sexta-feira, 29 de julho de 2011

Reflexão Salesiana para o Décimo oitavo domingo do tempo comum – 31 de julho de 2011


No evangelho de hoje experimentamos o modo como Jesus usa o seu poder para curar e animar as pessoas. Nós também somos chamados a colocar nossos dons para amar e cuidar dos outros. São Francisco de Sales elabora um pouco mais este tema:

Devemos amar de maneira intensa para ajudar os outros, para que prosperem no caminho da santidade. A fé, a esperança e o amor, constituem o núcleo do coração generoso. A generosidade nos permite confiar que a bondade de Deus está dentro de cada um de nós. A generosidade nos impulsiona a proclamar que podemos fazer qualquer coisa em Deus, que nos fortalece. Um coração humilde e generoso, comandado por Deus, pode fazer milagres. Mesmo quando se mantém vigilante para evitar uma queda, o coração que confia em Deus dá origem a um espírito generoso. O espírito generoso, humilde de coração, põe mãos à obra, com plena segurança de que Deus não deixará de dar os meios necessários para tornar realidade os seus projetos.

O coração generoso não se fia em sua própria força para levar a término estas tarefas. Confia inteiramente nos dons que Deus lhe dá. Portanto, devemos valorizar enormemente os dons que Deus nos deu. Devemos reconhecê-los, respeitá-los, honrá-los e utilizá-los para dar glória a Deus. Existem pessoas que possuem uma falsa humildade, que as impede de ver a bondade nelas mesmas. A verdadeira humildade é generosa, e reduz toda falsidade existente em nós. A falsidade nos degrada e não nos permite apreciar nossa inerente excelência. A falsidade não quer que tenhamos em conta a excelência de Deus em nós. Devemos dar-nos conta de que estamos sendo orgulhosos quando recusamos a graça que Deus deseja dar-nos. Temos a obrigação de aceitar os presentes de Deus.

Se valorizarmos a Deus, que é o autor da nossa perfeição, aprenderemos a valorizar os dons espirituais escondidos em nós e nos nossos semelhantes. Nosso próprio amor, e os demais, tem origem no amor de Deus do qual Jesus Cristo foi o exemplo. Nosso Salvador sempre preferiu a nós mesmos antes que a Si Mesmo, e continua fazendo-o cada vez que nos aviva por meio da eucaristia. De mesmo modo, Ele deseja que nós alimentemos nossos dons utilizando-os para amá-lo e servi-lo, com todo nosso coração e com todo o nosso poder.

(Adaptação dos escritos de São Francisco de Sales, particularmente As Conferências Espirituais, I. Edições Carneiro)

Destaque: “Dai-lhes vós mesmos de comer!”

Perspectiva Salesiana

Os discípulos encontravam-se preocupados pelo bem estar da multidão que tinha seguido Jesus até um lugar deserto. Tinha sido um longo dia, a noite se aproximava e não havia nenhum lugar próximo onde as pessoas poderiam conseguir comida, e, pior ainda, hospedagem. Sentindo-se temerosos com as possíveis consequências, os discípulos sugeriram a Jesus que ele deveria despedir as pessoas para suas casas.

Parecia, à primeira vista, a melhor sugestão razoável. Do ponto de vista simplesmente prático, os discípulos tinham medo dos possíveis resultados que poderiam acontecer com tal multidão num deserto, sem provisões. Por isto, ainda mais surpreendente foi o que Jesus disse aos discípulos, em vez de despedir a multidão: “Dai-lhes vos mesmos de comer”

Que motivou Jesus a responder desta maneira?

Considerem que é possível que Jesus fosse capaz de perceber um nível mais profundo de medo nos discípulos, um medo muito mais aterrador que a perspectiva dos cinco mil homens, das mulheres e das crianças sem água e sem alimentos. Talvez os discípulos tivessem medo de que a multidão invertesse, buscando ajuda neles... ou, pior ainda, que se voltassem contra eles por não poderem ajudá-los. Ao enfrentarem-se com esta perspectiva tão aterradora, os discípulos, efetivamente, decidiram sugerir a Jesus que o melhor seria enviar as pessoas para suas casas.

