sexta-feira, 22 de março de 2013

Reflexão Salesiana para o Domingo de Ramos e da Paixão - 24 de março de 2013



Neste domingo, ao preparar esta reflexão, pensei em Dom Bosco, apontando o crucifixo para Mamãe Margarida. Ela estava se queixando porque os meninos destruíam sua horta, correndo por cima dos canteiros e amassando as tenras plantinhas. Ele entendeu muito bem o que significava aquele geste do seu filho, mesmo que não dissesse nenhuma palavra. Se alguém nos machuca, devemos pensar constantemente em Jesus Cristo crucificado, abandonado, subjugado por todos os tipos de angústias. Devemos pensar em todas as pessoas cujas dificuldades são incomparavelmente maiores do que as que estamos experimentando.

Destaque: "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito..."

Perspectiva Salesiana

A Paixão de Jesus é, certamente, a descrição do último dia de sua vida na terra. Mas a Paixão de Jesus é também algo que foi vivenciado ao longo de sua vida na terra, todos os dias. Pois Ele teve paixão pela justiça. Ele teve paixão pela justiça divina. Ele teve uma paixão para fazer o que é bom, correto e o que é certo. Ele viveu uma paixão que nos desafia a espalhar estas ideias. Creio que podemos traduzir a palavra "paixão" por zelo, ardor, sentimento, vida.
Em seu Tratado do Amor de Deus (Livro 10, capítulo 16), São Francisco de Sales identifica três níveis desta paixão: Nós podemos corrigir, censurar e reprimir os outros. Talvez esta é a parte mais fácil de fazer, porque não exige daqueles que sentem paixão por justiça que atuem de forma justa. Obviamente, este tipo de zelo é muito atraente porque está focado no que os outros estão fazendo. Por outro lado, pode se tornar um caso clássico de "faça o que eu digo, não o que eu faço" porque não exige que vivamos de forma justa.
Nós demonstramos paixão com "atos de grande virtude para podermos dar bons exemplos e sugerir remédios contra o mal, animando e incentivando os outros a implementá-los, e fazendo o bem em vez do mal, que deve ser erradicado. "Isto é verdade para todos nós", comenta Sales, "mas nem todos esta estamos dispostos a fazê-lo! É verdade: isto requer trabalho e integridade de nossa parte. Nós não podemos apenas falar por falar. Devemos também agir.
"Finalmente, o exercício mais excelente da paixão consiste em sofrer e suportar muitas coisas, a fim de prevenir e impedir o mal. Quase ninguém quer exercitar-se neste tipo de paixão."
Esta paixão está disposta a arriscar tudo pela justiça e pelo direito, inclusive até com a própria vida.
"A paixão de Nosso Senhor aconteceu, principalmente, no momento de sua morte na cruz, com a qual ele destruiu a morte e os pecados da humanidade", escreveu São Francisco de Sales. Imitar o zelo de Jesus pela justiça é "a perfeição da coragem e um fervor incrível de espírito."
Jesus certamente desafiou a injustiça dos outros. Jesus estava disposto a promover a justiça por meio do seu próprio exemplo. O mais importante é que Jesus estava disposto a ir até onde sua paixão pela justiça o levasse, mesmo que isso lhe custasse a própria vida.
O domingo da Paixão, ou melhor, todos os dias, deve fazer-nos pensar: Até que ponto estamos dispostos a ir, por causa de nossa paixão pela justiça?

P. Michael S. Murray, OSFS - Diretor geral do Centro de Espiritualidade de Sales.
Tradução e adaptação: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB

Dos escritos de São Francisco de Sales

No Evangelho de hoje experimentamos Jesus como o "servo sofredor". O sofrimento de Jesus, culminando na sua morte traz a vida eterna para a família humana. São Francisco de Sales oferece esses pensamentos sobre o assunto: "A razão mais poderosa para a morte de Jesus, é porque, através dela o amor de Deus consegue preencher o espírito humano. Da morte surgiu a vida, o paradoxo maravilhoso que o mundo não entende. Ele não sofreu apenas uma morte cruel para trazer-nos o amor de Deus, mas também sofreu o medo, o terror, o abandono e a depressão, a um grau que ninguém nunca viu ou nunca irá experimentar. Ele fez isso para que nós também pudéssemos perseverar na nossa busca do amor divino."
Os sentimentos humanos que Jesus experimentou, deixaram seu coração totalmente exposto à dor e ao sofrimento. É por isso que o ouvimos gritar: "Pai, por que me abandonaste?" O monte Calvário é o monte do amor, ali se mesclam a morte, a vida e o amor. Foi por amor que Jesus escolheu morrer na cruz, para que pudéssemos viver como filhos de Deus, para que pudéssemos possuir o amor eterno. A sabedoria cristã consiste em saber escolher corretamente. Portanto, devemos descartar todos estes amores e desejos egoístas que existem em nós para podermos ser preenchidos pelo amor de Deus, que dá origem a uma nova vida em nós.
Devemos dedicar cada momento de nossas vidas ao amor de Deus, materializado na morte de nosso Salvador. Se alguém nos machuca, devemos pensar constantemente em Jesus Cristo crucificado, abandonado, subjugado por todos os tipos de angústias. Devemos pensar em todas as pessoas cujas dificuldades são incomparavelmente maiores do que as que estamos experimentando. Então, devemos repetir: as minhas dificuldades não são nada! Mais parecem rosas, se comparadas com as das pessoas sem ajuda, apoio, sem qualquer assistência, que vivem uma morte contínua, suportando a carga das aflições que são infinitamente maiores do que as minhas. Quando tudo nos falha, quando a nossa desolação chegar ao seu ponto alto, repitamos as últimas palavras pronunciadas por Jesus na cruz: "Nas tuas mãos entrego o meu espírito".
Como seremos felizes se confiarmos inteiramente em Deus!
Se em tudo buscarmos dar glórias a Deus, tudo o que fizermos será bem feito.

(Adaptado dos escritos de São Francisco de Sales)

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