sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Reflexão Salesiana para o domingo da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria – 21 de agosto de 2011


No dia de hoje, 21 de agosto, lembramos o nascimento de São Francisco de Sales. Ele nasceu numa quinta-feira, entre oito e nove horas da noite do dia 21 de agosto de 1567, num quarto dedicado a São Francisco de Assis, castelo de Sales. Nasceu prematuro. Batizaram-no imediatamente. O batismo solene foi realizado no domingo seguinte, na igreja de Thorens. São Francisco de Sales é considerado o “pai da espiritualidade moderna”. Por isso neste dia, colocamos alguns pensamentos dele referente à Maria, “a mais amante e a mais amada das criaturas”.
Olhando as inúmeras pinturas de São Francisco de Sales poderíamos dizer que se destacam aquelas em que ele aparece com Nossa Senhora. Quando estive em Chieri, em 2004, vi um destes quadros, fotografei e depois fiquei sabendo que, diante dele, o seminarista João Bosco, nosso Pai e Fundador, esteve ali muitas vezes rezando e pedindo luzes para realizar a sua vocação. Com este quadro desejo homenagear São Francisco de Sales no dia em que lembramos o seu nascimento.


 Celebramos hoje a Assunção de Maria. A este propósito, São Francisco de Sales observa:

A sagrada tradição ensina que Maria morreu e foi para o céu em um estado de glória. Maria se elevou em honra do seu Filho, e também para despertar a santidade em nós. Todas as suas ações tinham como objetivo glorificar o seu Filho. Maria também deseja que cada uma de nossas ações sirva para glorificar a Deus.

Após a morte de seu Filho, a Mãe de Jesus tornou-se irrefutável testemunho da verdade de sua natureza humana. Converteu-se também numa luz para os fiéis que estavam profundamente angustiados. Com que devoção ela deve ter amado o seu corpo sagrado, sabendo que era a fonte viva do corpo de Salvador. Ainda assim, para servir bem a Deus, ela deveria dar uma trégua ao seu corpo cansado, a fim de recuperar suas forças. Sem sombra de dúvida, cuidar de nossos corpos é um dos melhores atos de caridade que podemos realizar. Como o grande Santo Agostinho, o amor sagrado de Deus em nós se reflete na obrigação de amar o nosso corpo adequadamente, uma vez que é necessário para realizar boas obras, faz parte da nossa pessoa, e compartilhará conosco a felicidade eterna.

Na verdade, o cristão deve amar o seu corpo, porque é a imagem viva do Salvador encarnado. Somos descendentes da mesma linhagem, e, portanto, nossa origem e nosso sangue pertencem a ele. Como Maria, devemos estar conscientes de nossa excelência humana para poder dar glória a Deus usando os dons que Ele nos deu. Na ressurreição geral nossos corpos mortais serão imortais, e serão refeitos à imagem e semelhança de Nosso Senhor.

Maria nos pede que permitamos ao Seu Filho reinar em nossos corações. Examinemos os afetos do nosso coração para ver se eles estão em sintonia, de modo que, como Maria possamos cantar os grandes feitos que Deus está fazendo em nós. Em meio a todos os perigos, em meio a tempestades, "Voltem seus olhos para a estrela do mar e a invoquem." Com a sua ajuda seus barcos chegarão ao porto sem sofrer desastre nem o naufrágio.

(Adaptação dos Sermões de São Francisco de Sales, L.Fiorelli, Edições)



Alguns trechos de sermões onde São Francisco de Sales fala sobre Maria:

“É costume a gente dizer: ‘Tal vida, tal morte’. Em minha opinião, que morte então teve Nossa Senhora a não ser uma morte de amor? Não resta dúvida que ela morreu de amor. Na sua vida não se percebem raptos nem êxtases, porque toda a sua vida foi um rapto de amor ardente, mas tranquilo e acompanhado de uma grande paz. Ainda que este amor fosse sempre crescendo, este aumento não ia aos saltos, mas avançava como uma corrente, quase imperceptivelmente. Chegando a hora de deixar esta vida, o amor fez a sua alma separar-se do corpo, e a morte não sendo outra coisa que essa separação. Já que era toda pura, sem mancha alguma de pecado, ela foi levada diretamente para o céu”. (Sermões 21; O. C. IX, pp. 182-183)

“Na presença de nossa Rainha, assunta para o céu, apresentemos humildemente o nosso coração como o ‘orvalho do Hermon’ (Sl 132,3) que destila por tudo da sua santa plenitude de graças. Que sublime é a perfeição desta pomba em comparação com todos nós. Oh, como tenho desejado que, no meio do dilúvio das nossas misérias, ela nos alcance o ramo do santo amor, da pureza, amabilidade e oração, para levá-lo, como sinal da paz, ao seu querido Jesus. Jesus viva! Maria viva, o sustento da minha vida!” (Cartas 1230; O.C. XVII, p. 271)

A mais amante e a mais amada das criaturas

São Francisco de Sales inicia sua obra Tratado do Amor de Deus com uma oração dedicada a Virgem Maria, “Rainha do amor soberano”, “a mais amável, a mais amante e a mais amada de todas as criaturas”.

A devoção mariana de São Francisco de Sales tem raízes profundas. Provém de uma profunda fé, viva, enraizada no mistério de Cristo e de Maria. Maria é a criatura mais amada de Deus: Ele colocou nela suas complacências desde toda a eternidade, escolhendo-a e destinando-a para ser a mãe de seu único Filho. Por ser a amada de Deus, é a amante por antonomásia do Filho de suas entranhas: o ama com ternura maternal, da mesma maneira que amou o Pai. J. P. Camus diz que SFS desde seus mais tenros anos a honrou e se alistou nas confrarias e congregações a ela dedicadas. Aprendeu desde os sete anos a rezar o rosário que para ele era verdadeira oração contemplativa, que fazia devagar, lentamente, saboreando os mistérios que contempla. Ainda estudante fez o voto de rezar todos os dias de sua vida o rosário. No Colégio Clermont de Paris fazia parte da Congregação de Maria. Depois veio o combate, a crise. É a Maria que recorre, rezando diante do seu altar (Virgem negra) na Igreja de Santo Estevão de Gres o “Lembrai-vos...” Ali faz o voto de castidade que é renovado em Loreto. Maria o conduz e guia ao sacerdócio. Está presente no seu trabalho missionário no Chablais, como o está depois em sua pregação e ensinamento como Bispo. “Recebi a consagração episcopal no dia da Concepção da Virgem Maria, Nossa Senhora, em cujas mãos coloquei a minha sorte”. Depois funda em 06 de junho de 1610 a Ordem da Visitação de Santa Maria.

Na sua doutrina mariana, dois princípios são muito claros: Maria é infinitamente inferior a Deus e ao Verbo encarnado, a Jesus; Ela é criatura, mas ao mesmo tempo é extremamente superior a qualquer criatura, incluídos os anjos e os santos. É Mãe de Deus e, portanto, inigualável a todos os demais seres criados. A escolha de Deus e sua incomparável vocação a ser a Mãe de seu Filho, a situam num lugar único na vida da Igreja.

São Francisco de Sales é testemunho preclaro do equilíbrio que a Igreja manifesta no culto que tributa a Virgem Maria. Mostra-se em desacordo com aqueles que, movidos por um excesso de devoção, “oferecem um sacrifício” a Maria, bem como com os que, por defeito, “recusam a honra que lhe tributam os católicos”. E escreve neste sentido: “A uns, a Igreja mostra que a Virgem é criatura, mas tão santa, tão perfeita, tão perfeitamente aliada e unida a seu Filho, tão amada e querida por Deus, que não se pode amar ao Filho mais do que pelo amor dela... e aos outros ela lhes diz que: o sacrifício e o culto supremo de latria só pode ser dado ao Criador...” (Sermão da festa da Assunção, 1602, OEA VII, 458)

Nestes princípios básicos se assenta a teologia e a espiritualidade salesiana. O magistério pontifício se baseou em seus textos para declarar alguns dos dogmas marianos, como o da Imaculada Conceição e o da Assunção. Duzentos e cinquenta anos antes da promulgação do dogma, a doutrina salesiana defende com clareza: que Maria, em consideração dos méritos de seu Filho, Jesus Cristo, foi revestida desde o primeiro instante de sua existência com a graça santificante e que, por conseguinte, foi preservada de todo o pecado; foi concebida sem mancha, sem pecado original. Desde o começo de sua existência possuiu a vida divina da graça para que assim pudesse chegar a ser a Mãe do Redentor, tal como Deus mesmo quis. Uma vez consumada sua carreira terrena, foi elevada em corpo e alma a glória dos céus. Também aqui, unido a uma firma tradição eclesial, o Bispo de Genebra se adianta no ensinamento do dogma católico.

“Maria já não é mais do que amor”. A prova definitiva do amor da Mãe para com seu filho se encontra no Calvário, “o monte dos amantes”, “a verdadeira academia da caridade”. (TAD, XII, 13) Ali o amor se empapa de dor, e a dor, de amor. O maravilhoso intercâmbio: “Filho, eis ai tua mãe”. “Mãe, eis ai teu filho”. Não se trata de uma substituição, mas de uma incorporação real. Maria que está oferecendo e entregando seu Filho ao Pai, tem que renunciar ao Filho amado e aceitar, em seu lugar, toda a humanidade, representada em João.

Na devoção e na espiritualidade mariana trata-se de chegar a viver em plenitude o amor que Deus tem por nós, como o viveu Maria. Trata-se de buscar e cumprir a vontade de Deus como Ela. De tentar chegar à perfeição. Para São Francisco de Sales,  Maria é a “mestra da santidade”. Na escola de Maria aprenderemos a amar a Deus de todo o coração como ela o fez. “É a particular auxiliadora das almas que se dedicam a Nosso Senhor.” (Sermão da festa da Anunciação, Obras seletas de SFS, I, 360). A atitude amante de Maria infunde e inspira as atitudes de confiança amorosa. A espiritualidade mariana é sempre missionária. Maria está vinculada à missão da Igreja, porque no centro de toda a atividade apostólica está Cristo. Toda a ação missionária orienta para Cristo: para conhecê-lo e para fazê-lo conhecer, para anunciar seu amor e testemunhá-lo no meio das pessoas.  E neste caminho se encontra Maria. 

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