quinta-feira, 30 de junho de 2011

Pastores

Neste final de semana não temos os textos relativos a São Pedro e São Paulo. Coloco uma frase de São Francisco, para refletirmos sobre nosso papel de pastores. Diz: "É evidente: apascentar as ovelhas significa cuidar delas. Os pastores têm que cuidar das ovelhas em todos os sentidos, guiá-las, dirigi-las. Ter o encargo de apascentar os cristãos implica, portanto, em nada menos do que ser-lhes um mestre e pastor."

domingo, 26 de junho de 2011

Pensamentos Salesianos


"Como são terríveis e perigosas as quedas dos que se encontram nas montanhas! Porque desde que começam a cair, seguem rolando até chegar ao fundo do precipício. A mesma coisa acontece com os que caem espiritualmente por não ter perseverado no serviço de Deus! É uma coisa estranha que, depois de ter começado bem, até permanecendo trinta ou quarenta anos neste santo serviço, chegando à velhice, quando é tempo de colher os frutos das boas obras, se chega a perder tudo e precipitar-se no abismo. Como são insondáveis os juízos de Deus! Que ninguém se gabe de suas boas obras, pensando que não tem o que temer."  (Sermões 65)

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Reflexão Salesiana para o domingo do Corpo e Sangue de Cristo - 26 de junho de 2011



Esta imagem é da Igreja S. Dalmazzo, em Turim. Nela vemos vários santos adorando o Santíssimo Sacramento, e bem na frente, São Francisco de Sales. (Foto minha de 2004)

Hoje celebramos a presença real de Cristo na Eucaristia. Aqui estão alguns dos pensamentos de São Francisco de Sales em relação a este sacramento.

Jesus instituiu o sacramento da Eucaristia para permanecermos intimamente ligados à bondade de Deus. Nosso Salvador deseja que o laço que nos mantém ligados a Ele seja tão forte e poderoso, que assim sejamos honrados com suas próprias características. Quando recebemos a Eucaristia, nosso Senhor nos coloca em seus braços e realiza Sua obra em nós. Aqueles que participam da Eucaristia com frequência e reverentemente desenvolvem sua saúde espiritual. Se até mesmo as frutas mais delicadas e propensas à decomposição precoce, tais como os morangos, podem ser facilmente preservadas por um ano entre o açúcar e o mel, não deveria surpreender-nos que nossos corações, sem se importar quão frágeis e fracos são, sejam preservados pela presença espiritual e real da presença de Cristo na Eucaristia.

Depois de receber Nosso Senhor na Sagrada Comunhão, fale com Ele sobre as coisas que mais preocupam. Reflitam sobre o fato de que Ele está em você, e que está ali para proporcionar felicidade. Esmerem-se para que Ele se sinta bem-vindo. Comportem-se de uma forma que, através de suas ações, todos saibam que Deus está com vocês.

Venham receber a comunhão frequentemente. Existem dois tipos de pessoas que precisam comungar com frequência: aqueles que são fracos e aqueles que são fortes. Aqueles que são fortes, para não enfraquecer, e aqueles que são fracos para serem reforçados. Os doentes, para que possam ser curados, e aqueles que são saudáveis, para que não venham sofrer enfermidades. As pessoas que estão envolvidas em muitos assuntos mundanos também precisam dele. Aqueles que trabalham muito e que têm sobre si muitas obrigações devem ser estimulados a nutrirem-se com frequência.

Através da Eucaristia, nosso Salvador nos ajuda a progredir, nos fortalece e nos alimenta com o Seu amor entregue. Como Cristo se entregou completamente a nós por meio deste divino sacramento, não deveríamos também dar-nos completamente a Ele, que é, ao mesmo tempo, o Dom e Quem se dá a nós?

(Adaptado dos escritos de São Francisco de Sales)

Destaque: "Fazei isto em minha memória."

Perspectiva Salesiana

A Eucaristia - uma palavra que significa literalmente dar graças - é a celebração central da comunidade cristã. Fala da dimensão de quem é Deus em nossas vidas. Fala da dimensão de quem somos e do que somos chamados a ser na vida dos outros.

A Eucaristia é o coração da nossa fé.

A Eucaristia celebra a verdade de que Deus nos ama tanto que enviou Jesus para ser nosso Redentor. A Eucaristia celebra a verdade de que Deus nos ama tanto que permitiu que o corpo de Jesus fosse maltratado e que o sangue de Jesus fosse derramado por nós. A Eucaristia celebra a verdade de que Deus nos ama tanto que o Espírito ressuscitou Jesus dentre os mortos para que pudéssemos compartilhar o poder e a promessa da vida eterna.

A Oração Eucarística III da missa das crianças diz o seguinte: Jesus "nos trouxe a boa nova da vida que nos espera no céu. Ele nos mostrou o caminho para esta vida aqui na terra, o caminho do amor... Ele agora nos reúne numa mesa e nos pede para fazer o que Ele fez."  A Oração Eucarística II para a Reconciliação nos diz que Jesus "nos confiou esta promessa do seu amor."

A Eucaristia celebra a verdade de que somos chamados a fazer mais do que simplesmente receber o corpo e o sangue de Cristo. A Eucaristia celebra a verdade que cada um de nós deve ser o corpo e o sangue de Cristo para os outros. A Eucaristia celebra a verdade que somos chamados para nos doarmos e para sermos generosos com os outros, para que vivamos nossas vidas lutando pela justiça, paz, reconciliação, cura, vida, liberdade e amor.

Somos chamados a proclamar a morte do Senhor em nossa vontade para ser pão e vinho aos demais. Somos chamados a proclamar a morte do Senhor, o poder do Senhor em nossa vontade de dar a nossa vida, nossos talentos e os nossos esforços no serviço e na continuação da redenção, da obra de salvação que Jesus começou.

Nós mostramos nossa dignidade Eucarística e nosso destino Eucarístico quando acolhemos o mandato de Jesus para que “façamos isto em sua Memória.” Não apenas para celebrar a Eucaristia no primeiro dia da semana, mas sendo Eucaristia para os outros todos os dias semana, nutrindo e perdoando-nos uns aos outros.

A Eucaristia não é simplesmente algo que recebemos. A Eucaristia é algo naquilo que devemos nos converter. A Eucaristia é algo que deve ser partilhado com os outros. A Eucaristia, em suma, é um estilo de vida.

Em todos os níveis.

Sejamos Eucaristia uns para os outros. Alimentar, nutrir e perdoar... em sua memória... em comunhão com os outros.

O P. Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Reflexão Salesiana para o domingo da Santíssima Trindade – 19 de junho de 2011


Hoje celebramos a Santíssima Trindade, as três pessoas que formam o Deus Único. Neste sentido, São Francisco de Sales nos diz o seguinte:

O amor entre as Três Pessoas da Trindade transborda sobre a criação, especialmente sobre a família humana. A humanidade foi unida à pessoa de Deus através do Filho, para que pudesse apreciar os tesouros da Sua glória infinita. Somente em Cristo e através Dele, ganhamos a possibilidade de participar na união do amor puro, que é a Trindade.

Nosso Salvador não nos chama somente para estabelecer entre nós uma ligação idêntica à que existe entre as três Pessoas, mas para que nos unamos tão pura e perfeitamente possível. Ao responder ao Seu chamado, nosso Redentor nos transforma completamente à Sua imagem e semelhança, de modo que parece que não existe diferença entre Ele e nós. Ele nos redime a todos igualmente. Sem exceção alguma, faz-nos como Ele mesmo. Com a força do Seu amor santo, Ele esqueceu-se de Si mesmo, mas nunca se esqueceu de suas criaturas. Que grande foi a chama do amor que ardia no coração do nosso gentil Salvador! Nós também possuímos a mesma capacidade de amor no coração.

Jesus fala sobre a união de nossos corações em termos ousados. Diz-nos que a qualidade do nosso amor pelos outros deve ser semelhante à qualidade de amor entre três pessoas. Isto pode soar bom demais para que seja verdade. Ainda assim, é impossível amar a Deus e não amar a imagem de Deus nos outros. Nosso Salvador nos ama tanto que nos tornamos Seus filhos adotivos. Precisamos mostrar que realmente somos Seus filhos, amando-nos unas aos outros, realmente, com toda a bondade dos nossos corações.

Os filhos da cultura de hoje, vivendo exclusivamente em função de seus bens materiais, estão longe um do outro, porque seus corações estão em lugares diferentes. Os filhos de Deus, ao contrário, têm seus corações "no lugar onde se encontra o seu tesouro." Como eles têm um tesouro único, que é o mesmo Deus, permanecem sempre juntos. Se o amor entre nós chegasse a refletir o amor transbordante da Santíssima Trindade, imagine quanta paz e quantas liberdades conseguiriam!

