sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Reflexão Salesiana para o 27º domingo do tempo comum – 2 de outubro de 2011

Uvas na exposição da festa da Uva em Caxias do Sul, 2010.

Na leitura do Evangelho de hoje Jesus nos diz que o Reino de Deus será concedido para aqueles que trilham os caminhos do Senhor, o caminho da verdade e do amor sagrado. São Francisco de Sales aprofunda um pouco mais este tema quando nos diz:

Que felizes seremos se amamos esta divina Bondade que dispôs tantos favores e bênçãos para nós! Deus converteu-se num de nós para que pudéssemos ser como Ele. Nosso Salvador nos deu Sua vida, não somente para curarmos os enfermos, para realizarmos milagres e para ensinar-nos o que devemos fazer para poder ter uma vida boa e cheia de saúde. Ele também dedicou sua vida inteira moldando Sua própria cruz, suportando os insultos de todos aqueles aos quais fez tanto bem. Ele escolheu dar Sua vida pelo Seu povo, que mesmo assim o rechaçou.

Viver em nosso mundo e viver contra os valores culturais que enfatizam a necessidade de possuir riquezas materiais, que exaltam a ambição egoísta e o poder, equivale a nadar contra a corrente do rio desta vida. No entanto, nós podemos desfazer-nos de todas estas paixões desordenadas se colocarmos em prática a gentileza interior, a humildade, a simplicidade e, acima de tudo, o amor sagrado. Quando desejamos tudo aquilo que mora em nós e que não provém de Deus, estamos fazendo um esforço para levar uma autentica vida humana de verdade e amor sagrado. Dado que ninguém pode alcançar uma vida assim sem a ajuda de Deus, esta vida requer que continuamente nos separemos de nós mesmos para receber a bondade que Ele nos oferece. Aqueles que escolhem o amor divino de Deus vivem acima dos desejos egoístas: já não vivem por eles mesmos, mas vivem em e pelo Salvador.

As abelhas, primeiro são larvas, mas abandonam este modo de ser para poder converter-se em abelhas voadoras. Nós fazemos o mesmo. Se levarmos uma vida de graça, conseguiremos uma nova existência humana mais sublime que a que tínhamos antes que aceitássemos o amor de Deus. Esta nova vida de Amor celestial anima e revive nossa alma. Então, com a ajuda de Deus, adquiriremos a capacidade de dedicar nossa existência a caminhar nas trilhas do amor divino. Como os filhos mais queridos de Deus, poderemos colher generosamente os frutos da verdade e do amor sagrado que se encontram no Reino de Deus.

 (Adaptação dos escritos de São Francisco de Sales, em especial os Sermões, Edições L. Fiorelli)

Perspectiva Salesiana

Destaque: “Não vos inquieteis com coisa alguma, mas apresentai as vossas necessidades a Deus, em oração e súplicas, acompanhadas de ação de graças. E a paz de Deus, que ultrapassa todo entendimento, guardará vossos corações e pensamentos em Cristo Jesus”.

A imagem da vinha é empregada na primeira leitura e no evangelho de hoje. Tanto numa como noutro, as coisas na vinha não deram os resultados previstos pelos donos: parece que as pessoas responsáveis das vinhas não cumpriram com o que se esperava delas.

Quem é o dono da vinha? Deus, certamente. Quem é a vinha?  A vinha é o mundo no qual vivemos. É o mundo das relações entre nós. É o mundo – como diz Francisco – o universo em nós. Quem é o responsável pelo cuidado da vinha? Nós somos os responsáveis... como indivíduos e como comunidade.

Nós sempre tentamos cumprir as expectativas que Deus tem a nosso respeito. Como colaboradores de Deus e no plano contínuo da criação, da redenção, da inspiração e da salvação de Deus, nós nem sempre colhemos as uvas da vida de forma que produzam vida: coisas como o respeito, a honestidade, como a pureza, como a decência ou a virtude que deveríamos ter. Tristemente, muitas vezes utilizamos nossas energias para produzir uvas de cólera, coisas como ciúmes, invejas, indiferença, ódio, violência e injustiça.

Esta é uma parte da nossa vida. Sabemos claramente que tipo de vinhateiro Deus quer que cultive e que colha, mas o pecado, o medo e o egoísmo muitas vezes não nos permitem produzir o tipo de frutas que dão vida.

Mesmo assim, tão trágica quanto possa ser esta realidade, somente uma coisa pode torná-la ainda pior.

