sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Reflexão salesiana para o domingo da Sagrada Família - 30 de dezembro de 2012


Hoje lembramos 390 anos da morte de São Francisco de Sales, ocorrida em Lião, na França, no dia 28 de dezembro de 1622. 


Destaque: Ser santo, "viver na casa de Deus, não nos impede de experimentar as dificuldades da vida."

Perspectiva Salesiana

O coração de cada pai simpatiza com a experiência de Maria e José no Evangelho de hoje. Notando que Jesus estava perdido, um dia depois de deixar Jerusalém, podemos imaginar este breve, mas angustiante diálogo: "Ele não está comigo. Eu pensei que ele estava com você. Quer dizer que não está?"
Esta não foi a primeira vez que ocorreu um problema na Sagrada Família. Aliás, eles tiveram desafios desde o início. São Francisco de Sales diz: "Considere as vicissitudes e mudanças, alternâncias entre alegria e dor" que encontramos na história da Sagrada Família. "Que alegria, que júbilo para Nossa Senhora ao receber a notícia de que ela daria à luz o Verbo Eterno!" Em contraste, considere São José. Vendo que ela estava grávida e sabendo que não era dele deve ter sentido um sofrimento e uma angústia muito grande"!
Outro fato: "Quando Nossa Senhora deu à luz ao seu Filho, os anjos anunciaram o seu nascimento, os pastores e os sábios vieram para adorá-lo: que felicidade e conforto em meio a tudo isso. Mas espere: um pouco mais tarde, o anjo do Senhor disse a José, em sonho: leve a criança e sua mãe e foge para o Egito! Oh, que grande coisa deve ter sido isso para Nossa Senhora e São José". (Conferências III, Sermão da Oitava dos Santos Inocentes).
Apesar dos altos e baixos, das alegrias e das tristezas de Jesus, Maria e José têm algo para nos ensinar, a verdadeira lição para nós, que tentamos ter e manter "famílias sagradas". Como a Sagrada Família enfrentou estas tribulações? "Devemos considerar a grande paz e serenidade da mente e do coração que a Virgem Santíssima e São José demonstraram em sua constância, mesmo em meio a eventos inesperados que enfrentaram" (Ibid.).
Uma "sagrada família" não se mede pelas coisas que acontecem, ou que não acontecem para os membros. A "sagrada família" é aquela que demonstra certa graça e confiança quando têm que lidar com eventos da vida cotidiana, especialmente aqueles que são inesperados. Francisco de Sales nos exorta: "Considere se é justificável que nos surpreendamos e nos preocupemos quando encontramos incidentes semelhantes na casa de Deus... devemos repetir várias vezes, para imprimir esta verdade mais profunda em nossa mente. Qualquer evento inesperado deve fazer com que nossos corações e nossas mentes não se tornem instáveis, porque o temperamento irregular procede de nossas paixões e preferências".(Ibid)
Imitamos mais a Sagrada Família em nossos relacionamentos quando nos lembramos em nossas mentes e em nossos corações que o mundo não gira em torno de nós, que as coisas nem sempre saem do jeito que queremos, que nossos planos muitas vezes não são a última palavra. Nem sempre podemos controlar o que acontece conosco. Ao contrário, podemos escolher como reagir diante do inesperado em nossas vidas, de maneira que promova a fé, a tranquilidade, a força e a coragem.

