sexta-feira, 21 de março de 2014

Reflexão Salesiana para o Terceiro Domingo da Quaresma - 23 de março de 2014

Destaque: "O Senhor está no meio de nós ou não?"
Perspectiva Salesiana

Esta tem sido uma questão que transcende gerações, que quase sempre aparece em tempos de crise e confusão, ou quando experimentamos o sofrimento, tragédias, injustiças ou perdas.
Furiosos, frustrados e desiludidos, os israelitas - nossos antepassados ​​espirituais - fizeram esta pergunta a Moisés durante a viagem aparentemente sem rumo definido para a qual eles estavam sendo levados. Do mesmo modo, nós fazemos esta mesma pergunta em nossa caminhada diária em relação aos eventos globais como o terrorismo, a guerra, a fome, as epidemias, ou por causa de nossos próprios conflitos, como o desemprego, a doença, a morte e as relações humanas.
Além disso, esta questão é perfeita para refletir sobre como estamos vivenciando o tempo da quaresma.
Falando de modo intelectual, acreditamos que Deus está verdadeiramente entre nós. Francisco de Sales também acreditava nisso, mas para esta crença, não era puramente intelectual. Era uma crença fundamental: "Não existe nenhum lugar, nada neste mundo em que Deus não está realmente presente. Assim como onde quer que os pássaros voem sempre encontram ar, da mesma forma, para qualquer lugar onde formos, iremos encontrar Deus ali presente."(IVD, Parte II, Capítulo 2) 
No entanto, em nosso afã para que Deus faça jorrar água da rocha em tempos de adversidade, muitas vezes esquecemos o fato de que Ele está conosco em todos os momentos. Em tempos de crise, aqueles que nos incentivam com uma palavra amável, um gesto de amizade ou de um ouvido atento estão refletindo a presença imediata de Deus em nossas vidas. Uma presença da mesma forma experimentada nas leituras das Sagradas Escrituras que escutamos, na Eucaristia que partilhamos, e na oração que brota dentro de nós.
No entanto, tendemos a entrar em pânico e não vemos o óbvio quando estamos buscando freneticamente o Senhor, especialmente em tempos de grande necessidade. Esquecemo-nos de que Deus está tão perto de nós como o ar que respiramos. Um erro que a mulher samaritana quase cometeu no seu próprio encontro com Jesus junto ao poço. O Senhor está com ela - na verdade, Ele está bem na frente dela, mas o fato de que um homem judeu espontaneamente pedisse algo para beber é tão surpreendente para ela, que é quase incapaz de reconhecer aquele com quem ela estava falando. Felizmente, ela percebe que "possivelmente seja Cristo", e a gratidão que ela sente, faz com que deixe o jarro com água para correr à cidade, anunciando aos habitantes as Boas Novas do seu encontro com Jesus. 
Seja no deserto ou no poço, os sinais da presença de Deus sempre estão presentes entre nós, e como aconteceu com a mulher do Evangelho, devemos ser agradecidos. A gratidão que sentimos e expressamos através destes sinais produz confiança: confiança em Deus e confiança naqueles que são sinais do amor de Deus para conosco. "Somente confie no Senhor", escreve São Francisco de Sales, e  "Ele continuará orientando-os com sabedoria, para que possam enfrentar qualquer coisa. Onde vocês não podem caminhar, Deus irá levá-los em seus braços." 
Nas Constituições dos Salesianos de Dom Bosco está escrito que "somos sinais e portadores do amor de Deus aos jovens." Rezemos para que possamos converter-nos em sinais da presença de Deus na vida dos outros, como um sinal de gratidão por todos aqueles momentos em que o Senhor nos carregou em seus braços.

P. Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro de Espiritualidade de Sales. 
Tradução e adaptação: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB


Dos Escritos de São Francisco de Sales

As leituras de hoje falam dos catecúmenos. Moisés experimenta uma fé mais profunda na Palavra de Deus. A mulher samaritana experimenta uma nova vida em Cristo. São Francisco de Sales escreve: "Existem duas vidas completamente diferentes que estão representadas em nós: a "velha vida" e a "nova vida". Na "velha vida" vivemos de acordo com os pecados e sofrimentos que incorremos como resultado de nossa condição e cultura humana. Somos como a águia arrastando suas velhas penas no chão, incapaz de alçar voo. Se desejamos entrar na "nova vida", devemos nos libertar da velha vida, 'sepultando-a nas águas do santo batismo e da penitência."
Na "vida nova" vivemos baseados no amor, no favor, e na vontade de nosso Salvador. Nossa nova vida em Cristo nos cura e nos redime. É vida vívida e vivificante. Isso nos dá capacidade de voar através do ar, porque estamos "vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor." Nossa nova vida também é como a águia que, uma vez que se despojou de suas velhas penas, adquiriu novas penas. Rejuvenescida pelo crescimento de suas novas penas voa com grande poder. Infelizmente, existem almas sensíveis, recém-nascidas das cinzas da penitência, enfrentando grandes dificuldades para voar pelo ar libertador do amor sagrado. Mesmo quando vivem animadas, envolvidas pelo amor, pode ser que ainda continuem conservando dentro de si certos hábitos de sua antiga vida. Durante nossa passagem por este mundo transitório podemos inclinar-nos pelo amor sagrado, ou por amores inúteis.
Quando optamos por seguir o amor fútil, retornamos a vacilar em nossa determinação de servir a nosso Senhor. Isto é normal.  Quando ofendemos um amigo é normal sentir-nos envergonhados. Mas, nunca devemos viver na vergonha. O nosso processo de amadurecimento no amor de Deus é tal que sempre existe uma abertura para os assaltos de outros objetos e aparentes benefícios. A razão pela qual experimentamos a incerteza para encomendar-nos a Deus em nossas fraquezas é para que possamos atirar-nos, ainda com mais força, nos seus braços misericordiosos. Temos que ter coragem para descartar a velha vida. Empenhamos a nossa confiança a fim de viver uma nova vida em Jesus Cristo, que deseja aprofundar o nosso amor, para que possamos ser eternamente amorosos. 

(Adaptado a partir dos escritos de São Francisco de Sales) 

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