Devemos estar seguros de uma coisa, existem certas circunstâncias em nossas vidas – e nas vidas daqueles a quem amamos – que parecem ultrapassar qualquer tempo, talento, tesouro que nós possuímos. Como diria “Dirty Harry” o famoso personagem protagonizado por Clint Eastwood, “um homem tem que estar consciente de suas limitações.” É sábio que, em tempos de necessidade, nas quais sejamos confrontados com nossas limitações, nos voltemos para Jesus.

Porém, esta cena do Evangelho de Mateus nos desafia a considerar as circunstâncias nas quais somos tentados a dirigir-nos a Deus precipitadamente, buscando respostas sem antes considerar que Deus espera que nós sejamos instrumentos de vida e de amor para os outros. Circunstâncias maiores como trazer a paz para o Oriente Médio é algo que está além do alcance de nossas possibilidades. Por isso eu peço a Deus que traga a paz e peço por aquelas pessoas que trabalham pela realização da mesma. Porém, em outros casos, quantas vezes esperamos que Deus dê alimentos para os famintos sem antes considerar que nós somos chamados a oferecer alimento e bebida para os outros. Quantas vezes pedimos a Deus que ajude a salvar uma relação, sem antes fazer nenhum tipo de esforço para sermos nós mesmos fontes de cura?

Frequentemente em minha vida eu me volto para Deus esperando que ele resolva o problema imediatamente, sem sequer considerar que Deus pode estar pedindo para que eu seja parte da solução?

Em resumo, viver uma vida espiritual – seguindo o exemplo de Jesus – não é fazer tudo depender somente de Deus, nem tão pouco, que dependa somente dos outros. Trata-se na vida de ter equilíbrio, de discernir, de aceitar aquelas situações nas quais nós devemos depender de Deus para conseguir o bem e também para reconhecer as circunstâncias nas quais Deus depende de nós para fazer com que as coisas boas cheguem a um bom final.

P. Michael S. Murray, OSFD – Diretor do Centro Espiritual de Sales
Tradução: P. Tarcizio Paulo Odelli – SDB. 

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Dia a dia com Francisco de Sales - 28 de julho de 1597


Acho impressionante a criatividade dos santos para atingirem os seus objetivos. Dom Bosco usou todos os meios que tinha à disposição na sua época, livros, teatro, esportes, música... para a educação da juventude. Lendo a vida de São Francisco de Sales vemos que ele fez o mesmo. Usou os recursos disponíveis na sua época para evangelizar. Vejam o que aconteceu no dia 28 de julho de 1597. Ele pediu para o padre Esprit Baume, capuchinho, que preparasse as "Quarenta Horas" de adoração ao Santíssimo na paróquia de Annemasse, próxima a Genebra, no Chablais. Esta era uma devoção medieval, que consistia em adorar o Santíssimo 40 horas ininterruptamente. E para que as pessoas aprendessem de uma forma melhor a Palavra de Deus, de uma forma agradável e de santa recreação, pediu para seu irmão Luís de Sales, versado em Letras, para que montasse uma encenação teatral do sacrifício de Abraão, que foi apresentado e declamado por jovens convertidos. Olhem o protagonismo dos jovens! Francisco dizia que as histórias sagradas "apresentadas com unção, ficam gravadas no mais fundo do coração e se guardam mais facilmente". 

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Dia a dia com Francisco de Sales

No dia 27 de julho de 1606, Francisco de Sales estava visitando a paróquia de Santo André em Domancy. no dia seguinte ele pretendia visitar a igreja de Nossa Senhora da Garganta e a de Nossa Senhora de Cervoz. Uma pessoa fez uma brincadeira, dizendo que o bispo ia visitar a senhora fulana, que era tida por uma grande faladora. Francisco deixou de lado a costumeira amabilidade, pôs-se sério e cheio de zelo e de respeito para com Nossa Senhora, repreendeu publicamente o "zombador". Mandou que ele oferecesse uma vela branca em cada uma destas igrejas, em honra e desagravo à Santíssima Virgem. "Porque, disse ele, ela é Nossa Senhora da Garganta e do cérebro, do coração e dos olhos, e de tudo que somos, corporal e espiritualmente." Esta pessoa envolvida no caso falou isso no processo de sua canonização. (A.S. VII, p. 684)

