Destaque: "Coloquemos em
prática nossa paciência, humildade e responsabilidade para que possamos ultrapassar
nossos sofrimentos paixões e assim chegar ao ponto de nossa ressurreição e
nossa Ascensão..."
Perspectiva salesiana
O domingo de Ramos oferece aos
cristãos uma dramática introdução para a celebração da última semana da vida de
Cristo. Ao redor do mundo as obras teatrais da paixão mostram uma cena onde
Cristo, sentado num jumento, vai passando no meio de uma multidão de pessoas
que levam ramos de palmas nas mãos. Francisco de Sales, que viveu no século 17
captou também o drama desta cena do Evangelho. Francisco acreditava que Cristo
tinha vindo para ensinar-nos quem era seu Pai, não somente em base daquilo que
disse, mas também pelo modo como Ele interagia com as pessoas, o modo como as
tocava, as curava e se dirigia a elas assim como se dirigiu a elas no domingo
de ramos.
Nesta dramática cena da entrada
em Jerusalém, Francisco dá destaque ao animal no qual Cristo Rei estava
montado. Ele dizia que o uso de um jumentinho, e não de um cavalo garboso era
um detalhe que mostrava claramente quem era Cristo e quem era o Pai em cujo
nome ele tinha vindo e também dizia algo acerca do seu reino.
"Esta é uma cena realmente
comovedora. Vejamos algumas das razões pelas quais o Salvador escolheu este
animal. Em primeiro lugar pela sua humildade. O jumento é um animal verdadeiramente
pesado, lento e preguiçoso. No entanto possui uma grande humildade, não é
orgulhoso nem vaidoso. Isto o diferencia do cavalo que tende a ser altaneiro. O
cavalo não somente dá coice, mas também morde e pode chegar a possuir tal fúria
que ninguém se atreve a aproximar-se dele. Levanta sua cabeça, sacode sua crina
e seu rabo até o ponto que pode chegar a despertar a vaidade de quem o monta!
Tão logo escute o ruído dos cascos do seu cavalo contra o chão, o ginete se endireita
cheio de orgulho, levanta seu rosto e observa ao redor para ver se alguma
mulher aparece na janela para admirá-lo. Quem é realmente o mais vaidoso, o
cavalo ou seu ginete? Quanta bobagem e infantilidade nisso tudo! Nosso Senhor,
que foi humilde e veio para destruir o orgulho, escolheu não usar o orgulhoso
cavalo para que o transportasse. Escolheu o animal mais simples e mais humilde
de todos.
A segunda qualidade é a
paciência. O jumento não é somente humilde, mas também excessivamente paciente.
Não se queixa, não morde e nem dá coices. Tudo suporta com grande paciência.
Nosso Senhor amava tanto a paciência que quis converter-se num reflexo, num
modelo da mesma. Ele suportou açoites e maus tratos com uma paciência
invencível. Ele suportou incontáveis blasfêmias e incontáveis calúnias sem
dizer uma só palavra.
A terceira razão é porque o
jumento permite que o carreguemos com tanto peso quanto queiramos, sem opor
resistência. Ele leva a carga com uma responsabilidade excepcional. Tanto amava
nosso Divino Mestre a responsabilidade que escolheu dar-nos um exemplo da
mesma. Ele carregou a pesada carga de nossas injustiças e sofreu pelas mesmas
tudo o que nós merecíamos sofrer".
Francisco de Sales (cujo
padroeiro foi Francisco de Assis, amante da natureza de Deus, especialmente dos
animais) escolheu enfocar a atenção no humilde jumento durante a cena do
domingo de ramos. Ele nos convida na leitura da Paixão que hoje é lida nas
igrejas para que sigamos Cristo humilde, paciente e confiante ao longo desta
encenação até a consumação com sua morte amorosa e em seguida através da
liturgia da Páscoa e do tempo pascal até a última cena da Ressurreição e da Ascensão.
Ele nos convida a praticar a humildade, a paciência e a responsabilidade para
conosco também, humildemente, para que possamos avançar em meio dos nossos sofrimentos
e assim chegar o momento de nossa própria ressurreição e ascensão.
P. Michael S. Murray, OSFS -
Diretor do Centro Espiritual de Sales.
Tradução do espanhol: P. Tarcizio Paulo Odelli - sdb