quarta-feira, 30 de maio de 2012

Perspectivas Salesianas

A partir de hoje estarei publicando toda a semana um texto sobre um assunto da Espiritualidade Salesiana (de São Francisco de Sales). A coleção chama-se Perspectivas Salesianas. Abordam os mais variados assuntos desta rica espiritualidade. São traduzidos do espanhol, do site dos Oblatos de São Francisco de Sales.Iniciamos tratando da Espiritualidade Salesiana.



Espiritualidade Salesiana

Esta é uma forma de viver o Evangelho como foi aprendido, vivido e partilhado por São Francisco de Sales (1567-1622) e Santa Joana Francisca de Chantal (1572-1641). Seus primeiros discípulos foram as Irmãs da Visitação de Santa Maria, uma comunidade de mulheres contemplativas fundada por estes dois santos em 1610. Sua visão continua hoje em dia, vivida por pessoas de todas as classes, estados e etapas de vida.
Ninguém deve pensar que irá conhecer profundamente esta espiritualidade num breve folheto. O que segue são alguns aspectos sobressalentes da Espiritualidade Salesiana.
·  Deus é amor, e toda a criação é uma efusão deste amor.
·  A criação toda foi feita por Cristo, com Cristo e em Cristo.
·  Toda a criação deve ser tratada com respeito e cuidado. Jesus é o modelo perfeito para todo ser humano.
·  Você possui dignidade divina e é, por isso, muito digno de profundo respeito.
·  Deus testemunhou que você é bom, digno de amor divino e misericórdia.
·  Em que pese suas debilidades e iniquidades, Deus o ama tanto, que lhe enviou a seu filho único feito homem.
·  Você foi chamado a ser santo, ou seja, a crescer em união com Deus.
·  Seguir uma vida santa se chama “espiritualidade (devoção)”, quer dizer, o que é disposto e guiado por Deus imediato, ativa e diligentemente.
·  A busca da santidade tem que ser prática.
·  E esta busca tem que transformar suas atitudes, qualidades e ações.
·  Reconheça suas fraquezas e pecados. Aprenda deles, mas não pense demasiado neles.
·  Deus lhe dá talentos e habilidades, dons que devem ser descobertos, desenvolvidos e usados para o bem dos outros.
·  As relações são essenciais para viver uma vida inteiramente humana, uma vida santa.
·  Cada momento de cada dia vem da mão de um Deus amoroso e indulgente para sua salvação. O único tempo real é cada momento presente. Não viva no passado; não more no futuro.
·  Viver cada instante plenamente com o olhar posto no amor de Deus deve conduzi-lo a sentir compaixão pelos outros.
·  O desafio de cada momento é descobrir a vontade de Deus, o modo particular e único como Ele o chama, para que o ame, não somente a Ele, mas a você mesmo e aos outros. A vontade de Deus é frequentemente comunicada através de fatos, circunstâncias e relações nas quais você encontra a si mesmo.
·  Deus às vezes exige que você execute grandes ou extraordinárias façanhas. Deus sempre o desafia a fazer ações cada dia com extraordinária atenção e entusiasmo.
·  As “pequenas virtudes” de paciência, humildade, nobreza, simplicidade, honestidade e hospitalidade, são poderosos meios para crescer na santidade.
·  Toda oração e toda meditação devem conduzir a uma ação.
·  A motivação com a qual você realiza alguma ação pode ser muito mais importante e poderosa do que a mesma ação.
·  A liberdade é um dom precioso e poderoso que Deus dá a você. E você deve usar esta liberdade para crescer conforme a vontade de Deus.
·  O trabalho intelectual, a reflexão piedosa, a interação social, o trabalho, os esportes e todas as coisas criativas devem ser valorizados como dons de Deus e vistos como meios para crescer com um ser plenamente humano. Cada novo dia é um novo começo, uma nova oportunidade para crescer na santidade.
·  Faça com que sua paixão seja disciplinada. Deixe que sua disciplina seja apaixonada. Mantenha as coisas na perspectiva do desenvolvimento. Desenvolva o sentido do humor.