terça-feira, 26 de julho de 2011

Dia a dia com Francisco de Sales



No dia de hoje, 26 de julho, em 1606 Francisco estava fazendo suas visitas pastorais na grande diocese de Genebra. Ele estava na paróquia de São Tiago, em Sallanches. Um jovem de 26 anos pediu para confessar-se com ele. Durante a confissão, no meio da igreja, começou a chorar tão alto e tão forte, que o Santo não se conteve, e começou a chorar também. Vendo isso, algumas pessoas, impacientadas, disseram ao Santo que esta confissão estava demorando demais e que as pessoas estavam indo embora. Deram este aviso três vezes. O santo prelado enxugou os olhos e disse então: "Pois bem, um pouco de paciência, por favor. É melhor que as as noventa e nove ovelhas sofram um pouco do que perder a hora de Deus para reconduzir-me esta". E terminou atendendo tranquilamente o jovem. Depois o abraçou diante de todo o povo, com uma ternura paternal. Todo mundo comentava: "olhem ai verdadeiramente, o Pai do filho pródigo." A conversão deste jovem foi muito proveitosa para sua família e para exemplo dos demais.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

A perseverança


"A perseverança é o dom mais valioso que podemos aspirar nesta vida, que unicamente provém de Deus. Só Ele tem o poder de sustentar quem está em pé e levantar aquele que tropeça. por isso, temos que pedir sem cessar, empregando os meios que Deus nos indicou para consegui-la: a oração, o jejum, a esmola, a frequência aos sacramentos, a bom companhia, a escuta e a leitura da Sagrada Escritura. A perseverança não se origina da nossa capacidade, mas da misericórdia divina. No entanto, está ao nosso alcance por meio da nossa vontade, que é capacidade nossa. Assim a graça divina é necessária para podermos perseverar, mas ela não faltará nunca aos que não abandonam o amor de Deus por vontade própria". (TAD, Livro 3, Cap. 4)

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Reflexão Salesiana para o domingo XVII do Tempo Comum - 24 de julho de 2011

Sonho de Salomão - Lucas Jordán - 1694

O Evangelho de hoje nos diz que devemos procurar o reino dos céus sem se importar com o custo, porque vale a pena investir tudo. São Francisco de Sales oferece conselhos práticos sobre como continuar a progredir em nossa busca do Reino:

O que devemos fazer não é mais do que já estamos fazendo: devemos adorar a providência de Deus, atirarmo-nos nos braços de Deus e entregar-nos aos Seus cuidados. Bem-aventurados os que escolheram entregar-se nas mãos de Deus! Para renovar e dar cumprimento a presente decisão, tão somente temos que proclamar que amamos exclusivamente a Deus, e nós amamos tudo por amor a Ele. Ser constantes neste empenho nos ajuda bastante já que infunde amor em todas as nossas obras. É particularmente útil para todas as ações que levamos até o fim no cumprimento de nosso trabalho diário. O cumprimento das tarefas necessárias, com base na vocação de cada pessoa, ajuda a aumentar o amor divino e recobre de ouro uma obra de santidade.

Devemos ser como aquela mulher corajosa que fala o Antigo Testamento. "Ela estende a mão para as coisas fortes, generosas e enaltecidas, e ainda assim não se esquiva em colocar as suas mãos no fuso, e suas mãos na roca". Estendam suas mãos para as coisas fortes, ganhem experiência através da oração e da meditação, recebendo os sacramentos, guiando as almas para que amem a Deus, e infundindo inspirações positivas em seus corações. Façam trabalhos importantes de acordo com sua vocação, mas nunca esqueçam seu fuso e nem sua roca. Isto significa que vocês devem implementar as pequenas virtudes como a simplicidade, a paciência, a humildade e a generosidade, que crescem como flores cada vez que levam até o fim as pequenas obras com um grande amor.

O rouxinol não sente menos amor por sua canção quando ele faz uma pausa mais do que quando ele canta. Da mesma forma, o coração que se dedica a espiritualidade não sente menos amor quando se concentra no cumprimento dos trabalhos externos, mais do que quando em oração. Nestes corações o silêncio e a fala, o trabalho e o descanso, cantam com um amor repousante cheio de alegria. Sua oração diária de vida se espalha a todas as suas ações. Eles buscam o reino de Deus a qualquer custo, e isso é revelado a eles.

(Adaptado dos escritos de São Francisco de Sales, em particular o seu Tratado do Amor de Deus).

Destaque: "Dá, pois a teu servo um coração compreensivo..."