Sentir ansiedade quando pensamos nela.

Francisco de Sales escreveu: “com a exceção única do pecado, a ansiedade é o maior mal que possa acontecer numa alma”. Por quê?  “em vez de remover o mal, a ansiedade o incrementa e envolve a alma numa grande angústia, numa grande aflição, somado a perda da força e da coragem que fazem com que imaginemos o mal como algo incurável... tudo isso é sumamente perigoso”. (IVD, IV, 11)

Devemos ser honestos. Necessitamos identificar aquelas áreas de nossas vidas – nossos pensamentos, nossos sentimentos, nossas atitudes e nossas ações – nas quais experimentamos dificuldade na hora de cultivar uma colheita de paz, de justiça, de reconciliação e de amor. Mas, devemos fazer isso sem ansiedade, porque a ansiedade debilita nossa habilidade de afastar-nos do pecado e nos rouba a coragem que necessitamos para fazer o que é certo e bom.

Por todos os meios devemos reconhecer a realidade do pecado e dos defeitos em nossas vidas, mas também devemos dedicar mais nossas energias a viver “de acordo com o que aprendemos e aceitamos... e assim, então, o Deus da paz estará com vocês”.

Lutem cada dia, aspirem para conseguir a colheita do amor do vinhateiro da vida... mas evitem a ansiedade neste processo.

Texto - P. Michael S. Murray, OSFS – Diretor do Centro Espiritual de Sales
Tradução - P. Tarcizio Paulo Odelli, SDB

São Paulo – Lapa – 24 a 27/09/11 – 3º Encontro Continental de Comunicação Social



Participei, nos dias 24 a 27 de setembro em São Paulo, no Instituto Teológico Pio XI do 3º Encontro Continental de Comunicação Social, promovido pelo Dicastério da CS, tendo à frente o P. Filiberto Gonzales Plasencia. O Encontro teve como tema principal o aprofundamento e aplicação do novo Sistema Salesiano de Comunicação Social (SSCS).

O Encontro reuniu os Delegados da CS das Inspetorias do Continente americano. Estavam presentes 30 Delegados das diversas Inspetorias, desde os Estados Unidos até o Chile. Do Brasil estavam presentes o P. Daniel Oliveira da Cunha (BMA), Jakeline Lira Gomes de Magalhães (BRE) P. Gildásio Mendes (BCG), Clausius Fabiano Marra Guimarães (BBH), L. Cledson Martas Rodrigues (CONAC/Cisbrasil), P. Tarcizio Paulo Odelli (BPA). O P. Edmilson Rodrigues de Moraes (BSP) não pode participar do encontro.

O Encontro iniciou com a saudação do P. Natale Vitali que convidou a todos os delegados a ser protagonistas em cada uma das Inspetorias, identificando Missão como prioridade e animando as diferentes expressões comunicativas nas Obras. “Estes dias sejam de partilha, de conhecimento, mas também para abrir nossos horizontes como salesianos consagrados e leigos. Une-nos a paixão comunicativa de nosso fundador, Dom Bosco. Paixão educativa que agora se transforma em responsabilidade social, cultural e religiosa” disse o P. Natale em seu pronunciamento. Em seguida P. Filiberto deu o encaminhamento para os trabalhos a serem realizados pelos Delegados no Encontro. Disse que para se fazer um bom trabalho, os participantes deveriam ter como “ponto de partida as pessoas, a missão e a instituição, e não os meios. O mais importante são as pessoas e não as Obras.” O Irmão Cledson, coordenador do CONAC (Comissão nacional de Comunicação) repassou os horários e indicativos do Encontro.

O Encontro foi desenvolvido em 6 núcleos: Estudo do SSCS, papel do Delegado de CS, relação com os demais dicastérios, políticas adotadas pela Inspetoria para tornar efetivo o campo da CS, organização, papeis e funções e conclusões com propostas de implementação da CS nas Inspetorias. Cada Delegado tinha cinco minutos para apresentar estes núcleos, que foram distribuídos ao longo dos dias do Encontro.

No domingo, dia 25 os participantes foram até o bairro de Itaquera, zona leste da cidade de São Paulo, onde funciona a Obra Social Dom Bosco. O diretor da Obra, P. Rosalvino Morán Viñayo mostrou todo espaço físico, onde funcionam diversas oficinas profissionalizantes. A Instituição também mobilizou várias crianças, adolescentes e jovens atendidos pelo projeto, mostrando assim as atividades culturais da Obra, como a banda marcial e grupos de dança.  À noite, o grupo também teve a oportunidade de se confraternizar, numa churrascaria, experimentando assim, mais um pouco da culinária brasileira, além da feira cotidianamente no local do encontro.

