente, no momento de sua morte na cruz, com
a qual ele destruiu a morte e os pecados da humanidade", escreveu São
Francisco de Sales. Imitar o zelo de Jesus pela justiça é "a perfeição da
coragem e um fervor incrível de espírito."
Jesus
certamente desafiou a injustiça dos outros. Jesus estava disposto a promover a
justiça por meio do seu próprio exemplo. O mais importante é que Jesus estava
disposto a ir até onde sua paixão pela justiça o levasse, mesmo que isso lhe
custasse a própria vida.
O domingo da Paixão,
ou melhor, todos os dias, deve fazer-nos pensar: Até que ponto estamos
dispostos a ir, por causa de nossa paixão pela justiça?
P. Michael S.
Murray, OSFS - Diretor geral do Centro de Espiritualidade de Sales.
Tradução e
adaptação: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB
Dos escritos de
São Francisco de Sales
No Evangelho de
hoje experimentamos Jesus como o "servo sofredor". O sofrimento de
Jesus, culminando na sua morte traz a vida eterna para a família humana. São
Francisco de Sales oferece esses pensamentos sobre o assunto: "A razão
mais poderosa para a morte de Jesus, é porque, através dela o amor de Deus consegue
preencher o espírito humano. Da morte surgiu a vida, o paradoxo maravilhoso que
o mundo não entende. Ele não sofreu apenas uma morte cruel para trazer-nos o
amor de Deus, mas também sofreu o medo, o terror, o abandono e a depressão, a
um grau que ninguém nunca viu ou nunca irá experimentar. Ele fez isso para que
nós também pudéssemos perseverar na nossa busca do amor divino."
Os sentimentos
humanos que Jesus experimentou, deixaram seu coração totalmente exposto à dor e
ao sofrimento. É por isso que o ouvimos gritar: "Pai, por que me abandonaste?"
O monte Calvário é o monte do amor, ali se mesclam a morte, a vida e o amor.
Foi por amor que Jesus escolheu morrer na cruz, para que pudéssemos viver como
filhos de Deus, para que pudéssemos possuir o amor eterno. A sabedoria cristã
consiste em saber escolher corretamente. Portanto, devemos descartar todos estes
amores e desejos egoístas que existem em nós para podermos ser preenchidos pelo
amor de Deus, que dá origem a uma nova vida em nós.
Devemos dedicar
cada momento de nossas vidas ao amor de Deus, materializado na morte de nosso
Salvador. Se alguém nos machuca, devemos pensar constantemente em Jesus Cristo
crucificado, abandonado, subjugado por todos os tipos de angústias. Devemos pensar
em todas as pessoas cujas dificuldades são incomparavelmente maiores do que as
que estamos experimentando. Então, devemos repetir: as minhas dificuldades não
são nada! Mais parecem rosas, se comparadas com as das pessoas sem ajuda,
apoio, sem qualquer assistência, que vivem uma morte contínua, suportando a
carga das aflições que são infinitamente maiores do que as minhas. Quando tudo
nos falha, quando a nossa desolação chegar ao seu ponto alto, repitamos as últimas
palavras pronunciadas por Jesus na cruz: "Nas tuas mãos entrego o meu
espírito".
Como seremos
felizes se confiarmos inteiramente em Deus!
Se em tudo
buscarmos dar glórias a Deus, tudo o que fizermos será bem feito.
(Adaptado dos
escritos de São Francisco de Sales)
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