Bem-vindo à Espiritualidade Salesiana!
Talvez ela possa ajudá-lo a converter-se numa pessoa plenamente humana. Ela talvez pode ajudá-lo a “Viver em Jesus”, a permitir que Jesus viva em você e a amar os outros através de você.


Para reflexão pessoal

1.  Você acredita que é uma pessoa boa?
2.  De acordo com seus conceitos, que quer dizer ser santo?
3.  Existe alguma dimensão da espiritualidade Salesiana esboçada neste folheto que você acha que é particularmente atrativa ou que satisfaz suas necessidades?
4.  Que aspectos da espiritualidade Salesiana descritos neste folheto são desafiantes para você?
5.  Com Deus o estaria chamando para “Viver em Jesus” neste momento de sua vida?

Para rezar:

“Meu Deus,
te entrego esta ação.
Concede-me a graça de
conduzir-me nela da maneira
mais grata aos teus olhos.
Desde já te ofereço
todo bem que possa fazer
e aceitar qualquer dificuldade
que se me apresente no caminho.”

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Reflexão Salesiana para o Domingo de Pentecostes - 27 de maio de 2012


     Na Festa de Pentecostes vemos que o Espírito da verdade capacita os discípulos de Jesus, e os leva a serem testemunhas autênticas de suas palavras e de suas obras. São Francisco de Sales nos diz o seguinte sobre isto: O amor sagrado que o Espírito derrama em nossos corações é muito mais extraordinário do que todas as outras formas de amor. O amor que o Espírito nos dá nos redime e nos dá a vida eterna. Na Festa de Pentecostes o Espírito Santo infundiu um novo vigor, fortaleceu e encheu de virtudes os discípulos de Jesus, para que pudessem continuar o trabalho que o nosso Salvador tinha começado, através da criação da Igreja.

     Vocês também estão desempenhando uma função apostólica e vivendo a fé através de suas vidas como cristãos. O amor do Espírito lhes permite continuar a obra de nosso Senhor. O trabalho que desempenham e que emana do amor do Espírito terá força e autenticidade de crescer como sementes de mostarda. Este Espírito divino não hesita em estabelecer sua morada em nós. Portanto precisamos abrir um espaço dentro de nós para o Espírito Santo. O que devemos fazer para abrir esse espaço? A primeira coisa que Deus pede de nós é o nosso coração. O espírito que vive em nós deseja abrir os nossos corações para a bondade de Deus. O Espírito de Jesus deseja que experimentemos os frutos do amor divino. O Espírito faz isso, dando-nos os dons e as bênçãos provenientes do amor sagrado, através das quais podemos alcançar a felicidade eterna.

     O nosso desejo de atingir a plenitude de uma vida santa é uma centelha da chama divina e da obra do Espírito. Se o nosso desejo é o de embarcarmos na pequena barca da Igreja para navegar pelas águas amargas do mundo, nosso Salvador vai nos ajudar a deslizarmos no caminho para a felicidade eterna. Ele fará todo o possível para nos encorajar a tomar os remos e remar com as mãos. Ele prometeu que, se nos dermos ao trabalho de remar nosso barco, Ele vai nos levar para outro lugar que é cheio de vida. Na medida em que permitirmos ao Espírito dilatar nossos corações, ele incrementará nossa capacidade de amar divinamente. Verdadeiramente bem-aventurados são aqueles que optam por servir a Deus, mesmo que seja só um pouco! Ele nunca permitirá que eles sejam improdutivos nem infrutuosos! Quem, então, pode resistir ao amor enriquecedor do Espírito Santo?

Destaque: "Cada um de nós os ouve falar em nossa própria língua sobre as maravilhas de Deus".

Perspectiva Salesiana

     Independentemente do fato de que eles falaram para pessoas diferentes, com diferentes línguas e culturas, os apóstolos foram compreendidos por todos os que ouviam quando proclamaram as maravilhas que Deus tinha feito.

