Perspectiva Salesiana
Na véspera da crucificação e
morte de Jesus, os apóstolos estavam trancados com medo. Eles temiam
sofrer a mesma punição do seu Mestre.
Mesmo trancados, Jesus se encontra
com eles: não só no espaço físico em que se refugiaram. Jesus também entrou em suas
mentes e corações. Jesus tenta acalmar seus medos, desafia-os a estar em
paz; faz isso de uma maneira mais controversa e misteriosa: mostrando-lhes
as feridas em suas mãos e do seu lado.
A experiência da ressurreição não
removeu as cicatrizes das feridas que Jesus sofreu. As marcas da dor, da
decepção, da incompreensão, da negação, da humilhação, do abandono, do sofrimento
e da morte. Mesmo assim, apesar das feridas, a ressurreição de Cristo é
uma poderosa demonstração de que a dor, tristeza, sofrimento e injustiça, tão
reais como foram, não têm a última palavra.
São Francisco de Sales escreveu:
"Devemos lembrar que nosso Senhor nos salvou através de seu sofrimento e
resistência, e que devemos trabalhar por nossa salvação através dos sofrimentos
e aflições, suportando as feridas, negações e desconfortos que encontramos. "(Introdução
à Vida Devota , Parte III, Capítulo 3)
Todos nós carregamos as feridas
do fracasso, decepção, engano e perda. Nossos corações, nossas mentes,
nossas memórias - nossas almas - carregam as cicatrizes como prova disso. Como
os apóstolos, também nós temos a tentação de nos afastar dos outros, de nos trancar
num canto emocional e espiritual, fazendo o "nosso mundinho", vivendo
no medo de que uma nova dor ou uma nova decepção possa chegar até
nós. Claro que, ao retirar-nos da vida de uma maneira figurativa - às
vezes literalmente - morremos.
Jesus mostra claramente através
de sua própria vida, que as nossas feridas não devem desqualificar-nos ou
oprimir-nos. Embora essas feridas possam ser permanentes, não devem
roubar-nos o nosso poder e a promessa da recuperação, da renovação - da
ressurreição - a menos que nos desesperemos, a menos que nos deixemos vencer pelos
cravos da negatividade.
As feridas do nosso passado
certamente deixaram marcas em nosso momento presente, mas não determinam o
curso do nosso futuro. Se entregue ao amor de Jesus que sabe o que significa
ser ferido. Ele nos mostra como continuar a caminhar para além daquilo que nossas
feridas e cicatrizes deixaram. São Francisco de Sales escreveu: "Volte
seu rosto para Cristo crucificado, nu, blasfemado, caluniado, abandonado e
oprimido por todo o cansaço, tristeza, dor e trabalho." Jesus triunfou sobre
as feridas de sua humanidade. E assim mesmo, com a ajuda de Deus, nós podemos
fazer o mesmo.
Podemos ter certeza de que a vida
pode ser difícil. Como foi no caso de Jesus. Mesmo assim, podemos ser
muito mais fortes.
P. Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro de
Espiritualidade de Sales.
Tradução e adaptação: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB
Dos escritos de São Francisco de Sales
Hoje, no momento em que Jesus
apareceu aos seus discípulos depois da ressurreição, podemos apreciá-lo
ocupando Seu corpo glorioso e imortal. São Francisco de Sales nos diz o
seguinte:
Observe como a fé dos apóstolos
de Jesus foi abalada após a Sua crucificação! Todos estão reunidos numa
sala a portas fechadas, com medo. Jesus entra, senta-se entre eles e os cumprimenta: A
paz esteja convosco. Ele mostra as marcas e os símbolos da reconciliação
da humanidade com Deus e diz: observem minhas mãos e o meu lado. Por
que faz isso? Para reforçar a sua fé vacilante. Sem a presença de
nosso Salvador se sentiriam tímidos, sem forças. É isso que acontece
quando você não está com Deus. Eles estavam com medo. Como num navio numa
tempestade e sem comandante a bordo; este era o estado deste pobre
navio. Nosso Senhor aparece aos discípulos trazendo alívio para os seus
medos.
Que grande alegria, que júbilo
experimentaram os Apóstolos quando viram o seu Mestre de novo entre
eles. Jesus reafirma sua fé acovardada, reaviva as esperanças apagadas, e
ilumina o seu santo amor por Deus. A Fé, a esperança e o amor santo são
indispensáveis para nós durante a nossa permanência na terra. Quando estivermos
no céu só o amor sagrado irá perdurar. Durante os dias posteriores a Sua ressurreição,
especialmente com os seus discípulos e, particularmente, durante a aparição que
nos foi narrada no dia de hoje, nosso Salvador se dedica a fazer só uma coisa: mostrar
que é preciso crer, ter esperança e amar.
Ele chega para devolver a
segurança a este lugar assaltado pelo medo. Ele toma nossas misérias e as enobrece. Precisam
de forças? Aqui estão as minhas mãos. Precisam de um coração? Aqui
está o meu. Gentilmente, Seu poder vai nos dando poder. A fé viva
reconhece seu poder. Confortados pelo amor sagrado, a fé viva se dedica a
servir a Deus com fidelidade. Para permanecermos enraizados na fé, na feliz
esperança, e no amor sagrado e fervoroso, no qual poderemos nos alegrar por
toda a eternidade.
(Adaptado a partir dos escritos de São Francisco de
Sales, particularmente Obras: Sermões)