Dos Escritos de São Francisco de Sales

No Evangelho de hoje ouvimos Jesus dizer a Maria e José que o seu lugar é na "casa do Pai", embora ele continue obedecendo a eles, seus pais. São Francisco de Sales observa:
Deus se aproxima de nós por meio de atrações especiais. Se a atração vem de Deus, nos conduzirá no caminho da "obediência amorosa". A obediência amorosa nos faz assumir uma incumbência com amor, sem nos importarmos quão difícil seja em conformidade com a vontade de Deus. Então, queremos que Deus assuma nossos afetos e nossas ações, e que o molde. Com toda a certeza colheremos bênçãos se seguirmos por este caminho.
Nas escrituras Jesus nos diz que Ele veio ao mundo não para fazer a Sua vontade, mas para cumprir a vontade do Pai. Durante a sua vida mortal Jesus obedeceu a seus pais e a outros com amor. Nosso Salvador agora nos pede que imitemos esta mesma obediência amorosa que Ele provou, não só para com a vontade divina, mas também para com seus pais na terra. José e Maria receberam uma grande alegria que o ajudaram, e porque permaneceram constantemente em Sua presença.
O que faz com que nosso estado de ânimo mude e que não seja constante na hora de servir e amar a Deus? É a diversidade de nossos desejos. Constantes mudanças no nosso humor são o resultado dos excessos dos nossos desejos. O amor sagrado só tem um desejo: amar e servir a Deus, que deseja que nosso espírito esteja tranquilo e que possamos experimentar neste mundo um pouco do que será a felicidade eterna.
A virtude que mais precisamos ter é equilíbrio em nosso coração e equilíbrio mental para alcançarmos a estabilidade do nosso espírito. Isto nos conduzirá à santidade. Uma maneira de conseguir o equilíbrio mental e de nossos corações em nossas vidas é criar uma rotina de oração mental e outras atividades que contribuem para manter o nosso bem-estar: comer, dormir e fazer exercício. Cumprir fielmente os desejos e ordens de Deus, assim como as abelhas fazem com sua rainha. Assim, firmes e inabaláveis poderemos cumprir a ordem de amar a vontade de Deus como Jesus fez: constantemente, com coragem, com força e com ardor.
(Adaptado dos escritos de São Francisco de Sales, a obra especial: Entretiens)


P. Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro de Espiritualidade de Sales.
Tradução: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Reflexão Salesiana para o 4º domingo do Advento - 23 de dezembro de 2012


Dos escritos de São Francisco de Sales

No Evangelho de hoje ouvimos Isabel afirmando que Maria foi abençoada por ter sido escolhida para ser a mãe de Nosso Senhor. São Francisco de Sales diz:
Quando Isabel chama sua prima de bendita, Maria diz que realmente foi abençoada, porque toda a sua felicidade vem de Deus. Deus vê a humildade de Maria e a exalta. Maria, em sua humildade, sente-se bem acolhida diante da maravilha que Deus fez tornando-a mãe de Jesus.
Um amor cheio de exaltação para Deus e para os outros, tendo ao mesmo tempo uma profunda humildade, estes são os sentimentos que povoam de modo especial o coração de Maria. A Humildade permite que Maria experimente a imensa e inesgotável bondade de Deus. Depois de experimentar a grandeza do amor de Deus, percebe o quão pequena é diante da majestade de Deus. Então age imediatamente impulsionada por seu amor para com Ele, dizendo: Faça-se em mim segundo a tua palavra. Ao dar o seu consentimento para a vontade de Deus, Maria nos dá uma amostra do maior ato de caridade concebível. Porque no momento em que ela concorda, o Verbo Divino se faz carne. E Maria, cheia de graça infinita, deseja o amor de Deus para o mundo todo.
Tal como no caso de Maria, o primeiro fruto que nos dá a graça de Deus é a humildade. A humildade nos permite experimentar o amor infinito de Deus. Ao mesmo tempo, a humildade nos faz perceber quão limitada é a nossa capacidade de amar a Deus e os outros. Enquanto a graça faz-nos curvar diante da excelência do amor divino de Deus, a humildade nos permite ver quão profundamente Seu amor purifica os nossos corações diante D'Ele e de suas criaturas. Como no caso de Maria, o amor de Deus em nós nos leva a amar os outros.
Que bom sinal é a humildade de coração na vida espiritual! Se formos humildes e aceitarmos que a vontade de Deus aconteça em nossas vidas, poderemos também dar à luz ao Menino Jesus em nossos corações. Colocar de lado os desejos da nossa vontade é doloroso. Mas vale a pena colocar a nossa plena confiança no trabalho que Deus realiza em nós, para assim podermos dar à luz a Cristo em nossos corações. Com toda a certeza o nosso Divino Salvador, com o nosso consentimento, irá abençoar-nos eternamente e introduzir-nos na vida eterna.
(Sermões de São Francisco de Sales, L. Fiorelli, Ed.; São Francisco de Sales, Oeuvres.)

Destaque: "Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia".