No dia 26 deu-se continuidade ao Encontro, com a apresentação dos núcleos e na parte da tarde a apresentação da experiência brasileira. O Irmão Cledson apresentou a Cisbrasil, as redes e o logotipo salesiano do Brasil.

O Encontro concluiu na manhã do dia 27 com a apresentação das propostas práticas para serem implementadas ao longo deste ano que nos separa do 4º Encontro Continental, a realizar-se em agosto de 2011 no México. Houve também a entrega de certificados e conclusão do P. Filiberto. “Este encontro foi uma oportunidade para entender de maneira global a comunicação salesiana, já que, ao conhecer as realidades das Inspetorias da América se encontram pontos comuns que levam a estruturar uma verdadeira sinergia Congregacional, assumindo as dificuldades como oportunidades de crescimento e de mudança de paradigmas, além de evidenciar os avanços que os Delegados e suas equipes de CS vão tendo sob a orientação do Dicastério”, disse Luz Maria Moreno Hernandez, Delegada da CS da Inspetoria de Medellin, Colômbia. Para ela, “tudo isso é movido por uma convicção clara onde o que importa são as pessoas, não as obras, pois a missão continua, enquanto as estruturas se transformam. E partindo disso se encontra a comunicação como a dimensão transversal da missão salesiana no mundo”. 

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Reflexão Salesiana para o 26º domingo do tempo comum – 25 de setembro de 2011


No Evangelho de hoje Jesus nos diz que se acreditamos Nele e se vivemos seus ensinamentos, poderemos entrar no reino de Deus. A respeito disso, Francisco de Sales diz o seguinte:

Jesus veio para ensinar o que devemos fazer para amar de modo divino. Sua mensagem confunde a cultura que nos incita a conseguir êxitos falsos, uma cultura que constantemente nos vende ideias como “que felizes são as pessoas endinheiradas!” Aos olhos de Jesus, os bem-aventurados são aqueles que vivem a vida com plena confiança em Deus. Eles conseguirão paz e tranquilidade para sempre. Eles escutam a palavra de Deus, a recebem e se beneficiam dela.

Existem duas razões com as quais as pessoas não se beneficiam da palavra de Deus. Num primeiro momento, pode ser que a escutem verdadeiramente e que esta remova algo de seu interior. No entanto, decidem não fazer nada a respeito, até o dia seguinte. Nossa vida é o hoje que estamos vivendo. Quem pode prometer a si mesmo um amanhã? Nossa existência consiste no momento presente, que vivemos agora. Somente contamos com a certeza deste instante que estamos desfrutando, sem se importar quão breve seja.

Segundo, existem pessoas que possuem uma grande quantidade de conhecimentos, que se dedicam a acumular todo tipo de conselhos espirituais e de informação, mas jamais os põem em prática. Só aprendemos realmente algo dos ensinamentos de Jesus quando os tornamos parte da nossa vida diária. Para viver Jesus devemos dar-nos a oportunidade de desfazer-nos de nossas emoções, hábitos e afetos desordenados.

Devemos transformar nossas emoções e afetos para que nos ajudem a converter-nos em pessoas que amam de modo divino. Somente poderemos fazer isso, quando deixarmos tudo aquilo que em nós não provém de Deus. Para poder deixar nossos vícios, devemos por em prática as virtudes que nos ajudam a opor-nos aos vícios dos quais queremos nos livrar. Por exemplo, se nossa ira está fora de controle, devemos por em prática a gentileza e a paciência. Não se preocupem com nada que não seja seguir os ensinamentos de Jesus. Confiem na bondade de Deus. Ele, sem dúvida alguma, dará tudo o que necessitam para poder entrar em Seu reino.

Perspectiva Salesiana

Destaque: “Nada façais por competição ou vangloria, mas, com humildade, cada um julgue que o outro é mais importante e não cuide somente do que é seu, mas também do que é do outro...”

Viver com humildade, como dizia Santo Agostinho, é viver com a verdade: a verdade de Deus, a verdade de nós mesmos, a verdade dos outros. Viver na verdade não é somente um exercício intelectual: é algo que deve fazer uma diferença profunda no modo como a vivemos em nossas vidas.

São Francisco de Sales via Jesus Cristo como o modelo perfeito da humildade. Qual era a verdade de Jesus? Primeiro, ele possuía a divindade. Segundo, Cristo não se apegava egoisticamente a sua natureza divina. Terceiro, Cristo partilhava generosamente e livremente seu poder (conforme a vontade do Pai) individualmente com homens, mulheres e crianças num tempo particular, num espaço particular e num lugar particular da história humana. Quarto, Cristo nos amava tanto que partilhou sua divindade conosco ao tornar-se completamente humano: experimentando o nascimento, celebrando a vida e acolhendo a morte.

O mistério do potencial de Cristo para libertar-se de tudo somente pode ser entendido quando se olha na ótica de seu poder divino. O significado de sua humildade é ainda maior quando se aprecia como uma expressão de sua absoluta generosidade. Seu serviço para conosco é ainda mais extraordinário quando consideramos que nós é que deveríamos servir a Ele.

Ser humilde é viver na verdade, como Jesus viveu. Primeiramente, como Cristo, nós devemos reconhecer que fomos criados a imagem e semelhança de Deus, e, portanto, nós também somos bons. Segundo, temos que reconhecer que a dignidade que Deus nos outorgou não foi destinada para satisfazer somente as nossas necessidades. Ao contrário, nos fomos criados para “ver pelos outros em vez de ver por nós mesmos”. Terceiro, devemos reconhecer que sem se importar o quanto seja bom, belo e sagrado à ordem criada, nossa glória última é viver para sempre no céu. Quarto, devemos acreditar que somente aqueles que entregam sua vida no serviço cada dia, serão elevados na hora do juízo final.

Nossa glória não se encontra em nos apegarmos na dignidade e no destino que Deus nos deu. Não, nosso poder é glorificado e poderosamente vivido quando usamos esta dignidade e este destino para aproximarmo-nos dos demais no amor. Assim como Cristo nós somos mais poderosos quando nos dedicamos a buscar a saúde, a santidade e a felicidade dos outros.

Assim como Cristo, os servos humildes sabem que podem ser verdadeiramente felizes somente quando concentram os seus esforços, todos os dias, para fazer que a felicidade dos outros “seja completa”. Ao deixar o que somos de lado, abrimos mais espaço para os outros... e neste processo chegamos a conhecer a plenitude da felicidade por nos termos feito completamente humanos no modo em que Deus o dispôs para nós.

Para concluir, cada joelho deve dobrar-se no céu, na terra e debaixo da terra diante da presença do Todo poderoso. Mesmo assim, nós que caminhamos na presença de Deus devemos também erguer-nos e viver na verdade: por Deus, por nós e muito especialmente, pelos outros.

Texto: P. Michael S. Murray, OSFS – Diretor do Centro Espiritual de Sales
Tradução: P. Tarcizio Paulo Odelli, SDB

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Reflexão Salesiana para o Vigésimo quinto domingo do tempo comum – 18 de setembro de 2011


No Evangelho de hoje Jesus nos fala sobre o reino do céu: um lugar onde a misericórdia generosa de Deus e sua bondade excedem completamente nossa concepção de justiça. São Francisco de Sales faz a seguinte observação:

Quando chegamos ao ponto de perder toda esperança, de falar bem das pessoas, é precisamente neste momento que a infinita misericórdia de Deus resplandece e supera a justiça divina. Deus não procede como nós. Deus prefere realizar milagres antes que deixar-nos desvalidos. É por esta razão que nosso Salvador veio redimir-nos e libertar-nos da tirania do pecado. O coração de nosso Salvador está completamente cheio de misericórdia e de bondade para com a família humana.

A providência de Deus possui mais sabedoria do que nós possuímos. Às vezes acreditamos que nos sentiríamos melhor se estivéssemos noutro barco. Pode ser que isso seja certo, mas, somente acontecerá se conseguirmos mudar! A tentação de sentir-nos insatisfeitos e deprimidos por causa do mundo no qual devemos viver, está sempre latente em nós. Não devemos desfalecer. Deus jamais nos abandonará. Somos nós que O abandonamos.

Quando estamos preocupados não desejamos afastar-nos de Deus. Um pouco de virtude colocada em prática em tempos de adversidade, vale mais do que muitíssima virtude demonstrada em tempos de prosperidade. Pode ser que sejamos fracos, mas nossas fraquezas jamais se igualarão a imensa misericórdia que Deus demonstra a quem deseja amá-lo e aos que depositam Nele toda sua confiança. O problema é que todos os lugares e esquinas de nossos corações estão abarrotados com milhares de desejos que impedem nosso Salvador cumular-nos de todos os dons que Ele deseja dar-nos.

