Dos escritos de São Francisco de Sales
Hoje nós experimentamos a vitória
de Jesus sobre a morte. Que alegria saber que o amor de Deus é mais forte
do que a morte! São Francisco de Sales diz o seguinte:
A ressurreição de Jesus nos
agracia com uma nova vida cheia de glória. Assim era o desejo ardente que
existia no coração de nosso doce Salvador, de obter a salvação para nós, que generosamente
decidiu compartilhar conosco a sua glória. Em Sua redenção, o amor de
nosso Salvador, sendo mais poderoso do que a morte, transborda, derrete nossos
corações e transforma-nos. Com a sua chegada a este mundo Ele elevou nossa
natureza acima de todos os anjos, e ao ser transformado nos faz tão à Sua imagem
e semelhança, que poderíamos chegar até dizer que nos parecemos com Deus. Ao
tornar-se um de nós, o nosso Salvador assumiu nossa semelhança e nos deu a
Sua.
Reflitam sobre a natureza que
Deus lhes deu. É a maior que existe neste mundo visível. Tem a capacidade
de alcançar a vida eterna e estar unida a Deus na perfeição. Como alimentamos
esta união? Devemos começar amando a semelhança do Criador divino, primeiro em
nós mesmos e, em seguida, nos outros. Quando Maria Madalena foi ao túmulo,
não reconheceu o Salvador, porque Ele estava vestido como um
jardineiro. Ela não o viu da maneira que queria ver. Por acaso, não é
o nosso Salvador, vestido de jardineiro que encontramos durante as provas que
enfrentamos todos os dias? Abramos as portas do nosso coração para que o
nosso Salvador possa enchê-lo com amor divino. Então, em seguida, poderemos
começar a servir ao jardineiro, como Ele deseja que o façamos.
Nosso Salvador anseia para
plantar muitas flores em nosso jardim, mas a seu gosto. Nossa tarefa é
cultivar bem as nossas almas e atendê-las fielmente. Quando a primavera
chega, renova com flores que nos dão alegria. Chegará um dia em que nós
também nos elevaremos a uma vida de alegria eterna. A nossa fervorosa aspiração
deve ser para alcançar este paraíso encantador. Encaminhemo-nos rumo a
esta terra abençoada que nos foi prometida, deixando de lado tudo o que leva ao
mau caminho, tudo o que possa atrasar a nossa viagem. Caminhemos, então,
no jardim de Jesus ressuscitado. Este é um dia para se alegrar!
(Adaptado a partir dos escritos de São Francisco de
Sales, especialmente Introdução à vida devota)
Destaque: "A morte e a paixão de Nosso Senhor é o motivo
mais doce e mais convincente que pode agitar nossos corações nesta vida
mortal... Os filhos da cruz se glorificam nisso, seu maravilhoso paradoxo que muitos
não entendem: da morte, que devora todas as coisas, originou-se a comida da
nossa consolação; Da morte, ele é mais forte do que todas as coisas, originou-se
o doce mel do nosso amor." ( Tratado Amor de Deus , Livro
12, capítulo 13)
Perspectiva Salesiana
Isto, verdadeiramente, é o
mistério central da nossa fé. Jesus deixando-se consumir a si mesmo com
paixão pela justiça e pela morte, por sua vez, venceu a morte de uma vez por todas
com o poder da promessa de vida eterna.
O caminho da paixão, a morte e a ressurreição
de Cristo foi pessoal: foi único. Foi projetado pelo Pai desde a
eternidade. Jesus foi fiel àquilo que Deus projetou para ele; Jesus
aceitou sua vocação como o Messias humilde e gentil; Jesus sofreu a dor da
morte; Jesus experimentou o poder de ressuscitar.
Deus projetou um caminho pessoal
para cada um de nós desde a eternidade. Cada um de nós desempenha um papel
único na revelação eterna da vida eterna, do amor divino, da justiça divina, da
paz divina e da reconciliação divina do Pai. Mesmo assim, o caminho para a
ressurreição é o caminho da cruz, o caminho da entrega, o caminho do
desprendimento, o caminho para deixar de lado todas as coisas, pensamentos,
atitudes e ações que nos impedem personificar a paixão de Cristo: a paixão por
tudo o que é certo e verdadeiro.
Francisco de Sales oferece esta
imagem no Livro 9 do seu Tratado do Amor de Deus : "Mandou
o Senhor ao profeta Isaías que se despojasse completamente de todos os vestidos
e ele assim o fez caminhando pregando, segundo uns, três dias completos, e
segundo outros, durante três anos; depois vestiu-se novamente, quando o prazo
fixado pelo Senhor tinha terminado. Nós também precisamos de nos despir de
todos os afetos, pequenos e grandes, e sondar muitas vezes o nosso coração para
ver se ele estará disposto a despojar-se, como Isaias, de todas as suas vestes,
e quando soar a hora, a tomar de novo as afeições convenientes ao serviço da
caridade, para podermos morrer na cruz, em inteira nudez, como o nosso divino
Salvador e ressuscitar em seguida com Ele num novo homem."
Devemos ter certeza de uma coisa:
devemos "despir-nos" de uma vida passional, da morte diária do eu
pessoal, para buscar o nosso próprio bem. Devemos ser purificados, a fim de
viver uma vida de paixão e compaixão divina mais fiel e eficaz. Deus não quer
que a gente deixe o nosso eu morrer por modéstia, mas que nosso eu morra, de
modo que, paradoxalmente, possamos ser quem Ele nos chamou para ser.
"O amor é poderoso como a
morte, como a morte, para nos fazer abandonar tudo; é magnífico como a
ressurreição, para nos aureolar de honra e glória.", escreveu São
Francisco de Sales.
Esta glória e honra não está reservada
somente para o céu. Na medida em que nós morrermos um pouco a cada dia e
experimentarmos a fidelidade do amor de Deus no meio das adversidade, das
provações e das dificuldades, poderemos experimentar um pouco da ressurreição a
cada dia.
P. Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro de
Espiritualidade de Sales.
Tradução e adaptação: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB
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