Perspectiva Salesiana

De todas as coisas que Salomão poderia pedir a Deus, a única que pediu foi "um coração compreensivo" para distinguir o certo do errado. Dizem-nos que Deus estava verdadeiramente satisfeito com esse pedido tão sábio e intuitivo. Deus dá a Salomão o que ele pediu, um presente que tanto serviria a Salomão, que o tornou no mais sábio dos reis de Israel.

"Um coração compreensivo." Esta parece ser uma das características mais notáveis ​​de todos os santos de Deus. Santos de todas as idades e culturas muitas vezes mostram (entre outras coisas) uma capacidade de entender as coisas que são realmente importantes na vida.

São Francisco de Sales não foi exceção nesta tendência. Em uma carta a Santa Joana Francisca de Chantal escreveu: "Espero que eu possa receber e utilizar o dom da compreensão como deveria fazê-lo, para assim poder obter um entendimento mais claro e mais profundo dos mistérios sagrados da nossa fé! Porque essa inteligência tem o poder maravilhoso de fazer com que nossa vontade se entregue ao serviço de Deus. Nosso entendimento está comprometido com Deus, submergido nele e assim o reconhece de uma forma maravilhosa e perfeitamente boa. À medida que a mente deixa de pensar em tudo o mais em comparação com a bondade de Deus, também a vontade deixar de desejar ou de amar qualquer outra bondade ao compará-la com a bondade de Deus. Mesmo que nossos olhos olhem diretamente e profundamente o sol já não poderiam ver nenhuma outra luz. Mas como só podemos mostrar o nosso amor neste mundo, quando fazemos o bem (porque o nosso amor deve atuar de alguma forma), precisamos do conselho para poder colocar em prática este amor que vive dentro de nós, porque é um amor celestial que nos impele a fazer o bem. O Espírito Santo nos dá o dom da compreensão, para que possamos aprender a fazer o bem, para que saibamos escolher o tipo do bem que fazemos, e para que saibamos de que forma plasmar nosso amor está em nossas ações." (Cartas Seletas, pp 281-282)

Do ponto de vista prático, o dom da sabedoria (a capacidade de discernir a melhor maneira de fazer o bem) tem um papel fundamental na seleção e na prática da virtude. Francisco de Sales escreveu: "A caridade nunca entra num coração sem antes alojar-se a si mesma e a todas estas virtudes das quais faz uso e as quais disciplina como um capitão o faz com seus soldados. Não as põe a trabalhar todas ao mesmo tempo, não todo o tempo e nem tão pouco em todas as partes.... a grande falha de muitas pessoas que decidem empregar uma virtude em particular é o fato de que elas pensam que tem que praticá-la em toda ocasião e situação. Na hora de praticar as virtudes nós devemos fazer uso das que melhor encaixem com as circunstâncias com as quais estamos lidando, em vez de usar as que mais nos acomodam ou aquela com as quais sentimos mais afinidade... entre as virtudes que praticamos, deveríamos preferir aquelas que são mais excelentes, em vez das que são mais óbvias"(Introdução à Vida Devota, Parte III)

Um coração que entende sabe o que significa ser verdadeiramente divino, um coração cheio de compreensão sabe o que significa ser verdadeiramente humano. Um coração cheio de compreensão sabe como fazer o que é certo e apropriado. Sabe que tipo de boa ação ou bem deve ser feito em uma situação particular. Sabe como expressar o amor através da ação.

Esse tipo de compreensão é um dom que nos vem diretamente de nossa casa no céu. Este entendimento é um verdadeiro tesouro para as nossas casas aqui na terra.

Por que iríamos querer algo a mais?

O P. Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.
Tradução: P. Tarcizio Paulo Odelli, SDB

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Dia a dia com Francisco de Sales

No dia de ontem, 19 de julho tive oportunidade de falar de Francisco de Sales para os formandos salesianos de Dom Bosco da Formação Inicial. No dia 19 de julho de 1877 o Papa Pio IX mandou promulgar o decreto "Quanto Ecclesiae" por meio do qual declarava São Francisco de Sales Doutor da Igreja. O doutor do amor diz no Tratado do Amor de Deus: "O amor é a vida do nosso coração". Assim como os pesos dão o movimento a todas as partes móveis do relógio, assim o amor responde por todos os movimentos que existem na alma. Quando não reina o amor divino, o coração é tomado pelo amor sensual que o sujeita à obediência, colocando todas as paixões sensuais sob seu domínio. Numa palavra, o amor a Deus é a água salvífica sobre a qual Nosso Senhor disse: "quem beber desta água que eu darei, nunca mais terá sede" (Jo 4,14) (TAD Livro II, Cap. 20)