Perspectiva Salesiana
A saudação do Anjo Gabriel a Maria continha duas mensagens distintas, porém relacionadas: (1) Maria seria a mãe do Messias tão esperado, e (2) a sua prima Isabel tinha concebido um filho.
Assim que Maria disse "sim" ao convite que lhe foi feito para ser a mãe do Messias, ela foi "às pressas" para visitar sua prima.
De uma forma real, muito antes que ela trouxesse a criança que redimiria o mundo da desesperança e do desespero do pecado, Maria já estava dando à luz o Messias através de sua vontade e de sua disposição para servir as necessidades do outro, neste caso, uma parente dela que, por causa de sua idade avançada, poderia ser considerada como uma mulher com uma gravidez de "alto risco".
À primeira vista não se nota nada de diferente na ação de Maria, pois quem de nós não faria o mesmo por um parente necessitado? O que admiramos na atitude de Maria é a pressa com que ela o fez. Ela é verdadeiramente um modelo de virtude, um modelo que demonstra claramente com sua própria vida que a melhor maneira de dizer "obrigado" a Deus por Sua bondade, é ser a fonte desta bondade para os outros.
​​São Francisco Sales observou que "Maria não acreditou que estivesse perdendo tempo ao visitar sua prima Isabel. Não, porque a sua atitude era um ato de cortesia amorosa". (Stopp, cartas selecionadas, p. 159) Em sua "pressa" para servir a Isabel, Maria nos mostra o caminho para a verdadeira devoção. Francisco de Sales continua: "Deus nos recompensará de acordo com a maior dignidade. O que eu estou dizendo é que devemos treinar-nos nas pequenas virtudes primeiro, porque sem elas as maiores são muitas vezes falsas e enganosas".
O Advento nos recorda que devemos construir a esperança sobre o fundamento das coisas simples, pequenas e comum: cortesia, gentileza, paciência, honestidade, hospitalidade e compaixão. Maria nos mostra que mesmo as manifestações mais originais do amor de Deus por nós, nos desafiam, em primeiro lugar, a reconhecer as oportunidades que surgem em nossas vidas cotidianas e comuns para que dediquemos nossas energias na promoção do bem-estar dos outros.
Assim como Maria, que possamos reconhecer a nossa vontade para fazer pequenas coisas com um grande amor pelos outros, e com grande amor e entusiasmo, demonstrar "cortesia amorosa". Este é o primeiro passo para a nossa maior vocação: dar à luz a grande promessa do amor de Deus para todas as pessoas - Jesus Cristo.

P. Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro Espiritual De Sales.
Tradução e adaptação: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Reflexão Salesiana para o Terceiro Domingo do Advento - 16 de dezembro de 2012

                                                                 Giovanni Battista Tiepolo

Destaque: "O que devemos fazer?"

Perspectiva Salesiana

A multidão pediu a João Batista: "O que devemos fazer?" É uma pergunta simples, é uma pergunta desafiadora. É uma pergunta que potencialmente pode mudar nossas vidas.
Você e eu vivemos num mundo em que a vinda de Cristo já aconteceu. No entanto, este mundo em que vivemos é também o lugar onde todas estas possibilidades ainda deevem ser cumpridas.
Que devemos fazer?  Deveríamos tentar fazer isso usando apenas o poder da vontade humana? Devemos sacudir os ombros e esperar que as coisas saiam bem?
A resposta para nós é a pergunta que João disse para a multidão há milhares de anos: "Sejam generosos; sejam justos no seu trabalho; não exija dos outros mais do que se deve ou pode; Resumindo: ao seguir a vontade de Deus, ao seguir o exemplo de Jesus, ao cooperar com as advertências do Espírito, não estamos fazendo nada a mais, nada de extraordinário! Não se trata de ser alguém diferente de quem somos. Trata-se de tentar fazer mais pela vida que vivemos e fazer mais com o que nós somos, para estarmos do lado da vida, da justiça e da paz com os outros.
Francisco de Sales acreditava nisso com firmeza. Ele nos adverte que devemos ser cautelosos e não nos apressarmos em concluir que seguir Jesus, caminhar com Jesus e ser Jesus na vida dos outros exija que façamos coisas extraordinárias. Francisco diz claramente: "Seja quem você é e seja com perfeição." Queremos um mundo que viva a paz, a esperança, a reconciliação, a justiça e justiça do Reino de Deus mais perfeitamente. Queremos um mundo que mais claramente incorpore o cumprimento da promessa que nos foi dada em Jesus. Queremos ocasionalmente desfrutar da festa que nos espera no céu para sempre.
Que devemos fazer? Vamos ser generosos. Façamos nosso trabalho e vivamos nossa vida com retidão. Não tiremos nada dos outros, nem esperemos mais do que deveriam - ou não poderiam dar. Seja quem você é. E isso será muito bom. Seja quem, o que, porque e como Deus te criou, redimiu e inspirou a ser: realizado e feliz para o mundo, consigo mesmo e para com os outros.

P. Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro de Espiritualidade de Sales.

Dos escritos de São Francisco de Sales

Na leitura do Evangelho de hoje continuamos a ouvir as palavras de João Batista, que nos impele para a conversão. Ele nos diz que devemos compartilhar nossa riqueza, que devemos dar sentido as nossas atividades diárias e que devemos saber com certeza quem somos e quem é o  nosso Messias. São Francisco de Sales diz:
João Batista ama demais a verdade para deixar-se levar pela ambição. Ele vai avisando a todos aqueles que vinham vê-lo que ele não era o Messias. Ele nos diz que devemos examinar nossas ações e, neste processo, mudar aquelas que não contêm boas intenções e aperfeiçoar aquelas que têm.
João Batista foi uma pedra firme. Ele era um homem com inabalável estabilidade no meio das novas circunstâncias. Ele teve a coragem de admitir quem ele era. Aquele que não se conhece a si mesmo de verdade, nunca fica chateado quando é não valorizado e tratado pelo que é. Quando Deus nos dá luz para que possamos conhecer-nos a nós mesmos como realmente somos, este é um sinal de um grande processo de conversão interior.
Ser cristão é o título mais belo que podemos dar aos outros. Ainda assim, não é suficiente que sejamos chamados de cristãos. Devemos viver de tal modo que se possa reconhecer claramente em cada um de nós uma pessoa que ama a Deus com todo o coração. Alguém que cumpre os mandamentos e que frequenta os sacramentos, alguém que faz coisas que são dignas de um verdadeiro cristão.
Quando sabemos que somos amados, nos sentimos obrigados a corresponder a este amor. O mesmo acontece quando vivemos a nossa vida em Cristo. O amor sagrado de Cristo nos pressiona de forma especial para que possamos partilhar nossa abundância com os outros. A compaixão faz com que partilhemos os sofrimentos, as dores e as tristezas com aqueles que amamos. Mães e pais sofrem com as aflições de seus filhos. Quanto mais aumentar o nosso amor por alguém, mais profunda é a nossa preocupação pelo seu bem-estar. O acompanhamos em seus sentimentos, seja na alegria ou na tristeza. Nosso objetivo é agir com uma única intenção: ajustar-nos a verdadeira imagem de Deus em nós. Jesus veio ao mundo para nos mostrar o nosso verdadeiro eu em Deus.
(Adaptado dos escritos de São Francisco de Sales) 

Tradução e adaptação: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Reflexão Salesiana para o 2º domingo do advento - 09 de dezembro de 2012


Destaque: "Preparai o caminho do Senhor, com o esplendor da glória de Deus para sempre."

Perspectiva Salesiana

João andou por toda a região proclamando um batismo de arrependimento, como escrito no livro de Isaias: "Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas."
Assim como João Batista lembrou para as pessoas da região da Jordânia que deveriam preparar o caminho do Senhor, assim também nós somos chamados a fazer o mesmo. Tudo começou com o nosso batismo, quando nos tornamos membros do Corpo de Cristo. Isso acontece por causa de nossas palavras e obras diárias, pelo nosso chamado a "Viver Jesus" a cada momento do dia.
Na 1ª leitura Baruc no recorda que devemos manifestar o esplendor da glória de Deus sempre e o Salmo nos lembra de que Senhor tem feito grandes coisas por nós, e todos nós estamos muito felizes.
Podemos nos perguntar se estamos realmente cheios de alegria enquanto preparamos o caminho do Senhor. Estamos? Isso só acontece se nós trabalhamos em nosso relacionamento com Deus e com os outros. Nós não podemos dar daquilo que não temos. Se Deus não é o centro de nossas vidas, então fracassaremos.
São Francisco de Sales nos diz na Introdução à Vida Devota que a devoção (espiritualidade) deve ser vivida de diferentes formas, e deve ser experienciada pelo cavalheiro, pelo trabalhador, o servo, a viúva, a mulher jovem e casada. Não só isso, mas a prática deve ser adaptada para a força, atividades e responsabilidades de cada pessoa.
São Francisco de Sales sabia que temos que começar conosco mesmos, com nosso interior, com nossa vida de oração. Se trabalharmos para construir um bom relacionamento com Deus, podemos fazer o que São Paulo aconselhou aos Filipenses: "Em cada oração sempre oro com alegria por todos vós."
Se lembrarmos do esplendor da glória de Deus para sempre, teremos a capacidade de preparar o caminho do Senhor com alegria em nossos encontros diários com os outros. Nós vamos ser capazes de "Viver Jesus" em cada momento de cada dia.

P. Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro de Espiritualidade de Sales.
Tradução: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB


A Imaculada Conceição - 8 de dezembro de 2012

Destaque: "Nada é impossível quando você está com Deus."

Perspectiva Salesiana

Para poder apreciar plenamente os ensinamentos da Igreja sobre a Imaculada Conceição, que Maria foi preservada dos efeitos do pecado original desde o momento da concepção, Francisco de Sales tentou explicar num contexto maior, isto é, a partir do plano de salvação.
Em seu Tratado do Amor de Deus, Francisco escreveu: "Deus demonstra de uma maneira maravilhosa a riqueza incompreensível de seu poder no vasto conjunto das coisas que vemos na natureza, mas Deus também demonstra os infinitos tesouros de sua bondade de maneira ainda mais maravilhosa quando observamos a variedade inigualável de bens que reconhecemos na graça. Num santo excesso de misericórdia, Deus não só se contentou em dar ao seu povo, isto é, a raça humana, uma redenção geral ou universal pela qual todas as pessoas podem ser salvas. Deus diversificou a redenção de várias maneiras para que, enquanto a generosidade de Deus resplandece em toda a sua variedade, a própria variedade dá beleza à sua generosidade."
"Deste modo, destinou primeiramente para sua santíssima Mãe uma graça digna do amor dum Filho, que, sendo a infinita sabedoria, onipotência e bondade, devia preparar uma Mãe digna de Si, e por isso quis que a sua redenção lhe fosse aplicada à maneira de remédio preservativo, para que o pecado, que passava de geração a geração, não a maculasse. Como resultado, ela foi redimida de uma forma surpreendente. No momento designado a torrente do pecado original começou a desencadear suas ondas fatais sobre a concepção desta santa mulher (com a força impetuosa que exerceu no momento da concepção de todas as outras filhas de Adão): então, quando a torrente chegou a esse ponto, não continuou avançando, mas se deteve... Assim, Deus livrou a sua gloriosa Mãe de cativeiro. Deus deu-lhe a bênção dos dois estados da natureza humana: ela possuía a inocência que o primeiro Adão perdeu, e ela gozava da redenção que o segundo Adão obteve para ela. Ela foi como que um jardim escolhido para dar origem ao fruto da vida, ela foi feita a flor de todo o tipo de perfeição." (Livro II, capítulo 6)
Como se manifestou esta libertação dos efeitos do pecado na vida desta mulher singular redimida? Tudo o que ela experimentou na vida "foi usado santamente e fielmente no serviço do santíssimo amor pelo exercício de outras virtudes que, em sua maioria não podem ser praticadas, a menos que seja no meio das dificuldades, a oposição e a contradição... A gloriosa Virgem experimentou todas as misérias humanas (exceto aquelas que tendem diretamente a cair em pecado), porém ela as utilizou proveitosamente para o exercício e o aumento das sagradas virtudes da fortaleza, temperança, justiça e prudência, pobreza, humildade, paciência e compaixão. Assim, pois, estas coisas não impediram o amor celestial, mas muitas vezes ajudaram no fortalecimento do exercício contínuo e do progresso..."(Tratado do Amor de Deus , Livro VII, capítulo 14)
Uma vez que somos pecadores ou sem pecado, todos nós temos uma coisa em comum: todos nós somos chamados a assumir cada dia plenamente com todas as inúmeras oportunidades que se apresentam para praticar a "fortaleza, temperança, justiça, prudência, pobreza, humildade, paciência e compaixão." Ao fazer isso, não só experimentamos a liberdade que Deus nos dá quando nos redime, mas podemos ser instrumentos de Deus mais livremente na vida dos outros.

P. Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro de Espiritualidade de Sales.
Tradução: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB