No Evangelho de hoje
experimentamos a compaixão de Jesus, curando o cego que mostrou ter fé em seu
poder de cura. A este propósito, São Francisco de Sales nos diz o seguinte:
A mão misericordiosa de Deus
sustenta seus corações. Ele nunca os abandonará, mesmo que se encontrem preocupados
ou angustiados. Nunca se afastem dele quando se sentem tristes ou atolados em
amargura. Ao contrário, voltem-se para Nosso Senhor e Nossa Senhora, cujo amor
por você é infinito. A bondade de Deus, com a sua força suave, vem em nosso
auxílio, desde que estamos dispostos a aceitar a ajuda que precisamos. De
nenhuma maneira devemos desanimar. Se nós cooperamos com cuidado amoroso de
Deus por nós, Sua bondade nos ajudará de forma diferente e muito maior. A
misericórdia de Deus nos leva de um estado bom para um estado muito melhor para
que nós possamos progredir no amor sagrado.
Se vocês dedicam um momento a
cada dia para aproximar seus corações de Deus, reforçarão as suas mentes de tal
modo que nunca ficarão perturbados por esses pensamentos habituais e inúteis que
os incomodam e atormentam agora. Em tais momentos devem repetir: "Sim, Senhor,
eu vou fazer isso porque Tu desejas que eu faça." Escolhendo enfrentar as dificuldades
para conseguir o melhor para nós, independentemente das reclamações que fazem
nossos próprios sentimentos, temos um poderoso exemplo de oração diante de
Deus. Se por algum motivo vierem a falhar em seus esforços não fiquem tristes.
Cheio de confiança na misericórdia de Deus, levante-se e continue a caminhar em
paz e com calma, como fizeram antes: no caminho da fé. Mesmo sendo fracos,
nossa fraqueza jamais será maior do que a misericórdia que Deus demonstra para
aqueles que querem amá-lo e colocar nele suas esperanças.
Conheço muito poucas pessoas que
conseguiram vencer na vida sem ter que passar por dificuldades. É por isso que
você deve ser paciente. Depois da tempestade, Deus enviará a calma, porque
somos Seus filhos. Nosso Divino Salvador sempre demonstrou que sua misericórdia
excede Sua justiça, e Seu desejo de perdoar é infinito e que Ele é rico em
misericórdia. Por isso, o nosso Redentor deseja que todos sejamos curados
através do amor divino. Tenha fé no poder da cura de Deus.
(Adaptado dos escritos de São
Francisco de Sales e Joana de Chantal)
Destaque: Como somos cegos? Como nós precisamos ser curados?
Perspectiva Salesiana
A primeira leitura de hoje nos lembra
da promessa feita pelo Senhor a seu povo de Israel. Deus irá protegê-los e
levá-los para sua casa, pois Ele é um "Pai para Israel e Efraim é o meu
primogênito." Deus está sempre atento aos fracos, às mulheres com crianças
e aqueles que não podem cuidar de si mesmos.
Tal preocupação demonstrada por
um Pai amoroso nos permite dar um breve olhar sobre a relação única entre Deus
e Seu povo. São Francisco de Sales lembra-nos continuamente do amor que Deus sente
por sua criação. Esta "verdade" certamente faz sentido e é totalmente
coerente com a lógica da nossa existência. Afinal, que criança não é amado/a
por seus pais gratuitamente?
A segunda leitura fala do papel
do sumo sacerdote. O autor da Carta aos Hebreus deixa claro que o sumo
sacerdote tem a capacidade de ser compassivo já que ele é ao mesmo tempo um
curador ferido. Aqui, novamente, temos outro exemplo da natureza gratuita do
nosso relacionamento com Deus. Deus dá uma vocação, não importa qual seja a
nossa condição de vida. Mas esta vocação não é para nós que nos apropriemos
dela, mas para que respondamos ao seu chamado.
O Evangelho relata a história de Bartimeu,
o mendigo cego. Essa é uma história maravilhosa para nos ajudar a entender como
somos amados por Deus e de forma incondicional. Mesmo assim, embora essa
relação seja gratuita, não é passiva. Bartimeu implora a Jesus que tenha misericórdia
dele. Jesus, em resposta devolve a vista ao cego. O cego pediu-lhe para ver e,
em seguida, Jesus diz que a sua fé o salvou.
Nós rezamos para poder obter a fé
que precisamos e assim conseguir ver a relação fundamental entre Deus e Seu
povo. Nossa cegueira nos impede de ver a bondade única que existe dentro de
cada pessoa. Essa incapacidade de ver a bondade nos mantém atolados no pecado e
nos nega a capacidade de aumentar os nossos dons e talentos para o nosso bem e
para o bem de nossos irmãos e irmãs.
Francisco de Sales nos desafia a
ter a mesma fé do cego, e, ao mesmo tempo, pede que tenhamos bastante confiança
no nosso valor intrínseco para que possamos pedir ao Senhor que nos permita
ver. Se somos fortes o suficiente para dar esse passo, basta imaginar o quão
longe poderemos ir!
P.Michael S. Murray, OSFS - Diretor
do Centro de Espiritualidade de Sales.
Tradução e adaptação: P. Tarcizio
Paulo Odelli - SDB