Hoje, lembramos Francisco de Sales no Chablais, no dia 20 de julho de 1595. Ele recebeu uma carta do Bispo, D. Cláudio Granier, pedindo com insistência, que não se expusesse a mais. Ele estava sofrendo uma resistência muito grande dos calvinistas, que estavam atentando contra a sua vida. Ele respondeu uma bela carta ao bispo, dizendo que iria continuar na missão. E terminava a carta dizendo: "Dom Cláudio, esperamos que este forte exército que ataca a casa, será eliminado por um mais forte do que ele, que é Nosso Senhor Jesus Cristo."

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Reflexão Salesiana para o décimo sexto domingo do Tempo Comum - 17 de julho de 2011


As leituras de hoje nos lembram como a justiça e a misericórdia de Deus trabalham conjuntamente em benefício da família humana. São Francisco de Sales observa:

Deus é a própria bondade. A infinita bondade de Deus tem duas mãos: uma é a misericórdia, a outra é a justiça. Justiça e da misericórdia só podem prosperar onde há bondade. Deus usa de misericórdia para que acolhamos tudo o que é bom. A justiça é responsável por arrancar alguma coisa que nos impeça experimentar os efeitos da bondade de Deus. Impulsiona-nos a rejeitar o mal.

Aqueles que têm um verdadeiro desejo de servir o nosso Senhor, e para fugir do mal, não devem atormentar-se com pensamentos de morte ou do juízo divino. O medo sagrado que sentem aqueles que amam a Deus representa uma reverência filial. Eles temem desagradar a Deus, só porque ele é seu pai bondoso e amoroso. O bom filho não obedece a seu pai porque ele tem o poder de punir ou repudiá-lo, simplesmente obedece porque ele é um pai amoroso e preocupado. O santo temor fortalece nosso espírito humano. Confia plenamente na bondade de Deus. A misericórdia de Deus ao ver-nos vestido como "carne, como um vento" jamais permitirá que nos lancemos na ruína total.  A infinita misericórdia de nosso Salvador sempre se inclina a nosso favor.

Quando os pecadores persistem no pecado, quando vivem como se Deus não existisse, é então quando nosso Salvador lhes permite encontrar o seu coração cheio de misericórdia, piedade e generosidade para com eles. Embora Davi ofendesse a Deus, sempre recebeu o incentivo do coração indulgente e a divina misericórdia. Refletimos sobre como a bondade de Deus desde a eternidade nos valorizou, e forneceu-nos todos os meios necessários para avançar no caminho do amor sagrado. Agora Deus nos dá a oportunidade de fazer o bem e de seguir adiante com as provas que atualmente devemos enfrentar. A grandeza que encerra a misericórdia de Deus continua a brilhar nas obras impressionante e inspiradora de Jesus. Que razão para depositar toda a nossa esperança e nossa confiança na misericórdia de Deus!

(Adaptado dos escritos de São Francisco de Sales)


Destaque: "Todos aqueles que são justos também devem ser gentis."

Perspectiva Salesiana

O Livro da Sabedoria não deixa espaço para ambiguidade quando trata das características da justiça divina: o cuidado, a misericórdia, o perdão, o ressentimento e a bondade. Estas características em vez de insinuar que Deus pode ser "fraco" descrevem melhor sua natureza, a verdadeira força, a verdadeira autoridade e o seu verdadeiro poder.

Este é o grande paradoxo do amor divino: mesmo quando o pecado e o mal podem provocar o castigo divino, é muito mais provável que recebam a misericórdia, o perdão e a bondade divina. Francisco de Sales observou: "O pecado de Adão verdadeiramente estava muito longe de chegar a constranger a bondade de Deus. Pelo contrário, despertou e motivou ainda mais a bondade de Deus. Como se estivesse tentando realinhar suas tropas a caminho da vitória, a bondade de Deus faz que a graça seja abundante onde antes abundou a desigualdade antes... De fato, a providência de Deus nos deixou muitas marcas que refletem a severidade divina, inclusive mesmo nos momentos em que Deus irradia seu amor por nós. Exemplos dessas marcas incluem o fato de que devemos morrer, as doenças, os trabalhos, a rebelião sensual... mas o favor de Deus flutua acima de todas essas coisas e se alegra ao converter todas essas misérias em benefícios para aqueles que o amam."(Tratado do Amor de Deus, Livro II, Capítulo 5)

Em nenhum outro lugar ou situação podemos ver refletido o exercício do poder e a justiça de Deus tão claramente, com tanta bondade e com tanta misericórdia do que na vida e no legado de Jesus Cristo. São Francisco de Sales escreveu: "Em uma palavra, nosso divino Salvador nunca se esquece de demonstrar que ‘sua misericórdia está acima todas as suas obras’. Que sua misericórdia excede sua justiça, que é ‘copiosa sua redenção', que seu amor é infinito e que, como os Apóstolos dizem "ele é rico em misericórdia" e, portanto, ele "quer que todos sejam salvos" e que ninguém pereça." (Tratado, Livro II, Capítulo 8)

Sobre a prática da virtude, Francisco de Sales escreveu: "Algumas virtudes tem uma utilidade quase geral e não devem somente produzir seus próprios resultados, mas também devem estender-se a todas as outras virtudes. Nem sempre haverá ocasiões em que poderemos fazer uso da fortaleza, da magnanimidade ou de grande generosidade, mas a mansidão, a temperança, a integridade e a humildade são virtudes que devem enquadrar todas as ações que realizamos no transcurso de nossas vidas”.

 A prática da virtude é o fato de partilhar e repartir o poder e a promessa de Deus. Como devemos responder a esse poder divino, poder manifestado na paciência, na misericórdia, na clemência e na bondade?

Primeiro, devemos nos arrepender. Devemos reconhecer a nossa necessidade de sermos salvos, redimidos e reconciliados pela justiça de Deus. Este poder não apenas nos ajuda a afastar-se da desigualdade, mas também nos permite fazer o que é certo e apropriado.

Em segundo lugar, devemos fazer uso do poder divino no qual partilhamos (como resultado da natureza de nossa criação e redenção) perdoando-nos uns aos outros: praticando e difundindo o cuidado e a compreensão, a misericórdia, o perdão e a bondade para com nossos irmãos e irmãs, especialmente quando eles, deliberadamente ou inconscientemente nos machucam, nos ferem ou fazem danos.

A melhor maneira de servir à justiça divina é através da bondade. Estamos prontos para receber - e partilhar - um presente tão poderoso e redentor como este?

O P. Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Reflexão Salesiana para o XV Domingo do Tempo Comum - 10 julho de 2011


Na leitura do Evangelho de hoje Jesus nos diz que se nós conseguirmos entender Sua palavra com o coração, ela irá dar frutos em abundância. São Francisco de Sales nos oferece a seguinte reflexão sobre o assunto:

A palavra de Deus é tão poderosa e eficaz que pode dar vida aos necessitados. Que bom sinal quando um cristão se compraz, de fato, escutando a palavra de Deus e pertencendo completamente a Ele. Aqueles que conseguem abandonar tudo para entregar-se a Deus, sem nenhum tipo de reserva, são como o girassol que, não contente de volver suas flores, suas folhas e seu talo na direção do sol, também, e como resultado de uma incompreensível maravilha, consegue redirecionar sua raiz debaixo da terra. Amar a Deus completamente significa que o amamos como autoridade e que nós amamos tudo o que Ele comanda.

Jesus que morreu por amor a nós deseja que escutemos Sua palavra até torná-la nossa. Depois de prestar atenção a Palavra de Deus, devemos abrir nossos corações e estar abertos para que possamos compreender o que ouvimos. Compreender a Palavra de Deus nos ajuda a mantê-la. Nossas ações devem ser coerentes com nossas palavras. Isto significa que quando nós expressamos nossa vontade de fazer algo, devemos levar a cabo imediatamente. Imploremos a divina misericórdia para nos fortalecer, e para que assim possamos reforçar tudo o que nosso coração deseja e aprova.

Nosso Senhor deixa claro que sua palavra se tornará realidade em nós no momento em que nos decidirmos aceitar a Sua vontade como nossa. Isso não significa que vamos sentir certo “bem” ou sermos como que "santos" ao cumprir a vontade de Deus. O que importa é que nós reverenciamos a Sua Palavra, e nós mantemos a nossa intenção de tirar proveito de tudo isso. A Bondade Divina se mostrará satisfeita com isso. Deus se contenta com pouco. Ele se concentra nas intenções dos nossos corações e não nos nossos sentimentos. No entanto, aqueles que ouvem a palavra de Deus, com especial atenção e desejo, nos falam das vitórias que alcançaram sobre si mesmos e suas fraquezas. Toda a nossa bondade consiste em aceitar a verdade que encerra a palavra de Nosso Salvador. Nosso objetivo deve ser perseverar em nossa capacidade de viver esta verdade, de modo que consigamos ter uma vida em abundância.

