Destaque: "E o Senhor desistiu do mal que
havia ameaçado fazer ao seu povo".
Perspectiva salesiana
As leituras bíblicas de hoje
expressam fortemente suas ideias ao descrever o grupo de pecadores
entristecidos. As pessoas sobre as quais Deus tinha derramado seu amor
preferencial tornaram-se "depravadas e rígidas", deixaram de adorar o
único Deus verdadeiro e agora adoram um bezerro de metal. Diante da débil
criação de suas próprias mãos, eles se curvam em adoração e sacrifício.
O autor do Salmo 50 facilmente admite
sua culpa e seu pecado diante do Deus de bondade e compaixão. São Paulo
fala abertamente sobre a maneira como ele era e como ele vivia a sua vida antes
de chegar a ter fé em Jesus. Ele era, admite ingenuamente, um blasfemador
e perseguidor do povo santo de Deus. Sua arrogância espiritual foi
inigualável. Finalmente, o Evangelho narra a história familiar de um filho
pródigo que desperdiçou sua herança em uma vida despreocupada e dissoluta e, no
processo, ele rompe o coração de seu pai.
Qual é o objetivo desta ladainha
de pecado, de culpa, de fraqueza humana e de fracasso? Este é o lado obscuro
da boa notícia do evangelho, o fundo sombrio contra o qual a beleza brilhante e
a graça transparente da obra redentora de Jesus brilha em todo o seu
esplendor. É o humilde reconhecimento de nossa total falta de poder e perda
como resultado de ter pecado contra um Deus bom e compassivo. Esta
humildade, esta verdade sobre nós mesmos, é a condição necessária para poder
escutar o chamado das boas novas da fé e para receber com gratidão o poder curador
da graça.
Atualmente hesitamos, muitas
vezes, em falar de pecado, especialmente do pecado pessoal. Nós não
gostamos de admitir que rejeitamos a Deus ou que nos desviamos do caminho que Ele
nos mostrou na Bíblia, no exemplo e nas palavras de Jesus, e nos ensinamentos
da Igreja. Ainda assim, este é o reconhecimento, na humildade e na verdade, que
nos prepara para a experiência libertadora da doce graça e do perdão de
Deus.
Os santos são pecadores convertidos. Isto
é o que as Escrituras proclamam alto e em bom som hoje. A graça toma os fracos,
toma inclusive os pecadores mais difíceis, e os transforma em santos e
heróis.
São Francisco de Sales tinha um
grande respeito pelo exemplo dos santos, mas ele queria que as pessoas vissem
os Santos realisticamente, isto é, como pessoas fracas e pecadoras que, através
do poder transformador da graça, tornaram-se heróis.
Francisco de Sales considerava
São Pedro um herói. Ele foi cativado por este homem. Embora fosse muitas
vezes herói e tendo sempre boas intenções, faltou frequentemente com a coragem
("Eu não conheço esse homem"), ou fraco para tentar entender que era
o que Jesus realmente defendia ("Afasta-te de mim, Satanás"), e que
mais de uma vez caiu em seu próprio rosto. Ainda assim, este homem
tornou-se um gigante pela graça! Francisco de Sales percebeu que São Pedro
era útil para a espiritualidade, pois foi um homem que cometeu faltas com as
quais outras pessoas poderiam identificar-se e também falar de um santo cuja
santidade eles poderiam imitar. Seu herói tinha verrugas. Ao apontá-las,
ele estava, na verdade encorajando outras pessoas em sua busca da santidade.
Finalmente falemos do belo hino
de louvor de São Paulo na segunda leitura. Ele celebra o triunfo da graça sobre
o pecado e a fraqueza humana: "ao Rei dos séculos, ao imortal e invisível,
ao único Deus, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém ".
P. Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro
de Espiritualidade de Sales.
Tradução e adaptação: P. Tarcizio Paulo Odelli -
SDB
Dos escritos de São Francisco de Sales
As leituras de hoje lembram o desejo de Deus,
motivado por seu grande amor, de ir em nossa busca quando andávamos
desgarrados. Aqui estão algumas reflexões feitas por São Francisco de
Sales sobre a misericórdia amorosa de Deus:
O vinho que deleita e fortalece o coração
representa toda a alegria e satisfações terrenas. Além disso, o amor de
Deus, acima de todos os prazeres terrenos, tem uma força incomparável e poder
para restaurar e renovar o coração humano. Só o amor divino tem a capacidade
de dar satisfação ao coração humano e felicidade perfeita. Nosso Divino Amante
não se contenta em proclamar publicamente seu desejo intenso de ser
amado. Nosso Salvador vai de porta em porta, batendo, repreendendo, e
proclamando: Volte para mim e viva! Eu te amei com um amor que é
eterno.
Nosso Salvador nunca deixa de nos mostrar que a sua
misericórdia está acima de todas as suas obras, mesmo quando nos afastamos
muito do caminho do amor de Deus. Quando Nosso Senhor vê uma alma mergulhada
no mal se apressa em ajudá-la. Ao acessar o amor de Deus, que vem para nos
salvar de nossa miséria, somos como as plantas quase murchas que foram enfraquecidas
pelo inverno, mas agora crescem verdes e vigorosos. Então, recuperamos
nossas forças, e nossa vida, graças ao "vinho" do amor celestial que
alegra o coração humano. Deus, em Sua infinita misericórdia, quer que todos
cheguem à vida eterna, e que ninguém se perca.
Mesmo assim, todos nós guardamos um que outro falso
amor. Estes amores nos afastam de nossa inclinação natural de amar a
Deus. Mas, se formos fiéis a esta inclinação, a misericórdia de Deus vai
nos ajudar a progredir no amor sagrado. Então, na presença de Deus,
coloquemos todos estes amores desordenados que possuímos e permitamos que Ele
nos transforme completamente. Tentem manter a sua vontade firmemente
ancorada neste desejo de encontrar o bem que Deus mostrou, e assim nosso Senhor
os ajudará a progredir no exercício do amor divino. Deus dispôs que a cura
sempre supere a doença. A Divina Providência, mais de uma vez, fez dois
pedaços de madeira tornam-se belas obras de arte.
(Adaptado a partir dos escritos de São Francisco de
Sales)
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