Nós demos ser como o marinheiro que mantém seus olhos fixos na agulha da bússola a medida que direciona o barco. Nós devemos manter nossos olhos bem abertos para poder corrigir nossas ambições e para ter somente uma: servir a Deus. Permitamos a Nosso Senhor reinar em nossos corações, tal como Ele deseja fazê-lo. Se fizermos isso, poderemos ficar em paz e viver sem apertos nem medos dentro de nós, e poderemos continuar nosso caminho. Na medida em que procurarmos fazer o bem e mantivermos nosso propósito de amar a Deus, estaremos avançando pelo caminho correto.

(Adaptação dos escritos de São Francisco de Sales)

Perspectiva Salesiana

Destaque: “Buscai o Senhor, enquanto pode ser achado; invocai-o, enquanto ele está perto.” (Is 55, 6)

Todos nós buscamos o Senhor em nossas vidas, estejamos conscientes disso ou não. Nós buscamos a Deus em nossos lares, em nossos bairros, em nossas escolas e escritórios. Nós buscamos a Deus em nossos êxitos e também nos obstáculos que se nos apresentam. Nós buscamos a Deus em nossas esperanças, em nossos medos e em nossos sonhos. Nós buscamos a Deus em todas as coisas que teremos que fazer no dia de hoje.

Com tudo aquilo que temos para fazer, quem terá tempo para gastar nesta busca? A verdade é que buscar a Deus não implica ter que fazer algo extra: buscar a Deus é simplesmente abrir nossas mentes, nossos corações, nossos ouvidos, nossos olhos e nossa imaginação a Deus que está sempre conosco, presente em todas as tarefas que temos a realizar.

São Francisco de Sales escreveu: “Deus está em todas as coisas e em todos os lugares. Não existe nenhuma coisa ou lugar onde Deus não se encontre verdadeiramente presente. Assim como as aves sempre encontram ar onde quer que voem, da mesma forma nós encontraremos Deus presente em qualquer lugar que formos ou estivermos. Todo mundo conhece esta verdade – intelectualmente falando – mas nem todo mundo interioriza esta verdade e a assume como própria” (IVD, parte II, Cap. 2). Deus não somente sabe onde vocês estão, mas “está presente de modo particular em seus corações e no centro dos seus espíritos. Ele os aviva e os anima com sua divina presença, porque Deus está ai como o coração de seu coração e o espírito do seu espírito”. (ibid)

Então, não é Deus quem não está presente em nossas vidas, mas nós, simplesmente – e tragicamente, fracassamos na hora de reconhecer a presença de Deus. Francisco escreveu: “Mesmo quando a fé nos garante a sua presença, como não podemos vê-lo com nossos próprios olhos, muitas vezes nos esquecemos de Deus e nos comportamos como se Deus estivesse longe de nós. Mesmo quando nossa inteligência nos diz que Deus está presente em todas as coisas, fracassamos na hora de refletir sobre esta verdade e agimos como se não soubéssemos.” (ibid)

Um dos métodos mais poderosos e efetivos para buscar o Senhor – para poder ver que o Senhor está sempre presente – é a oração. Não importa o quanto estejamos ocupados, frustrados, solitários ou alegres, não importa quão atarefados estão nossos dias, sempre temos a oportunidade de orar: uma palavra, uma frase, um pensamento ou uma imagem que nos recorde que o Deus que nos criou, que nos redimiu e que nos inspira é verdadeiramente Emanuel, um nome que significa que Deus está conosco!

Porque isso é tão importante? Quando estamos conscientes da presença de Deus é mais provável que nos tratemos uns aos outros de modo mais amoroso, pacífico, despreocupado, com doçura, com verdade e com gentileza. Ao contrário, quando não lembramos a presença de Deus, nós... seremos mais propensos a comportarmo-nos de modos que vão contra seus desígnios.

Busquem... venham ao Senhor que sempre está presente em nós... nos outros... em todas as atividades de cada dia. E uma vez conscientes desta verdade, recordem que devem pensar, sentir, sonhar, trabalhar e atuar de acordo com a mesma!