     Como foi isso possível?

     Incendiados pelo amor do Espírito Santo, os apóstolos falavam a linguagem do coração. Eles falavam com entusiasmo. Eles falavam com gratidão. Eles estavam louvando e dando graças. Eles falavam desde do fundo do seu ser. Eles falavam a partir de sua alma.

     Em suma, eles estavam falando a linguagem universal - a linguagem do coração.
     Nós somos muito humanos - nós somos muito divinos - quando falamos a linguagem do coração, quando falamos a linguagem do amor, quando falamos e ouvimos com a alma, quando estamos fundamentados na Palavra que se fez Carne.

     Como sabemos muito bem, por experiência própria, a comunicação é mais do que um encontro de olhares... da língua ou do ouvido. A comunicação é algo mais fácil de dizer do que fazer. Muitas vezes não compreendemos. Muitas vezes, presumimos que sabemos que os outros estão pensando ou sentindo. Muitas vezes usamos as mesmas palavras, embora tenham significados diferentes. Muitas vezes temos maneiras diferentes de dizer a mesma coisa. Muitas vezes ouvimos, mas muitas vezes não conseguimos entender. Estamos sempre falando, mas falar não é o mesmo que comunicar-se.... ou falar de coração a coração.

     São Francisco de Sales diz que o Espírito Santo vem para acender os corações daqueles que tem fé. Quando falamos e escutamos com coração incendiado de alegria, verdade e gratidão, o conflito encontra um caminho para a compreensão, a confusão encontra a clareza, o distanciamento encontra o caminho para a intimidade, a dor encontra uma maneira de curar, a frustração encontra o perdão, a violência encontra a paz, o pecado encontra a salvação.

     Francisco de Sales nos dá o seguinte conselho: "Fale sempre de Deus como Deus, isso significa, com reverência e devoção, sem ostentação ou maneirismos, mas com um espírito de caridade, dócil, manso e humilde. Deixe que o mel de devoção, e daquelas coisas divinas que são imperceptíveis ao ouvido de uma e de outra pessoa, possam fluir o tanto que puderem. Reze por tua alma para agradar a Deus, e que ele faça com que este orvalho abençoado penetre nos corações daqueles que te escutem. É maravilhoso como uma proposta doce e amigável atrai os corações dos ouvintes."

     Como devemos falar, ouvir, ou praticar a linguagem do amor hoje?


P. Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro Espiritual de Sales
Tradução e adaptação - P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Reflexão Salesiana para o domingo da Ascensão - 20 de maio de 2012


46º Dia Mundial das Comunicações Sociais

A palavra "comunicação" é um termo eminentemente "salesiano". São Francisco de Sales gosta muito de usar esta palavra para falar da grande comunicação do amor de Deus que é derramado em nossos corações. A comunicação do amor derramado também por Jesus Cristo e pelo Espírito Santo. Veja no texto abaixo onde São Francisco, bem no final do texto, fala na comunicação da felicidade e do esplendor de Deus para nós neste dia da ascensão. Hoje celebramos o 46º dia mundial das Comunicações sociais. O Papa escreve todos os anos uma mensagem para este dia. Leia a deste ano, "Palavra e silêncio". É muito interessante. Divulgue também as ideias que estão contidas nesta carta.

Perspectiva Salesiana para o dia da Ascensão

"Ide pelo mundo inteiro e anunciai o evangelho a toda criatura!"

     Ao falar do mistério da Ascensão de Nosso Senhor, Francisco de Sales escreveu: "Assim fazemos também nós, Teótimo, se somos espirituais, pois deixamos a nossa vida humana para vivermos de uma outra vida mais eminente acima de nós mesmos, ocultando toda essa vida nova em Deus com Jesus Cristo, que é só quem a vê, a conhece e a dá. A nossa vida nova é o amor celeste que vivifica e anima nossa alma, e esse amor está todo oculto em Deus e nas coisas divinas com Jesus Cristo. As letras sagradas do Evangelho dizem que Jesus Cristo se deixou ver um pouco por seus discípulos e depois subiu para o céu, e uma nuvem circundou-o, escondeu-o e o tirou de diante dos olhos deles. Jesus Cristo está, pois, oculto no céu em Deus. Ora, Jesus Cristo é nosso amor, e nosso amor é a vida de nossa alma. Logo, nossa vida está oculta em Deus com Jesus Cristo. E quando Jesus Cristo, que é nosso amor, e por conseguinte a nossa vida espiritual aparecer no dia do juízo, estão nós apareceremos com ele em glória. Quer dizer, Jesus Cristo, nosso amor, nos glorificará, comunicando-nos a sua felicidade e esplendor"( Tratado do Amor de Deus , Livro VII, Capítulo 6)
     Nossa vida é de fato escondida em Deus. A realidade mais profunda de quem somos é conhecida apenas por Deus. Ainda assim, para Francisco de Sales, vivendo uma vida escondida em Deus não é o mesmo que manter um segredo na vida: trata-se de dar testemunho da verdade mais profunda de quem somos - e de quem é Deus - pela qualidade de nossos relacionamentos uns com os outros.  Para viver desta maneira, Francisco de Sales chama-nos a praticar as virtudes escondidas, "as pequenas e humildes virtudes que crescem como flores aos pés da cruz: ajudar os pobres, visitar doentes e cuidar de sua família, com todos as tarefas inerentes a essas coisas, a utilíssima diligência de se afastar da ociosidade"(Introdução à Vida Devota , Parte III, Capítulo 35)
     Através da Ascensão, Jesus foi tirado da nossa vista: pelo menos, a partir da compreensão da nossa visão física. No entanto, a mesma autoridade que Jesus afirmou do seu Pai nos é dada em virtude de nossa criação e confirmada em nosso batismo. Somos chamados a continuar a obra que Jesus começou, isto é, fazer discípulos-seguidores, crentes - de todas as nações. Somos chamados a sermos sinais convincentes do evangelho no decorrer de nossas vidas, não fazendo coisas extraordinárias, mas nas tarefas simples e ordinárias da vida cotidiana. Paradoxalmente, na medida em que formos fiéis em praticar pouco a pouco as virtudes ocultas e pequenas que crescem "aos pés da cruz", Jesus não estará mais escondido: ele tornar-se-á visível no amor, na preocupação, na busca da justiça, na promoção da paz e na nossa vontade de perdoar e de sermos perdoados de nossas faltas.
     O que poderia haver de mais poderoso e convincente do que isso para fazer discípulos em todas as nações? Ou, pelo menos, fazer discípulos as pessoas com quem interagimos todos os dias nos nossos cantinhos do mundo?

P. Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro Espiritual de Sales
Tradução: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB


MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI PARA O 46º DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS
«Silêncio e palavra: caminho de evangelização»
[Domingo, 20 de Maio de 2012]


