Destaque: "O Senhor está no
meio de nós ou não?"
Perspectiva Salesiana
Esta tem sido
uma questão que transcende gerações, que quase sempre aparece em tempos de
crise e confusão, ou quando experimentamos o sofrimento, tragédias, injustiças
ou perdas.
Furiosos,
frustrados e desiludidos, os israelitas - nossos antepassados espirituais - fizeram
esta pergunta a Moisés durante a viagem aparentemente sem rumo definido para a qual
eles estavam sendo levados. Do mesmo modo, nós fazemos esta mesma pergunta
em nossa caminhada diária em relação aos eventos globais como o terrorismo, a
guerra, a fome, as epidemias, ou por causa de nossos próprios conflitos, como o
desemprego, a doença, a morte e as relações humanas.
Além disso,
esta questão é perfeita para refletir sobre como estamos vivenciando o tempo da
quaresma.
Falando de modo
intelectual, acreditamos que Deus está verdadeiramente entre nós. Francisco
de Sales também acreditava nisso, mas para esta crença, não era puramente intelectual.
Era uma crença fundamental: "Não existe nenhum lugar, nada neste mundo em
que Deus não está realmente presente. Assim como onde quer que os pássaros
voem sempre encontram ar, da mesma forma, para qualquer lugar onde formos,
iremos encontrar Deus ali presente."(IVD, Parte II, Capítulo 2)
No entanto, em
nosso afã para que Deus faça jorrar água da rocha em tempos de adversidade,
muitas vezes esquecemos o fato de que Ele está conosco em todos os momentos. Em
tempos de crise, aqueles que nos incentivam com uma palavra amável, um gesto de
amizade ou de um ouvido atento estão refletindo a presença imediata de Deus em
nossas vidas. Uma presença da mesma forma experimentada nas leituras das
Sagradas Escrituras que escutamos, na Eucaristia que partilhamos, e na oração
que brota dentro de nós.
No entanto, tendemos
a entrar em pânico e não vemos o óbvio quando estamos buscando freneticamente o
Senhor, especialmente em tempos de grande necessidade. Esquecemo-nos de
que Deus está tão perto de nós como o ar que respiramos. Um erro que a mulher
samaritana quase cometeu no seu próprio encontro com Jesus junto ao poço. O
Senhor está com ela - na verdade, Ele está bem na frente dela, mas o fato de
que um homem judeu espontaneamente pedisse algo para beber é tão surpreendente
para ela, que é quase incapaz de reconhecer aquele com quem ela estava falando. Felizmente,
ela percebe que "possivelmente seja Cristo", e a gratidão que ela sente,
faz com que deixe o jarro com água para correr à cidade, anunciando aos
habitantes as Boas Novas do seu encontro com Jesus.
Seja no deserto
ou no poço, os sinais da presença de Deus sempre estão presentes entre nós, e
como aconteceu com a mulher do Evangelho, devemos ser agradecidos. A gratidão
que sentimos e expressamos através destes sinais produz confiança: confiança em
Deus e confiança naqueles que são sinais do amor de Deus para conosco. "Somente
confie no Senhor", escreve São Francisco de Sales, e "Ele continuará orientando-os com sabedoria,
para que possam enfrentar qualquer coisa. Onde vocês não podem caminhar, Deus
irá levá-los em seus braços."
Nas
Constituições dos Salesianos de Dom Bosco está escrito que "somos sinais e
portadores do amor de Deus aos jovens." Rezemos para que possamos converter-nos
em sinais da presença de Deus na vida dos outros, como um sinal de gratidão por
todos aqueles momentos em que o Senhor nos carregou em seus braços.
P. Michael S. Murray, OSFS -
Diretor do Centro de Espiritualidade de Sales.
Tradução e adaptação: P. Tarcizio
Paulo Odelli - SDB
Dos Escritos de São Francisco de
Sales
As leituras de
hoje falam dos catecúmenos. Moisés experimenta uma fé mais profunda na Palavra
de Deus. A mulher samaritana experimenta uma nova vida em Cristo. São
Francisco de Sales escreve: "Existem duas vidas completamente diferentes que
estão representadas em nós: a "velha vida" e a "nova
vida". Na "velha vida" vivemos de acordo com os pecados e sofrimentos
que incorremos como resultado de nossa condição e cultura humana. Somos
como a águia arrastando suas velhas penas no chão, incapaz de alçar voo. Se
desejamos entrar na "nova vida", devemos nos libertar da velha vida,
'sepultando-a nas águas do santo batismo e da penitência."
Na "vida
nova" vivemos baseados no amor, no favor, e na vontade de nosso Salvador. Nossa
nova vida em Cristo nos cura e nos redime. É vida vívida e vivificante. Isso
nos dá capacidade de voar através do ar, porque estamos "vivos para Deus
em Cristo Jesus nosso Senhor." Nossa nova vida também é como a águia
que, uma vez que se despojou de suas velhas penas, adquiriu novas penas. Rejuvenescida
pelo crescimento de suas novas penas voa com grande poder. Infelizmente, existem
almas sensíveis, recém-nascidas das cinzas da penitência, enfrentando grandes
dificuldades para voar pelo ar libertador do amor sagrado. Mesmo quando vivem
animadas, envolvidas pelo amor, pode ser que ainda continuem conservando dentro
de si certos hábitos de sua antiga vida. Durante nossa passagem por este
mundo transitório podemos inclinar-nos pelo amor sagrado, ou por amores inúteis.
Quando optamos
por seguir o amor fútil, retornamos a vacilar em nossa determinação de servir a
nosso Senhor. Isto é normal. Quando ofendemos um amigo é normal
sentir-nos envergonhados. Mas, nunca devemos viver na vergonha. O
nosso processo de amadurecimento no amor de Deus é tal que sempre existe uma
abertura para os assaltos de outros objetos e aparentes benefícios. A
razão pela qual experimentamos a incerteza para encomendar-nos a Deus em nossas
fraquezas é para que possamos atirar-nos, ainda com mais força, nos seus braços
misericordiosos. Temos que ter coragem para descartar a velha vida. Empenhamos
a nossa confiança a fim de viver uma nova vida em Jesus Cristo, que deseja
aprofundar o nosso amor, para que possamos ser eternamente amorosos.
(Adaptado a partir dos escritos
de São Francisco de Sales)
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