(Adaptado dos escritos de São Francisco de Sales, em especial os sermões de São Francisco de Sales, L. Fiorelli, as edições)

Destaque: "Trabalhai no vosso aperfeiçoamento, encorajai-vos, cultivai a concórdia, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco."

Perspectiva Salesiana

São Francisco de Sales disse o seguinte sobre um dos mais profundos mistérios da nossa fé: a natureza trina de Deus.

"Desde a eternidade existe em Deus uma comunicação essencial através da qual o Pai, ao produzir o Filho, lhe comunica a totalidade de sua infinidade e a natureza indivisível de sua divindade. Juntos o Pai e o Filho, ao produzirem o Espírito Santo lhe comunicam da mesma forma sua própria divindade. Assim também esta doçura soberana foi comunicada tão perfeitamente a uma criatura, que a natureza criada e a divindade retiveram, cada uma, suas propriedades, ao mesmo tempo que se mantinham unidas em sua sabedoria de tal modo, que eles todos são uma pessoa... ou seja, a suprema sabedoria de Deus decidiu entrelaçar este amor original com a vontade de suas criaturas em uma maneira tão sábia que o amor não limita, mas a deixa em total liberdade."(Tratado do Amor de Deus , livro 2, capítulo 4)
O que podemos considerar ou explicar em relação ao profundo mistério da Trindade de uma maneira que faça diferença em nossas vidas e nas vidas de todos aqueles que conhecemos? Por razões de simplicidade, vamos olhar para cada uma das pessoas da Trindade, de maneira geral, com ênfase nas atividades que nós, em nossa tentativa de compreender o mistério da natureza divina, associamos com o Pai, com o Filho e com o Espírito, enquanto recorremos à história da nossa salvação: na Trindade experimentamos um Pai que nos criou por amor; na Trindade experimentamos um Filho que nos redimiu e que nos reconciliou através do amor; na Trindade experimentamos um Espírito que nos inspira e que nos sustenta com o amor.

Nós somos como a Trindade quando estabelecemos e mantemos em nós aquelas coisas que refletem a natureza trinitária que Deus nos deu: quando criamos, quando nutrimos, quando alimentamos relações que nos redimem, que nos reconciliam, que nos animam a viver a liberdade própria dos filhos e filhas do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Como disse São Paulo, somos fiéis à nossa dignidade e ao nosso destino divino quando "damos apoio uns aos outros... vivemos em harmonia e paz..."

Nós somos como a Trindade quando perdoamos, quando estamos dispostos a deixar para trás as dores, as decepções, calúnias e falsidades. Nós somos mais como o Deus Trino quando inspiramos, animamos, desafiamos e nos apoiamos uns aos outros a fazer o mesmo conosco.

De que forma poderemos atuar melhor em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo hoje? Como podemos animar os (literalmente "entregar o coração" a) outros?

O P. Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Retratos de São Francisco de Sales




Recebi esta fotografia de Turim. Neste quadro, aparecem juntos Dom Bosco e São Francisco de Sales, rodeados por fundadores de outras Ordens e Congregações, tendo como tema o mote Da mihi animas cetera tolle. O quadro esta pintado na capela mortuária do Bem-aventurado P. Miguel Rua, da Basílica de Maria Auxiliadora de Turim.

Francisco de Sales não gostava de ser retratado por pintores. No dia 15 de junho de 1618, seu confessor o repreendeu com um pouco de severidade, dizendo que Francisco era causa de pecados veniais, de murmurações e inquietação do próximo que queria fazer pintá-lo. E disse que deveria corrigir-se. O Santo se sujeitou com uma admirável simplicidade. Quando queriam pintá-lo, o Bispo disse bondosamente: "Pois bem, que se retrate a imagem deste homem de barro, mas que se reze bem para que eu acerte em mim a imagem do Pai celeste". O pintor disse que ao pintar um retrato de São Francisco de Sales sempre se confessava e comungava, pois de outra maneira não faria nada que prestasse. (A.S. VI, p. 367) 

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Dom Bosco e São Francisco de Sales (9)