Amados irmãos e irmãs,
Ao aproximar-se o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2012, desejo partilhar convosco algumas reflexões sobre um aspecto do processo humano da comunicação que, apesar de ser muito importante, às vezes fica esquecido, sendo hoje particularmente necessário lembrá-lo. Trata-se da relação entre silêncio e palavra: dois momentos da comunicação que se devem equilibrar, alternar e integrar entre si para se obter um diálogo autêntico e uma união profunda entre as pessoas. Quando palavra e silêncio se excluem mutuamente, a comunicação deteriora-se, porque provoca certo aturdimento ou, no caso contrário, cria um clima de indiferença; quando, porém se integram reciprocamente, a comunicação ganha valor e significado.
O silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo. No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos, nasce e aprofunda-se o pensamento, compreendemos com maior clareza o que queremos dizer ou aquilo que ouvimos do outro, discernimos como exprimir-nos. Calando, permite-se à outra pessoa que fale e se exprima a si mesma, e permite-nos a nós não ficarmos presos, por falta da adequada confrontação, às nossas palavras e ideias. Deste modo abre-se um espaço de escuta recíproca e torna-se possível uma relação humana mais plena. É no silêncio, por exemplo, que se identificam os momentos mais autênticos da comunicação entre aqueles que se amam: o gesto, a expressão do rosto, o corpo enquanto sinais que manifestam a pessoa. No silêncio, falam a alegria, as preocupações, o sofrimento, que encontram, precisamente nele, uma forma particularmente intensa de expressão. Por isso, do silêncio, deriva uma comunicação ainda mais exigente, que faz apelo à sensibilidade e àquela capacidade de escuta que frequentemente revela a medida e a natureza dos laços. Quando as mensagens e a informação são abundantes, torna-se essencial o silêncio para discernir o que é importante daquilo que é inútil ou acessório. Uma reflexão profunda ajuda-nos a descobrir a relação existente entre acontecimentos que, à primeira vista, pareciam não ter ligação entre si, a avaliar e analisar as mensagens; e isto faz com que se possam compartilhar opiniões ponderadas e pertinentes, gerando um conhecimento comum autêntico. Por isso é necessário criar um ambiente propício, quase uma espécie de «ecossistema» capaz de equilibrar silêncio, palavra, imagens e sons.
Grande parte da dinâmica atual da comunicação é feita por perguntas à procura de respostas. Os motores de pesquisa e as redes sociais são o ponto de partida da comunicação para muitas pessoas, que procuram conselhos, sugestões, informações, respostas. Nos nossos dias, a Rede vai-se tornando cada vez mais o lugar das perguntas e das respostas; mais, o homem de hoje vê-se, frequentemente, bombardeado por respostas a questões que nunca se pôs e a necessidades que não sente. O silêncio é precioso para favorecer o necessário discernimento entre os inúmeros estímulos e as muitas respostas que recebemos, justamente para identificar e focalizar as perguntas verdadeiramente importantes. Entretanto, neste mundo complexo e diversificado da comunicação, aflora a preocupação de muitos pelas questões últimas da existência humana: Quem sou eu? Que posso saber? Que devo fazer? Que posso esperar? É importante acolher as pessoas que se põem estas questões, criando a possibilidade de um diálogo profundo, feito não só de palavra e confrontação, mas também de convite à reflexão e ao silêncio, que às vezes pode ser mais eloquente do que uma resposta apressada, permitindo a quem se interroga descer até ao mais fundo de si mesmo e abrir-se para aquele caminho de resposta que Deus inscreveu no coração do homem.
No fundo, este fluxo incessante de perguntas manifesta a inquietação do ser humano, sempre à procura de verdades, pequenas ou grandes, que deem sentido e esperança à existência. O homem não se pode contentar com uma simples e tolerante troca de cépticas opiniões e experiências de vida: todos somos perscrutadores da verdade e compartilhamos este profundo anseio, sobretudo neste nosso tempo em que, «quando as pessoas trocam informações, estão já a partilhar-se a si mesmas, a sua visão do mundo, as suas esperanças, os seus ideais» (Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2011).
Devemos olhar com interesse para as várias formas de sítios, aplicações e redes sociais que possam ajudar o homem atual não só a viver momentos de reflexão e de busca verdadeira, mas também a encontrar espaços de silêncio, ocasiões de oração, meditação ou partilha da Palavra de Deus. Na sua essencialidade, breves mensagens – muitas vezes limitadas a um só versículo bíblico – podem exprimir pensamentos profundos, se cada um não descuidar o cultivo da sua própria interioridade. Não há que surpreender-se se, nas diversas tradições religiosas, a solidão e o silêncio constituem espaços privilegiados para ajudar as pessoas a encontrar-se a si mesmas e àquela Verdade que dá sentido a todas as coisas. O Deus da revelação bíblica fala também sem palavras: «Como mostra a cruz de Cristo, Deus fala também por meio do seu silêncio. O silêncio de Deus, a experiência da distância do Omnipotente e Pai é etapa decisiva no caminho terreno do Filho de Deus, Palavra Encarnada. (...) O silêncio de Deus prolonga as suas palavras anteriores. Nestes momentos obscuros, Ele fala no mistério do seu silêncio» (Exort. ap. pós-sinodal Verbum Domini, 30 de Setembro de 2010, n. 21). No silêncio da Cruz, fala a eloquência do amor de Deus vivido até ao dom supremo. Depois da morte de Cristo, a terra permanece em silêncio e, no Sábado Santo – quando «o Rei dorme (…), e Deus adormeceu segundo a carne e despertou os que dormiam há séculos» (cfr Ofício de Leitura, de Sábado Santo) –, ressoa a voz de Deus cheia de amor pela humanidade.
Se Deus fala ao homem mesmo no silêncio, também o homem descobre no silêncio a possibilidade de falar com Deus e de Deus. «Temos necessidade daquele silêncio que se torna contemplação, que nos faz entrar no silêncio de Deus e assim chegar ao ponto onde nasce a Palavra, a Palavra redentora» (Homilia durante a Concelebração Eucarística com os Membros da Comissão Teológica Internacional, 6 de Outubro de 2006). Quando falamos da grandeza de Deus, a nossa linguagem revela-se sempre inadequada e, deste modo, abre-se o espaço da contemplação silenciosa. Desta contemplação nasce, em toda a sua força interior, a urgência da missão, a necessidade imperiosa de «anunciar o que vimos e ouvimos», a fim de que todos estejam em comunhão com Deus (cf. 1 Jo 1, 3). A contemplação silenciosa faz-nos mergulhar na fonte do Amor, que nos guia ao encontro do nosso próximo, para sentirmos o seu sofrimento e lhe oferecermos a luz de Cristo, a sua Mensagem de vida, o seu dom de amor total que salva.
Depois, na contemplação silenciosa, surge ainda mais forte aquela Palavra eterna pela qual o mundo foi feito, e identifica-se aquele desígnio de salvação que Deus realiza, por palavras e gestos, em toda a história da humanidade. Como recorda o Concílio Vaticano II, a Revelação divina realiza-se por meio de «ações e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal modo que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras e esclarecem o mistério nelas contido» (Const. dogm. Dei Verbum, 2). E tal desígnio de salvação culmina na pessoa de Jesus de Nazaré, mediador e plenitude da toda a Revelação. Foi Ele que nos deu a conhecer o verdadeiro Rosto de Deus Pai e, com a sua Cruz e Ressurreição, nos fez passar da escravidão do pecado e da morte para a liberdade dos filhos de Deus. A questão fundamental sobre o sentido do homem encontra a resposta capaz de pacificar a inquietação do coração humano no Mistério de Cristo. É deste Mistério que nasce a missão da Igreja, e é este Mistério que impele os cristãos a tornarem-se anunciadores de esperança e salvação, testemunhas daquele amor que promove a dignidade do homem e constrói a justiça e a paz.
Palavra e silêncio. Educar-se em comunicação quer dizer aprender a escutar, a contemplar, para além de falar; e isto é particularmente importante paras os agentes da evangelização: silêncio e palavra são ambos elementos essenciais e integrantes da ação comunicativa da Igreja para um renovado anúncio de Jesus Cristo no mundo contemporâneo. A Maria, cujo silêncio «escuta e faz florescer a Palavra» (Oração pela Ágora dos Jovens Italianos em Loreto, 1-2 de Setembro de 2007), confio toda a obra de evangelização que a Igreja realiza através dos meios de comunicação social.
Vaticano, 24 de Janeiro – dia de São Francisco de Sales – de 2012.
BENEDICTUS PP. XVI


sexta-feira, 11 de maio de 2012

Reflexão para o 6º domingo da Páscoa - 13 de maio de 2012


     É muito bonito e significativo que o dia das mães caia, neste ano, neste sexto domingo da Páscoa. Nós frequentamos tantas academias no mundo de hoje... talvez nem todos frequentem a academia do amor, assim denominada por São Francisco de Sales para referir-se ao amor como autodoação. Creio que nossas mães fizeram e fazem muito autodoação. Muitas delas frequentam também a academia do Calvário, de onde brota, segundo Sales, o verdadeiro amor. Parabéns a todas as mães!
     Gostaria de falar um pouco também da mãe de São Francisco de Sales. Chamava-se Francisca. Uma "verdadeira dama" na opinião de Santa Joana de Chantal, que a conheceu. Entre ela e Francisco desenvolveu-se uma intimidade excepcional. Ela tendia a mimar Francisco. Porém, velou pela sua educação religiosa, ensinou as orações, o levava à Igreja. Dizem que Francisco se converteu "em ídolo de sua mãe". Dizem também que as primeiras palavras que ele disse foram estas: "Meu Deus e minha mãe me amam muito". Mais tarde, Francisco a chamará de "minha caríssima e ótima mãe". Quando ele como bispo dava aula de catecismo para as crianças, sua mãe ia ouví-lo. Um dia ele disse para ela: "mãe, não precisa vir ao catecismo. Tudo o que eu falo para as crianças, ouvi, quando pequeno, de seus lábios". E ela respondeu: "Só que naquela época eu te dizia as palavras, ensinava o catecismo sem compreender o significado. Agora, escutando tuas explicações, entendo tudo".

Destaque: "Amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei."

Perspectiva Salesiana

     Jesus nos ensinou um tipo de amor que é muito diferente do amor que experimentamos comumente no mundo. Através de suas palavras e de suas obras, Ele nos mostrou o amor da Trindade. Este amor é um amor que se autossacrifica, um amor tão focado nos outros que o eu é esquecido. No grande mistério da Páscoa vemos Jesus tão envolvido no amor do Pai que Ele voluntariamente sacrificou seu próprio ser por este amor: seu amor pela vontade do Pai era tudo o que importava.
     São Francisco de Sales é um mestre espiritual na escola deste amor. Sua grande obra, o Tratado do Amor de Deus mostra a viagem ao coração do amor que é a própria Trindade. No final deste trabalho de dois volumes, Francisco chega ao calvário. Para Francisco, esta é a verdadeira academia do amor: quando a vontade humana se rende diante da vontade do Pai num ato de autodoação, o amor floresce. Nada acende tão forte o coração humano como este amor desinteressado.
     Francisco de Sales escreveu: "A morte e a Paixão de nosso Senhor é o mais doce, o motivo mais poderoso que pode animar nossos corações nesta vida mortal... os filhos da cruz se glorificam nisto, e este é o paradoxo que o mundo não compreende: da morte que devora todas as coisas, vem o alimento da nossa consolação, e da força da morte sobre todas as coisas, saiu o doce mel do nosso amor. Ó Jesus, meu Salvador! Como a vossa morte é amável, já que é o soberano efeito do vosso amor". (TAD, parte 12, cap. 13)
     São Francisco de Sales e Santa Joana de Chantal são conhecidos por desenvolver uma filosofia da vida tão otimista, gentil, humilde e afetuosa porque centraram-na no Calvário. Como podem a amizade e a devoção brotar desta fonte?  No entanto, é isto que celebramos, precisamente, no dia de hoje. A Páscoa, a Ressurreição, a nova vida prometida por Deus serão nossas quando seguirmos este caminho. Sempre que passarmos pelo Calvário, Jesus nos mostrará que o objeto deste amor sacrificado será poder partilhar a vida na própria Trindade. Esta vida, o destino verdadeiro do espírito humano, é o amor que nunca termina.
     Nós não precisamos ir muito longe para encontrarmos a oportunidade de doar este amor sacrifício. São Francisco de Sales sabia muito bem que estas oportunidades estão presentes na caminhada e em cada situação da vida. Estas oportunidades vem em tamanhos pequenos, médios e grandes. O desejo diário e a habilidade para acolhê-las é a chave para a santidade. Escutemos Jesus: "Eu vos disse isso para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena".

P. Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro Espiritual de Sales
Tradução e adaptação - P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Reflexão Salesiana para o 5º domingo da Páscoa - 06 de maio de 2012























Quem vai a serra gaúcha no verão terá oportunidade de ver as videiras carregadas de uvas. Eu fui várias vezes na festa da uva, em Caxias do Sul, onde a gente pode ver belos cachos de uvas, como a da foto que tirei na última exposição que fui. Produzir bons frutos e Viver em Jesus, como dizia São Francisco de Sales é o tema deste final de semana.

Destaque

"Este é o seu mandamento: que creiamos no nome do seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, de acordo com o mandamento que ele nos deu. Quem guarda os seus mandamentos, permanece com Deus e Deus permanece com ele".

     O trecho da Escritura que lemos no dia de hoje faz parte do discurso da despedida de Jesus aos apóstolos. Este discurso ocupa vários capítulos do Evangelho de São João. As palavras que Jesus transmite aos discípulos são importantes e Ele deseja que eles se recordem sempre delas. Usando uma comparação poderosa e muito bonita, Jesus fala de si mesmo, dizendo que ele é a videira e os discípulos são os ramos. Diz que devem estar próximos a Ele. Para serem saudáveis, os ramos que dão frutos devem estar dispostos a serem podados para libertar-se de coisas que não permitem que deem frutos. Acima de tudo, dever ser parte da videira. Separados da videira não poderão dar frutos. Murcharão e serão jogados fora, bons apenas para serem queimados.
     Jesus esclarece que os discípulos receberam aquilo que estavam precisando. Eles ouviram as palavras que ele lhes falou. Acreditando Nele e nas palavras de vida partilhadas por Ele, eles viverão Nele e Ele viverá neles. O primeiro e o mais importante passo será escutar a palavra. Mas é somente o primeiro passo. Viver a palavra, absorvê-la e torná-la parte integral da vida é o que deve acontecer com a pessoa que está se esforçando para ser discípulo de Jesus. Isto é tão certo para nós hoje em dia como o foi para os discípulos aos quais Jesus falou e com os quais viveu aqui na terra.
     Nós também escutamos as Palavras de Deus. Como os discípulos, somos chamados a viver em Jesus, como dizia São Francisco de Sales, enquanto cumprimos os afazeres de cada dia. E qual é o fruto que deveremos produzir? Nosso fruto é uma vida marcada pelo amor de Cristo, uma vida vivida de uma forma que demonstre a nossos irmãos e irmãs que verdadeiramente acreditamos naquilo que Jesus nos diz. É uma vida caracterizada pela paciência, pela bondade, pela gentileza e pela humildade.
  Como sabemos se estamos vivendo em Jesus e que ele está vivendo em nós? Cumprindo os mandamentos. Nós somos chamados a amar "não somente com palavras e de boca, mas com ações e de verdade". Podemos e devemos ler as escrituras e outros livros de espiritualidade. Podemos e devemos meditar sobre a vida, a morte e a ressurreição de Jesus. Podemos e devemos rezar e participar dos sacramentos da Igreja. Porém, o que irá contar é o modo como tratamos nossos irmãos e irmãs. Se nossas palavras não estiverem apoiadas em nossas obras, serão somente palavras vazias, boas para nada.
    Se falarmos do perdão de Jesus, mas continuarmos com ressentimentos contra um parente por algo que tenha acontecido dez anos atrás, não estaremos vivendo em Jesus. Se tivermos ressentimentos em nossos corações contra um colega que conseguiu o sucesso que nós queríamos, não estaremos vivendo em Jesus. Se nos negamos a reconhecer o comportamento viciado e nos negamos a buscar ajuda, não estaremos vivendo em Jesus. Se nos encanta falar de infortúnios ou das fraquezas dos nossos vizinhos, então teremos que podar muita coisa para podermos dar fruto em nome de Jesus.

P. Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro Espiritual de Sales
Tradução: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB