sábado, 19 de abril de 2014

Reflexão Salesiana para o domingo de páscoa - 20 de abril de 2014


Dos escritos de São Francisco de Sales

Hoje nós experimentamos a vitória de Jesus sobre a morte. Que alegria saber que o amor de Deus é mais forte do que a morte! São Francisco de Sales diz o seguinte: 

A ressurreição de Jesus nos agracia com uma nova vida cheia de glória. Assim era o desejo ardente que existia no coração de nosso doce Salvador, de obter a salvação para nós, que generosamente decidiu compartilhar conosco a sua glória. Em Sua redenção, o amor de nosso Salvador, sendo mais poderoso do que a morte, transborda, derrete nossos corações e transforma-nos. Com a sua chegada a este mundo Ele elevou nossa natureza acima de todos os anjos, e ao ser transformado nos faz tão à Sua imagem e semelhança, que poderíamos chegar até dizer que nos parecemos com Deus. Ao tornar-se um de nós, o nosso Salvador assumiu nossa semelhança e nos deu a Sua. 

Reflitam sobre a natureza que Deus lhes deu. É a maior que existe neste mundo visível. Tem a capacidade de alcançar a vida eterna e estar unida a Deus na perfeição. Como alimentamos esta união? Devemos começar amando a semelhança do Criador divino, primeiro em nós mesmos e, em seguida, nos outros. Quando Maria Madalena foi ao túmulo, não reconheceu o Salvador, porque Ele estava vestido como um jardineiro. Ela não o viu da maneira que queria ver. Por acaso, não é o nosso Salvador, vestido de jardineiro que encontramos durante as provas que enfrentamos todos os dias? Abramos as portas do nosso coração para que o nosso Salvador possa enchê-lo com amor divino. Então, em seguida, poderemos começar a servir ao jardineiro, como Ele deseja que o façamos.

Nosso Salvador anseia para plantar muitas flores em nosso jardim, mas a seu gosto. Nossa tarefa é cultivar bem as nossas almas e atendê-las fielmente. Quando a primavera chega, renova com flores que nos dão alegria. Chegará um dia em que nós também nos elevaremos a uma vida de alegria eterna. A nossa fervorosa aspiração deve ser para alcançar este paraíso encantador. Encaminhemo-nos rumo a esta terra abençoada que nos foi prometida, deixando de lado tudo o que leva ao mau caminho, tudo o que possa atrasar a nossa viagem. Caminhemos, então, no jardim de Jesus ressuscitado. Este é um dia para se alegrar!

(Adaptado a partir dos escritos de São Francisco de Sales, especialmente Introdução à vida devota

Destaque: "A morte e a paixão de Nosso Senhor é o motivo mais doce e mais convincente que pode agitar nossos corações nesta vida mortal... Os filhos da cruz se glorificam nisso, seu maravilhoso paradoxo que muitos não entendem: da morte, que devora todas as coisas, originou-se a comida da nossa consolação; Da morte, ele é mais forte do que todas as coisas, originou-se o doce mel do nosso amor." ( Tratado Amor de Deus , Livro 12, capítulo 13)

Perspectiva Salesiana 

Isto, verdadeiramente, é o mistério central da nossa fé.  Jesus deixando-se consumir a si mesmo com paixão pela justiça e pela morte, por sua vez, venceu a morte de uma vez por todas com o poder da promessa de vida eterna. 
O caminho da paixão, a morte e a ressurreição de Cristo foi pessoal: foi único. Foi projetado pelo Pai desde a eternidade. Jesus foi fiel àquilo que Deus projetou para ele; Jesus aceitou sua vocação como o Messias humilde e gentil; Jesus sofreu a dor da morte; Jesus experimentou o poder de ressuscitar. 

Deus projetou um caminho pessoal para cada um de nós desde a eternidade. Cada um de nós desempenha um papel único na revelação eterna da vida eterna, do amor divino, da justiça divina, da paz divina e da reconciliação divina do Pai. Mesmo assim, o caminho para a ressurreição é o caminho da cruz, o caminho da entrega, o caminho do desprendimento, o caminho para deixar de lado todas as coisas, pensamentos, atitudes e ações que nos impedem personificar a paixão de Cristo: a paixão por tudo o que é certo e verdadeiro.

Francisco de Sales oferece esta imagem no Livro 9 do seu Tratado do Amor de Deus : "Mandou o Senhor ao profeta Isaías que se despojasse completamente de todos os vestidos e ele assim o fez caminhando pregando, segundo uns, três dias completos, e segundo outros, durante três anos; depois vestiu-se novamente, quando o prazo fixado pelo Senhor tinha terminado. Nós também precisamos de nos despir de todos os afetos, pequenos e grandes, e sondar muitas vezes o nosso coração para ver se ele estará disposto a despojar-se, como Isaias, de todas as suas vestes, e quando soar a hora, a tomar de novo as afeições convenientes ao serviço da caridade, para podermos morrer na cruz, em inteira nudez, como o nosso divino Salvador e ressuscitar em seguida com Ele num novo homem." 

Devemos ter certeza de uma coisa: devemos "despir-nos" de uma vida passional, da morte diária do eu pessoal, para buscar o nosso próprio bem. Devemos ser purificados, a fim de viver uma vida de paixão e compaixão divina mais fiel e eficaz. Deus não quer que a gente deixe o nosso eu morrer por modéstia, mas que nosso eu morra, de modo que, paradoxalmente, possamos ser quem Ele nos chamou para ser. 

"O amor é poderoso como a morte, como a morte, para nos fazer abandonar tudo; é magnífico como a ressurreição, para nos aureolar de honra e glória.", escreveu São Francisco de Sales. 

Esta glória e honra não está reservada somente para o céu. Na medida em que nós morrermos um pouco a cada dia e experimentarmos a fidelidade do amor de Deus no meio das adversidade, das provações e das dificuldades, poderemos experimentar um pouco da ressurreição a cada dia.

P. Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro de Espiritualidade de Sales.
Tradução e adaptação: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB

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