Texto: P. Michael S. Murray, OSFS – Diretor do Centro Espiritual de Sales
Tradução: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Dia a dia com São Francisco de Sales - 14 de setembro


Hoje, 14 de setembro, lembra um fato muito importante na vida de São Francisco de Sales. Na manhã do dia 14 de setembro de 1594 Francisco e Luís de Sales (seu primo) partiram como missionários para o Chablais. Seguindo a ordem de Jesus, levavam somente a Bíblia, o livro de orações e as Controvérsias do Padre Bellarmino. Sem ajudantes e sem recursos! À tarde chegaram a fortaleza de Les Allinges. Ao pisarem a terra do Chablais, os dois missionários ajoelharam-se para saudar o anjo da guarda dessa província, e fizeram o exorcismo contra o diabo que a ocupava.

Um pensamento de São Francisco para o dia de hoje:

"Tudo que você faz por amor, é amor. Cansaço e até a morte, aceitos por amor, não são outra coisa que amor" Hoje é o dia da Santa Cruz. Que lindo e digno do nosso amor! Foi um trabalho duro erguer o lenho e plantá-lo no calvário, mas que felizes são os que amam a cruz e a carregam generosamente. Ela aparecerá em toda a sua glória no céu, quando Nosso Senhor Jesus Cristo vier para julgar os vivos e os mortos, para ensinar-nos que o céu é o altar dos crucificados. Por isso, queiramos bem as cruzes que encontrarmos em nosso caminho." (Cartas 713; O.C. XV, pp. 101-102)


quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Reflexão Salesiana para o vigésimo quarto domingo do tempo comum – 11 de setembro de 2011


As leituras de hoje nos desafiam a aprendermos a perdoar uns aos outros. Por isso apresentamos alguns ensinamentos de São Francisco de Sales sobre o perdão:

O perdão é algo difícil de conseguir. Muitas vezes quando desejamos perdoar, permitimos que sentimentos de ira nos dominem. Se desejarmos que a ira reine em nossos corações, esta passará de um broto, convertendo-se em um grande ramo. O principal motivo pelo qual não devemos hospedar a ira dentro de nossos corações, é que esta não nos permite florescer como seres humanos sadios e alegres. O perdão, ao contrário, nos conduz à plenitude em Cristo, cujo espírito inunda nosso interior com o amor eterno.

Mesmo assim, as feridas que se abrem uma ou outra vez, nos recordam que nunca poderão ser eliminadas completamente, pois justamente quando acreditamos que triunfamos e alcançamos o perdão, descobrimos que a ira retornou em nossos corações. Mesmo quando tivermos fechado a porta da frente, a raiva, como uma ventania, entra novamente por qualquer janela de trás que ficou sem ser reparada.

Não obstante, em nenhum lugar está escrito que devemos permitir que nossas fraquezas controlem nossas vidas. Deus não exige que impeçamos a ira entrar em nossos corações. O que Ele deseja é que não toleremos que a ira domine nossos corações. Pouco a pouco devemos aprender a perdoar, à medida que vamos depositando novamente e com gentileza, nosso coração nas mãos de Deus e lhe pedimos que o cure. Digamos a Deus que desejamos perdoar do mesmo modo como Jesus perdoou. Porque é a Jesus que devemos confiar todos os nossos afetos.

Se alimentarmos o amor sagrado em nosso coração, por meio da oração e da prática dos sacramentos, seremos mais receptivos ao poder do perdão. O perdão se manifesta de modo total quando concordamos que nosso Salvador entre em nossos corações e que examine todos os ambientes que precisam de reparação. Não devemos deixar que nossos sofrimentos nos perturbem, ao contrário, devemos encontrar o esplendor oculto neles para que o poder de Deus possa brilhar através do nosso. Nossa dor mais profunda nos recorda nossas fraquezas e nossa necessidade de ser mais compassivos frente às fraquezas dos outros. Ali reside o verdadeiro poder do perdão.

(Adaptação dos escritos de São Francisco de Sales)

Perspectiva Salesiana

Destaque: “O rancor e a raiva são coisas detestáveis; até o pecador procura dominá-las... Se alguém guarda raiva contra o outro, como poderá pedir a Deus a cura?” (Eclo, 27, 33-28, 3)

Alguma vez ficaram desgostosos? Alguma vez ficaram furiosos? Alguma vez ficaram irados? Certamente que sim! A ira (com suas muitas faces) inevitavelmente faz parte da vida... Algumas vezes. De fato, constitui uma parte muito volúvel da vida. Como qualquer outra emoção, não se pode negar nem reprimir.

