Hoje é o primeiro domingo do Advento. As leituras de hoje
nos recordam que devemos estar conscientes da necessidade da presença de
Cristo, que nos dá forças até o fim dos tempos. São Francisco de Sales enfatiza
constantemente a importância de viver em Jesus para conseguir ser plenamente
humanos. Mas, viver em Jesus é um chamado ao espírito da liberdade. Numa carta
a Joana de Chantal, São Francisco escreve o seguinte:
A vontade de Deus é clara quanto aos mandamentos e as
tarefas associadas a nossa vocação. No entanto, existem muitas outras coisas
que eu não estou obrigado a fazer, nem por ordem dos mandamentos gerais de Deus
nem como parte das tarefas correspondentes a minha vocação. Nestas coisas é
necessário considerar com muito cuidado, na liberdade do espírito, quais tipos de ação servirão para glorificar mais a
Deus. Disse “na liberdade do espírito”, já que esta decisão deve ser tomada
quando estamos livres da pressão ou da inquietude. Se não for um assunto de
grande importância, então não devemos investir demasiada preocupação nele, senão
decidir depois de pensar um pouco. E se depois de ter atuado ou de ter tomado a
decisão, parece que não foi a mais acertada, de modo nenhum irei estressar-me
por isso. Melhor, devo confiar em Deus e rir de mim mesmo.
Façam tudo por meio do amor, nada por obrigação. Demonstrem
mais amor pela obediência do que temor pela desobediência. Eu quero que vocês
gozem do tipo de liberdade de espírito que descarta os obstáculos, os
escrúpulos e a ansiedade e não o tipo de espírito que exclui a obediência (já
que esta é a liberdade da carne). Se realmente amam a obediência e a bondade,
quero pensar que, quando aparecer uma causa realmente legítima e caritativa que
os levem a afastarem-se de seus exercícios religiosos, esta represente para
vocês outro tipo de obediência... e que seu amor compensaria qualquer coisa que
devam omitir durante suas práticas religiosas. A liberdade sagrada deve reinar em
todas as coisas, e nós não devemos cumprir nenhuma outra lei, ou ceder ante
qualquer tipo de coerção que não seja o amor. Se for o amor que nos incita a
fazer algo, seja pelo pobre ou pelo rico, tudo sairá bem e de qualquer modo
agradará a Nosso Senhor.
Perspectiva Salesiana
Destaque: A expectativa cheia de esperança!”
Para São Francisco de Sales a celebração do tempo do Advento
era o ponto máximo do ano litúrgico. Ele ficava encantado ao celebrar o tempo
do Advento porque o experimentava como um tempo de “expectativa cheia de
esperança”. Para Sales a importância deste tempo estava no encontro único que acontece
entre o Deus amoroso e a sua criação. O Advento é um tempo que está cheio de
expectativa e por isso está também cheio de compreensão e de oportunidades. É
um tempo para imaginar tudo aquilo que é possível neste mundo sem fronteiras
que é a interação pessoal com um Deus amoroso.
Na leitura do Evangelho deste primeiro domingo do Advento,
Jesus chama seus discípulos para que “estejam vigilantes”, que estejam
alertas!” A expectativa é um estado que transporta a mente de um extremo ao
outro do espectro: pode-nos levar da maravilha e da esperança para o desespero
e o medo. Quem de nós não experimentou este sentimento de antecipação que
precede a uma conquista significativa como uma formatura, ou um casamento, ou
quem não experimentou o medo e a preocupação produzida por ter que submeter-se
a uma cirurgia ou a perda de um trabalho?
Ao mesmo tempo em que nos mantemos atentos, é necessário que
tenhamos a habilidade de ver o Senhor quando e onde Ele se manifesta. À medida
que nos preparamos para a vinda do Filho de Deus, existe certa urgência que
requer nossa atenção e vigilância. O Evangelho reflete sobre a importância de
estarmos preparados para receber e experimentar o amor divino. Ao nos
prepararmos para a chegada de Jesus, precisamos tirar um tempo para poder estar
em silêncio, para ouvir e para perceber Sua presença em nossa vida. Sales nos
recorda que podemos encontrar a Deus nas coisas simples. Não existe necessidade
de multiplicarmos nossas tarefas para podermos alcançar a “quietude”, pelo
contrário, o único necessário é que reconheçamos que Deus se encontra conosco
em cada momento presente.
Francisco acreditava que a Encarnação é o resultado inevitável
da ação criada pelo Pai, já que a criação chega a sua conclusão na pessoa de
Jesus. Tal entendimento não contradiz a formidável oportunidade que nos foi
dada livremente por um Deus amoroso, para que cada um de nós possa encontrar-se
com o nosso Criador na pessoa do seu Filho. Nós vivemos no meio da esperança, não
no meio do medo.
Agora começa este tempo do Advento e temos a oportunidade,
mais uma vez, de recordar quem somos da parte de quem viemos e as oportunidades
que podem chegar a definir nossas vidas nesta relação única e pessoal que se
faz disponível para nós em Jesus Cristo.
Estes encontros se apresentam diariamente em nossas vidas,
através das coisas comuns e mais corriqueiras onde encontramos a oportunidade
para experimentar o extraordinário. Porém, isso somente acontecerá, se tivermos
a vontade de abrir nossos braços cheios de fé, de esperança e de expectativa, para
o Deus amoroso que se aproxima de nós cada dia, com tantas e tão simples maneiras.
A “expectativa cheia de alegria” que tanto emocionava Francisco de Sales está
em nós neste dia, acha-se em nossos encontros pessoais com nossos irmãos e
irmãs e em nosso mundo de descobrimentos que nos apresenta novas oportunidades
para experimentar a salvação. A alegre expectativa que nos produz a presença de
Deus se encontra ao nosso redor. Somente necessitamos a coragem para estender
os nossos braços e acolhê-la.
Joseph Morrissey, OSFS – Vive e trabalha em Wilmington,
Delaware
Tradução do espanhol: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB