Comunicação: palavra
eminentemente salesiana.
Neste final de
semana celebramos a Ascensão do Senhor. A Igreja há 48 anos realiza o Dia
Mundial das Comunicações. O Papa escreve todo ano uma mensagem para este dia.
Neste ano o tema é "Comunicação ao serviço de uma autêntica cultura do
encontro."
Quando se lê o
Tratado do Amor de Deus percebemos que São Francisco de Sales usa
frequentemente o verbo comunicar para mostrar como Deus se comunica (como
Trindade), como se comunica conosco e como nós nos comunicamos com Ele.
As leituras de
hoje falam sobre a ascensão de Jesus ressuscitado rumo à plenitude do Reino de
Deus. São Francisco de Sales observa que o "mistério da Ascensão nos deixa
admirados. Se entendermos a Ascensão, conseguiremos
o maior tesouro de todos os dons que Jesus nos dá. Seu corpo, não o físico, mas o espiritual
entra no céu e está presente na Eucaristia. Ele se entrega a todos os que desejam recebê-lo
e acolhê-lo. Secretamente, ele está transformando a todos nós."
A Espiritualidade
Salesiana é fascinante porque não se preocupa apenas com as coisas do céu, (na
primeira leitura de hoje vemos, por exemplo, que os Apóstolos não paravam de
olhar para o céu) mas se preocupa também com a nossa condição humana, com as
nossas coisas do dia a dia. São Francisco de Sales diz que o amor de Deus diviniza
nossa humanidade constantemente. E por causa disso temos uma obrigação: amar o
nosso corpo corretamente. O corpo é parte integrante de nossa condição humana e
também dividirá conosco a felicidade eterna. Como cristãos devemos amar os
nossos corpos, pois eles são a imagem viva da encarnação do nosso Salvador. Também
devemos reconhecer e amar a imagem divina nos outros. Isso não significa que
devemos cair no "culto exagerado do corpo", como acontece na nossa
sociedade de hoje.
São Francisco
também nos lembra, no dia da ascensão, que temos uma vida “escondida em Deus, com
Jesus Cristo”. Precisamos viver este amor no cotidiano de nossas vidas e
afastar, pouco a pouco os nossos amores egoístas. E nós então perguntamos: como fazemos isso? Sales usa então a imagem do sol. A luz forte do
sol durante o dia faz com que a luz das estrelas desapareçam. Assim acontece
conosco. Quando nos preocupamos em dar valor absoluto as coisas da terra, aos
bens perecíveis, não vemos o valor das coisas que são eternas. São Francisco
diz que o "fogo do amor de Deus, que é muito mais forte e mais poderoso,
extingue o nosso amor excessivo a todas as coisas que são inferiores."
Através da ressurreição
e da Ascensão de Jesus podemos viver uma nova vida no amor sagrado. O nosso
amor tem que ter como fonte o amor de Cristo. Esta vida se opõe a todas as
regras da cultura atual, muito marcada pelo materialismo, que gera, entre
outras coisas uma violência muito grande. O Papa Francisco nos recorda neste
dia mundial das Comunicações Sociais que "quando a comunicação tem como
fim predominante induzir ao consumo ou à manipulação das pessoas,
encontramo-nos perante uma agressão violenta..."
A ascensão nos
lembra, então, que um dia chegaremos ao lugar onde tudo é perfeito. Nesta vida,
navegamos no meio de tantas dificuldades. Por isso Jesus nos aconselha a
perseverarmos. Quem perseverar, será salvo! Também, à convite do Papa, podemos
e devemos viver "uma autêntica cultura do encontro". Por isso convido
a todos para lerem a carta que o Papa escreveu para o 48º Dia Mundial das
Comunicações. Ele finaliza assim esta carta: "Não tenhais medo de vos
fazerdes cidadãos do ambiente digital. É importante a atenção e a presença da
Igreja no mundo da comunicação, para dialogar com o homem de hoje e levá-lo ao
encontro com Cristo: uma Igreja companheira de estrada sabe pôr-se a caminho
com todos. Neste contexto, a revolução nos meios de comunicação e de informação
é um grande e apaixonante desafio que requer energias frescas e uma imaginação
nova para transmitir aos outros a beleza de Deus."
MENSAGEM DO SANTO
PADRE FRANCISCO
PARA O XLVIII DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS
PARA O XLVIII DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS
«Comunicação ao
serviço de uma autêntica cultura do encontro»
[Domingo, 1 de
Junho de 2014]
Queridos irmãos e irmãs,
Hoje vivemos num mundo que está a tornar-se cada vez
menor, parecendo, por isso mesmo, que deveria ser mais fácil fazer-se próximo
uns dos outros. Os progressos dos transportes e das tecnologias de comunicação
deixam-nos mais próximo, interligando-nos sempre mais, e a globalização faz-nos
mais interdependentes. Todavia, dentro da humanidade, permanecem divisões, e às
vezes muito acentuadas. A nível global, vemos a distância escandalosa que
existe entre o luxo dos mais ricos e a miséria dos mais pobres. Frequentemente,
basta passar pelas estradas duma cidade para ver o contraste entre os que vivem
nos passeios e as luzes brilhantes das lojas. Estamos já tão habituados a tudo
isso que nem nos impressiona. O mundo sofre de múltiplas formas de exclusão, marginalização
e pobreza, como também de conflitos para os quais convergem causas econômicas,
políticas, ideológicas e até mesmo, infelizmente, religiosas.
Neste mundo, os mass-media podem
ajudar a sentir-nos mais próximo uns dos outros; a fazer-nos perceber um
renovado sentido de unidade da família humana, que impele à solidariedade e a
um compromisso sério para uma vida mais digna. Uma boa comunicação ajuda-nos a
estar mais perto e a conhecer-nos melhor entre nós, a ser mais unidos. Os muros
que nos dividem só podem ser superados, se estivermos prontos a ouvir e a
aprender uns dos outros. Precisamos harmonizar as diferenças por meio de formas
de diálogo, que nos permitam crescer na compreensão e no respeito. A cultura do
encontro requer que estejamos dispostos não só a dar, mas também a receber de
outros. Os mass-media podem ajudar-nos nisso, especialmente
nos nossos dias em que as redes da comunicação humana atingiram progressos sem
precedentes. Particularmente a internet pode oferecer maiores
possibilidades de encontro e de solidariedade entre todos; e isto é uma coisa
boa, é um dom de Deus.
No entanto, existem aspectos problemáticos: a
velocidade da informação supera a nossa capacidade de reflexão e discernimento,
e não permite uma expressão equilibrada e correta de si mesmo. A variedade das
opiniões expressas pode ser sentida como riqueza, mas é possível também
fechar-se numa esfera de informações que correspondem apenas às nossas
expectativas e às nossas ideias, ou mesmo a determinados interesses políticos e
econômicos. O ambiente de comunicação pode ajudar-nos a crescer ou, pelo
contrário, desorientar-nos. O desejo de conexão digital pode acabar por nos
isolar do nosso próximo, de quem está mais perto de nós. Sem esquecer que a
pessoa que, pelas mais diversas razões, não tem acesso aos meios de comunicação
social corre o risco de ser excluído.
Estes limites são reais, mas não justificam uma
rejeição dos mass-media; antes, recordam-nos que, em última
análise, a comunicação é uma conquista mais humana que tecnológica. Portanto
haverá alguma coisa, no ambiente digital, que nos ajuda a crescer em humanidade
e na compreensão recíproca? Devemos, por exemplo, recuperar certo sentido de
pausa e calma. Isto requer tempo e capacidade de fazer silêncio para escutar.
Temos necessidade também de ser pacientes, se quisermos compreender aqueles que
são diferentes de nós: uma pessoa se expressa plenamente a si mesma, não quando
é simplesmente tolerada, mas quando sabe que é verdadeiramente acolhida. Se estivermos
verdadeiramente desejosos de escutar os outros, então aprenderemos a ver o
mundo com olhos diferentes e a apreciar a experiência humana tal como se
manifesta nas várias culturas e tradições. Entretanto saberemos apreciar melhor
também os grandes valores inspirados pelo Cristianismo, como, por exemplo, a
visão do ser humano como pessoa, o matrimonio e a família, a distinção entre
esfera religiosa e esfera política, os princípios de solidariedade e
subsidiariedade, entre outros.
Então, como pode a comunicação estar ao serviço de
uma autêntica cultura do encontro? E – para nós, discípulos do Senhor – que
significa, segundo o Evangelho, encontrar uma pessoa? Como é possível, apesar
de todas as nossas limitações e pecados, ser verdadeiramente próximo aos
outros? Estas perguntas resumem-se naquela que, um dia, um escriba – isto é, um
comunicador – pôs a Jesus: «E quem é o meu próximo?» (Lc 10, 29 ).
Esta pergunta ajuda-nos a compreender a comunicação em termos de proximidade.
Poderíamos traduzi-la assim: Como se manifesta a «proximidade» no uso dos meios
de comunicação e no novo ambiente criado pelas tecnologias digitais? Encontro
resposta na parábola do bom samaritano, que é também uma parábola do
comunicador. Na realidade, quem comunica faz-se próximo. E o bom samaritano não
só se faz próximo, mas cuida do homem que encontra quase morto ao lado da
estrada. Jesus inverte a perspectiva: não se trata de reconhecer o outro como
um meu semelhante, mas da minha capacidade para me fazer semelhante ao outro.
Por isso, comunicar significa tomar consciência de que somos humanos, filhos de
Deus. Apraz-me definir este poder da comunicação como «proximidade».
Quando a comunicação tem como fim predominante
induzir ao consumo ou à manipulação das pessoas, encontramo-nos perante uma
agressão violenta como a que sofreu o homem espancado pelos assaltantes e
abandonado na estrada, como lemos na parábola. Naquele homem, o levita e o sacerdote
não veem um seu próximo, mas um estranho de quem era melhor manter a distância.
Naquele tempo, eram condicionados pelas regras da pureza ritual. Hoje, corremos
o risco de que alguns mass-media nos condicionem até ao ponto
de fazer-nos ignorar o nosso próximo real.
Não basta circular pelas «estradas» digitais, isto
é, simplesmente estar conectados: é necessário que a conexão seja acompanhada
pelo encontro verdadeiro. Não podemos viver sozinhos, fechados em nós mesmos.
Precisamos amar e ser amados. Precisamos de ternura. Não são as estratégias
comunicativas que garantem a beleza, a bondade e a verdade da comunicação. O
próprio mundo dos mass-media não pode alhear-se da solicitude
pela humanidade, chamado como é a exprimir ternura. A rede digital pode ser um
lugar rico de humanidade: não uma rede de fios, mas de pessoas humanas. A
neutralidade dos mass-media é só aparente: só pode constituir
um ponto de referimento quem comunica colocando-se a si mesmo em jogo. O
envolvimento pessoal é a própria raiz da fiabilidade dum comunicador. É por
isso mesmo que o testemunho cristão pode, graças à rede, alcançar as periferias
existenciais.
Tenho-o repetido já diversas vezes: entre uma
Igreja acidentada que sai pela estrada e uma Igreja doente de
auto-referencialidade, não hesito em preferir a primeira. E quando falo de
estrada penso nas estradas do mundo onde as pessoas vivem: é lá que as podemos,
efetiva e afetivamente, alcançar. Entre estas estradas estão também as
digitais, congestionadas de humanidade, muitas vezes ferida: homens e mulheres
que procuram uma salvação ou uma esperança. Também graças à rede, pode a
mensagem cristã viajar «até aos confins do mundo» (At 1, 8). Abrir
as portas das igrejas significa também abri-las no ambiente digital, seja para
que as pessoas entrem, independentemente da condição de vida em que se
encontrem, seja para que o Evangelho possa cruzar o limiar do templo e sair ao
encontro de todos. Somos chamados a testemunhar uma Igreja que seja casa de todos.
Seremos nós capazes de comunicar o rosto duma Igreja assim? A comunicação
concorre para dar forma à vocação missionária de toda a Igreja, e as redes
sociais são, hoje, um dos lugares onde viver esta vocação de redescobrir a
beleza da fé, a beleza do encontro com Cristo. Inclusive no contexto da
comunicação, é precisa uma Igreja que consiga levar calor, inflamar o coração.
O testemunho cristão não se faz com o bombardeio de
mensagens religiosas, mas com a vontade de se doar aos outros «através da
disponibilidade para se deixar envolver, pacientemente e com respeito, nas suas
questões e nas suas dúvidas, no caminho de busca da verdade e do sentido da
existência humana (Bento XVI, Mensagem para o XLVII Dia Mundial das
Comunicações Sociais, 2013). Pensemos no episódio dos discípulos de Emaús. É preciso
saber-se inserir no diálogo com os homens e mulheres de hoje, para compreender
os seus anseios, dúvidas, esperanças, e oferecer-lhes o Evangelho, isto é,
Jesus Cristo, Deus feito homem, que morreu e ressuscitou para nos libertar do
pecado e da morte. O desafio requer profundidade, atenção à vida, sensibilidade
espiritual. Dialogar significa estar convencido de que o outro tem algo de bom
para dizer, dar espaço ao seu ponto de vista, às suas propostas. Dialogar não
significa renunciar às próprias ideias e tradições, mas à pretensão de que
sejam únicas e absolutas.
Possa servir-nos de guia o ícone do bom samaritano,
que liga as feridas do homem espancado, deitando nelas azeite e vinho. A nossa
comunicação seja azeite perfumado pela dor e vinho bom pela alegria. A nossa
luminosidade não derive de truques ou efeitos especiais, mas de nos fazermos próximo,
com amor, com ternura, de quem encontramos ferido pelo caminho. Não tenhais
medo de vos fazerdes cidadãos do ambiente digital. É importante a atenção e a
presença da Igreja no mundo da comunicação, para dialogar com o homem de hoje e
levá-lo ao encontro com Cristo: uma Igreja companheira de estrada sabe pôr-se a
caminho com todos. Neste contexto, a revolução nos meios de comunicação e de
informação é um grande e apaixonante desafio que requer energias frescas e uma
imaginação nova para transmitir aos outros a beleza de Deus.
Vaticano, 24 de Janeiro – Memória de
São Francisco de Sales – do ano 2014.
Franciscus
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