Referindo-se as emoções, a ira não é um pecado, como não se consideraria pecado a felicidade, o medo, ou o êxito. No entanto, do modo como controlamos nossa ira – ou nosso fracasso na hora de administrá-la – determinará se ela se transformará em virtude ou em vício, se no final transformar-se-á em algo construtivo ou em algo destrutivo.

Muito poucas pessoas planejam irar-se. A ira é uma resposta ou uma reação intensa que se desencadeia diante de uma injustiça ou de uma ferida, seja real ou percebida. É por isso que na maioria das vezes nos pega de surpresa. Eis aqui a dificuldade que gera esta emoção tão “molesta”: é precisamente devido a sua espontaneidade e intensidade, que a ira muitas vezes leva a vantagem... e com muito mais rapidez pode sair fora do nosso controle. A ira, por assim dizer, pode chegar a converter-se em inquilino a quem convidamos e que de repente se converte em dona da casa. Francisco de Sales faz a seguinte observação: “Uma vez que admitimos a ofensa é muito difícil voltar a expulsá-la. Começa com um pequeno broto e em tempo recorde torna-se uma viga”. Francisco de Sales nos dá o seguinte conselho: “É melhor que intentemos encontrar formas de viver sem ofender, do que fingir que podemos administrar discreta e moderadamente. Na medida em que reine a razão e que manifestamos nossa reprovação e correções com calma, as pessoas as aprovarão e as aceitarão. Mas se fazemos isso com raiva e ira, nossas reprovações, nossas aprovações serão recebidas com medo em vez de amor”.

Joana de Chantal, por sua vez, sugere o seguinte: “Tratem de apaziguar suas paixões e vivam de acordo com a razão e a sagrada vontade de Deus”. É melhor dar uma folga a nossa ira antes de tomar decisões importantes ou de embarcarmos num curso de uma ação determinada.

Acima de tudo não devemos alimentar nem nutrir nossa ira. Consentir repetidamente na ira pode ter resultados desastrosos para nós. Quando nos apegamos exageradamente em nossas feridas, quando repetimos dores passadas, quando nos aferramos no ressentimento, deixamos de ser pessoas que ocasionalmente se enfurecem para gradualmente nos tornarmos pessoas amargas. Ser viciado na fúria é como beber veneno, mas esperar que os outros pereçam. Mesmo que, por fora nossa ira realmente ocasione danos aos outros, o veneno que eventualmente produz nos mata a partir de dentro.

Prestem atenção nas palavras do livro do Eclesiástico: “o rancor e a raiva são coisas odiosas; até o pecador procura dominá-las. Se alguém guarda raiva contra o outro, como poderá pedir a Deus a cura? Do mesmo modo que uma pedra atirada para cima irá cair sobre quem a lançou, o golpe dado com raiva vai ferir mais de um. Perdoem as injustiças cometidas por seus semelhantes; e assim, quando vocês orarem seus próprios pecados serão perdoados” (Eclo 27, 33-28, 3)

Evitem sustentar e esbaldar-se na ira; recordem que esta é uma emoção e que não deve converter-se numa forma de vida.

Texto - P. Michael S. Murray, OSFS – Diretor do Centro Espiritual de Sales
Tradução - P. Tarcizio Paulo Odelli, sdb

Leituras do 24º domingo:

Eclesiástico 27, 33-28, 9
Romanos 14, 7-9
Mateus 18, 21-35

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Reflexão Salesiana para o 23º domingo do tempo comum – 04 de setembro de 2011


O evangelho de hoje nos desafia a amarmo-nos uns aos outros colocando em prática a “correção fraterna”, um conceito que desapareceu de nossa cultura. São Francisco de Sales faz referência a este conceito em relação ao tema da verdadeira amizade:

Muitas vezes ocorre que quando temos uma boa opinião de nossos amigos, terminamos absorvendo suas imperfeições. É certo que devemos amar nossos amigos apesar de suas faltas. No entanto, a verdadeira amizade exige que partilhemos o bem verdadeiro, não o mal. Portanto, da mesma maneira como os escavadores de ouro deixam de lado a areia e ficam com o ouro que encontram, aqueles que partilham uma verdadeira amizade devem remover a areia da imperfeição presente na relação e não permitir que esta areia entre em suas almas.

A verdadeira amizade somente sobrevive se estiver alicerçada na verdadeira virtude. É um efeito que vem de Deus, nos conduz a Deus e seus laços perduram eternamente em Deus. A amizade que é passiva se dedica a observar os amigos enquanto escolhem o caminho equivocado: os deixa perecer em vez de encher-se de coragem e fazer uso da correção para ajudá-los. A amizade que é verdadeira e digna não pode progredir no meio do vicio. Mesmo que este vício seja somente passageiro, a verdadeira amizade o corrigirá e o excluirá imediatamente.

Quando corrigimos com misericórdia em vez da ira, o arrependimento é assimilado de modo mais profundo e penetra mais efetivamente. Não existe nada mais efetivo e rápido para acalmar um elefante enfurecido, do que olhar para uma pequena ovelha. Quando a razão está acompanhada de raiva se torna mais temida do que amada. A diferença disto, a razão sem raiva, mesmo quando precisa e severa, repreende e adverte de modo pacífico. Os reproches generosos e amorosos de um pai tem mais poder na hora de corrigir o filho do que a raiva e a agitação.

Bem-aventurados os que falam somente para “corrigir fraternalmente” no espírito do amor sagrado e da humildade profunda! Muito mais bem-aventurados são aqueles que estão preparados para receber esta correção com um coração gentil, em paz e tranquilidade! Somente pelo fato de demonstrar sua humildade, sua fé e sua coragem, já conseguiram um grande progresso e alcançaram o nível mais alto da santidade cristã.

(Adaptação dos escritos de São Francisco de Sales, particularmente a Introdução à vida devota)

Perspectiva Salesiana


Destaque: “Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o próximo está cumprindo a lei”. (Rm 13, 8)

No dicionário Houaiss, a palavra “dívida” é definida como a “quantia que se tem de pagar a alguém - obrigação moral contraída por favor e/ou bem recebido”. Buscando-se a raiz da palavra (indo-europeia) encontramos: dar, perdoar, obséquio, habilidade, obrigação e objetivo.

A vida está cheia de dívidas, obrigações e coisas que devemos aos outros em espírito de serviço. Algumas das coisas que devemos aos outros incluem custos de matrícula, impostos, créditos, dívidas de cartões de crédito, contas de serviços, trabalhar por nosso salário, seguros, custos de serviços de saúde... e a lista continuaria e seria muito comprida.

Noutro plano, mesmo que menos óbvio, existe uma gama de coisas que são ainda mais importantes e que devemos dar aos demais em espírito de generosidade: tempo, talento, respeito, reverência, fidelidade, honestidade, cuidado, preocupação, consideração, bondade, paciência, justiça, paz, reconciliação... e esta lista também seria muito comprida.

Suponho que se uma pessoa se detivesse em considerar todas as coisas que ela deve para si mesma ou deve a alguém, isso poderia resultar numa experiência estressante. Talvez seja melhor fazer o que São Paulo aconselha, quando nos diz: “Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo”. A dívida do amor – o laço do amor – não é somente a obrigação mais importante que temos para com os outros, mas inclui também todas as outras coisas, virtudes e ações que devemos aos outros... coisas que devemos dar aos outros.

Numa carta a Santa Joana Francisca de Chantal, São Francisco de Sales escreveu: “Devo dizer que não sei de nenhum tipo de união ou de laço que nos una, nem que implique outro tipo de obrigação que não seja do amor divino e a verdadeira amizade cristã, que São Paulo chama “a união na perfeição”. Este laço é como seu nome indica perfeito, porque é indissolúvel e jamais se enfraquece. Qualquer outro laço é passageiro... mas o laço do amor cresce e se fortalece à medida que o tempo passa. Não pode ser cortado pela morte, que numa tacada corta tudo, exceto a caridade... assim, pois, este é nosso laço, estas são as nossas algemas. Quanto mais nos apertam, quanto mais nos cortam, mais alegria e mais liberdade nos trazem... nada é mais flexível do que este laço e nada é mais forte”. (Cartas de Direção espiritual, pg 127).

Nossas vidas estão cheias de dívidas e de obrigações que temos com os outros. No meio dos intentos que fazemos diariamente para cumprir com estas obrigações, que Deus nos dê a graça para recordar e enfocar-nos na dívida que verdadeiramente importa.

O laço do amor... as obrigações – a tudo que isso conduz.

P. Michael S. Murray, OSFS – Diretor do Centro de Espiritualidade de Sales.
Tradução: P. Tarcizio Paulo Odelli – sdb

Leituras deste domingo:

Ezequiel 33, 7-9
Romanos, 13, 8-10
Mateus 18, 15-20