Em 1877 S. Francisco de Sales foi proclamado Doutor da Igreja. As Irmãs Visitandinas de Annecy desejavam construir um belo santuário para colocar ali os restos mortais de seu fundador que até o momento estavam na capela do Mosteiro. Os trabalhos iniciaram em 1878. Um ano depois os recursos estavam exauridos e havia necessidade ainda de prover a decoração interna. Em maio de 1879 Dom Bosco recebeu uma carta da madre priora Maria Luisa Bartolezzi na qual exprimia o desejo de ver o nome de Dom Bosco legado a uma pedra da nova igreja. Ela dizia que de Turim lhe chegavam ricos materiais em mármore, granitos, esculturas, objetos de arte; parecia natural que não deveria faltar uma homenagem da parte da Congregação que tinha tomado por padroeiro o Bispo de Genebra. A carta terminava anunciando a visita do confessor do mosteiro a Dom Bosco. Esta visita provavelmente não aconteceu. Não se faz nenhum aceno a ela. Na carta que escreveu para a priora, dizia: “O desejo do meu coração seria que a nossa Congregação, colocada sob a proteção do amável Doutor, tivesse, neste santuário um altar para testemunhar nossa devoção. Temo, porém que a tanto não me bastem as forças. Tenho absoluta necessidade de saber primeiro se há ainda um altar disponível e qual a soma da despesa. Se eu encontrasse proporcional aos meus meios, com muita vontade a assumirei. Não posso obrigar-me preventivamente, nem entendo encher-me de empenhos antes de conhecer os gastos aos quais me obrigarei”.Contente com a generosa oferta, a madre priora o notificou sem demora que dois alteres não tinham a até aquele momento encontrado benfeitores: o altar do Sagrado Coração de Jesus e o da Beata Virgem. “Cada um destes altares em mármore, acrescentava, importarão uma despesa de três mil a três mil de quinhentos francos. Mas se deseja unir o seu nome ao nosso monumento num altar especial, não é nossa intenção de exigir a inteira soma necessária. O que ela poderá fazer será receber com profunda gratidão e acrescentará novo brilho a uma igreja edificada com a graça da caridade dos filhos prediletos do nosso glorioso Doutor”. Como Dom Bosco não respondeu, deram continuidade aos trabalhos e edificaram uma bela capela com um altar dedicado ao Sagrado Coração de Jesus no valor de 5 mil francos. Ele tinha aguardado que lhe mandassem o projeto. Mas a providência, também nesta vez, veio em seu socorro. O Barão Feliciano Ricci dês Ferres pagou 4.000 francos. Na capela do Sagrado Coração, no Santuário de S. Francisco em Annecy se lia: “A Congregação Salesiana com a ajuda do nobilíssimo Feliciano Ricci dês Ferres decorou esta capela”. Esta Igreja hoje não existe mais. Foi demolida pelo município, em 1910. (MB14, 346-348).

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Reflexão salesiana para o final de semana - Domingo de Pentecostes - 12 de junho de 2011



As leituras de hoje contam que Jesus entregou Seu espírito aos discípulos. Desta forma, eles receberam o poder para continuar a sua missão de salvação de toda a família humana. São Francisco de Sales observa:

O Espírito Santo é como uma fonte de água viva que flui em nossos corações e assim pode irrigar o amor divino em nós. O amor divino é infinitamente superior a todas as outras formas de amor. O amor que o Espírito nos dá, confere poder para servir a Deus. O trabalho que fazemos, fundamentados no amor do Espírito, será cheio de vigor e virtude, e crescerá como a semente de mostarda. O fato de que o Espírito Santo não hesite em habitar em nós, é uma coisa maravilhosa.

Mesmo assim, o Espírito Santo não deseja entrar em nós sem o nosso consentimento. A primeira coisa que Deus faz é pedir nossos corações. Na medida em que estamos dispostos a receber o Seu amor, Ele continuará aumentando o amor sagrado em nós. Nosso Salvador prometeu que, se nos dermos ao trabalho de remar com o nosso barco, Ele nos levará a um lugar cheio de vida. Seu desejo infinito é que tomemos o remo em nossas mãos e avancemos. Ele faz tudo o que for possível para que possamos decidir. Ordena-nos, nos incentiva, encoraja-nos a fazê-lo. Se pegarmos o pequeno barco da Igreja para navegar entre as águas amargas deste mundo, Ele nos guiará rumo à vida eterna. No entanto, se recusará a nos levar até lá, se não fizermos a nossa parte, já que por natureza fomos criados para colaborar com ele.

Não é suficiente que sintamos uma inspiração que provém de Deus. Devemos consentir. Mesmo que dermos um mínimo de nossa aprovação, que felicidade vai ser! A inspiração divina, que nos dá o Espírito Santo veio sobre nós, misturando suas ações com o nosso consentimento, animam os nossos movimentos fracos, e revivem nossa frágil vontade de cooperação. As inspirações amorosas de Deus nos dão plena liberdade para decidir seguir ou rejeitar. Ainda assim, o amor de Deus faz com que a água flua entre as rochas, e converte os perseguidores em pregadores. Decidamo-nos a fazer, então, o que estiver ao nosso alcance. Devemos permitir que o Espírito Santo dirija nossas ações e nossos sentimentos no caminho do perdão, para que este, por sua vez, nos conduza à plenitude espiritual. Então, podemos partilhar a Boa Nova a todas as pessoas que encontrarmos no dia a dia.

(Adaptado dos escritos de São Francisco de Sales)

Destaque: "Estes homens que estão falando não são todos galileus? Como é que nós os escutamos na nossa própria língua?"

Perspectiva Salesiana

Mesmo falando diante de muitas pessoas, de muitas línguas e de muitas culturas, os apóstolos foram compreendidos por todos os ouvintes à medida que proclamavam as maravilhas que Deus tinha feito.

Como isto foi possível?

Incendiados pelo poder do Espírito Santo, os apóstolos falavam a linguagem do coração. Eles falavam com entusiasmo. Eles falavam com gratidão. Eles elogiavam e davam graças. Eles falavam do fundo de seu ser. Eles falavam com alma.

Em suma, eles falavam a língua universal, a linguagem do coração.
Nós somos mais humanos, somos mais divinos, quando falamos a linguagem do coração, quando falamos a linguagem do amor, quando falamos e ouvimos com a alma, quando as nossas palavras estão enraizadas no Verbo feito homem.

Como sabemos, por experiência própria, a comunicação envolve muito mais do que aquilo que vemos a olho nu... ou, o que podemos chegar a ouvir ou falar. A comunicação é por vezes mais fácil dizer do que fazer. Muitas vezes confundimos uma com a outra. Muitas vezes, presumimos que sabemos o que os outros estão pensando ou sentindo. Muitas vezes usamos as mesmas palavras para coisas diferentes. Muitas vezes temos maneiras diferentes de dizer a mesma coisa. Frequentemente ouvimos, mas falhamos na hora de ouvir. Nós sempre estamos falando, mas isso não é a mesma coisa que comunicar-nos... ou, falar de coração a coração.

São Francisco de Sales diz que o Espírito Santo vem para acender os corações de quem tem fé. Quando nós falamos e escutamos com nossos corações acessos pela felicidade, pela verdade e pela gratidão, o conflito dá lugar à compreensão, a confusão dá lugar à clareza, à distância dá lugar à intimidade, a tristeza dá lugar a cura, a frustração dá lugar ao perdão, a violência dá lugar à paz, o pecado abre caminho para a salvação.

Francisco Sales nos oferece este conselho: "Falem sempre de Deus como Deus, que dizer, com reverência e devoção, sem ostentação e sem afetação, mas com espírito submisso, cheio de humildade e de caridade. Destilem tanto quanto possam do delicioso mel da devoção (espiritualidade) e das coisas divinas, imperceptíveis aos ouvidos de uma pessoa para outra. Orem a Deus em sua alma para que possam agradá-lo e fazer com que o seu santo orvalho fique impregnado no mais profundo dos corações daqueles que vos escutam. É maravilhoso como o poder de uma proposta simpática e doce faz boas obras e atrai os corações dos ouvintes."

Como devemos falar, ouvir, praticar a linguagem do amor no dia de hoje?

O P. Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Reflexão salesiana para o final de semana - Ascensão do Senhor - 05 de junho de 2011



As leituras de hoje falam sobre a ascensão de Jesus ressuscitado rumo à plenitude do Reino de Deus. São Francisco de Sales observa:

O mistério da Ascensão nos deixa admirados. Se entendermos a Ascensão, conseguiremos o maior tesouro de todos os dons que Jesus nos dá.  Seu corpo, não no físico, mas espiritual, entra no céu e está presente na Eucaristia. Ele se entrega a todos os que desejam recebê-lo e acolhê-lo. Secretamente, ele está transformando a todos nós.

O amor de Deus diviniza nossa humanidade constantemente. Nossa vida de amor divino nos impõe uma obrigação: amar o nosso corpo corretamente. O corpo é parte integrante de nossa condição humana e também dividirá conosco a felicidade eterna. Como cristãos devemos amar os nossos corpos, pois eles são a imagem viva da encarnação do nosso Salvador. Também devemos reconhecer e amar a imagem divina nos outros.

Quando começamos a viver uma vida “escondida em Deus, com Jesus Cristo”, estamos vivendo  através de nosso verdadeiro eu interior. Estamos vivendo uma nova vida de amor divino. Nossos amores egoístas ficarão, então, à mercê do amor divino. Como fazemos isso? A luz forte do sol faz com que a luz das estrelas desapareça. Da mesma forma, quando concentramos nossos afetos em coisas que são imperecíveis, coisas que são eternas, estamos ajudando a sufocar o amor desenfreado que sentimos pelas coisas que são efêmeras. O fogo do amor de Deus, que é muito mais forte e mais poderoso, extingue o nosso amor excessivo a todas as coisas que são inferiores.

A Ressurreição, a Ascensão de Jesus nos dá o poder para viver uma nova vida no amor sagrado, que é totalmente contrária a todas as opiniões e as regras da nossa cultura atual, que tende para o materialismo. O amor de Cristo é a fonte do nosso amor. Não há nada comparável ao amor para estimular o coração de uma pessoa. Naveguemos jubilosos no meio das dificuldades desta vida passageira, já que tudo o que é perfeito e será aperfeiçoado na eterna bem-aventurança do céu. Será então que o nosso Salvador nos glorificará em Sua glória, por termos amado todas as coisas, não para nosso benefício, mas para a glória de Deus.

(Adaptado dos escritos de São Francisco de Sales)

Destaque: "Ide e fazei discípulos meus todos os povos."

Perspectiva Salesiana

Falando sobre o mistério da Ascensão de Nosso Senhor, Francisco de Sales escreveu: "Nós abandonamos a nossa própria vida para viver uma vida mais nobre e que está acima de nós. Todos nós escondemos esta nova vida em Deus, com Jesus Cristo, o único que pode vê-la, o sabe e a outorga. Nossa nova vida é o amor do céu, o qual  vivifica e anima a nossa alma, e esse amor é completamente escondido em Deus e nas coisas de Deus com Jesus Cristo. Como dizem as palavras sagradas do Evangelho, depois de Jesus ter aparecido um pouco antes a seus discípulos, subiu ao céu, e quando as nuvens começaram a cercá-lo, o cobriram e o esconderam dos seus olhos. Jesus Cristo, então, está escondido no céu, em Deus. Jesus Cristo é o nosso amor e nosso amor é a vida da nossa alma. Portanto, nossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Jesus, que é o nosso amor e, portanto, a nossa vida espiritual, aparecer no dia do Juízo Final, também apareceremos com ele na glória. Jesus Cristo nosso amor nos glorificará ao comunicar-nos com a sua própria felicidade e esplendor”. (Tratado do Amor de Deus, Livro VII, capítulo 6)

Nossa vida está realmente escondida em Deus. Aquilo que somos em nossa total realidade, em nosso interior, é algo que só Deus sabe. Mesmo assim, para Francisco de Sales, viver uma vida escondida em Deus não é o mesmo que manter uma vida secreta: trata-se de testemunhar a verdade mais profunda de quem somos - e quem é Deus, através da qualidade de nossos relacionamentos com os outros. É justo, então, que Francisco de Sales nos chame a praticar as virtudes ocultas, “essas pequenas e humildes virtudes que crescem como flores aos pés da cruz: ajudar os pobres, visitar os enfermos, cuidar da família e todas as pequenas tarefas que a prática destas virtudes trazem, com uma diligência útil que não nos permita ficarmos parados.
( Introdução à Vida Devota , Parte III, Capítulo 35)

Através da Ascensão, Jesus foi tirado da nossa vista, pelo menos de vista física dos nossos olhos. Mesmo assim, a autoridade que Jesus conquistou de seu Pai, nos foi outorgada em virtude na nossa criação e confirmada em nosso batismo. Somos chamados a continuar a obra que Jesus começou, ou seja, fazer discípulos, seguidores, líderes, criadores em todas as nações. Somos chamados a sermos sinais convincentes de atividade continua, redentora e desafiante do Deus uno e trino, mas em tarefas simples, da vida comum e cotidiana.

Paradoxalmente, na medida em que formos fiéis à prática destas pequenas virtudes – “que crescem aos pés da cruz”, Jesus já não estará escondido para nós: ele se fará claramente visível em nosso amor, em nossa preocupação, em nossa luta para a justiça, em nossa promoção da paz, em nossa vontade de perdoar, em nossas tentativas de curar.

Qual pode ser outra forma mais convincente – e poderosa – do que fazer discípulos em todas as nações?

Ou pelo menos, das pessoas com quem interagimos todos os dias.

O P. Michael S. Murray, OSFS é o Diretor Centro Espiritual de Sales.