(Adaptado dos escritos de São Francisco de Sales)

Destaque: "A semente que cai em boa terra dará uma colheita abundante." 


Perspectiva Salesiana

Às vezes as coisas boas demoram muito tempo... e exigem muita paciência.

Isto é verdadeiro mesmo com as melhores coisas, com as sementes do amor de Deus.

Cada um de nós é "terra boa" na qual e sobre a qual Deus planta a semente da vida e do amor divino. Nós fomos feitos à imagem e semelhança de Deus, e nossa vocação comum (que é única para cada um de nós de acordo com o plano de Deus) será permitir que as sementes da vida divina criem raízes em nossas mentes e em nossos corações e produzam em nós uma bondade tão abundante que se estenda e seja transmitida para a vida dos nossos irmãos e irmãs... para que assim todos possamos dar glória e honra a Deus.

Mesmo porque é claramente ilustrada na parábola do Evangelho de Mateus, que nem todas as sementes do amor de Deus vão crescer bem dentro de nós. Algumas destas sementes terão o seu crescimento interrompido por causa de nossos medos e ansiedades. Alguns outros serão esmagados por nossas preocupações ou para determinadas atrações. Algumas outras simplesmente irão murchar por causa de nossa falta de atenção e cuidado. Ainda assim, e apesar destes e de muitos outros obstáculos que possam vir a acontecer, muitas das sementes do amor de Deus conseguem enraizar, crescer e produzir uma colheita de amor, justiça, paz, verdade, reconciliação e liberdade.

Mas esse crescimento leva tempo e exige uma série de períodos de prova, de cometer erros e de tentar novamente. É importante que nos lembremos disso para que não desfaleçamos e para que simplesmente deixemos que as sementes do amor de Deus trabalhem livremente em nós. A prática da paciência é importante não só para promover o crescimento espiritual em nós mesmos, mas também para promover a vida dos outros. Em uma carta a certa Madame Brulart, Francisco de Sales escreveu: "Quanto ao seu desejo de ver seus entes queridos progredir no serviço de Deus e seu ânsia para chegar a obter a perfeição cristã, devo dizer que elogio tremendamente este desejo... Mas para ser honesto, eu sempre temo que estes desejos se apresentem como um traço de amor próprio e de vontade própria. Por exemplo, nós podemos chegar a encontrar tanto gosto nestes prazeres que talvez não consigamos dar espaço suficiente para as coisas que realmente importam: a humildade, a resignação, bondade de coração e outras coisas assim. Ou pode também chegar a acontecer que a intensidade destes desejos nos causem muito mais ansiedade ou tanto estresse que, em última análise, não podemos nos submeter à vontade de Deus tão perfeitamente como deveríamos." (Cartas de Direção Espiritual , página 110.)

É claro que, mesmo quando assumimos a responsabilidade para o nosso crescimento espiritual - nutrimos as sementes do amor de Deus em nós e encorajamos os outros a fazer o mesmo, - devemos fazê-lo com paciência e com a mente aberta à vontade de Deus para conosco, para que os nossos esforços não acabem sendo apenas um exercício de nosso amor próprio, de nossa autodesilusão e nosso ensimesmamento.

Francisco de Sales nos oferece o seguinte conselho: "Lutem por seus objetivos de forma gentil e tranquila... através de suas palavras e suas ações devem semear sementes que animem os outros... Desta forma farão muito melhor do que fazendo outras coisas, especialmente se rezam para que isso aconteça...”(Ibid)

As sementes do amor de Deus caem em boa terra - em nós mesmos, nos outros - e em longo prazo irão proporcionar uma colheita frutífera. Em curto prazo é o nosso dever alimentá-las lentamente, pacientemente e com cuidado (especialmente quando confrontados com o fracasso e a frustração) e de maneira que glorifiquem a Deus no céu... e ajudem a produzir um fruto de justiça e paz aqui na terra.

O P. Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.